17/05/2021

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Crítica do filme: 'Agnes Joy'


O choque do espírito pragmático com o espírito sonhador. Escrito e dirigido pela cineasta islandesa Silja Hauksdóttir, Agnes Joy, indicado pela Islândia ao Oscar no ano de 2019, caminha a curtos passos entre conflitos de mães e filhas de duas gerações, imposições sobre a vida, aquelas dentro da lógica de doutrinas de senso comum andando na linha do ‘normal social’. A rebeldia aliada à inconsequência, como as aparências enganam, como equilibrar a arte do sonhar, são questões que chegam forte nas nossas mais óbvias reflexões sobre o que vemos ao longo de menos de 90 minutos de projeção. Por mais que o nome do filme seja Anges Joy (nome da filha), a trama gira quase sempre em torno da mãe (interpretada pela ótima atriz Katla M. Þorgeirsdóttir). Um interessante trabalho, mais profundo do que aparenta ser.


Na trama, conhecemos Rannveig (Katla M. Þorgeirsdóttir), uma mãe rígida, controladora, comandante da empresa da família, a qual teve que assumir assim que seu pai faleceu interrompendo seus outros sonhos. Infeliz no trabalho, ela se desdobra entre a educação da filha adotada Agnes Joy (Donna Cruz), alguma atenção que busca do marido Einar (Þorsteinn Bachmann) e as aparências para os outros de sua ‘família perfeita’.  Quando a chegada de um novo vizinho, um ator conhecido por alguns, acaba mexendo um pouco nessa história vamos descobrindo os sentimentos escondidos dos personagens. Embaralhados pontos de vistas sobre o casamento mãe e pai completamente distantes ganham argumentos diversos.


Encontramos mais sentido sobre a vida, sentados vendo o mar, do que no meio do caos e estresse que pode virar nossa rotina. Nessa batalha entre o nublado e o céu de brigadeiro quando pensamos sobre nosso futuro, o foco para os paralelos acabam sendo dentro da questão familiar. Mãe, filha e pai, cada um à sua forma, buscam ser uma família perfeita aos olhos dos outros mas o cotidiano só comprova que não existe família perfeita. A primeira a se rebelar contra a mesmice infeliz é Agnes o que acaba preparando o terreno para Rannveig buscar se reinventar, dando sorrisos aos desejos, buscando não controlar tanto tudo e a todos mas as linhas do roteiro não desenvolvem Einar o que acaba deixando lacunas a serem preenchidas para um entendimento mais completo das transformações que acontecem.  


O filme possui poucas questões sobre o trabalho de Rannveig mas o pouco que aborda abre uma ótica para a questão de trabalhadores estrangeiros que arriscam tudo e imigram para países europeus em buscam de boas oportunidades mas muitas empresas colocam salários lá embaixo e poucas oportunidades, diferente do que seriam se fossem por um trabalhador local. Quase uma escravidão moderna. Mesmo na superfície, o filme levanta essa ótima questão global.