A nossa realidade está dentro da nossa mente. Explorando conceitos filosóficos, bebendo um pouco da fonte de Alice no País das Maravilhas e esbarrando em reflexões vistas no filme A Origem, dentro de uma busca pelo que seriam as falhas da natureza humana, todas as escolhas que de alguma forma são dominadas pelas emoções, 1899 é um seriado imprevisível, usa dos infinitos caminhos da fantasia para trazer à tona debates sobre a mente, o medo, a desconfiança, o inusitado, a fé, o sonho, o pesadelo, a perda, a dor, as escolhas. Mais qual seria o contexto, os motivos para tudo que assistimos? Realidade? Simulação? O quebra-cabeça criado pela dupla Baran bo Odar e Jantje Friese (mesmos criadores do sucesso Dark) é instigante, aguçando nossa curiosidade a todo instante. Uma curiosidade bem legal, um dos episódios tem uma mão brasileira, no capítulo cinco, a roteirista Juliana Lima Dehne assina o roteiro ao lado de Jantje Friese.
Na curiosa trama, conhecemos um grupo de pessoas que compram
uma passagem de navio saindo de um país da Europa para os Estados Unidos. Nesse
grupo de pessoas, de diversos países diferentes, estão, entre outros: Maura (Emily Beecham), Ling Yi (Isabella Wei), Krester (Lucas Lynggaard Tønnesen), Eyk (Andreas Pietschmann), Ángel (Miguel Bernardeau) Ramiro (José Pimentão), Jérome (Yann Gael), Clémence (Mathilde Ollivier), Lucien (Jonas Bloquet) Sra. Wilson (Rosalie Craig), Olek (Maciej Musial), Tove (Clara Rosager), Franz (Isaak Dentler). Parece que esses
personagens, que se tornam os principais da história, possuem um elo que são os
fortes traumas que viveram em um passado nem tão distante. Ao longo do trajeto
dessa viagem, muitas coisas estranhas começam a acontecer e decisões sobre o
que fazer colocará todos eles em risco.
Existem muitos caminhos para análise dessa primeira
temporada de oito impactantes episódios. A comunicação é uma das variáveis mais
importantes analisadas aqui nessa instigante obra. Como caminhar pelos
mistérios sem conseguir entender muitas vezes o que alguém que você precisa
quer dizer? Algumas cenas podem até ser um pouco forçadas mas a ideia caminha
no como superar essa dificuldade de comunicação. Nada é tão simples por aqui, sabe-se
aos poucos que alguns personagens estão dentro de um contexto maior do que
imaginam como se portas para suas lembranças fossem acessadas, até mesmo uma
memória falsa algo que pode suprimir a dor. Nessa questão, 1899 encosta muito próximo nos conceitos sobre memórias e sonhos
aplicados por Christopher Nolan em A Origem.
Estímulos do cérebro causados por realidade ou por conceito?
Há uma indicação para ser um duelo entre o bem e o mal? A fé se torna epicentro
de debates profundos. As escolhas que se seguem pelo caminho algumas dominadas
por um conservadorismo cedo de alguns, confrontos contra a própria fé, até
mesmo as escolhas daqueles que usaram a fé com ferramenta de fuga de situações
passadas. Ao mesmo tempo nos deparamos com mais uma imersão de Baran Bo Odar e Jantje Friese pelo Loop
infinito (conceito já visto em Dark),
isso até é algo óbvio já que o símbolo que domina muitas imagens é um triângulo,
uma forma geométrica de começo, meio e fim.
Pausas no tempo, teletransporte, controles remotos, besouros
que abrem portas, observações da natureza humana ao estilo Big Brother, há uma
fonte inesgotável de criatividade dentro de toda narrativa onde enxergamos
traços de conceitos do clássico livro de Lewis
Carroll, Alice no País das
Maravilhas. Aqui nesse link entre a realidade e aberturas de portas para um
mundo difícil de entender nos deparamos com reflexões sobre razões de funções
correlacionadas consciente e o inconsciente.
1899 deixa muitas
lacunas abertas sobre o que veremos nas próximas temporadas com um desfecho que
beira ao inacreditável. Baran bo Odar e Jantje Friese se consolidam mais uma
vez como duas das mentes mais criativas do universo do entretenimento
audiovisual contemporâneo.