O curioso trajeto para a religião dentro de uma misteriosa comemoração com contexto inusitado. Na linha tênue entre média e longa-metragem, o documentário baiano Açucena, dirigido por Isaac Donato, quase podemos dizer que é um grande jogo de cena com ar de mistério, onde somos jogados ao universo detalhista dos preparativos de uma festa de 7 anos que se repete a muito tempo. Existe algum tabu sobre a idade? Uma quebra de perspectiva travada no tempo? Algum componente psicológico? Cansativo e parecendo estar em looping, o longa-metragem, Grande Vencedor da Mostra de Cinema de Tiradentes tem como único suspiro a curiosidade.
Na trama, conhecemos várias pessoas que estão se
mobilizando, cada um com uma função, para uma festa de uma senhora de quase 70
anos que todo ano comemora como se fosse sua festa de sete anos. Mobiliza
amigos, família, vizinhança. Nos diálogos não conseguimos muitas informações,
os personagens reais passam e repassam pela câmera sem dizer muito sobre. Um
ponto interessante é que não sabemos onde está Açucena, o que já nos leva a
pensamentos voltados a um campo espiritual, religioso. Será que ela existe?
Onde ela está?
Pra lá de inusitado, a tentativa é válida em buscar
ferramentas narrativas para se chegar a um fim até bem simples. Donato busca captar, muitas vezes, estaticamente a curiosidade,
isso está implícito pelo destaque do foco no distante como se fossemos
testemunhas oculares daquilo ali tudo, os detalhes mostrados com as roupas das
bonecas e nos diálogos que nos parecem desencontradas situações que ainda não
conseguimos projetar por faltar de pistas. Cercada pelo Rosa, a comemoração é
muito mais que um aniversário percebemos isso mais além. Em sua conclusão, o
filme faz muito mais sentido que o próprio caminho que nos leva a ele.