18/11/2018

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Crítica do filme: 'Papillon'


Quando a amizade tenta superar as barreiras do destino. Tentando apresentar para a nova geração dos cinéfilos, além de invocar os pensamentos nostálgicos uma história bastante conhecida do mundo dos livros e baseada em fatos reais, além de um longa metragem emblemático de décadas atrás, Papillon (2018) cumpre com bastante eficácia a essência dessa saga entre duas pessoas que vão se conhecendo ao longo do tempo e em condições desumanas.

O filme, que marca a estreia do cineasta dinamarquês Michael Noer em Hollywood, conta a trajetória de Henri Charrière (Charlie Hunnam), conhecido como Papillon, um criminosos que rouba cofres que fora incriminado de assassinato injustamente e acaba parando em uma prisão bastante rigorosa e desumana no meio da Guiana Francesa. Pensando todo dia em como fugir desse lugar, acaba conhecendo Louis Dega (Rami Malek), um homem preso por estelionato com instituições financeiras. Juntos, lutando contra a solidão e loucura do confinamento, começam aos poucos a planejar o que seria uma fuga digna de cinema.

O foco total é a amizade, tendo como plano de fundo as terríveis ações sofridas pelos prisioneiros, em ações desumanas. Há uma forte crítica ao governo francês da época que mandavam seus prisioneiros para outro país para serem praticamente esquecidos pela civilização. Sem fugir dos fortes personagens, encontramos a união entre a razão e emoção. Papillon é o corajoso, destemido, que bola ideia mirabolantes ligadas à inconsequente e a vontade de sair daquele inferno. Dega é o intelectualizado, a razão, mesmo frágil, que orienta e faz com que as ideias de Papillon sejam possíveis.

Pra quem curte Um Sonho de Liberdade, Prison Break e derivados, e ainda não conhecem essa história imortalizada no cinema na década de 70 por Steve Mcqueen e Dustin Hoffman nos papéis principais, pode ser que se interessar em descobrir o desenrolar dessa inacreditável fuga.

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Crítica do filme: 'Benzinho'


Os filhos são para as mães as âncoras da sua vida. Exibido no importante Festival de Sundance desse ano, Benzinho conta todas as dificuldades de uma família moradora da região de Petrópolis no Rio de Janeiro, seja no lado financeiro, seja no lado emocional com a eminente partida do filho mais velho para uma nova oportunidade na Alemanha. O longa, dirigido por Gustavo Pizzi (do ótimo Riscado), gira todo em torno da forte personagem Irene, interpretado magistralmente pela excelente atriz brasileira Karine Teles. Entre as dificuldades do cotidiano, o amor não falta nesse grande retrato de família brasileira.

Na trama, super elogiada pelos críticos não só no Brasil, conta a saga de Klaus (Otávio Müller) e Irene (Karine Teles), pai e mãe de quatro filhos que vivem a cada dia tendo que matar um leão para que a felicidade reine no lar deles. Os negócios de Klaus, que tem uma copiadora, e o trabalho de vendedora sem dinheiro fixo de Irene, não vão muito bem e associado a isso, a irmã de Irene, Sonia (Adriana Esteves) busca refúgio na casa deles após ser agredida pelo marido Alan (César Troncoso). Para completar as variações emocionais presentes nesse presente da família, o filho mais velho do casal Fernando (Konstantinos Sarris) é chamado para jogar handball profissionalmente na Alemanha, fato esse que mexe demais com Irene.

Buscando retratar o cotidiano também de muitas famílias brasileiras, que buscam com bastante esforço ter o melhor para dar na criação de seus filhos, Benzinho navega com muita profundidade sobre as angústias, alegrias e surpresas que chegam a eles diariamente. Todos em cena brilham mas o foco principal fica com Irene e o grande conflito que enfrenta por não aceitar muito bem a ida de Fernando para longe de casa por tanto tempo. Mesmo reconhecendo ser uma oportunidade de vida para o filho, Irene não consegue esconder sua insatisfação. Mas o longa metragem (que poderia ser o indicado do Brasil ao próximo Oscar tranquilamente) não se prende só a esse conflito, as razões financeiras e dificuldades de uma vida melhor chegam como plano de fundo assim como a situação de Sonia que busca refúgio na casa da irmã.

A emoção não deixa de estar contida em cada cena, seja nas felicidades, seja nas tristezas. Benzinho é um retrato muito bem feito sobre milhares de outras famílias, seus dramas e suas forças para enfrentar de cabeça erguida as loucuras desse mundo tão cheio de obstáculos em que vivemos, principalmente aqui no Brasil.

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Crítica do filme: 'Juliet, Nua e Crua'


As armadilhas do destino e a quantidade de açúcar que pode ter uma relação. Dirigido pelo cineasta Jesse Peretz (de trabalhos pouco expressivos até então), Juliet, Nua e Crua conta a saga de uma mulher em busca de novos desafios no campo amoroso após perceber que o atual relacionamento que se encontra não está dando o resultado que deseja. Com personagens excêntricos e guiados pelo universo da música de alguma forma, o longa-metragem é uma grande viagem rumo as aberturas das portas que o destino realiza de vez em quando. O filme é protagonizado pela competente atriz Rose Byrne e o astro norte americano Ethan Hawke.

Na trama, conhecemos a pacata Annie (Rose Byrne), que trabalha com exposições em uma pequena cidadezinha inglesa. Annie está presa em uma relacionamento morno com o complicado Duncan (Chris O'Dowd). A vida dos dois é envolvida por conta do verdadeiro vício de Duncan, a idolatria a um cantor chamado Tucker Crowe (Ethan Hawke) que fez muito sucesso anos atrás mas que do nada sumiu do mapa. Certo dia, após querer implicar com Duncan por conta de um fórum ministrado por Duncan na web, o verdadeiro Tucker Crowe entra em contato com Annie e assim começa-se uma jornada surpreendente rumo ao desconhecido, para todos os envolvidos.

Baseado no livro homônimo do famoso escritor britânico Nick Hornby (Alta Fidelidade), o roteiro adaptado busca na simplicidade explorar a excentricidade. Há uma desconstrução evidente da personagem Annie, nosso guia nessa jornada de descobertas, o que deixa o filme bastante interessante. A relação ídolo x fã , entre Duncan e Tucker também é pra lá de reflexiva, principalmente quando percebemos que o fã interpretou de maneira errada e durante muitos anos tudo que o ex-astro da música buscava dizer com suas canções. Quando o passado de Tucker é um pouco além da superfície mostrado, percebemos um fechamento de um ciclo e um pouco de compreensão maior de como ele se tornou uma pessoa ressentida e principalmente o porquê de sua tão profunda solidão.  Esses três personagens sofrem com obsessões, uma certa depressão escondida e buscam explicações para seguir em frente.

Nem toda comédia romântica precisa terminar com um final óbvio, esse é um dos grandes méritos desse singelo projeto, que passou voando pelo circuito exibidor brasileiro (talvez por conta da data e da maneira precipitada que fora lançado, sem divulgação quase nenhuma).

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17/11/2018

Crítica do filme: 'Legalize Já'


Eu quero ver se tu é homem, mané...Do jeito que eu fui e que eu sou. Dirigido pela dupla Johnny Araújo e Gustavo Bonafé (esse último com outro filme em cartaz, O Doutrinador) chegou aos circuito brasileiro de exibição semanas atrás, meio timidamente, o filme Legalize Já. Com uma estética toda em preto e branco, que dão um grande charme ao projeto, ao longo de menos de duas horas de projeção somos testemunhas de um encontro entre sonhadores que mudou para sempre não só a história deles mas toda uma geração musical da década de 90. Pode-se dizer que é uma cinebiografia da famosa banda Planet Hemp mas o filme é muito mais que isso, é um contemplar à amizade e os obstáculos enfrentados por jovens mentes criativas da cultural popular brasileira.

Na trama, conhecemos Marcelo (Renato Góes, longe de estar parecido com D2 mas com boa atuação) um camelô de blusas de rock and roll que trabalha no centro do RJ que vê sua vida mudar por alguns acontecimentos: a gravidez de sua namorada e o encontro inusitado com um engajado e viciado em música chamado Skunk (Ícaro Silva, em grande atuação). Aos poucos, se conhecendo melhor, entre brigas e vindas, resolvem investir tempo e criatividade no que viria a se tornar a inesquecível banda Planet Hemp.

Uma mistura de emoções contemplam as interseções entre os arcos aumentando a força da curiosidade sobre todos os temas explorados. Tudo que vemos é baseado em uma história real, todos (ou pelo menos a maioria de nós) conhece ou já ouviu falar de Marcelo D2. Mas e Skunk? Praticamente como uma grande homenagem a esse guerreiro sonhador, que descobre o mortal vírus daquela década e acaba não aproveitando as glórias de tudo que criou com D2, antes Marcelo, Legalize Já passa longe de falar somente sobre drogas ou qualquer pré-conceito que você possa estabelecer, conta a saga de dois amigos com um dom de por meio das palavras cantadas passar a todos um pouco do que viveram no seu dia a dia até chegarem até ali.

Eleito o Melhor Filme Brasileiro de Ficção na Mostra de Cinema de São Paulo 2017, Legalize Já vem passando desapercebido pelo circuito mas não se enganem, é um dos melhores e mais intensos filmes nacionais desse ano.

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16/11/2018

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Crítica do filme: 'Podres de Ricos'


Surpresas da vida modeladas aos exageros de um cinemão. Fenômeno surpreendente de bilheteria nos Estados Unidos nesse ano, Podres de Ricos desembarcou no circuito brasileiro de exibição semanas atrás tentando preencher a lacuna das boas comédias que assistimos de vez em quando no cinema. Baseado no livro de sucesso Crazy Rich Asians de Kevin Kwan, e dirigido pelo cineasta californiano Jon M. Chu (Truque de Mestre: o 2º Ato) o filme é uma grande sessão da tarde ao melhor estilo cinderela.O roteiro busca suas forças nos clichês, algo como aquela fórmula que já deu certo outras vezes, deixando pouca margem para suspiros mais profundos, mesmo assim funciona.


Na trama, conhecemos a feliz e inteligente professora de economia Rachel Chu (Constance Wu) que namora com o misterioso Nick (Henry Golding), de quem nunca conheceu a família. Certo dia e próximo de ser pedida em casamento sem saber, Rachel resolve aceitar o convite de Nick para viajar com ele para Singapura, onde irão juntos ao casamento do melhor amigo dele. Chegando lá, ela percebe que Nick é filho da família mais rica do país, herdeiro de uma fortuna inestimável e um dos solteiros mais cobiçados do lugar. Além de enfrentar toda a surpresa da revelação, precisará enfrentar as regras e desconfiança de Eleonor (Michelle Yeoh), mãe de Nick.

Com filmagens realizadas em Singapura e na Malásia (belíssimas imagens de lindos lugares), Crazy Rich Asians , no original, é a reunião de todo o glamour de riqueza dos personagens ricos das novelas, com pitadas do programa no estilo ‘fofocalizando’ e recheio de reality shows parecido com o das Kardashians. O roteiro é bem simples, superficial e abre margem para continuações, mesmo com personagens simpáticos não consegue fugir do rótulo de água com açúcar.

Melhor personagem e com certo ar de misteriosa, Eleonor, a mãe toda poderosa de Nick, sempre que em cena contribui para que o interesse chegue com mais força para a história que estamos sendo apresentados. Se continuações acontecerem e conseguirem profundidade nesse arco da trajetória dos pombinhos milionários, o eterno duelo entre nora e sogra, o segundo filme tem tudo para ser melhor que esse primeiro.  

Atualizado 02.08.2021.

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Crítica do filme: 'Infiltrado na Klan'


Baseado no livro de memórias Black Klansman, de Ron Stallworth, o novo trabalho do sempre genial cineasta norte americano Spike Lee é uma grande aula sobre as facetas da sociedade norte americana. Ao longo dos 135 minutos de projeção, com um roteiro completamente atemporal, Lee consegue criar uma fórmula de diversão (quando pensamos em cinema) com conscientização. Nomeado à Palma de Ouro em Cannes esse ano, sendo exibido também em festivais aqui no Brasil, Infiltrado na Klan é um daqueles filmes imperdíveis que você precisa ver no circuito esse ano.

Na trama, ambientada em Colorado no final da década de 70, conhecemos um esforçado  policial negro chamado Ron Stallworth (John David Washington - filho do ator Denzel Washington), que enfrenta diariamente preconceito dentro da própria corporação policial, até receber a chance de trabalhar no departamento dos infiltrados ao lado do policial judeu Flip (Adam Driver). Certo dia, precisa fazer uma investigação e por uma janela do destino consegue de maneira surpreendente se infiltrar na organização racista Ku Klux Klan.

Corajoso, desbravador, pulsante. Spike Lee é conhecido por seus filmes que escancaram aos espectadores assuntos polêmicos de toda uma sociedade. Em Infiltrado na Klan, consegue se superar, muito pela relevância e importância que esse projeto, com aquele desfecho para lá de apoteótico, tem para os olhos e ouvidos que vivem pelo planeta nos dias tão complexos como os de hoje. Tendo o preconceito como plano de fundo, busca argumentar sobre todos os lados da história.

Inteligente, instigante e surpreendente. Com ótimos diálogos, um sarcasmo milimetricamente encaixado e personagens bem construídos, Lee orquestra um grande debate que ultrapassa as milhares de telonas que o filme será exibido.

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15/11/2018

Crítica do filme: 'O Confeiteiro' (The Cakemaker)

As entrelinhas detalhistas de situações ligadas ao coração. Após quatro curtas metragens e trabalhos como editor e roteirista, o cineasta Israelense Ofir Raul Graizer escreve e dirige seu primeiro longa metragem que busca nos radapés das explicações emocionais respostas para situações que envolvem a vida de duas pessoas, uma na Alemanha e outra em Israel. O belíssimo roteiro se renova a cada movimento, a cada caminho que os personagens percorrem embalados por uma refinada trilha sonora. Um trabalho surpreendente e deveras interessante.

Indicado a categoria de melhor filme no importante Festival de San Sebastian em 2017, The Cakemaker, no original, conta a história de Thomas (Tim Kalkhof), um habilidoso, organizado e simples confeiteiro alemão que acaba se envolvendo com Oren (Roy Miller) um executivo de uma empresa de construção de trens, que mora com a família em Israel. Entre as idas e vindas de Oren (Berlim/Jerusalém), uma escondida história de amor é criada. Após 12 meses juntos, Oren desaparece por um tempo e Thomas vai atrás de informações, descobrindo que ele falecera em um acidente automobilístico. Sem rumo e tentando se encontrar, Thomas resolve partir para Jerusalém e acaba conhecendo Anat (Sarah Adler), a esposa de Oren.

Todo bom filme é como se fosse um grande prédio que é construído aos poucos, com as portas sendo abertas para as surpresas que envolvem seus personagens. Em O Confeiteiro, tudo é muito delicado, quase minimalista, o protagonista diz muito com seu olhar, um trabalho excelente de Tim Kakhof. Somos completamente envolvidos pelo que há depois que as portas vão se abrindo, não há exageros, o tom certeiro da direção e as surpresas que vemos pela jornada de Thomas nos mostram muito sobre tradições judias (o olhar sobre o estrangeiro), e como o amor pode chegar de todas as formas possíveis.

Já que falamos de um filme que envolve bolos e surpresas, podemos dizer que a cereja desse ótimo longa é a impressionante atuação da atriz francesa Sarah Adler. Fascinante em cada cena. A carga emocional recai totalmente sobre Anat e as dúvidas que começam a aparecer quando as coincidência de seu curto passado se encontram com a fresta de felicidade que se abre no presente. A partir disso, escolhas dominam os desfechos dos fortes personagens.
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27/10/2018

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Crítica do filme: 'Dogman'


Como você enxerga as brutalidades da vida? Indicado da Itália ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro para a próxima grande festa do cinema, Dogman é um retrato social, brutal, passado em uma periferia italiana onde vários questionamentos são levantados a cada nova virada no roteiro. O longa é dirigido pelo cineasta italiano Matteo Garrone, do inesquecível e impactante Gomorra, e protagonizado pelo ator Marcello Fonte, vencedor da Palma de Ouro em Cannes de melhor ator esse ano por esse papel.

Na trama, passada em uma cidadezinha na Itália não identificada, conhecemos o carinhoso, peladeiro e boa praça Marcello (Marcello Fonte), um humilde e gentil dono de uma petshop localizada na região central dessa cidadezinha. Marcello vive tranquilo seus dias e adora passar o tempo com sua única filha. Mas Marcello acaba envolvido em várias situações com Simoncino (Edoardo Pesce) um perturbador, baderneiro que incomoda todos na cidade, sempre arrumando confusão. Após uma dessas situações terminar em consequências terríveis para Marcello, o protagonista busca sua vingança da maneira mais radical que poderia.

O bom roteiro é aquele que sabe flexionar sua trama para chegar ao clímax de maneira certa, sem pressa, levando ao público um estrondoso ar de surpresa. É exatamente isso que Dogman faz! De drama, vira thriller em frações de segundos, levando o espectador a ser o juiz das ações de Marcello na segunda parte do filme. A ação e consequência que sofre o dono da pet shop, por ter a reputação abalada e o desespero de não saber o que fazer para acabar com aquela dor são parte desse quebra cabeça psicológico instaurado e muito bem dirigido por Garrone.

Coisas ruins vão acontecer com pessoas boas. É praticamente um versículo vital. Os coadjuvantes dão ótimo tom a todo o liquidificador de pensamentos que chegam até o protagonista quando está em crise existencial, sozinho, tendo que combater o vilão de todos e que fora muito mais para ele. Somos testemunhas de uma desconstrução total do personagem e nos levam a pensar à margem da sociedade, como se vivessem em áreas sem regras, nem leis, onde os homens caminham pelos seus próprios e nublados pensamentos. Um soco no estômago esse belo trabalho.

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Crítica do filme: 'A Pé ele não vai longe'


A sabedoria para fazer a diferença, a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar as coisas que posso. O novo trabalho do grande cineasta Gus Van Sant é uma junção do talento dos artistas envolvidos, o excelente roteiro baseado no livro de memórias de John Callahan: Don't Worry, He Won't Get Far on Foot, em uma história de superação e como a arte de alguma forma pode salvar uma vida. Joaquin Phoenix, responsável pelo papel principal, inspirado como quase sempre em sua brilhante carreira, é um ator como poucos, um verdadeiro colírio aos cinéfilos podermos ser contemporâneo de tamanha genialidade e entrega aos seus personagens. Ao longo de quase duas horas de projeção, somos testemunhas de uma grande história com a cereja do bolo vinda do que ouvimos, bastam 25 minutos de filme para a trilha do craque Danny Elfman te conquistar. Van Sant tentava filmar essa história desde os anos 90 e sua ideia na época era ter o ator Robin Williams como protagonista.

Na trama, exibida no Festival de Berlim deste ano e que será exibido no Festival do Rio 2018, conhecemos parte da vida e trajetória de redenção do famoso cartunista norte americano John Callahan (Joaquin Phoenix) que sofrera um grave acidente quando tinha 21 anos, que o deixou paraplégico. Entre as idas e vindas do roteiro, acompanhamos John e as mudanças que sua nova condição transformam sua vida, desde a batalha contra o alcoolismo até o foco nas artes quando resolve se tornar cartunista, sempre com um humor ácido e polêmico.

Calahan aparece em muitas fases de sua vida perto do presente que vivenciamos. Um faz de conta como pintor, compositor, não levar a vida a sério esperando algum milagre de mudança de rota ao seu destino. A bordo de seu ex-fusquinha azul, todos seus dramas chegam ao extremo em um acidente, a confusão de um poste ou uma saída, culminando em uma batida grave, a 145 km/ h. Agora dependente de muitos ao seu redor, até para necessidades básicas, John se envolve em um grupo contra o alcoolismo, conhecendo uma espécie de guru chamado Donny (Jonah Hill, em excelente atuação) que o faz repensar sobre toda sua trajetória.

As idas e vindas pontuais no roteiro dão certo ritmo a trama, o alcoolismo de anos comandam o temperamento do protagonista e nos ajudam a entender melhor essa excêntrica personalidade. Nos emocionamos com tudo que vemos, é uma explosão calorosa de sentimentos que são jogadas na tela. Absorver o lado positivo de tudo que é desconstruído ao longo de todo o processo de ‘cura’ , nos faz enxergar com uma lupa para as simples coisas da vida.

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Crítica do filme: 'Entrevista com Deus'


Não há como começar o texto desse filme sem perguntar o lógico: o que você faria se pudesse perguntar qualquer coisa em um encontro com quem criou a tudo e a todos? Entrevista com Deus, com estreia prevista para o circuito brasileiro no dia 15 de novembro, explora o poder da fé e as inúmeras dúvidas que temos sobre os obstáculos que enfrentamos não só em nosso presente mas com as marcas incuráveis do passado. De roteiro simples, buscando força nos diálogos e principalmente nas resposta do todo poderoso, o filme cria uma elo de simpatia com todo o positivismo das palavras que vem dele.

Na trama, inteiramente rodada em Nova York, conhecemos o perturbado jornalista Paul (Brenton Thwaites, o Robin/Dick Grayson da nova série Titãs) que após voltar do Afeganistão, onde fora como correspondente de guerra (jornalista), tem uma crise enorme em seu casamento e vive buscando ultrapassar seus obstáculos sempre com muita dificuldade de entender a si mesmo. Um certo dia, é colocado a ele uma pauta, onde o inusitado acontece: seu entrevistado alega ser Deus (David Strathairn). Tentando entender tudo que acontecer a seguir de suas inicias conversas com esse misterioso homem, Paul acaba embarcando em uma jornada de curar feridas de sua própria vida.

Diferente de outros filmes onde somente no final sabemos se o ser inusitado que aparece é ou não é realmente que diz ser (K-Pax, por exemplo), em Entrevista com Deus as resoluções e provas de afirmações são bastante rápidas, transformando tudo que vemos a seguir em uma história de superação do personagem Paul. Um filme com teores bíblicos e feito com bastante mensagens positivas, além disso, o lucro da produção foi destinado à entidades de crianças carentes, fato que é sempre muito legal.  O personagem de Deus, interpretado pelo indicado ao Oscar David Strathairn não passa a mão na cabeça de Paul, praticamente o desafia a melhorar para ser uma pessoa mais feliz.

O projeto marca o retorno do cineasta californiano Perry Lang na direção de longas metragens, seu último filme fora Homem de Guerra, estrelado em 1994 pelo hoje conhecido Dolph Lundgren. Entrevista com Deus é um filme simpático, repleto de positividade. Pode dar sono em alguns momentos mas se prestarmos bem a atenção, muitos ensinamentos conquistaremos.


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28/09/2018

Crítica do filme: 'Mandy'

Quando o sinistro se une ao esquisito. Exibido no Festival de Sundance desse ano, Mandy, novo trabalho do diretor italiano Panos Cosmatos, é uma caótica narrativa inventiva com pitadas fervorosas de tendências à psicodelia. Sim, é uma doideira danada. Esteticamente, o projeto ganha muitos pontos, visualmente embarca na loucura de seus excêntricos personagens fazendo ligações o tempo todo com os sentimentos que afloram frame a frame.

Na trama, ambientada no início da década de 80, conhecemos Red (Nicolas Cage) e Mandy (Andrea Riseborough), um casal que mora em um lugar no interior dos Estados Unidos, muito isolado dos grandes centros, praticamente dentro de uma floresta. Nesse mesmo lugar isolado, um culto repleto de pessoas loucas resolve implicar com Mandy e decidem sequestrá-la. Pensamento somente em vingança e munido de uma motossera, uma espada medieval (ou algo parecido) e muita sede de sangue, Red embarca em uma jornada infernal em busca de paz interior.

Violento, polêmico, sanguinário. Mandy se encaixa em vários gêneros mas não foge de vestir a camisa do terror. Elementos quase sobrenaturais e conceitos para lá de malucos compõe as razões e emoções de tudo que vimos ao longo dos intensos 121 minutos de projeção. Muito vão dizer que Red e seu embarque à loucura combina com Cage e outros personagens excêntricos de sua contestada carreira, mas o sobrinho de Coppola tem atuação apenas aceitável (por mais que não venha na cabeça outro ator a não ser ele para desempenhar esse papel).

Cosmatos e sua estética quase delirante jogam em sintonia com as bizarras cenas de violência que acompanham o longa. Mandy, filme que deve chegar ao Brasil em outras janelas exceto cinema, é uma experiência cinematográfica para poucos, ou você chega até o fim ou abandona em poucos minutos.

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Crítica do filme: 'O Orgulho'

A linha tênue entre o ensinar e o provocar. Dirigido pelo ator e cineasta israelense Yvan Attal, Le Brio, no original, é a saga de uma relação controversa entre um mestre e uma aluna, com pitadas jurídicas e diálogos que preenchem nosso campo emocional.  Ainda em exibição no circuito exibidor brasileiro, o filme é uma grande aula sobre a sociedade que vivemos e como enxergamos o próximo.

Indicado em algumas categorias ao César (o Oscar francês) desse ano, na trama, conhecemos a jovem, estudiosa e esforçada Neila (Camélia Jordana) que entra em uma prestigiada universidade para cursar direito. Logo no primeiro dia de aula, chega minutos atrasada e é repreendida na frente de todos pelo experiente e polêmico professor Pierre (Daniel Auteuil). Assim, começa a relação entre esses dois, completamente opostos que precisarão unir seus aprendizados quando Pierre é indicado para dar aulas preparatórias à Neila visando um importante concurso de oratória entre universidades francesas.

O roteiro é básico e eficiente. Mas quem comanda as ações são as belas atuações de Auteuil e Jordana, duas gerações distantes que brilham na tela. Essa relação mextre x aluno é o grande epicentro da história, deixando qualquer ida além da superfície em subtramas de lado. Há uma abiguidade no modo de se tratarem, na maneira como enxergam o mundo, durante todo o filme vemos uma luta de argumentos, muito deboche e ensinamentos que ambos levarão para o restante de suas vidas. É um filme que estudantes de direito de todo o mundo vão curtir, quem não curte muito essa vertente também tem outras brechas para se apaixonar por essa história.

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19/09/2018

Crítica do filme: 'Sicario: Dia de Soldado'


Fogo contra fogo, vamos falar do seu futuro. Tentando repetir o bom roteiro do primeiro filme da franquia, Sicario: Dia do Soldado apresenta uma história forte, que às vezes imita a realidade, na eterna guerra que o governo norte americano enfrenta contra os cartéis de drogas. O roteiro é do competente Taylor Sheridan (Terra Selvagem, Sicário: Terra de Ninguém, A Qualquer Custo) e a direção é assinada pelo cineasta italiano Stefano Sollima.

Dessa vez, o agente Matt Graver (Josh Brolin) convoca uma operação arriscada em território não norte americano que envolve o seqüestro da filha de um dos principais chefões de droga de todo o mundo. Quando a operação começa a ter problemas, Graver e Alejandro Gillick (Benicio Del Toro), que vimos no primeiro filme como um homem sem nada a perder e buscando a vingança pela morte de sua família, começam a entrar em conflito moral e ético e as escolhas de cada um deles define as conseqüências que vemos nesse forte e sangrento projeto.

Um dos pontos positivos do projeto é saber como lidar com o ritmo das subtramas. Repleto de ação e cenas fortes, buscando na linguagem nua e crua mostrar o terror que é essa guerra contra o mundo das drogas. Nossos olhos são Alejandro e todo seu passado trágico que o transformou em um homem sem regras. Dentro da ótima trama acaba tendo uma desconstrução do personagem ao lidar com as escolhas que a situação provocada pelo seqüestro planejado. Indo além da superfície no quesito moral e ético, o roteiro, adentra pouco sobre o papel do governo norte americano dentro das ações que se seguem, deixando margem para preenchimento com cenas muito bem elaboradas de ações e um certo suspense sobre como vão terminar os personagens.  

Nesse segundo filme, além de dar ótima brecha para um futuro terceiro projeto, mantém a consistência do primeiro filme, com ótimo desenvolvimento dos personagens, uma direção segura e um roteiro muito bem amarrado.

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17/09/2018

Crítica do filme: 'Gente de Bem'


É complicado retratar a depressão e a falta de sentido da vida com personagens tão diferentes e mesmo assim ser um filme interessante. Gente de Bem, filme que estreou no último Festival Internacional de Toronto e lançado após na rede de streaming Netflix, sem dúvidas não é um filme para qualquer um. Escancara a realidade modelando seu ritmo com pitadas de humor depressivo nos diálogos, situações constrangedoras e atitudes para lá de polêmicas. No papel principal, o excelente ator australiano Ben Mendelsohn (Reino Animal, Jogador Número 1) que mais uma vez mostra todo seu talento em um excêntrico e bastante peculiar personagem.

Na trama, dirigido pela cineasta Nicole Holofcener (À Procura do Amor – 2013) e roteirizado pela mesma, a partir da obra The Land of Steady Habits de Ted Thompson, conhecemos o recém separado Anders (Ben Mendelsohn), um homem que largou o emprego e partiu para uma aposentadoria antecipada mudando os rumos de sua vida e de toda sua família já que pede divórcio da esposa Helene (Edie Falco) ao mesmo tempo. Certo tempo depois, encontramos Anders desolado, sem saber ao certo se as decisões que tomou foram as melhores, já que a ex-esposa encontrou um novo amor, seu único filho parece ser um recém graduado sem rumo na vida e a única pessoa que consegue dialogar com ele por muito tempo é o filho de um casal amigo de sua família que passa por um fase de drogas e sumiços. Tentando direcionar melhor seus rumos, Anders passará por situações inusitadas em busca de seu melhor entendimento sobre o que é viver.

Muito parecido com Beleza Americana, principalmente na hora de escancarar os problemas que acontecem na vida real da sociedade norte americana, Gente de Bem bate na tecla da família, seus segredos e todo o julgamento de terceiros sobre situações que acontecem em quatro paredes. Os personagens são muito bem escritos, além do complexo protagonista, enxergamos as óticas dos dois jovens que navegam na história, um sem futuro certo após a formatura e morando com a mãe próximo aos 30 anos e um outro completamente abandonado pelos pais, que não conseguem enxergam e encontrar soluções para um problema grave que afeta não só o seu filho mas todo um planeta.

Mas a luz principal cai toda para cima de Anders, um fator de interseção de todas as subtramas. Vamos entendendo melhor ao personagem a partir dos olhos de outros e toda a dor que acaba causando onde passa, fruto de todas as escolhas que fez nos últimos tempos. Escolhas, verdades, mentiras, são premissas que são jogadas no liquidificador desse belo trabalho que merecia ganhar as telonas.

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15/09/2018

Crítica do filme: 'Tio Drew'


Cinema Comercial ou Comercial Cinema? Há duas maneiras de sair da sala de cinema após assistir a esse filme. Uma, você que ama basquete e adorou ver as enterradas, as jogadas de efeito de ex-jogadores e alguns ainda em atividade ao longo da projeção. A segunda maneira é pensar  que você não viu um filme mas sim um comercial de um refrigerante sem carisma e com diversos exageros. Tio Drew, fora lançado no circuito brasileiro de exibição faz poucas semanas, e senão me engano já saiu bem rápido de cartaz. Mal lançado (a temporada de basquete nem começou!), o projeto baseado em seu protagonista, astro de uma série de comerciais da Pepsi , interpretado no filme pelo genial jogador do Boston Celtics Kyrie Irving, falha demais quando pensamos em cinema.

Na trama, conhecemos um fracassado técnico de basquete de rua chamado Dax (Lil Rel Howery). Um homem assombrado por um erro numa partida de basquete quando era adolescente que busca sua redenção como treinador em um torneio de grande divulgação. Só que as vésperas do torneio, ele perde seu melhor jogador para outra equipe, além de ser jogado para fora de casa pela namorada interesseira. Sem rumo, acaba indo parar de quadra em quadra da cidade até encontrar Tio Drew (Kyrie Irving), um famoso jogador do passado que está aposentado e bastante velho mas não perdeu as habilidades excepcionais do jogo. Assim Dax convence Drew a reunir uma equipe de velhinhos ex-jogadores e assim tentarem ganhar o torneio.

Estimado em 19 milhões de dólares (quanto filme bom daria para ser feito com esse dinheiro!) e dirigido pelo cineasta Charles Stone III, com Roteiro de Jay Longino (Fora do Rumo (2016)), Uncle Drew, no original, é um show de propaganda de uma gigante dos refrigerantes que tentaram transformar em filme. O roteiro é falho, sem profundidade, além dos absurdos clichês que navegam a história. É um quebra cabeça com as peças todas erradas no tabuleiro, só serve mesmo de diversão para os amantes do basquete rever gênios como o mais famoso dos defensores da história Shaq, Reggie Miller e suas bolas de três, e a força no garrafão de Chris Weber, além das habilidades de Nate Robinson e o único ainda em atividade, Kyrie Irving, que fora parceiro de Lebron James durante muitos anos em Cleveland.

Mais fácil ligar nos jogos da NBA, quando a temporada começar. Que saudade de Space Jam!

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