12/11/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #173 - Fernando Nogueira


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, sociólogo e produtor cultural. Fernando Nogueira trabalha com pesquisa e programação cultural desde os anos 1990. Hoje, pesquisa sobre antigos cinemas do interior paulista para um novo projeto.

 

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

O Cine São Carlos. Cinema de shopping, particularmente, eu não frequento, não gosto. E o cinema do Sesc, com excelente programação, porém, não é uma sala de cinema propriamente. A razão do Cine São Carlos tem a ver com a memória do cinema na cidade, do cinema que frequentei nos anos setenta, oitenta e noventa. Eram duas salas – o Studio 1 e 2, na região central da cidade. E permanecem com duas salas. E cinema de rua, coisa rara hoje em dia! Frequento, ou frequentava (antes da pandemia), a depender da programação dos filmes. Portanto, é um cinema que remete ao passado, apesar, que não sou um adepto da nostalgia pura e simples. Penso que a memória deva ter um sentido, caso contrário, ela é apenas saudosismo, nostalgia, reminiscência. Não é a minha praia. A memória deve ajudar a articular, pensar e produzir novos conhecimentos. E a sala de cinema é um objeto valioso para a produção cultural. Como trabalho na área da cultura, então, o cinema, é para mim, não somente cinefilia, mas, ofício, trabalho intelectual, projetos, enfim... Agora mesmo, estou retomando uma pesquisa sobre o cinema em São Carlos, e os movimentos artísticos em primeiro plano. Aliás, o tema dos “velhos cinemas” não sai da minha cabeça há alguns anos. Como percorri, praticamente, as várias regiões do estado de SP por conta de trabalhos desenvolvidos (projetos culturais), em cada cidade “descobria” um velho cinema por lá... E o pesquisador é um cara vidrado na pesquisa, no objeto, no recorte...  Ainda não sei o destino final das pesquisas. Algum projeto sairá do mergulho que estou fazendo. Algum ou alguns. Então, posso afirmar que não me considero um cinéfilo propriamente, mas, um pesquisador. O que não quer dizer que não acompanho o mundo do cinema. Adoro filmes! Na quarentena estou revendo filmes, e conhecendo outros. O cinema é para você conhecer outros mundos.  Mas não gosto de tudo. E nem tudo é cinema! Do cinema americano, o faroeste é maravilhoso, mas, fico mesmo com a produção dos anos 70 e 80: Scorsese, Coppola puxando a fila. Do cinema europeu, fui conhecê-lo na Sessão Maldita, em S. Carlos e na Sessão Zoom em Araraquara, durante os anos de Ciências Sociais na Unesp. E sem contar com os anos do VHS, DVDs. Assisti tudo (ou quase!).  E como objeto de estudo e vivência, o cinema brasileiro! Maravilhoso! Do cinema político ao Mazzaropi. O que ver no cinema brasileiro? Tudo! Se você não conhece o teu cinema, a tua arte, a tua política, em que mundo você vive? Eu sempre provoco por aí em minhas intervenções, em meus projetos, em minhas oficinas. E como estamos no campo da memória cinematográfica, impossível não falar da Cinemateca Brasileira. Do desmonte de nossa guardadora de memórias do cinema nacional. Tá tudo lá. A imagem do Brasil está na Cinemateca. E como ela está? Hoje sendo desmontada, e como política cultural desvalorizada pelo governo Bolsonaro. Uma lástima! Viva a Cinemateca Brasileira!

 

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Provavelmente todos os filmes assistidos durante a infância. Os desenhos animados, talvez. É o primeiro impacto mesmo. O contato com a tela. O olhar para a tela. É o diferencial. Até hoje acho surpreendente.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Todos e todas do cinema brasileiro. Sério! Eles é que formam o meu repertório. Tento acompanhar tudo o que estão produzindo, o tempo todo. Nem sempre é fácil, mas corro atrás mesmo. E tem muita gente do cinema internacional também. E como tem! Pergunta difícil, não dá para responder assim, na lata. O Coppola é um cineasta especial. Do bom e velho cinema...  

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Todos!

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Eu acho que o cinéfilo é uma pessoa dedicada ao cinema. Talvez até de forma radical, um apaixonado pela arte do cinema. Deve ser assim...

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Sim.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não, não... Talvez uma mudança, uma outra arquitetura.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O Duplo, um curta-metragem com a atriz Sabrina Greve. É ótimo! Assistam! ps. Está no Porta Curtas: http://portacurtas.org.br/filme/?name=o_duplo

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Arriscado!

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro é de excelência desde sempre. Premiado nos maiores e melhores festivais de cinema do mundo. É preciso conhecê-lo e reconhecê-lo.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

José Dumont e Marcélia Cartaxo são maravilhosos!!! O De Niro é nitroglicerina pura! E tem a atriz francesa que eu acho a mais bela, Juliette Binoche. Acabei extrapolando a ideia inicial, falei de dois estrangeiros também. O cinema é assim...

 

12) Defina cinema com uma frase:

Eletricidade pura!

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Não estou conseguindo lembrar agora... Faz tanto tempo que não entro em uma sala de cinema...

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

E agora?

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não é necessário ser cinéfilo para gostar de cinema, estudar cinema e produzir cinema. Eu mesmo, como disse na primeira pergunta não me considero um cinéfilo, mas alguém que vivencia o cinema no trabalho e na cultura. Um cineasta precisa entender o cinema. O processo como um todo. E claro, ser criativo, ter uma boa história para contar etc. O que eu acho, reitero, é que para você trabalhar com cinema é necessário você conhecer o teu território, o cinema brasileiro, o conjunto de filmes, o acervo, o contexto. Não é uma questão de reserva de mercado, mas, de conhecimento. Das temáticas, do processo de produção, da política cinematográfica, das novas mídias etc.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Não sei dizer... Tantos, talvez.  Tem muito filme ruim em todas as épocas, cinematografias... O bom é selecionar. O cinema voltado ao entretenimento, puro e simples, eu acho ruim, muitas vezes um tanto ingênuo, infantilizado, enfim.

 

17) Qual seu documentário preferido?

O cinema que dialoga com a política é a minha área de interesse, então, difícil escolher um, mas Viramundo, filme de Geraldo Sarno (1965), Cabra Marcado para Morrer, do Coutinho (1964/84), Jango, do Silvio Tendler (1984) e Liberdade de Imprensa, do João Batista de Andrade (1967) são filmes importantíssimos para a minha leitura sobre cinema e sociedade. Existem outros, claro. Escolhi 4, era para ser apenas 1.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Não me lembro, acho que não.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Gosto de dois: Coração Selvagem (David Lynch, 1990) e Despedida em Las Vegas (Mike Figgis, 1996).

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Acompanho pouco, preciso acompanhar mais.