Mostrando postagens com marcador Cinema Nacional. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cinema Nacional. Mostrar todas as postagens

04/07/2021

, , , ,

Crítica do filme: 'Migliaccio, o Brasileiro em Cena'


O homem que sempre sonhou em ser John Wayne. Dono de interpretações inesquecíveis como Seu Chalita e Xerife, que percorreu o início do Cinema Novo (movimento nas décadas de 60 e 70 em nosso cinema revelando pela arte as desigualdades e questões sociais da sociedade brasileira), um dos filhos de uma família de onze irmãos, o ator, produtor, diretor e roteirista Flávio Migliaccio foi um dos grandes nomes da Tv, do Teatro e do Cinema no Brasil. Co-Produzido por Globo Filmes, GloboNews e Canal Brasil em Migliaccio, o Brasileiro em Cena acompanhamos algumas de suas histórias e partes de seu caminho do seu início vindo de uma família humilde até virar um dos rostos mais conhecidos pelo seu trabalho. Dirigido pelo trio: Alexandre Rocha, Marcelo Pedrazzi e João Mariano (Tuco).


Com estreia marcada para o dia 8 de julho nos cinemas brasileiros, o documentário busca de maneira mais profunda possível passar o modo de pensar e histórias da carreira de um artista muito criativo que conquistou o Brasil contando histórias próximas da realidade de muitos. Sempre em busca da importância de se comunicar com seu público através de sua arte, Flávio Migliaccio, um ótimo contador de histórias, através de entrevistas em algumas fases de sua vida, vamos começando a entender essa personalidade do universo das artes do Brasil.


Seu primeiro emprego foi de engraxate, mas seu pai queria mesmo que ele fosse barbeiro. A descoberta do teatro profissional, do descobrir a vida através daquela realidade veio nos tempos de Teatro Arena em São Paulo. A partir daí, nunca mais pensou em ter outra profissão na vida, conheceu nomes importantes para a cena teatral e do cinema como Leon Hirszman e Gianfrancesco Guarnieri. No cinema, seu primeiro trabalho foi Cinco Vezes Favela (1962), onde inclusive escreveu um dos episódios, foi assistente de direção e fez um dos papéis no curta dirigido por Marcos Farias. Havia um paralelo entre todos os rumos de seu trabalho e o Cinema Novo assim embarcando de corpo e alma no mundo mágico do cinema.


Em papos descontraídos, Migliaccio, o Brasileiro em Cena daria até um filme mais amplo, muitas histórias devem ter ficado pelo caminho. Sabemos mais sobre bastidores de filmes do artista, de teatros, sobre os lados da fama, sua visão sobre a arte e seu poder, da própria história brasileira como o incêndio no prédio da UNE nos anos 60 durante a Ditadura Militar. O artista nos deixou em maio do ano de 2020 e estará para sempre na história do teatro, tv e cinema do Brasil.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Migliaccio, o Brasileiro em Cena'

16/06/2021

,

Crítica do filme: '4 x 100 - Correndo por um Sonho'


Vencer é aprender a não ficar refém de medos. Chegando aos cinemas no próximo dia 24 de junho, o longa-metragem brasileiro 4 x 100 - Correndo por um Sonho busca nos apresentar um raio-x sobre conflitos, dramas e escolhas de integrantes de uma equipe de revezamento que busca representar o seu país no tão sonhado Jogos olímpicos. É válida a tentativa de mostrar as questões sobre situações que passam as mulheres no esporte, pena que as subtramas são rasas, superficiais, com arcos pouco desenvolvidos. Nas questões que se desenvolvem, muito por estarem dentro do clímax, acabam ficando em loop infinito em discursos redundantes. Parece uma sonolenta panfletagem da ‘magia’ dos jogos olímpicos dentro de um contexto conflituoso no universo competitivo de uma das únicas modalidades onde o seu resultado depende dos outros.


Na trama, dirigida pelo cineasta Tomás Portella, com roteiro de Mauro Lima, acompanhamos cinco integrantes que fazem parte do revezamento 4x100 feminino do Brasil com chances de medalhas em competições, principalmente na Olimpíada. Mas há um certo problema entre duas dessas integrantes, Maria Lúcia (Fernanda de Freitas) e Adriana (Thalita Carauta), por conta de um assunto nunca exposto mas que ambas passaram nos jogos olímpicos de quatro anos atrás. Durante o tempo que passou entre as olimpíadas, Maria virou estrela do esporte na mídia enquanto Adriana buscou outros ares no esporte entrando para o MMA. Agora, reunidas novamente, precisarão juntar forças para levar o time brasileiro feminino de revezamento no atletismo às medalhas em Tóquio.


Até que ponto um atleta entende outro atleta? Além de Maria Lúcia e Adriana, as outras integrantes sofrem também com seus próprios dramas. A questão do dopping, do treinamento árduo, as frustrantes tentativas de patrocínio para atletas que estão começando ou não são estrelas de publicidade com reais chances olímpicas, questões que envolvem relacionamentos amorosos com dificuldade de entendimento, no medo da decepção em um grande evento. Pena que o foco cisma em não sair do embate das atletas que possuem um conflito entre si, deixando o desenvolvimento dessas outras subtramas importantes distantes de uma profundidade. Era um bom palco para debates sobre um leque maior de conflitos que vivem atletas não são pelo Brasil mas no mundo todo.  


O que importa é o que você parece ser. A pretensão de ser um filme com um drama profundo acaba gerando uma série de cenas isoladas como se estivéssemos montando um quebra-cabeça que faltam peças ou jogando batalha naval e nunca acertando os navios do adversário. Frases de efeito parecem ter sido tiradas de livros de autoajuda ou mesmo de palavras ditas por grandes treinadores de várias modalidades espalhadas pelo universo dos esportes, deixando quase robótico alguns desses diálogos. O local sagrado de todo o atleta, o vestiário antes das competições, tenta ser o palco para os diálogos mais profundos mas não acontece.


A panfletagem da magia dos jogos olímpicos cai por terra no atual momento que o mundo vive, com a polêmica sobre a permanência da data dos jogos desse ano mesmo o mundo ainda em altos índices de problemas por conta da Pandemia.

Continue lendo... Crítica do filme: '4 x 100 - Correndo por um Sonho'

15/06/2021

, , ,

Crítica do filme: 'Veneza'


As fábulas dos sonhos distantes. Novo trabalho na direção do artista completo Miguel Falabella, Veneza, possui a fábula, a novela, o romance como narrativa, é leve, agradável, não há quase clima de tensão. Esse aspecto até existe mas parece ficar como background dos sentimentos, razão fruto da inconsequência, na chegada do clímax pelo sonhar. Vale mais esse sonhar do que o viver para muitos dos personagens, de tanto imaginarem o futuro viram presas desses sonhos, mas quem disse que eles não podem ser realizados? Como um maestro na direção, Fallabella, não esquece de passar com brilhantismo pelas técnicas da arte, da beleza do sensual sem ser ofensivo, não esquece de passar pelo circo, pelas cenas de teatro, pela dramaturgia e todo o universo por essas artes criados. A partir de um sonho, somos levados a uma viagem mágica, profunda, linda. O longa-metragem conta no seu elenco, além dos ótimos artistas brasileiros, com Carmen Maura, uma das grandes atrizes espanholas da história, com diversos trabalhos junto ao aclamado diretor Pedro Almodóvar.


Na trama, com roteiro do próprio diretor, baseado na peça de teatro de Venecia de Jorge Accame, conhecemos Gringa (Carmen Maura) uma senhora espanhola que tem um puteiro no interior do Brasil que hoje em dia é comandado basicamente comandado por Rita (Dira Paes). Gringa está no auge de sua velhice, já cega e doente possui um único e inusitado desejo: ir até Veneza para ver se consegue o perdão de um homem que abandonara faz muitos anos. Assim, buscando realizar o desejo da dona do bordel, Rita se une a Tonho (Eduardo Moscovis), Jerusa (Danielle Winits), Madalena (Carol Castro) e o resto da equipe para realizar de alguma forma esse desejo.


O faz de conta se une ao lúdico, há muito mais emoção do que qualquer razão. As lembranças ganham contornos emotivos através de Gringa, a mola propulsora da história. Várias portas se abrem, o contexto de realidade dentro do ‘terror’ da palavra afeto, o indecifrável universo das fantasias sexuais, a verdade objetiva de que não se pode dar um preço ao amor, quando chega a encostar na realidade vemos a tragédia, o medo, as dúvidas e decepções. Os personagens são ótimos parecem sonhar o mesmo sonho de gringa chegando próximo, bem próximo, da cidade que flutua na água.


Quantos filmes romantismo nós assistimos todos os anos? São todos da mesma forma? Não mesmo! É possível uma segunda chance para um mesmo amor? Porque não? Dentro de um universo machista a delicadeza de encontrar as razões para emoções não deixa de ser um mérito de Falabella e seu co-diretor Hsu Chien, tendo como seu principal nos fazer acreditar, também, no sonhar. E como é bom sonhar!  


Continue lendo... Crítica do filme: 'Veneza'

14/06/2021

, , ,

Crítica do filme: 'Acqua Movie'


No fundo a gente é tudo índio! Falando sobre o luto, relacionamento distante entre mãe e filho, a terra, os indígenas, o extremismo, a conversa na bala, rituais culturais, nordeste semiárido, Acqua Movie, dirigido pelo cineasta pernambucano Lírio Ferreira mostra também a poesia e as metáforas da vida, como conseguem ser reunidas pelos simbólicos momentos da água, quase um plano dentro dos planos, nos conflitantes diálogos, nos momentos de análise e entendimento sobre um monte de porquês que o filme se coloca como reflexão. Protagonizado pela excelente atriz Alessandra Negrini (uma das melhores atrizes do cinema brasileiro), esse road movie vai à fundo nas questões indígenas, no olhar desconfiado e violento do homem branco.


Na trama, acompanhamos Duda (Alessandra Negrini), uma mãe que volta para casa às pressas após a morte inesperada do pai de seu filho Cícero (Antonio Haddad Aguerre), um jornalista renomado da televisão. Mas a tensão está no olhar, na expressão, mesmo em poucas falas entendemos que a relação entre os dois é bem distante por conta dos inúmeros compromissos que sua Duda possui no seu lado profissional, como documentarista, inclusive tendo uma equipe de filmagens esperando ela na Amazônia para rodar um documentário. Buscando uma reaproximação com o filho, a protagonista resolve embarcar junto com o filho, de carro, rumo a cidade de origem do pai de Cícero para deixar lá as cinzas dele. Passando por lindas paisagens, percebem as belezas da natureza mas também a ganância do poder bem evidente.


Aquele que julga também é aquele que será julgado. Dentro do Road Movie, principalmente nos arcos intermediários, vamos conhecendo mais o semiárido nordestino, mais precisamente a cidadezinha de Nova Rocha em Pernambuco, quase separada por um rio da Bahia, que substituiu uma cidade que fora tomada pela água e onde nasceu o pai de Cícero, comandada pela família do pai, que domina essa região no interior de Pernambuco faz muitos anos, o que gera conflituosos momentos com a mãe.


Uma busca por inventar o instante contínuo como se fosse algo acoplado às ações dos personagens é um grande mérito de Ferreira que além de tudo joga uma lupa numa relação nada amistosa de uma mãe distante e um filho com dúvidas sobre o mundo. O projeto navega pela crítica, pelos desdobramentos dessa relação conflituosa entre mãe e filho, pela questão indígena. Mais do que qualquer livro, que muitas vezes não chegam na profundidade pedida para determinadas questões, o jovem Cícero passa por grandes aprendizados pois aprenderá que é difícil fingir que está tudo bem vendo os momentos reais de uma luta pela existência que nada mais é algo que sua mãe acredita e denuncia pelo seu trabalho.  



Continue lendo... Crítica do filme: 'Acqua Movie'

09/06/2021

, , ,

Crítica do filme: 'Quem vai ficar com Mário?'


Não importa o rótulo e sim o conteúdo. Chega aos cinemas nessa semana, o novo projeto de um dos cineastas mais cinéfilos da indústria brasileira, Hsu Chien. Quem vai ficar com Mário? é um longa-metragem, com roteiro baseado no filme italiano Mine Vaganti, que busca no humor reflexões profundas sobre as escolhas de um jovem que mentiu a vida toda para sua família e agora resolve sair do armário. Há críticas bem sutis às piadas machistas, a forma como alguns olham para mulheres no comando de decisões empresariais, aos julgamentos familiares que podem existir. O protagonista busca em suas novas ações corajosas a liberdade de que nunca teve além de seguir acreditando na sua própria verdade. Mesmo com ótimas mensagens que chegam fáceis ao espectador, os arcos intermediários perdem força quando buscam o equilíbrio entre o drama e a comédia (o primeiro funciona melhor), o roteiro parece fora de rumo em muitos desses momentos. Mesmo com alguns calcanhares de aquiles, o filme busca a diversão sendo reflexivo.  


Na trama, conhecemos Mário (Daniel Rocha) um jovem que mora no Rio de Janeiro e tem o sonho de ser autor, largou a faculdade de administração, mentindo durante muito tempo para sua família. Certo dia, perto de uma data festiva da famosa empresa cervejeira da família, ele resolve viajar até a cidadezinha onde nasceu, no interior do sul do país, na serra gaúcha, e contar para seu pai, seu irmão Vicente (Rômulo Arantes Neto) e toda sua família que mora faz quatro anos com um diretor de teatro chamado Fernando (Felipe Abib). Só que seu irmão com uma notícia surpreendente acaba fazendo com que Mário tenha que recalcular seu objetivo.


Como refazer a história de um lugar ao qual pertence? Será que o mundo não está pronto para essa liberdade? Na mala cheia de felicidades, repleta de momentos que o encorajam a contar para sua família que é gay estão as dúvidas em relação aos julgamentos que pode sofrer. Esse conflito emocional se junta a um outro momento inesperado com uma revelação de seu irmão e com a chegada de uma consultora empresarial gerando uma grande confusão na cabeça do atrapalhado personagem que sempre parece depender dos outros para chegar a alguma conclusão sobre a vida, para ter coragem e ser feliz. Na visão de Mário, nada é simples na vida mas as dificuldades que aparecem muitas vezes são provocadas pelas atitudes individuais dentro de achismos do próprio.


Repleto de piadas, algumas que funcionam, outras não, Quem vai ficar com Mário? tem um bonito valor sobre a arte, uma espécie de homenagem, seja nas referências ao pôster de Crepúsculo dos Deuses na parede do quarto de Mário, seja nas representações artísticas dos amigos que o acompanham, nos movimentos das danças, na pura e singela liberdade em ser feliz, nas mensagens que busca transmitir. Diferente de algumas outras comédias brasileiras que vemos todo ano entrando e saindo dos cinemas, esse projeto cumpre seus objetivos com a própria busca em ser original.

 

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Quem vai ficar com Mário?'

01/05/2021

, , ,

Crítica do filme: 'Raia 4'


As mensagens que o silêncio traz. Exibido em diversos festivais de cinema pelo mundo, como 35º Festival Internacional de Cinema de Santa Barbara (EUA), o 41º Festival de Havana (Cuba), a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o Festival Internacional do Rio e vencedor do prêmio da crítica no Festival de Gramado, Raia 4 possui uma narrativa lenta, perto da amargura, de paralelos com o psicológico, que busca em suas imagens e movimentos revelar o caos emocional de uma jovem, de família de classe média alta do sul do país,  perto de completar 13 anos entre as competições semi-profissionais de natação que participa e as descobertas das primeiras fases da adolescência. Escrito e dirigido por Emiliano Cunha.


Na trama, acompanhamos o dia a dia de Amanda (Brídia Moni), uma jovem que está passando por uma turbulenta fase emocional e divide seu tempo em suas novas descobertas e seu ritmo acelerado de competição na equipe de natação de sua cidade. Em casa, seu relacionamento com os pais é um pouco conturbado, tendo imenso carinho pelo pai e uma certa distância da mãe. Ambos são médicos e vivem sempre com suas agendas lotadas de compromissos. Amanda fica mais confusa com a existência de uma linha tênue entre algum sentimento confuso e a competição na relação com a amiga de treinos Priscila (Kethelen Guadagnini).


Tecnicamente é um filme muito interessante, as metáforas aquáticas, seus movimentos, luzes, mostram uma aflição em crescente com o que podemos fazer um paralelo com a mente da protagonista, completamente confusa nas suas interpretações sobre as escolhas que lhe aparecem. Introspectiva, de poucas palavras, parece não saber lidar direito com suas fases de vida, como a primeira menstruação, o primeiro beijo, a competição. A cada nova saída da água (seu lugar de refúgio), a ansiedade e as cobranças de uma jovem atleta chegam por todos os lados, gerando um caótico recorte emocional que determina as ações, inclusive, do desfecho marcante.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Raia 4'

01/04/2021

,

Crítica do filme: 'A Fuga da Mulher Gorila'


Vencedor de dois prêmios na Mostra Tiradentes de anos atrás, A Fuga da Mulher Gorila basicamente se constrói de maneira bastante trivial em volta da saga de artistas, uma trupe nômade pelas estradas, que circulam em volta do que acreditam, do prazer que sentem em representar e mexer com as emoções. Road movie musical? Filme experimental? Frases soltadas deixam lacunas sem respostas e ao mesmo tempo, também, entram em complexa reflexão sobre hábitos sempre em volta do tempo, quase uma brincadeira com o incompreendido. Parece uma grande loucura, como se fosse um cinema feito de maneira pra fazer sentido aos seus realizadores mas o espectador precisa exercitar o prazer de refletir, sempre há de se encontrar razões dentro de emoções que parecem tão particulares.

Na curiosa trama, duas mulheres, irmãs, que se movimentam em uma Kombi preparada como um camaleão para ser suporte em apresentações circenses. Entre uma cidadezinha e outra, vivem como nômades, entre uma apresentação e outra. A grande atração da dupla é a ser humana que vira gorila por conta de um efeito visto muitas vezes em circos por aí. Será essa a vida de muitos artistas aqui na realidade? O projeto foi rodado pelas estradas, com baixo orçamento, em pouco mais de uma semana, no ano de 2008.

Espírito nômade On! Pelas estradas da vida vamos tentando acompanhar os conceitos alicerces dos realizadores. Há cenas incompreensíveis, mas o provocar as vezes também é não dizer. Cinema é corpo, movimento, é reflexão dentro de contextos mas nem sempre tudo isso se transforma em informação clara e objetiva do que realmente querem dizer. Vale a mais fácil das afirmações que tiramos, o filme é sobre uma trupe artística com grande valor dado à arte que acreditam, até certo ponto sua essência simplifica em muitos sentidos o que enxergamos sobre a nossa cultura e sua tentativa em ser original.

A Fuga da Mulher Gorila / The Escape of the Monkey Woman - Teaser from Duas Mariola Filmes on Vimeo.

Continue lendo... Crítica do filme: 'A Fuga da Mulher Gorila'
,

Crítica do filme: 'O Céu de Suely'


Que bom seria ter seu amor mais uma vez. Um dos filmes mais aclamados da última década quando pensamos em cinema brasileiro, O Céu de Suely, segundo longa-metragem da carreira do cineasta cearense Karim Ainouz, é um projeto que nos diz muito sobre desilusões e as escolhas que precisamos tomar, mesmo dentro da inconsequência, quando nada mais faz sentido em nossas vidas. Dentro de um contexto melancólico, desesperada, aflita, sem rumo, a protagonista toma uma decisão no mínimo polêmica, sofrendo o preconceito e travando uma batalha interna, gerando conflitos inclusive na casa onde está hospedada. Um filme que gera muitas reflexões. Uma atuação impactante da atriz Hermila Guedes. Tem no catálogo da Globoplay.


Na trama, conhecemos Hermila (Hermila Guedes), uma jovem que chega de São Paulo com seu filho pequeno de volta para o interior do Ceará, mais precisamente a cidade de Iguatu, para morar um tempo na casa da avó e da tia mototáxi, na espera da chegada de seu marido. Vive de bicos para conseguir sobreviver até o seu marido chegar de São Paulo. Mas será que ele vem? Rodeada de incertezas e com uma certa desconfiança nesse relacionamento aos olhos de sua família, ela reencontra João (João Miguel), um antigo amor. Mas conforme os dias passam, ela começa a ter mais certeza que está sozinha nesse mundo, e assim, resolve tomar uma atitude desesperada e rifa a si mesmo gerando um grande bafafá na cidade.


Desilusões. Solidão. Incertezas. Entre um cigarro e outro, a protagonista vive conflitos internos bastante profundos, não se encaixando em praticamente nenhum lugar. No lado do amor, vive a desilusão com a falsa promessa do marido. Nas noites mal dormidas, reflete sobre sua solidão e o que vai fazer da sua vida sozinha. A chegada (ou retorno, como preferir) de João em sua vida, um trabalhador honesto que gosta muito dela faz muito tempo, gera a incerteza pois dentro dela a certeza é de que ela não pertence aquele lugar.


Nos arcos conclusivos, refletimos sobre as questões das promessas e nessa parte onde Hermila encarará a porta que deseja abrir. Se vai deixar seu filho com a avó e a tia e partir para uma nova cidade para ganhar a vida, se vai se deixar envolver por um novo antigo amor, se ainda dentro do seu coração cabe a esperança de um dia seu marido ainda a encontrar. O Céu de Suely mostra através dos olhos de uma forte protagonista feminina as dores de um mundo que muitas vezes não lhe foi leal.

Continue lendo... Crítica do filme: 'O Céu de Suely'

28/03/2021

, , , ,

Crítica do filme: 'A História de um Silva'


A música como sentido para a sociedade. Hino de uma cidade, hino da periferia, um subtexto que é compatível com a realidade que enfrentava. Dirigido por Marcelo Gularte, A História de um Silva é a história de um brasileiro, trabalhador, grande herói de sua mãe e família, que possui grande paixão pelo futebol, inclusive quase foi atleta profissional que tocava a MPB dos anos dourados nos barzinhos pela cidade até que descobriu um gênero musical que estava dando os primeiros passos. MC Bob Rum, cria da Comunidade João XXIII em Santa Cruz Foi Office Boy, trabalhou muito tempo na Telerj, de Recepcionista, viu sua vida mudar do dia para a noite quando seu destino cruzou com os primórdios do Funk.


Com depoimentos de funkeiros como MC Buchecha, MC Marcinho, de antropólogos, produtores culturais e amigos de longa data, vamos acompanhado histórias e lembranças através de falas e vídeos de uma época de grande sucesso. Sua trajetória cruzou o início do movimento do Funk, com a criação da furacão 2000, logo estourou com seu grande sucesso, o Rap do Silva, música impactante que colou nas memórias de muitos mas que não deixa de ser atemporal até hoje virando até mesmo questão antropológica, de estudo por conta da tamanha influência sobre milhares de jovens. Criar cultura é criar vida, nascer um significado a partir disso é o que algumas representações culturais conseguem e MC BOB RUM com sua mais emblemática música é o exemplo disso.


Os lados bons e ruins da fama acabaram deixando exatamente nos extremos esses momentos em sua vida. Se encaminhou para o alcoolismo, para as drogas em seguida, quando sua carreira de alguma forma estagnou ou até mesmo declinou. Mas ele, com a ajuda da forte família, conseguiu dar a volta por cima, se formando em administração inclusive e compondo música que foi até tema de novela. A História de um Silva é um recorte de mais um batalhador brasileiro que conseguiu vencer de maneira honesta com sua arte.



A História de um Silva - TRAILER from CAVIDEO on Vimeo.

Continue lendo... Crítica do filme: 'A História de um Silva'
, , ,

Crítica do filme: 'Chorão: Marginal Alado'


As diversas facetas de um intenso sonhador. Dono de um processo criativo intenso, uma alma feita de sonhos, uma juventude nas letras, identidade vocal marcante, com um lado explosivo muito visível mas também um lado carinhoso e querido. Não se enquadrava, gostava das coisas do jeito que ele queria. Chorão: Marginal Alado conta de maneira curta e objetiva, ao longo de menos de 80 minutos, a trajetória de sucesso até o declínio triste de um dos artistas mais impactantes das últimas décadas, Chorão, da lendária banda Charlie Brown Jr. De Santos para mundo, chegou até a participar de diversos campeonatos de skate freestyle antes de descobrir, inusitadamente, a vocação para cantar e compor. Editores de revistas, produtores musicais, músicos, skatistas, amigos, ex-integrantes da banda Charlie Brown Jr., nos contam sua visão sobre essa personalidade da cultura pop brasileira que deixou um legado até os dias atuais, com letras e canções atemporais.


O título do filme está gravado no seu braço. Sonhador, possui uma inquietação frequente a todo instante, oriundo de uma personalidade forte que reúne históricos de brigas, inclusive com nomes famosos como João Gordo e Marcelo Camelo, fora com os próprios integrantes da banda que criou. Essas situações de brigas ao longo dos tempos de rockstar mostrava claramente como Chorão não sabia muito bem lidar com os sentimentos e nem dizer as coisas de maneira objetiva, as coisas precisam para ele ser do jeito dele senão não valia a pena ou não estavam certos. Sua ex-namorada conta os altos e baixos da relação com ele. A questão das drogas é contada de diversos pontos de vista, até o descontrole no vício, ele não gostava de consumir na frente dos outros.  


Mas a vida cobra sério e realmente não dá pra fugir. Não sabia lidar com problemas de uma forma tranquila, isso foi o consumindo. Além dos visíveis contrapontos das loucuras de milhares de pessoas nos shows pelo Brasil com um pós-solitário momento sozinho logo em seguida. Do êxtase ao silêncio, extremos que o fizeram se sentir consumido dentro de suas já conhecidas inquietações entre as centenas de viagens anuais fazendo shows pelo país. Mas não só ele sentiu essa pressão, o baixista da banda, Champignon, se suicidou sete dias após o seu depoimento exibido nesse filme.


Ame-o ou não, impossível negar verdade claras: Chorão deixou um legado, gerações após gerações continuam ouvindo suas letras e que de alguma forma se encaixam nas rupturas sociais constantes que acontecem no Brasil.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Chorão: Marginal Alado'
, , , ,

Crítica do filme: 'Antes que Me Esqueçam, Meu Nome É Edy Star'


A vida é uma vela acesa, morreu, apagou. Como resgatar as memórias de um artista tão profundo em sua arte? Cantor, ator, pintor, se dedicava as artes como poucos, Edy Star foi quase uma lenda entre as décadas de 60 e 80, sempre muito à frente de seu tempo. Dirigido por Fernando Morais, Antes que Me Esqueçam, Meu Nome É Edy Star conta a incrível trajetória do Pós tropicalista e grande contador de história Edy Star, inclusive, a amizade com Caetano Veloso desde Santo Amaro, Zeca Baleiro com gravações atuais no estúdio, com o maluco beleza Raul Seixas desde o álbum Sociedade da Grã-Ordem Kavernista, até mesmo com Gilberto Gil onde ganhou uma música e foi co-compositor da canção Procissão. Edy marcou época dentro do universo das performances, em shows undergrounds que ganhavam sucesso pelo boca a boca saindo da Praça Mauá até os milionários da zona sul.

Volta a Salvador lembrando sua trajetória através de encontros e depoimentos, conhecemos esse baiano bom de briga mas também muito amoroso com os amigos. Buscando soluções para sua carreira indo da Bahia para o Rio de Janeiro, explodiu de sucesso nos underground cariocas, esses tempos de cabarés na lapa e em Copacabana não são esquecidos por conhecidos que iriam o prestigiar como Rogéria e Jane di Castro. Outros Fãs famosos como Cazuza iam prestigiá-lo onde quer que estivesse, esse inclusive conseguiu com seu pai, um influente e famoso executivo de gravadora na época, que o mesmo contratasse Edy para gravar um álbum, o que acabaria sendo seu único álbum na carreira.


Mas ele não parecia ligar muito para a fama e dinheiro. Em meio ao clímax de seu sucesso, resolveu viajar pelo Brasil em uma Kombi, com um namorado que arranjou, preferiu viver a vida do que focar na carreira profissional em ascensão.Após, foi pra Espanha, onde morou por anos ganhando inclusive a cidadania espanhola, lá, se apresentou em shows inesquecíveis onde até Pedro Almodóvar foi vê-lo.


Antes que Me Esqueçam, Meu Nome É Edy Star é divertido e surpreendente, conhecemos essa figuraça, que cantava muito e levava multidões a seus shows mas que para o grande público nunca foi conhecido. Mas após assistirmos a esse, agora sabemos! Antes dos Dzi Croquettes, Ney Matogrosso, Secos e Molhados, existia Edy Star.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Antes que Me Esqueçam, Meu Nome É Edy Star'

27/03/2021

, , ,

Crítica do filme: 'O Astronauta Tupy'


Cada ser tem sonhos à sua maneira. Um ser solo que esbarra com os coletivos. Cronista do seu tempo. Tijucano. Observador da cidade que nasceu, suas belezas e as diversas questões que assolam seu Rio principalmente a polarização das ideias que nesses tempos presente comandam o modo de pensar da maioria dos cariocas. Dirigido por Pedro Bronz, o documentário O Astronauta Tupy conta de maneira leve e agradável, através de arte de Pedro Luís, suas escolhas, momentos, seu mosaico de ritmos, através de relatos do mesmo, amigos, vídeos de gravações e de depoimentos de outras épocas. Do Humaitá à Lapa, Da Zona Norte à Zona Sul, somos testemunhas em poucos mais de 90 minutos de como esse músico alimenta seu coração louco como uma máquina de escrever.


Será que as inspirações ninguém realmente sabe de onde vem? O músico começa na música nos anos 80, em um coral, depois passa pelo Punk que conhecera nos tempos de São Paulo, pelos inusitados sons gerados com Pedro Luis e a Parede e suas batidas perplexas e chegando até o carnaval com a criação do Monobloco, um grupo que transformou o carnaval carioca abrindo espaços para outros grupos temáticos. Ao longo do meandro percebemos dezenas de inspirações compiladas em forma de música. Por exemplo, o cinema não deixa de ser uma fonte de inspiração, como vemos na abertura a menção e quando passa na frente de onde tinha uma avenida de cinemas espalhados pela tijuca lembrando de tempos que serão difíceis de voltar.


Amigos de longa data lembram de momentos, canções de um passado que é mantido vivo pela arte. As parcerias com Fernanda Abreu, Ney Matogrosso e até mesmo o tremendão Erasmo Carlos, outro tijucano musical, geram ótimos duetos acústicos modelados em fragmentos de canções atemporais na sua voz ou/e na voz dos outros, tendo o Rio de Janeiro como paisagem.

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'O Astronauta Tupy'

26/03/2021

, , , ,

Crítica do filme: 'Flores do Cárcere'


No lugar onde a verdade é uma só, a mentira é uma ilusão. Resgatando o passado de algumas ex-prisioneiras da hoje desativada Cadeia Pública Feminina de Santos, também com paralelos em forma de vídeos antigos caseiros que elas filmaram quando estavam presas em 2005, Flores do Cárcere mostra o antes e depois dessas mulheres. O arrependimento, as situações das detentas que eram mães aos olhos de terceiras, e até mesmo algumas que estavam grávidas, a conturbada e complicada relação entre carcereiras e presidiárias, a nova vida quando são libertadas, os sonhos que chegam lentamente quando enxergam uma vida fora da prisão, a visão da família sobre o cárcere. Flores do Cárcere é dirigido pela dupla de cineastas Barbara Cunha e Paulo Caldas, inspirado no livro homônimo de Flavia Ribeiro de Castro.


A cadeia precisa cumprir o papel de reeducação? Ou serve apenas para a criminosa cumprir sua pena? Há segundas chances nessa vida? 250 mulheres em 10 celas. A sensação de acordar e dormir trancadas. O sentimento de vazio. Lembranças de um tempo triste. Ex-traficantes, relacionamento com más companhias, crimes dos mais diversos tipos. Nenhuma das entrevistadas nasceu presa, elas estavam na condição de presas. Um momento da vida delas.


O Brasil possui um pouco mais de 40.000 presidiárias nas mais diversas penitenciárias femininas. Algumas dessas adotam a dança como forma de socializar, atividades promovidas como forma de ajuda para quem está preso. O documentário, exibido anos atrás no Festival do Rio de cinema, não deixa de ser um grande recorte sociológico inserido dentro do contexto de sentimento de liberdade, uma luta para não continuar presa estando livre.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Flores do Cárcere'
, ,

Crítica do filme: 'Currais'


O silêncio apaga tudo. Um homem, sua Kombi e suas buscas por respostas da história de seu avô, a reconstrução da memória de uma região, por quem ainda se lembra dessa época terrível, fatos que parte da elite se esforça em ocultar. As margens de uma estrada de ferro e no alto do sertão morriam centenas de pessoas nos chamados campos de concentração (os currais do governo), lugares criados no início da década de 30, sob conhecimento do governo federal, onde flagelados da seca eram tratados com indiferença e discriminação pela elite que já morava na cidade de Fortaleza. Escrito e dirigido pela dupla de cineastas David Aguiar e Sabina Colares, modelado em uma mistura entre documentário e ficção, Currais apresenta relatos impactantes, impressionantes, surpreendentes, além de fotos antigas mostrando o que as palavras dizem ao longo dos cerca de 90 minutos de projeção.


Uma história real, onde campos de concentração, chamados assim mesmo, lugares onde pessoas de baixa renda e sem praticamente nenhuma escolaridade, além de pessoas que fugiam da seca de outras regiões eram mantidos confinados, milhares de pessoas em raios pequenos. Um formigueiro humano. Eles eram mantidos nesses lugares, sem alimentação básica, pagamentos, para não conseguirem chegar as grandes cidades ao redor de fortaleza. A dor e o sofrimento são marcantes nos relatos de conhecidos de sobreviventes e alguns até testemunhas oculares dos horrores praticados nesses currais onde as pessoas tentavam sobreviver pessoas, trabalhadores brasileiros, desesperados que foram esquecidos pela história.


Depois que você assiste a esse documentário, é muito difícil de tirá-lo da memória. Pensar que uma cidade se ergueu sob suor e sangue é assustador. Nosso país é enorme. Tantas histórias...e muitas delas desoladoras, tristes. Como um ser humano pode fazer isso com outro ser humano? Um capitalismo desenfreado, um elitismo esnobe e arrogante, entendemos o reflexo dessas atitudes até os tempos atuais se formos comparar com a questão social das favelas, pessoas que vivem à margem de uma sociedade privilegiada. O filme abre espaço também para mostrar a religião ganhando contornos culturais através dos devotos das almas da barragem. Um documentário/ficção arrebatador que diz muito sobre a história de nosso país.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Currais'

23/03/2021

, ,

Crítica do filme: 'Siron. Tempo Sobre Tela'


A honestidade na arte de criar. Escrito e dirigido pelos cineastas André Guerreiro Lopes e Rodrigo Campos, Siron. Tempo Sobre Tela nos apresenta um profundo e impressionante raio-x sobre a criatividade de um dos maiores artistas plásticos de nosso país, Siron Franco. Com muitos depoimentos do próprio artista em uma espécie de narrativa intimista, o processo criativo é mostrado por várias óticas. Fontes de inspiração, meda da tortura, o pensar como uma peça de teatro, o fascínio com outras artes como o cinema, os fundamentos do sonho sobre à arte. Ao longo de cerca de 90 minutos somos premiados com memórias de sua intensa e bem vivida trajetória, tanto no lado profissional como no lado pessoal, declamadas belo lado do saudosismo. Disponível a partir do dia 25 de março em muitos streamings.


Em Siron. Tempo Sobre Tela, somos imersos ao universo desse grande artista brasileiro, fiel ao seu Goiás. Ele passou por tantas transformações como seu próprio Estado. Buscando fazer o bem e dedicando sua vida à arte acessamos memórias do seu arquivo pessoal, inclusive com um depoimento especial, em uma passagem rápida, do grande Ferreira Gullar que foi crítico de arte durante um tempo. Em um momento tocante, conhecemos as origens, inclusive filmadas do início de uma de suas obras mais famosas, em homenagem à cultura indígena e o absurdo pós destruição de quase 500 colunas onde podemos definir um paradoxo inimaginável sobre a intolerância de terceiros que não entendem nem um pingo do que aquilo tudo representava.


Um fato chama a atenção na afirmação de que ele lembra mais das coisas que já pintou do que já viveu. Nos faz refletir. A ferramenta do inconsciente com a chegada do cansaço, um processo que pelo relato de Siron deve ser bem difícil explicar mas pelas imagens em fundo podemos começar a ter uma ideia. Os sentidos abertos do sonho, a importância desse momento reflexivo que reflete à arte, também de muitos cineastas como David Lynch.


A importância desse documentário é gigante para novas gerações conhecerem artistas emblemáticos de nossa trajetória cultural. A arte, seja ela qual for, é uma conexão entre passado e presente, um exercício de liberdade do seu pensar sem cadeados não criativos contra a novidade após o ontem.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Siron. Tempo Sobre Tela'

12/03/2021

,

Crítica do filme: 'Açucena'


O curioso trajeto para a religião dentro de uma misteriosa comemoração com contexto inusitado. Na linha tênue entre média e longa-metragem, o documentário baiano Açucena, dirigido por Isaac Donato, quase podemos dizer que é um grande jogo de cena com ar de mistério, onde somos jogados ao universo detalhista dos preparativos de uma festa de 7 anos que se repete a muito tempo. Existe algum tabu sobre a idade? Uma quebra de perspectiva travada no tempo? Algum componente psicológico? Cansativo e parecendo estar em looping, o longa-metragem, Grande Vencedor da Mostra de Cinema de Tiradentes tem como único suspiro a curiosidade.


Na trama, conhecemos várias pessoas que estão se mobilizando, cada um com uma função, para uma festa de uma senhora de quase 70 anos que todo ano comemora como se fosse sua festa de sete anos. Mobiliza amigos, família, vizinhança. Nos diálogos não conseguimos muitas informações, os personagens reais passam e repassam pela câmera sem dizer muito sobre. Um ponto interessante é que não sabemos onde está Açucena, o que já nos leva a pensamentos voltados a um campo espiritual, religioso. Será que ela existe? Onde ela está?


Pra lá de inusitado, a tentativa é válida em buscar ferramentas narrativas para se chegar a um fim até bem simples. Donato busca captar, muitas vezes, estaticamente a curiosidade, isso está implícito pelo destaque do foco no distante como se fossemos testemunhas oculares daquilo ali tudo, os detalhes mostrados com as roupas das bonecas e nos diálogos que nos parecem desencontradas situações que ainda não conseguimos projetar por faltar de pistas. Cercada pelo Rosa, a comemoração é muito mais que um aniversário percebemos isso mais além. Em sua conclusão, o filme faz muito mais sentido que o próprio caminho que nos leva a ele.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Açucena'

30/01/2021

, ,

Crítica do filme: 'Mirador'


A roda gigante entre a responsabilidade e o sonho. Selecionado para a Mostra de Tiradentes 2021, o longa-metragem Mirador conta a estrada percorrida por um lutador, em muitos sentidos, que precisa reajustar seu destino em uma nova jornada de vida pois agora precisa ser o responsável pela filha em tempo integral após a mãe da criança sumir do mapa. Buscando reflexões para a situação, parecida com muitos do lado de cá da telona espalhados pelo Brasil, o projeto dirigido por Bruno Costa é um drama existencial, profundo em muitos momentos. Belo trabalho, do Paraná para o Brasil.


Na trama, conhecemos Michael (Edilson Silva), um rapaz batalhador de trinta e poucos anos, vindo de Pernambuco para o sul do país anos atrás. Entre um bico e outro, envolve seu cotidiano juntamente com os treinamentos para uma eventual competição no Boxe, uma de suas grandes paixões. Ele tem uma filha chamada Malu. Certo dia, quando a mãe da menina some do mapa, Michael precisa aprender muitas coisas para criar sua filha.


Um dia a dia de batalha. O paralelo entre o ringue (boxe) e as duras batalhas da vida é ótimo, gera reflexões de várias maneiras, dentro do foco: a paternidade. O protagonista entra em construção muito bonita, após buscar se desconstruir da figura do pai que só vê a filha as vezes. Com seu cotidiano sendo afetado vemos uma luta constante dele para dar o seu melhor, sem desistir da vida, encontrando forças no amor e carinho pela única filha. A situação abandono de uma criança pela mãe (ou pai) não é fato raro infelizmente, sempre há notícias sobre o assunto nos noticiários.


As dificuldades legais na inscrição da creche da filha, problemas com o conselho tutelar, com quem deixar a criança para ir trabalhar, várias ótimas questões são levantadas pelo roteiro. Mirador merecia ser visto no cinema com debates após as sessões. De lição ganhamos que a verdadeira luta do protagonista, um homem honesto e trabalhador como muitos de nós é vencer a batalha da vida ao lado de sua filha.  


Continue lendo... Crítica do filme: 'Mirador'

23/01/2021

, ,

Crítica do filme: 'Swingueira'


Quem não tem piscina, se diverte na esquina. Dirigido à quatro mãos, Bruno Xavier, Roger Pires, Yargo Gurjão e Felipe de Paula, o documentário Swingueira exibido na 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes mostra mais uma faceta cultural do Brasil. Com uma empolgante introdução, bastante explicativa para quem não tem a mínima ideia do que seria essa arte que mistura a batida da percussão com o movimento do corpo e conhecido na Bahia como Pagodão Baiano, bem na superfície, o filme, ao longo dos seus 80 minutos de projeção, passa pelos dramas de jovens da periferia.  Mostra também críticas sociais, uma dessas mesmo que rapidamente, ações abusivas da polícia (com direito a imagens bem claras) nos encontros grandiosos dos renomados artistas desse movimento.


Na trama, conhecemos um grupo de jovens (um deles inclusive narra boa parte do que assistimos) que moram na periferia de Fortaleza e disputam anualmente um campeonato de Swingueira, onde grupos são formados para apresentação que busca mostrar as realidades que vivem através, principalmente, da dança. Os dramas e conflitos pessoais desses jovens são embaralhados pelo seu amor pela dança. O filme mostra evidências de muros das desigualdades sociais.


O amor que balança os corpos e chega até o coração. Estourada na Bahia por conta da música, já no Ceará por conta da dança, a Swingueira ou Pagodão Baiano é o gênero de artistas consagrados como Harmonia e É o Tchan, no gueto com o artista Psirico. Às vezes uma saída para o jovem sem muitas condições fugir das tentações do mal, a swingueira é uma dançante entrada no universo artístico. De lugares parecidos mas com condições diferenciadas para sonhar, o filme busca encontrar o sentido dessa expressão musical para a vida e futuro de cada um deles.

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Swingueira'

07/01/2021

, , , ,

Crítica do filme: 'Breve Miragem do Sol'


Um recorte da melancolia do cotidiano de um trabalhador brasileiro. Após o ótimo Transeunte de 2010 e elogiados documentários, o cineasta Eryk Rocha volta aos longas-metragens de ficção com um drama de um homem que luta contra seu desespero interno longe de seu filho em busca de um recomeço em sua vida trabalhando como taxista em uma das mais badaladas cidades do mundo. Rodando entre vários bairros emblemáticos do Rio de Janeiro, o protagonista luta por dias melhores na loucura urbana de uma grande cidade onde se depara com pessoas trabalhadoras, simpáticas, mas também com playboys marrentos e encrenqueiros. Mais um grande trabalho de Rocha, um olhar bastante marcante sobre observadores urbanos.


Na trama, conhecemos Paulo (Fabrício Boliveira), um homem que leva sua vida totalmente em foco par ao trabalho como taxista, trabalhando de noite, faça chuva, faça sol. Ele tem um filho de 10 anos que está morando com a mãe desde quando essa resolveu se separar dele. Lutando por dias mais vencedores já que aluga o táxi e muito do que arrecada vai para pagar esse aluguel, Paulo encontra rostos novos em cada corrida pela cidade carioca. Até mesmo, encontra o amor na presença da enfermeira Karina (Bárbara Colen) em sua rotina. É uma análise profunda sobre um homem, seus desesperos e sua luta para ser feliz.


Taxistas, grandes observadores urbanos. O projeto tem poucos diálogos, joga entrelinhas no campo da observação, os espectadores são os olhos do protagonista quando esse olha para a cidade e vê todo tipo de pessoas e situações. Há uma reflexão importante sobre a profissão de Paulo (igual a de tantos milhares de outros na realidade), desabafos dos amigos taxistas no bar tomando um café é algo que faz parte do cotidiano carioca, assim entendemos melhor sobre as dificuldades numa profissão pouco valorizada e muitas vezes não tão rentável, principalmente quando você não tem seu próprio carro para rodar.


A melancolia embutida no olhar de Paulo (grande interpretação de Boliveira) é algo profunda, comovente. Podemos parar e pensar quantos Paulos temos do lado de cá da telona, vivendo para sobreviver sem nem ter a chance de pensar em coisas melhores dentro de uma cidade que suga nossas energias muitas vezes.  

Continue lendo... Crítica do filme: 'Breve Miragem do Sol'

31/12/2020

, , , ,

Crítica do filme: 'Pacarrete'


A força da paixão do artista, da inigualável margarida em francês. Baseado em fatos reais, Pacarrete, dirigido pelo cineasta Allan Deberton conta a história de uma personagem feminina, uma mente iluminada de criatividade, incompreendida, ex-professora, vaidosa, amante da cultura francesa que nos faz acreditar do início ao fim que o palco é lugar onde bate mais forte o coração de um artista. Uma personagem tão forte quanto as mensagens do filme. Ficamos hipnotizados com o impacto a todo instante da presença dessa mulher sonhadora e tão carismática. Nunca fez tanto sentido que os gritos lá de fora não são mais fortes que as emoções que alguém pode carregar dentro de si. Uma atuação inesquecível de Marcélia Cartaxo, rimos e choramos com ela. Um dos grandes filmes nacionais de 2020.


Na trama, que possui uma bela trilha sonora, conhecemos Pacarrete (Marcélia Cartaxo), forte como um mandacaru, uma ex-professora que veio de Fortaleza para morar com a irmã Chiquinha (Zezita de Matos), moradora do município de Russas. Ela tem o sonho em se apresentar como bailarina em um grande evento da cidade, os 200 anos de Russas, mas acaba encontrando muitas dificuldades em ser compreendida. Ao longo dos quase 100 minutos de projeção somos testemunhas da determinação, sonhos, desilusões dessa personagem que vai ser difícil esquecermos. 


O belo, o bonito, está no desejo em se apresentar, no gesto da bailarina. Pacarrete é um recorte delicado e muito profundo de uma mulher batalhadora, guerreira cujo os sonhos parecem somente ter sentido para ela, muito criticada pelos outros ao seu redor. Dorme em sua rede todos os dias junto com seus sonhos junto a verdade de que uma artista nunca deve deixar os palcos.


Poderia até virar seriado, sendo esse belo filme a primeira temporada. Reflexivo, nos diz muito nas entrelinhas, nos momentos de pausas dos diálogos deixa uma certeza: o mundo é um lugar muito pequeno para o quanto grandioso podem ser nossos sonhos, mas mesmo assim nunca deixamos de sonhar e sonhar e sonhar...

 

 

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Pacarrete'