Quando se encontra a liberdade, o resto é silêncio. Com a
difícil missão de criar um remake de um dos filmes orientais mais aclamados por
crítica e público em toda a história do cinema, o diretor norte-americano Spike
Lee tenta mas não consegue muito êxito na sua versão de Oldboy. Com a mesma
chuva, o mesmo porre e uma introdução mais comprida e detalhada o filme até que
começa muito bem só que acaba caindo na armadilha de tentar ser melhor que o
original, e aí caros amigos, vai tudo por água abaixo. Um rápido exemplo: a
aguardada cena do martelinho contra milhões frustra os cinéfilos. Do modo
norte-americano de reproduzir tal sequência, vira uma espécie de jogo Arcade: Cadilac Dinossauro ou Street of Rage para citar dois apenas.
Somente Tarantino saberia igualar ou melhorar tal cena, histórica para o
cinema.
Na trama, conhecemos o alcoólatra e cafajeste Joe Doucett
(Josh Brolin). Um homem odiado por muitos que após uma reunião imperfeita em um
chique restaurante, resolve afogar sua mágoas e beber além da conta, acabando
acordando em um misterioso quarto de hotel. Aos poucos, Joe vai descobrindo que
está sendo na verdade mantido como refém e isso continua por intermináveis 20
anos. Até que um dia, após uma tentativa frustrada de fuga, é largado dentro de
uma mala no meio de um vasto campo verde e assim inicia sua busca pela filha abandonada
e por vingança.
A virada do século, o escândalo de Clinton, o atentado as
Torres Gêmeas e outras tragédias norte-americanos são vistas sob a mesma ótica
pelo seqüestrado. Se Tom Hanks tinha Wilson, Josh Brolin ganha um amigo hamster
para dividir um pouco da dor de seu sofrido personagem. Esse momento, o dos 20
anos em cárcere privado, é mal explorado e acaba ficando muito corrido o que
provoca uma falsa empatia do público com o protagonista da história. Assistindo
Xena, Telequete e algumas outras bobagens na Tv, o personagem vê sua barba
crescer, malha todo dia e incrivelmente não envelhece.
O Oh Dae-su norte-americano ganha um Iphone e utiliza o Google
para buscar os possíveis responsáveis pelo seu seqüestro. Esse uso da
tecnologia, na verdade uma nova ferramenta de ambientação da história, até
certo ponto descaracteriza um pouco a trama original. Não adianta colocar
caixinhas de comida chinesas, guarda costas orientais que isso nem um pouco transfere
toda aquela atmosfera conseguida por Chan-wook Park e Cia no filme sul-coreano.
E pra piorar, as refeições do sequestrado tornam-se oportunidades para diversas
marcas de comida famosas terem na vitrine da telona o seu produto escancarado.
Nem ao menos delicado foi feito isso, lamentável.
Josh Brolin se esforça e tanta dar sua cara ao protagonista
deste remake. Gritando muito, com cara de carrancudo em todas as sequências as
vezes parece não dominar seu personagem por completo. Já, a mais competente
artista da família Olsen, Elisabeth, consegue suavizar a sua personagem-chave
adicionando muito à trama. A atriz de 24 anos tem uma cena com Brolin bem
caliente, o que deve elevar mais ainda a faixa etária do filme. Mas o destaque
mesmo nas atuações vai para o sul-africano Sharlto Copley (Distrito 9 /
Elysium) que interpreta com eficácia o grande vilão da história.
Resumindo, o que todo cinéfilo temia acontece, mais um
remake que não dá certo. Salvo Fincher e seu Millenium primoroso,
recentemente falando, é muito difícil reproduzir um clássico do cinema, em outros
moldes, em outros tempos, com outra leitura da mesma história. E não adianta
vir com o papo de que cada filme é único e que não deve-se comparação. No caso de Oldboy – Dias de Vingança
(que subtítulo mais horroroso), por tentar ser um filme para americano ver,
acaba perdendo toda a essência de uma incrível aventura em busca de vingança.