E se você pudesse dividir seu tempo de trabalho com seu tempo em casa não lembrando de nada em quanto estiver em um deles? Cheio de atalhos para instigar nossa curiosidade, o roteiro de Ruptura é algo sublime que nos faz refletir sobre a sociedade, o trabalho e a questão descontrolada do avanço da tecnologia. Esses são alguns dos ingredientes de uma das mais aclamadas séries dos últimos tempos que tem alguns episódios dirigidos por Ben Stiller. Indicado a muitas categorias no Emmy 2002, o projeto nos leva a pensar sobre quão profundo pode ser a natureza humana por meio de metáforas que traçam duas realidades que coexistem.
Na trama, criada por Dan
Erickson, que é uma das mais difíceis de se definir por conta de seu campo
amplo, conhecemos Mark (Adam Scott),
um funcionário de uma misteriosa e poderosa empresa chamada Lumen. Ele acaba de
ser colocado como líder de uma equipe de funcionários que aceitaram serem submetidos
a uma situação onde suas memórias foram divididas entre o seu trabalho e sua
vida fora dele. Basicamente: quando eles estão no trabalho não lembram de nada
do mundo fora dali, e quando eles estão em suas respectivas casas não lembram
de nada do trabalho. Até que um dia um ex-colega deles de trabalho, que
conseguiu sair dessa situação, acaba fazendo contato com o Mark de fora do
trabalho. A partir disso, o drama vira um misterioso labirinto de descobertas
convergindo das duas realidades.
Totalmente fora da caixa, vamos acompanhando, em meio a muitas
críticas à sociedade, uma série de explicações (algumas deixadas nas
entrelinhas) sobre alguns porquês. Num primeiro momento tudo é muito estranho
mas aos poucos somos guiados para as rotinas, trabalho e vida pessoal, de um
homem, ex-professor de história, amargurado por uma grande perda que decide ter
em sua vida algumas horas para não pensar na tragédia. Concluímos que os outros
personagens (todos ótimos) também seguem a mesma linha de pensamento com seus
porquês mas isso é um mistério mais para próximas temporadas. Dentre os coadjuvante,
ótimos arcos complementares, Christopher
Walken, John Turturro e Patricia
Arquette são alguns dos ótimos nomes do elenco.
O suspense chega primeiro na forma de entendermos o que
seria a Empresa Lumen a partir dos achados dos dois paralelos de Mark que de
maneira muito inteligente parecem colidir no mesmo objetivo. E esse suspense se
mantém constante quando observamos os outros misteriosos personagens, a
manipulação feita fora da empresa, as descobertas de Mark e sua equipe sobre
outras portas dentro do lugar onde trabalham. O perigoso recorte sobre o controle
da mente abre brechas para milhões de teorias sobre o que seria aquele
experimento, quais seriam os reais objetivos da empresa nessa divisão entre
trabalho e vida pessoal.
Você acaba a primeira temporada e as perguntas ainda são
muitas mas já dá para ter uma noção das ótimas surpresas que chegarão na
continuação da série. Os longos episódios buscam mastigar os detalhes não dando
de bandeja todas as explicações e ainda abrindo nossa curiosidade com
reviravoltas constantes. Simplesmente fabuloso!