13/12/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #210 - Leandro Winkelmann


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Santa Cruz do Sul (Rio Grande do Sul). Leandro Winkelmann escolheu estudar Produção em Mídia Audiovisual devido a sua paixão pelo Cinema e por toda forma de imagem em movimento. Vê o Audiovisual como uma forma de criar universos paralelos, trazer a existência das potencialidades mais inexploradas do ser humano - indo desde o autoconhecimento ocultista e psicodélico de Alejandro Jodorowsky e Andrei Tarkovsky, até os monstros de borracha dos filmes B do Cinema Em Casa nos anos 80 e 90 - todos são maravilhosos no que se propõem.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Nenhuma. Cinema está muito caro e zero espaço para filmes clássicos.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Minha primeira vez foi com um passeio com a escola em 2000, quando eu tinha 9 anos, para assistir Tainá - Uma aventura na Selva... Sinceramente é um bom filme no que se propõe, mesmo que na época eu já tivesse um certo gosto desenvolvido por filmes (bem diferente de filmes como "Tainá", hahaha) Todavia, foi uma experiência realmente marcante e positiva.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Diretor favorito é complicado... Para ser favorito eu teria de considerar alguém cuja obra total é de meu agrado. Creio não haver ninguém que eu goste de 100% dos filmes...

Eu poderia citar Martin Scorsese por gostar da maioria de seus filmes, e por serem obras realmente acima de simples filmes bons. São filmes que serão lembrados e estudados daqui 300 anos, sem dúvidas.

Meu filme favorito do Scorsese é o Casino de 1995. Um épico de 3 horas que em nenhum momento fica entediante. Poderia ter até 5 horas que ainda seria interessante do começo ao fim. Um das melhores narrativas já feitas na história.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Bicho de Sete Cabeças de Laís Bodansky. Um dos meus filmes favoritos da vida. Uma história muito forte, e, mais do que isso, uma experiência grande e rica sobre o deterioração gradativa da mente humana. Retrata também a triste realidade da distância entre pai e filho, uma falta de comunicação que resulta em consequências catastróficas.

 

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Creio que ser cinéfilo é gostar do filme em si, e não apenas do ato de assistí-lo. É estudar e "viver" os filmes, no sentido de absorver e refletir sobre seu conteúdo, sua mensagem.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

"Entender de cinema" é um conceito muito vago e subjetivo para mim... Mas enfim, os cinemas, em sua maioria, obviamente visam apenas o lucro, e possivelmente quem o administra é refém desse fato. Essa é uma questão bastante complexa...

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito que não. O Cinema é mais do que simplesmente assistir um filme. Cinema Paradiso retrata exatamente essa questão (filme obrigatório a qualquer cinéfilo que se preze). O cinema é um evento social onde as pessoas vivem experiências além da parte visual, conhecem outras pessoas, se apaixonam, amam, serve como refúgio também, um lugar onde não virá alguém lhe procurar, hahaha. É algo que nem a pirataria ou novas tecnologias podem tirar.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Pusher, de Nicholas Winding Refn. Um retrato do submundo das drogas na Europa dos anos 90. É o primeiro filme de uma trilogia que gosto muito.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Certamente não. Essa pandemia pode acabar antes do previsto, basta todos fazerem sua parte, e isso inclui levar o distanciamento social a sério e não acreditar em fantasias sobre domínio comunista e controle da Nova Ordem Mundial.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema nacional é ótimo como sempre foi. Ele obviamente não se resume à produções da Globo ou de famosos com grana tipo Fabio Porchat e Danilo Gentilli. Existem aos montes filmes brasileiros premiadíssimos mundo a fora.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Jorge Furtado.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Ir ao cinema é viver realidades paralelas.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Nunca vivi nada anormal em uma sala de cinema, infelizmente...

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Representa o Brasil mais do que o Samba.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Obviamente não. O cinema jamais deve ser "elitista" e qualquer pessoa poderia realizar, atuar ou escrever um filme.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Difícil dizer... Como fã de trash, já assisti muita tralha nessa vida. Mas existe uma diferença entre o filme ser tecnicamente ruim porém de alguma forma transmitir algo ao expectador, mesmo que sejam apenas risos, e o filme ser tão ruim que não serve nem para rir. Eu poderia citar como exemplo de "ruindade ruim" o Cubo 2 - Hypercubo, de 2002, sequência do maravilhoso e inovador Cubo de 1997. No caso do Cubo 2, nada se salva. Um desastre do começo ao fim que tentou ser inteligente e foi apenas constrangedor.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Da Servidão Moderna, de Jean-François Brient.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Não, mas não condeno quem o faz.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Arizona Nunca Mais, dos Irmãos Coen. Filme brilhante, um dos meus favoritos da vida de todos os gêneros. Todos que dizem defender os "valores da família" deveriam assistí-lo e aprender de fato como se faz uma família, hahaha.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Raramente leio sites. Tenho um carinho especial pelo Boca do Inferno, que foi o que me fez desejar trabalhar com isso. Lia-o assiduamente entre 2006-2010, com seus artigos maravilhosos sobre filmes de terror. Escolhi a faculdade de Produção em Mídia Audiovisual por conta desse site.

 

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12/12/2020

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Crítica do filme: 'Verão Feliz'


Quando a tristeza pela decepção encontra as metáforas da vida. Indicado à Palma de Ouro em Cannes em um ano que tinha como concorrentes Almodóvar, Lynch, irmãos Dardenne, Greenaway, Manoel de OLiveira, Jarmusch, Sokurov, Egoyan, Bellocchio entre outros, Verão Feliz mostra a saga de um homem sem trabalho e um garoto criado pela avó que, quase sem direção, e contando com a ajuda além de caronas de desconhecidos, embarcam em uma aventura à procura da mãe do garoto que levarão na memória por toda uma vida. Contendo a força da delicadeza em todas as esferas, Takeshi Kitano, que escreve e dirige esse lindo trabalho, consegue encher de emoções e alguns risos as duas horas de projeção. Poucos são os diretores que com bastante sutileza nos mostram emoções com suas lentes.


Na trama, conhecemos Masao (Yusuke Sekiguchi) um triste menino, de olhar para baixo, que está sem amigos para brincar durante as férias. Ele é criado desde sempre pela sua avó já que sua mãe nunca aparece pois trabalha em uma outra cidade para poder sustentar ele. Certo dia, Masao resolve ir atrás de sua mãe e para isso vai contar com a inusitada ajuda de um amigo de sua avó, Kikujiro (Takeshi Kitano) um homem que vive seus dias sem muitos objetivos ao lado da esposa (Kayoko Kishimoto).  Assim, passando por diversas situações, ambos embarcam em uma saga à procura da mãe do menino.


Exibido no Festival do RJ e na Mostra de SP em um ano antes da chegada dos anos 2000, com planos longos e definindo arcos mostrados na tela, acompanhamos a junção equilibrada de um profundo mundo das emoções e situações de riso fácil, o drama e a comédia. Kitano fora conhecido no início de carreira pelos seus trabalhos como comediante e joga na tela todo seu talento além de mostrar uma grande habilidade em trabalhar os sentimentos principalmente na parte dramática do projeto.


Podemos enxergar esse lindo filme por duas perspectivas, a do menino que se protege da realidade dentro dos sonhos que são compostos por pessoas ou situações que encontra pelo caminho, ou do homem desajustado, trambiqueiro, no início nada simpático, que com uma transformação pura e bonita se torna uma referência para alguém que ele nunca imaginou. Ambos os personagens, nos brindam com uma história que irão contar por toda uma vida.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #209 - Alex Gonçalves


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Santo André. Alex Gonçalves tem 30 anos, escreve sobre cinema desde a adolescência, tendo inaugurado o site independente Cine Resenhas (http://cineresenhas.com.br) em 2007 (Instagram @cineresenhas). A produção de conteúdo se manteve focada por anos em lançamentos no circuito exibidor brasileiro, ganhando mais seriedade com a cobertura em festivais de cinema que acontecem em São Paulo. Atualmente, segue em um processo de transição de formatos, privilegiando atualizações em um canal de mesmo nome no YouTube, alimentado com entrevistas com diretores e intérpretes nacionais sobre os seus projetos, vídeo comentários sobre lançamentos recentes e obras revisitados e diálogos com outros colegas cinéfilos e jornalistas culturais. Além de cinema, adora música, literatura, fotografia, visitas em espaços expositivos e garimpos por sebos, estes acarretando em um grande acervo de filmes, livros e CDs/LPs que espera dar conta de apreciar em sua totalidade ainda nesta existência.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Embora Santo André tenha atualmente uma quantidade considerável de salas de cinema, com dois shoppings com a rede Cinemark e um com a rede Playarte, não consigo selecionar alguma como favorita pela programação ser dominada por blockbusters do momento e com sessões legendadas cada vez mais raras. Portanto, elegeria o CineSesc, em São Paulo, a esse título. Mesmo sendo uma única sala, há uma variedade maravilhosa de títulos exibidos, além de abrigar mostras e retrospectivas imperdíveis.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Durante a minha infância e pré-adolescência, o cinema foi um tipo de entretenimento muito caro para curtir com frequência. Tinha 8 anos na minha primeira ida. O filme era Dr. Dolittle. Como foi uma excursão escolar, foi impossível me concentrar na tela com a algazarra toda. Só voltei a entrar em uma sala de cinema aos 14 anos, quando fui assistir com uma de minhas irmãs A Vila, do M. Night Shyamalan, graças a um par de cortesias que encontrei numa calçada. Foi essencial para mudar completamente a minha percepção de cinema como um templo e também como uma experiência coletiva.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

O meu diretor favorito é Brian De Palma e o meu filme favorito dele é Vestida Para Matar. A cada revisão, é como se um filme diferente se descortinasse diante dos meus olhos. Sem dizer que é uma aula de como se fazer suspense.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Perfume de Gardênia, do Guilherme de Almeida Prado, que vem a ser o meu diretor brasileiro favorito e que infelizmente desapareceu - o seu último filme, Onde Andará Dulce Veiga?, é de 2008 e ninguém sabe onde raios se meteu o seu A Palavra. Essa obra-prima dele, que foi produzida diante de toda aquela tensão e descrença com a queda da Embrafilme e que fracassou comercialmente quando lançada finalmente na retomada do nosso cinema em 1995, tem todo um clima noir que gostaria que recebesse mais interesse por parte dos nossos criadores. Os espaços urbanos são explorados com um olhar que só o Guilherme tem, um cineasta também afeito a prestar homenagens ao cinema dentro de suas próprias narrativas. Rende uma sessão dupla maravilhosa com o seu longa seguinte, A Hora Mágica, de 1999, igualmente formidável.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Gosto de pensar que é aquele Alex que incorporo toda a vez que desejo fugir um pouco da banalidade de nossa realidade e das obrigações e protocolos que precisamos corresponder para manter a nossa sobrevivência. Ser cinéfilo e, consequentemente, apreciar filmes é viver por um par de horas outras vidas, visualizar o mundo com outras lentes e alimentar a alma com histórias que nos tiram da zona de conforto e da finitude da existência humana.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possui programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Por mais diferente que seja a programação dos cinemas andreenses e dos cinemas paulistas, penso que sim. Mas é uma questão da qual não gosto de romantizar muito, pois sabemos, sobretudo nesse contexto de pandemia, que "entender de cinema" é também ter habilidade para os negócios. Portanto, avalio que em cada cidade existe um entendimento diferente que busca contemplar uma maioria para que ingressos sejam vendidos - como sou um tipo de espectador que fica de fora dessa lógica que move a formação da programação da minha cidade, sempre busco refúgio em São Paulo, mesmo que para isso seja necessário mais de uma hora e meia de viagem em transporte público apenas para assistir a um filme.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

As salas de cinema nunca vão acabar, mas pode ter certeza de que testemunharemos muitas mudanças a curto prazo. Meu receio é que evolua para algo mais elitista do que é hoje, se transformando em uma opção de entretenimento ainda mais restrita para grande parte da população.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Eu gostaria de indicar Dias Vazios, do Robney Bruno Almeida. Excetuando os meus amigos cinéfilos que acompanham comigo essa aventura que é cobrir cinema, sinto que quase ninguém assistiu a essa preciosidade do nosso cinema, uma adaptação fidelíssima do romance Hoje Está Um Dia Morto, do André de Leones. É um raro registro do que realmente senti o que foi atravessar a adolescência, uma fase extremamente deprimida da vida por conta das nossas incertezas quanto a qual identidade sustentaremos para a vida adulta, além também daquele sentimento de estagnação quanto a vocação profissional e de amores que não se concretizam como idealizamos. É um filme extremamente pessimista, mas a gente sai dele ainda mais aberto para a vida.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

As impressões que sustento hoje quanto a esse período delicado que as salas de cinema atravessam são diferentes daquelas de poucas semanas atrás - e estou certo de que novamente refletirei sobre essa questão por um prisma diferente quando virarmos o ano. Compreendo perfeitamente a rigidez e a seriedade com as quais os proprietários das salas e redes estão seguindo para preservar a segurança do público, mas ainda não estou com o psicológico preparado para me desligar do mundo por duas horas e assistir a um filme na tela grande. Mas falo isso na posição de um indivíduo que teve o privilégio de seguir com a sua rotina de trabalho na segurança do lar e que hoje conta com bons equipamentos para apreciar filmes em total isolamento social. A reabertura talvez seja encarada como algo mais trivial para outras pessoas que não podem cumprir com o isolamento social devido as suas atividades obrigatórias fora de casa.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Penso que cada vez mais o nosso cinema se abre para diferentes possibilidades, um ativo importante para afirmar a sua qualidade. Apenas gostaria que o que produzimos fosse mais acessível para o público em geral. Muitos filmes notáveis fazem o percurso dos festivais, estreiam em uma dúzia de salas por todo o Brasil e ou desaparecem do radar ou são lançados em plataformas digitais com preços que julgo impraticáveis. Deveria existir mais debates quando a longevidade de uma obra audiovisual brasileira. Vejo o incentivo de prefeituras na criação de cineclubes em todas as cidades e até mesmo a utilização de nossos filmes como ferramenta para atividades escolares como iniciativas importantes para mudar essa realidade.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Sou um admirador das atrizes e admito que tenho um fascínio especial pela Camila Morgado. Penso que ela é a nossa Cate Blanchett e estou extremamente feliz com a participação dela cada vez mais frequente no cinema. Também reservei um dia para maratonar a primeira temporada de Bom Dia, Verônica e fiquei hipnotizado pela sua interpretação. Nunca canso de enaltecê-la.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Uma fuga da nossa finitude.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

No fim de novembro de 2016, acompanhei a Mostra Cinema de Invenção no CineSesc. A projeção de O Império do Desejo, filme 1981 dirigido pelo Carlos Reichenbach, aconteceu com uma cópia 35mm preservada pela Cinemateca Brasileira. Foi inusitado quando alguns fotogramas "pegaram fogo". Nunca havia testemunhado aquilo, até porque hoje em dia tudo é exibido em DCP.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Pau que nasce torto nunca se endireita.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

De modo algum. Até mesmo por grandes nomes do cinema mundial dedicarem pouco de seu tempo a apreciar filmes alheios. Em alguns casos, até prefiro que não sejam, pois assim não se deixam contaminar por referências, entregando obras mais autênticas, com estilos e narrativas que não testemunhamos com frequência.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Não é o primeiro que me veio em mente, mas acho bem apropriado responder Flordelis: Basta uma Palavra para Mudar por razões que já conhecemos.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Sou apaixonado por Coração de Cachorro, feito em 2015 pela Laurie Anderson. Assisti duas vezes no cinema e trata exclusivamente sobre um tema que já apareceu em algumas respostas daqui: a finitude da vida.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão? 

Vou te dizer que acho meio brega essas reações muito externadas, embora eu admita que em filmes de terror ou barra-pesada eu possa tê-las involuntariamente. Gosto mais de guardar comigo ou compartilhar com algum amigo que esteja me acompanhando as impressões mais imediatas. Mas em festivais é habitual o aplauso na première de qualquer filme, algo que se dá mais de modo protocolar do que necessariamente por manifestação que corresponda ao que realmente penso sobre o que acabei de assistir.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Nicolas Cage é um baita ator e só está metido em tralhas porque não é fácil envelhecer em Hollywood e as contas precisam ser pagas. Mas respondendo a questão, o melhor filme que ele já esteve foi Peggy Sue, seu Passado a Espera, do Francis Ford Coppola. Mas está longe de ser a sua melhor interpretação - neste quesito, você vai encontrá-la em Vício Frenético, a refilmagem conduzida pelo Werner Herzog do filme do Abel Ferrara.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Eu atravessei um período de conflito com o processo de escrita - na realidade, ainda estou nele. O YouTube foi a plataforma que renovou o meu interesse em produzir conteúdo sobre cinema, até porque lá realmente sinto um retorno da parte de quem esbarra com o meu trabalho. Portanto, tenho acompanhado cada vez menos sites de cinema, principalmente aqueles de médio e grande porte que dependem de clickbaits e um sem número de anúncios para conseguir retornos financeiros. Mas posso te dizer a pessoa que mais assisto pela internet atualmente: tem um sujeito engraçadíssimo que descobri recentemente chamado Tanner James, criador do canal Unboxed Watched and Reviewed. Eu adoro acompanhar qualquer conteúdo sobre bons filmes ruins, controversos e malditos e o dele é um prato cheio. Já no Brasil, acompanho o trabalho da Fernanda Soares, dona do canal Hollywood Forever TV e que também colabora pra TNT. Adoro o jeito que ela se comunica, além de fazer um trabalho muito detalhado de pesquisa e roteiro sem jamais cair naquelas afetações de pessoas que somente cobrem cinema pra ostentar uma imagem rasteira de influenciador digital. 

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11/12/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #208 - Maurício Comin


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Criciúma (Santa Catarina). Maurício Comin é acadêmico de Administração: Gestão e cinéfilo de coração, basicamente nasceu e cresceu em vídeo locadoras, e ainda frequenta as que têm em sua cidade, mesmo com os streamings e torrents. Mais raro ainda é que adora assistir filmes em 3D. Já foi responsável pela captação sonora de um curta-metragem que fez para um pequeno curso que teve na sua cidade e escreve suas críticas em seu blog pessoal exclusivamente para filmes e séries.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Na minha cidade só tem 3 cinemas de 2 redes, teria que ser o GNC Nações por ter as principais estreias da semana e ter boas opções para sessões legendadas (inclusive à tarde), além da boa qualidade de som, imagem e 3D.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Não saberia dizer qual o primeiro, mas dois exemplos que me vem à mente é A Chegada, que após o fim da sessão, percebi que todos que estavam no cinema na sessão que peguei saíram debatendo o filme, meu primo que estava junto disse que viu um rapaz boquiaberto (literalmente), e pessoalmente, foi um filme que me fez refletir muito sobre sua história e significado, isso é algo que hoje em dia (ou mesmo na época) é inédito para um filme e mostra o quanto o cinema é uma experiência coletiva incrível e maravilhosa.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

São tantos diretores que amo, mas escolheria Steven Spielberg e ficaria na dúvida de escolher qual o meu favorito dentre tantos filmes excepcionais (mas Jogador Nº 1, Indiana Jones, E.T.: O Extraterrestre e Guerra Dos Mundos são os meus favoritos).

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Um que me marcou muito foi 2 Coelhos do Afonso Poyart, muito por causa da sua linguagem dinâmica e estilosa, e também pelo ritmo vibrante e pelas sequências de ação absurdamente espetaculares, e que para mim foi a prova definitiva de que o nosso cinema poderia criar algo tão parecido ou igual a Hollywood.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Muito mais que assistir a filmes clássicos e blockbusters: É vivenciar as histórias junto com os personagens vistos em tela e se emocionar ou sentir medo junto com eles. É descobrir novos universos ou histórias que jamais teríamos a chance de conhecer. Esquecer o mundo lá fora e mergulhar para dentro da tela do cinema (ou da TV) e mergulhar em sons, música e imagens que nunca vimos antes. É refletir sobre a nossa própria existência e nossas relações uns com os outros, assim como entrar em contato com emoções que não imaginaríamos sentir. É onde os mais belos sonhos e os mais terríveis pesadelos se tornam realidade. É magia.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito que entendem mais de cinema de um modo mais financeiro.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito que não, pode até ser que os números de salas reduzam com o passar dos anos, mas acho muito difícil que acabe.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

São tantos, mas focando em um recente, diria que a animação Kubo e As Cordas Mágicas se encaixa nisso. Além de tecnicamente impecável (afinal, é stop motion) e visualmente belíssima, tem uma história emocionante e linda.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Se dependesse de mim, só reabriria depois da vacina, mas como as salas reabriram (e cheguei a ir assistir Tenet no cinema), diria que eles estão muito mais cuidadosos do que qualquer outro lugar que está aberto.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acho que o cinema brasileiro tem começado a criar obras excelentes e que se arriscam mais, especialmente nesta última década, onde vimos novos nomes surgindo e também uma miscelânea de gêneros e estilos, onde vemos que há um esforço em criar produções diferentes.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Rodrigo Santoro ou Wagner Moura.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Uma arte inigualável em sua capacidade de provocar diversas sensações.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Tenho uma parcela de azares e coisas inusitadas que aconteceram, mas a mais doida foi quando fui assistir Mad Max: Estrada Da Fúria em IMAX 3D: Em algum momento do filme (ainda na metade), na mesma fila que a minha e a poucas cadeiras de distância, um rapaz com sua namorada diz pro que está atrás dele (que estava com seus amigos) que é "pra ele parar de chutar a cadeira, se não vai meter porrada", logo em seguida, o cara tentou partir pra cima do rapaz atrás dele (e o filme rodando normalmente). Conseguiram separar, o que partiu pra cima do rapaz ainda continuou xingando ele quando se sentou novamente.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Assisti partes, nunca inteiro, mas já merece entrar para a história do cinema mundial só pela forma original e revolucionária que sua trama é encerrada com discurso social e a escravidão infantil acabando apenas arremessando uma pá, tudo isso ao som de É o Tchan.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente, mas acredito que um diretor que tenha uma bagagem cinematográfica tende a criar suas obras com mais paixão, buscando revigorar a linguagem cinematográfica.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

São tantos, mas o que lembro que achei tenebroso de ruim é aquele The Morgue, que foi batizado no Brasil como Cadáveres 2.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Assisti muitos poucos documentários, mas me recordo que gostei de Uma Verdade Inconveniente.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Já, não lembro quantas vezes, mas me recordo que aconteceu na sessão de Harry Potter e As Relíquias Da Morte: Parte 2 e Batman: O Cavaleiro Das Trevas Ressurge.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Tem vários dele que gosto muito (os da boa fase), mas ficaria com o excelente Presságio.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Omelete e CinePOP.

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Pausa para uma série - The Undoing


Quando as verdades só aparecem após fatos impensáveis. Produzida e exibida pela HBO, a minissérie de seis capítulos The Undoing é um provocante drama sobre as verdadeiras facetas do ser humano camuflada de thriller jurídico. Dirigido pela cineasta dinamarquesa Susanne Bier (diretora de ótimos filmes como Brothers e Depois do Casamento), o projeto nos apresenta uma profunda análise, quase um jogo de xadrez da realidade, sobre a vida de uma psicóloga que vê seu mundo modificar completamente quando começar a ter incertezas sobre tudo que acredita após o assassinato brutal de uma mulher. A minissérie prende e nos leva a um desfecho satisfatório para quem chegou ao entendimento das entrelinhas. Nicole Kidman e Hugh Grant em atuações destacadas. Mais um bom projeto da HBO.


Na trama, conhecemos Grace (Nicole Kidman), uma psicóloga formada em Harvard, muito bem sucedida que mora com o marido Jonathan (Hugh Grant) e o filho do casal Henry (Noah Jupe) em um apartamento de altíssimo padrão numa das maiores cidades norte-americana. Certo dia, após um brutal assassinato, Grace vê sua rotina completamente modificada quando seu marido, que desaparece misteriosamente no dia seguinte ao assassinato, se torna um dos principais suspeitos do crime. Assim, contando com a ajuda do pai, o milionário Franklin (Donald Sutherland), precisará ir em busca não só da verdade sobre o caso mas também de analisar todo o contexto de seu casamento ao longo dos últimos anos.


Por mais que muitos falem sobre uma parte do foco ser sobre quem realmente assassinou a vítima, ou descobrir os segredos por trás do crime, The Undoing consegue ter um sentido paralelo muito interessante quando analisamos a personagem Grace, a protagonista. Sua vida modifica-se completamente e a questão dos conflitos sobre as convicções que possui, toda vez colocadas em cheque, principalmente, pelos interrogatórios nada amistosos do policial Mendoza (Edgar Ramírez) são a grande chave para entendermos as decisões do desfecho. Muito mais drama do que qualquer filme de tribunal, o projeto é uma análise profunda sobre a mente humana e seus restarts.  

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10/12/2020

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Crítica do filme: 'Barrage'


Como percorrer 10 anos em alguns dias? Buscando responder a essa e a muitas outras perguntas, Barrage, dirigido pela cineasta de Luxemburgo Laura Schroeder (em seu segundo longa-metragem) é um recorte de uma mãe e sua tentativa de recuperar anos perdidos na criação e afeto da filha. O ritmo é lento, sem muitas informações sobre o passado da protagonista, vamos pela dedução de acordo com as migalhas de memórias que nos apresentam o roteiro. Há um paralelo interessante entre o jogo de tênis (assunto que mãe e filha possuem em comum) e a maternidade, sobre a questão existencial da ‘obrigação x pelo amor’. O projeto conta com a participação especial da fabulosa atriz francesa Isabelle Huppert.


Na trama, conhecemos Catherine (Lolita Chammah), uma mulher que possui abalos psicológicos ligados a seu passado e volta após dez anos morando na Suíça a frequentar a mesma cidade de sua filha Alba (Themis Pauwels), que fora criada e mora com sua avó materna Elisabeth (Isabelle Huppert). Buscando essa reaproximação, mãe e filha embarcam em uma jornada de mágoas e ressentimentos sobre tudo que não viveram.


Co-produzido por Luxemburgo, Bélgica e França, o projeto explora em pouco mais de 100 minutos, uma dupla ótica, que é a grande sacada do roteiro. Com seu primeiro ato tenso e sem muitas informações, percebemos as dificuldades iniciais de Catherine de se entender minimamente com a filha. Há um divisor de águas nessa relação, que começa muito distante, logo nesse arco inicial. Contando histórias de sua família pela sua visão, Catherine embarca com Alba em uma viagem pelas emoções que foram vividas separadamente durante todos esses tempos. Já que as memórias acabam machucando muito, há algumas cenas sem diálogos, onde o olhar diz bastante.


Barrage é mais um filme que explora relacionamentos entre pais e filhos. O final aberto deixa margens para interpretações: será que elas algum dia vão se entender? Será que elas já se entenderam?

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #207 - Roger D. Bravo


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Roger D. Bravo é nascido e criado na Zona Leste de São Paulo. Participa da produtora artística independente Vivárte, é um dos realizadores do Cinédito (Instagram @cineditobr), canal dedicado à apresentação e discussão do cinema brasileiro. O projeto foi desenvolvido em 2019 com dois amigos, a Júlia e o Eduardo - esse que continua o ajudando na manutenção do conteúdo. Vê no cinema uma manifestação social como possível espelho de quem somos e, por isso, luta pelo acesso e divulgação do audiovisual nacional para todos nós que, por direito, o merecemos.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Por vários motivos, não costumo visitar tantas salas quanto gostaria. Em 2020, obviamente visitei ainda menos kkkk. Mas curto muito a programação do Cine Marabá, um cinema de rua que fica no centro da cidade. É um cinema de poucas salas, mas que mistura muito bem sua programação entre "blockbusters" e filmes nacionais e independentes. Fora isso, não posso deixar de falar que o preço é ótimo, além de ser um local histórico da nossa cidade e do nosso cinema.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Stalker, do Andrey Tarkovsky.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Não consigo escolher de verdade uma diretora ou diretor favorito, mas vou citar Rogério Sganzerla e seu filme Sem Essa, Aranha.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Terra em Transe, do Glauber Rocha. Dizer o porquê é muito difícil: são muitos motivos e se eu soubesse explicar, não seria meu filme favorito.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo é se importar com cinema. Propaga-se muito (e toscamente) a ideia de que ser cinéfilo é ver todos os filmes do momento e assistir várias produções diferentes para encher sua conta do "Letterboxd". Mas isso não significa nada. Muitos dos "cinéfilos" que conheço são meros consumistas - não ligam para cinema. Um cinéfilo é (ou deveria ser) aquele que se importa com a função do cinema, com o encaminhamento e preenchimento da uma indústria que afetou fortemente o passado e afetará diretamente o futuro. Isso, inclusive, vale para a relação desse indivíduo com a produção do seu país - usando o cinema como espelho dialético da sua realidade.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

As programações são prioritariamente feitas por quem entende e gosta de dinheiro. Se o cinema é ou deveria "ser dinheiro" ou não, é uma discussão boa. Quem tem a resposta é o público - então, precisamos de mais salas de cinema pelo Brasil para responder o que é cinema antes de mais nada.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Ganga Zumba, do Carlos Diegues.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não, mas também não devo dizer se uma pessoa deveria ou não sair de casa durante a pandemia para ver filme meia-boca no cinema. Eu, definitivamente, não recomendo comprar um ingresso para ser cobaia de distribuidora. Sobre cinemas pequenos (que correm mais riscos financeiros com a pandemia) existem diferentes formas de ajudar esses locais sem ser com a compra física de ingressos.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Artisticamente, falando de filmes, está maravilhosa. Institucional e politicamente, um desastre. A Cinemateca brasileira, por exemplo, acaba de ser sequestrada pelo Ministério do Turismo; diversas produções sofrem com a incompetência das agências e indivíduos responsáveis pela cultura nacional; e a luta por mais diversidade e acesso no nosso mercado ainda engatinha aos poucos. Mesmo assim, focar no "lado bom", nas produções incríveis que temos e que têm ganhado popularidade recentemente, como a recente vencedora do Emmy "Ninguém tá Olhando", é um ótimo caminho para conseguirmos lidar com as partes desastrosas e gerar a comoção necessária para a mudança.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

André Novais Oliveira.

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é política, mesmo quando feito de filmes não-políticos.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Não me lembro de nada sensacional, mas, uma vez, aconteceu um erro na projeção que fez o filme parar e ser exibido de novo. Não durou muito e foi bem pouco romântico.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Melhor do que muitos imaginam.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Citando uma frase que li do Adirley Queirós, um diretor que curto muito, "cinéfilos cabulosos viram cineastas cabulosos". Então, é possível fazer um filme sem ser cinéfilo, mas esse filme dificilmente será cabuloso.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Talvez Holocausto Canibal. E não falo isso de um jeito sensacionalista, tipo, "esse filme é tão violento, meu deus, que aterrorizante", mas de um jeito sincero. É um filme bem ruinzinho mesmo, coisa do homem branco com complexo de colonizador.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Vou falar do clássico Cabra Marcado para Morrer, do Eduardo Coutinho, mas gostaria de fazer uma menção aos filmes do próprio Adirley Queirós, que já citei aqui. Seus documentários mudaram para sempre minha forma de ver o estilo.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Não, e acho bem ridículo quem faz isso em sessões comuns hahaha. Compreendo aplaudir em festivais e coisa do tipo, mas não vejo porque fazer isso dentro de uma sala da Moviecom ou sei lá. As risadas, lágrimas, sustos ou seja lá o que for ao longo do filme são as verdadeiras palmas.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Adaptação, do Spike Jonze.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Acho que o Cinemascope e o Cinemação.

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Crítica do filme: 'O Som do Silêncio' (Sound of Metal)


O som é um mero detalhe quando encontramos um novo sentido em nossas vidas. Uma das gratas surpresas desse ano tão louco em nossas vidas sem dúvidas é esse fenomenal trabalho dirigido pelo estreante em longas-metragens Darius Marder. O Som do Silêncio (Sound of Metal, no original) é um angustiante drama sobre o silêncio que precede o esporro. Contando a vida de um baterista que descobre que está ficando surdo, seu mundo novo, descobertas, uma nova linguagem, somos testemunhas da importância dos inquietantes barulhos da alma. Uma atuação arrebatadora e emocionante do ator Riz Ahmed (concorrente fortíssimo à muitas premiações), além dos ótimos Olivia Cooke e Paul Raci. Com a chance de filmes de streaming concorrerem ao próximo Oscar, Sound of Metal merece algumas vagas em algumas categorias.


Na trama, conhecemos Rubem (Riz Ahmed), um baterista de um dueto que roda os Estados Unidos à bordo de um trailer fazendo turnês, uma espécie de vida cigana do rock. Ele é um ex-dependente químico que está a quatro anos limpo e quatro anos juntos de Lou (Olivia Cooke), sua namorada e vocalista do dueto. Certo dia, durante um show, percebe que sua audição não está muito boa e resolve procurar um especialista que o avisa que ele ficará surdo em breve. Precisando reformular toda sua vida, seu relacionamento com a namorada, ele resolve se juntar a um grupo para surdos, chefiado por Joe (Paul Raci) em busca de aprender como viver nessa nova situação de vida.


O roteiro navega de maneira intensa por todas as fases que Rubem passa: da descoberta da deficiência, à constatação, o desespero, nos novos planos do que fazer com sua vida. Há uma constante e emocionante tentativa de controle da mente para se entender a situação. Essa fase inicial é muito difícil e acompanhamos a fundo todos os bons e péssimos dias do protagonista.  Tudo se encaixa perfeitamente no roteiro, os arcos são equilibrados com grande dose de intensidade. O ritmo do filme não é frenético mas mostra sua força com uma câmera inquietante de Marder que parece querer nos detalhar cada milímetro de sofrimento que o protagonista, no fruto de seus conflitos, passa.  


Não há como negar, Sound of Metal tem a cara do Oscar. Com três grandes atuações, o filme é uma grande busca de um homem para conseguir viver uma nova vida que nunca imaginou mas que o mostra um novo universo igual ou tão bom aquele que ele vivia. Belíssimo trabalho.

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09/12/2020

Crítica do filme: 'Arizona Nunca Mais' *Revisão*


Como ser fiel à própria natureza? Quando a distância da realidade encontra a genialidade para criticar pelas entrelinhas. Lançado no ano de 1987, dirigido por Joel Coen com roteiro do mesmo juntamente com seu irmão Ethan (dupla fantástica que sempre nos brindou com ótimos filmes), Arizona Nunca Mais faz parte daquele bolo de filmes inesquecíveis de quando Nicolas Cage escolhia bons papéis. Com um narrador presente, excêntricos personagens, um arco inicial corrido com deixas em forma de críticas a todo instante, o projeto apresenta a saga de um homem em busca de uma longe redenção quando busca ser fiel à própria natureza. No elenco, além de Cage, nomes marcantes como John Goodman, Holly Hunter e Frances McDormand.


Na trama, acompanhamos o desajustado H.I (Nicolas Cage) um homem com uma tatuagem de pica pau, descabelado com diversas passagens pela polícia que acaba se apaixonando pela policial Ed (Holly Hunter). Tentando ser uma família normal, resolvem sequestrar uma criança pois Ed não pode ter filhos. Assim, embarcam em uma louca jornada que envolve maternidade, dois bandidos amigos de H.I e uma sucessão de loucuras.


Imerso a uma insana realidade, os irmãos Coen conseguem adaptar críticas nas entrelinhas, no que fica implícito, dentro de diálogos e situações que ocorrem durante os 94 minutos de projeção. Crítica ao sistema penitenciário norte-americano, sistema de adoção, é um Pot-pourri de situações no-sense que busca explicar as origens da própria natureza dos personagens. As vezes comédia, as vezes aventura Arizona Nunca Mais é um filme de quase três décadas atrás mas que se torna atemporal em muitos momentos.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #206 - João Antoniotti


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Sintra (Portugal). João Antoniotti já fez ginástica, judô, foi escuteiro, futebolista, bailarino, técnico de cinema e de som, bartender, guia turístico; é exímio condutor, DJ e agora também faz podcast! @sessaodameianoite (no Instagram).

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

A nível de programação talvez o cinema do CascaiShopping porque costuma ter um leque variado de filmes e géneros, e normalmente os filmes que eu quero ver.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Quando era mais novo preferia ver filmes em casa, mas tenho vindo a preferir uma sala de cinema. Houve uma situação numa sala que me marcou e fez pensar “realmente o cinema é um lugar diferente”. Foi no filme do Mr. Bean (Mr. Bean’s Holiday) em que comecei a rir numa situação em que estava silêncio completo na sala (com exceção do filme) e aí, começa o meu amigo que foi comigo a rir, e lentamente, as pessoas em volta começaram a rir também até chegar à sala toda. Basicamente, eu pus a sala toda a rir.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Não gosto deste tipo de questão por ser tão limitadora, mas talvez Martin Scorsese com O Lobo de Wall Street.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O meu filme preferido em português é o Balas e Bolinhos 3 - provavelmente.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Para mim é adorar cinema, emocionar-se com cinema, ficar excitado com cinema, ver muitos filmes e ser um conhecedor de cinema - dos seus intervenientes e histórias.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acho que sim, mas penso que não.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Espero que não, embora aceite quem ache que o cinema tem os dias contados devido ás plataformas de streaming e situações como esta que vivemos em 2020.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

TENET do Christopher Nolan.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Sim, acho que deveriam manter os horários normais.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Não sou grande consumidor de cinema brasileiro, mas do que já vi, dá para ver que se trabalha muito bem no cinema brasileiro. Recentemente vi os filmes do grupo Porta dos Fundos em que brincam com a última ceia e a paixão de cristo, e gostei bastante.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Gosto do Wagner Moura, Rodrigo Santoro e Alice Braga, são os que vou acompanhando mais, porque consumo mais filmes norte-americanos.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Um espetáculo visual, auditivo e emocional!

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

No filme Avengers: Endgame quando o capitão América pega no martelo do Thor “Mjolnir”, o cinema todo reagiu todo em êxtase. Foi uma situação muito engraçada e marcante; parecia que estava em casa a ver um filme com a rapaziada, grande cena!

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Para mim Cinderela Baiana eu entendo que é uma mulher bonita, elegante e com classe, que é também baiana; mas após pesquisa online já vi que é um filme brasileiro que não conheço.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não, mas acho que pode ajudar para a qualidade final do projeto, ou por outras palavras, é preciso ser/ter um grande intelecto para se realizar um bom filme sem ser cinéfilo.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Boa questão, assim de repente lembro-me do Solomon Kane, The Counselor e Vicky Cristina Barcelona.

 

17) Qual seu documentário preferido?

O meu documentário preferido é em série, chama-se Hip Hop Evolution.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Nunca fiz isso e acho bastante peculiar quando vejo/acontece, sem sentido pejorativo ou malicioso, acho uma curiosidade, aliás, até acho uma atitude bastante nobre.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Lord of War.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Talvez IMDB, mas consumo mais vídeos no YouTube do fandom e outras c
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08/12/2020

Crítica do filme: 'Buddy Games'


Buscando falar sobre amizade, sob a ótica da disputa, dentro de um universo machista Buddy Games, dirigido pelo estreante em longas-metragens atrás das câmeras Josh Duhamel (que também atua no filme) é apenas mais um besteirol norte-americano. Um filme para rir (se você conseguir) e para não pensar. Parecido com o filme Te Peguei! mas sem a profundidade do mesmo. É difícil entender a mensagem do filme em alguns momentos, os arcos são muito mal definidos tentando em diálogos apavorantes de toscos um sentido sobre amizade da maneira mais arcaica possível.


Na trama, conhecemos o milionário Bob (Josh Duhamel), um empreendedor de sucesso que todo ano se reunia com os amigos Shelly (Dan Bakkedahl), Doc (Kevin Dillon), Durfy (Dax Shepard) e Bender (Nick Swardson) para um jogo de disputas onde apenas um é consagrado vencedor. Num desses anos, um trágico acidente marca a ‘competição’, deixando os amigos distantes e anos sem disputarem novamente suas ‘competições’. Até que um deles está no hospital se tratando de uma depressão profunda e convence os outros amigos a voltarem as disputas da ‘competição’. Assim, com disputas de batidas de cabeças em uma melancia, corrida de bolas, corrida na lama, somos testemunhas de cenas bizarras.


O recurso do humor sem noção é aplicado a todo instante, nos escassos momentos de pausa dramática o filme parece que perde combustível nessa jornada rumo a um sentido que é difícil compreender. Feito para rir, gera momentos constrangedores para nossos olhos. Os coadjuvantes são completamente esquecidos dentro do projeto, não gerando subtramas que poderiam sustentar melhor a mensagem. Um dos piores filmes dos últimos tempos com toda certeza.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #205 - Tiago Minamisawa


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Campinas. Tiago Minamisawa é diretor, roteirista e produtor do curta-metragem Sangro, ganhador dos prêmios “Silver Hugo de Melhor Filme de Animação” no Festival de Chicago 2019, “Melhor Curta-metragem Brasileiro” e “Melhor Documentário” no Anima Mundi 2019, do “Prêmio Itamaraty de Melhor Curta-metragem” no Festival Kinoforum 2019, “Melhor Filme do Juri Popular” no Festival de Vitória, do “Kikito” no Festival de Cinema de Gramado 2019, “Melhor Curta-metragem Brasileiro” no Festival Animage 2019, o filme também foi selecionado para mais de 70 festivais internacionais, entre eles o Festival de Animação de Annecy (considerado o festival mais importante do cinema de animação mundial), Festival de São Francisco, Interfilm Berlim e Nouveau Cinéma de Montreal. Produziu e roteirizou o curta-metragem Guida, de Rosana Urbes, ganhador do prêmio Jean-Luc Xiberras no “Festival Internacional de Animação de Annecy 2015” e de mais de 80 prêmios nacionais e internacionais. Produziu e roteirizou também o curta-metragem Um Lugar Comum, vencedor do grande prêmio do júri no “Festival internacional de Animação do Uruguai”. 

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Infelizmente Campinas é uma cidade com poucas opções culturais e não possui nenhum cinema que não seja blockbuster de shopping.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O Rei Leão.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

8 e 1/2 de Federico Fellini .

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Céu de Suely de Karim Aïnouz. Por ser um filme extremamente brasileiro com uma história simples e profunda e atuações impecáveis.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É amar todos os tipos de filme e conseguir tirar sempre algo de positivo da experiência de assistir uma obra, mesmo que ela não seja a que mais te agrade tecnicamente.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não, acredito que a maior parte dos cinemas programam baseado na pressão que grandes distribuidoras exercem nos donos de salas.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acho que enquanto as pessoas apreciarem a experiência de assistir a um filme de forma coletiva em uma tela gigantesca as salas de cinema não irão acabar.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Amores Expressos de Wong Kar-Wai.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acredito que se outros estabelecimentos estão abrindo é uma hipocrisia não autorizar a reabertura de salas de cinema. Desde que sigam os protocolos de limite de pessoas, distanciamento e uso de máscara, não vejo por que não abrir.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

A produção brasileira atualmente está excelente com filmes se destacando em grandes festivais mundiais (tanto de longas como de curtas-metragens). Infelizmente com a política de caça às bruxas que está sendo promovida pelo atual desgoverno, não acredito que as perspectivas futuras sejam as melhores.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Karim Aïnouz.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é o ar que eu respiro.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Vou contar uma compartilhada pelo crítico Rubens Ewald Filho:

Um dia ele dormiu de roncar em uma sessão de Joana D'arc estrelado por Ingrid Bergman e dirigido por Roberto Rosselini e foi acordado pela Isabella Rossellini, filha dos dois.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Um clássico ou por que choras Cidadão Kane?

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não gosto de dizer o que precisa ou não precisa. Acho que de qualquer forma ajuda.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Vários filmes que eu vejo a crítica aclamando por que ganhou algum festival importante e quando vou assistir acho horrível.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Jogo de Cena de Eduardo Coutinho.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Sim. Alice Junior.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Adaptação.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Papo de Cinema.

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07/12/2020

Crítica do filme: '4 Konige'


Quase sempre precisamos chorar para entender melhor a vida. Em seu primeiro longa-metragem, lançado no ano de 2015, a cineasta alemã Theresa von Eltz mostra uma parte da trajetória de quatro jovens com problemas em seu presente buscando respostas e ajuda para enfrentarem as dificuldades em uma clínica intensiva. Há vários contrapontos interessantes, como ignorar o assunto ou assumir a responsabilidade, o que acaba sendo um embate diário para alguns deles. Tentativa de suicídio, ataque de pânico, bullying, vemos de tudo um pouco através da ótica dos próprios jovens e de um psiquiatra próximos dos pacientes, com vontade de ajudar. É um projeto profundo, com intensas atuações.


Na trama, acompanhamos Alex (Paula Beer), Lara (Jella Haase), Timo (Jannis Niewöhner) e Fedja (Moritz Leu), quatro jovens que se internaram em uma clínica em busca de melhoras nos seus quadros emocionais. O psiquiatra Dr. Wolff (Clemens Schick) busca ajuda-los de todas as formas e inclusive propõe que eles passem o natal juntos. Assim, aos poucos, vamos descobrindo os motivos de cada um deles estar ali e a busca constante de todos por uma melhora.


Há questões sociais, familiares, envolvidas nos traumas que acompanhamos e tudo isso é abordado de maneira profunda pelas linhas do roteiro assinada por Von Eltz e Esther Bernstorff. Há cortes secos de câmera, deixando pequenas entrelinhas para uma melhor compreensão sobre as atitudes, ou melhor, reações de cada personagem dentro de seus traumas. Há um descontrole sobre a raiva, uma carência quase obsessiva, bullying que deixa marcas, cada caso é diferente um do outro mas juntos eles buscam encontrar uma mesma solução satisfatória para todos.


O papel do psiquiatra também é muito bem definido na trama, nos mostrando seus conflitos e dramas dentro da instituição, principalmente um em especial com uma enfermeira que não gosta de seus métodos.  4 Konige é um ótimo filme, cheio de momentos para refletirmos sobre o próximo.

 

 

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #204 - Gabie Pereira


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de São Paulo. Gabie Pereira, tem 25 anos, é fotógrafa e produtora audiovisual. Pra ela, o cinema vai muito além de um mero entretenimento, ele é uma ferramenta de reflexão e transformação social.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Gosto muito do cinema Marabá, mais por causa da arquitetura do cinema, e por ser um cinema de rua, do que pela programação em si.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

 Desde a primeira vez que fui ao cinema senti que era um ambiente meio mágico, isso ocorreu quando eu tinha uns 6/7 anos.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Kleber Mendonça FilhoBacurau.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Bacurau, por ser um filme com muitas críticas sociais, gosto bastante de como a população nordestina é representada, pois não é feita da forma caricata que costumamos ver.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Para mim, ser cinéfilo é algo muito amplo, paixão pelo cinema já significa ser cinéfilo.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Em São Paulo existem muitas salas de cinema, para todos os gostos e públicos, então sim, têm várias com programações mais cults.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acho que não tão cedo. Com o advento da TV muitos achavam que o rádio acabaria, e apesar de ter uma audiência muito menor, ele ainda está vivo. Acredito que com o cinema é a mesma coisa. Até porque a experiência de se assistir um filme em casa e em uma sala de cinema é bem diferente, todo mundo gosta de pegar um cineminha de vez em quando.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Bastardos Inglórios do Tarantino. Acho esse filme incrível.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não, não é seguro.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Sim, existem muitos filmes bons, o que falta mesmo é espaço.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Não tenho um artista preferido. Assisto os filmes mais pelas histórias mesmo.

 

12) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Nunca vi nada de anormal, infelizmente... ou não.

 

13) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Ainda não vi kkkkk.

 

14) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Como eu disse, pra mim ser cinéfilo é ter paixão pelo cinema, então acho que ele precisa conhecer bem sobre cinema e ter referências.

 

15) Qual o pior filme que você viu na vida?

Através da Sombra de Walter Lima Jr. Nossa... horrível.

 

16) Qual seu documentário preferido?

Últimas Conversas de Eduardo Coutinho.

 

17) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Sim, para Bacurau.

 

18) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Não sei se é o melhor, mas gosto de Cidade dos Anjos.

 

19) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Adoro Cinema.

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