A realidade nua, crua e bruta dando ar numa tela gigante
para quem quiser ver e sentir. O novo trabalho do genial cineasta britânico Ken Louch é antes de mais nada um belo
soco no estômago das hipocrisias trabalhistas em um mundo dominado por cães
ferozes, muitas vezes, sem sensibilidade. Aos 83 anos, o veterano diretor
parece que nunca perde a mão, não mede esforços e simplicidade para nos mostrar
detalhes profundos de retratos que acontecem nesse lado daqui na tela, principalmente
em um Europa em crise existencial talvez camuflada por notícias que não nos
levam a fundo sobre o que pensar. Você
não Estava Aqui é impactante até seu último suspiro.
Na trama, somos jogados para a realidade de uma família de
classe média baixa britânica, onde o pai Ricky (Kris Hitchen), um torcedor entusiasmado do Manchester United,
resolve investir em uma van de entregas para tentar mudar um pouco da realidade
apertada financeira de sua família. A questão é que a partir desse ponto, acaba
influenciando a todos em sua volta, sua esposa Abbie (Debbie Honeywood em uma atuação primorosa) é uma cuidadora que após
vender seu carro para o investimento na van de Ricky vê sua agenda e rotina
mudarem ocasionando em uma escassez maior ainda de uma coisa valorosa: o tempo.
Assim, os dois filhos do casal também passam por transformações e a todo
instante perguntamos, será que Ricky fez o certo em tentar dar um passo além do
que já tinha? As certezas dessa resposta nos chegam forte quando entendemos
melhor a empresa que fornece os conteúdos de entrega ao protagonista.
O universo próximo do trabalho, o sustento, com a falta de
tempo para sua família. Os duelos que Ricky enfrenta são diversos e as coisas
só pioram com a família desmoronando por falta de orientação dos que sustentam
a casa. Atencioso e responsável, o protagonista retrata milhares de pessoas dia
a dia que lutam bravamente para sobreviver em vez de viver. Com poucos prazeres
e muita obrigação, Rickey é jogado em um universo onde as leis trabalhistas
parecem que não existem aos que mais precisam. Ken Louch coloca o dedo na ferida, quase um filme denúncia sobre
todo um retrato até bem amplo de uma sociedade que se importa pouco pelo
próximo.
Uma observação importante também. Feliz em ver o circuito
desse belo projeto ampliado até mesmo para cinemas de shopping. Importante
filmes que nos fazem refletir estarem no máximo de lugares possíveis onde tem
uma telona. Imperdível.