Pelo mar quase nada chega, e quase nada vai. Com um visual deslumbrante, como se estivéssemos em um tour por um museu, O Barco, longa-metragem nacional que fora lançado no segundo semestre do ano passado (2020), encosta no folclore, desejo de partir e descobrir, nos contos regionais mas não deixa de ser uma fábula de brasilidade. Há um narrador dentro da trama, esse e as imagens, o movimento, a luz e a escuridão nos guiam rumo ao entendimento do peculiar, da densidade dos diálogos e seus interpretativos significados. Um trabalho técnico impecável de um dos grandes artistas do cinema brasileiro, Petrus Cariry.
Na trama, conhecemos uma vila de pescadores onde se fala
pouco, se trabalha muito e sem muitas margens para saídas. Assim conhecemos uma
mulher e seus 26 filhos, cada um desses tem como nome uma letra do alfabeto. A,
o mais velho, deseja partir dali e descobrir um mundo diferente do que só
enxergou até então. Assim, dentro desse desejo quase secreto de ir, a chegada
de um barco e uma moça começam a refletir sobre si mais sobre seus futuros
objetivos.
Em certos pontos/momentos parece que estamos dentro de uma
viajar incompreensível, anda na linha bamba e tênue entre o cinema autoral e o
cinema de somente auto compreensão de quem cria. O Barco, filme que já se
encontra em algumas plataformas digitais, não é um filme fácil. Usa das
arquiteturas da vida, da falsa ação da simetria, do infinito universo das histórias
de pescador, para chegarmos a um entendimento pelas imagens e seu movimento,
que nesse caso, muitas vezes valem mais de mil palavras confusas.
Com uma belíssima fotografia (marca registrada do diretor),
podemos afirmar que é impressionante como Petrus sabe aonde colocar uma câmera
para mostrar movimentos, o aspecto da narrativa proposta, afim de orientar o
espectador para dentro de seus universos confusos e belos.