O egocentrismo do desequilíbrio. Explorando conflitos de um enigmático protagonista que mora faz mais de 30 anos em um prédio onde é o zelador durante todo esse tempo, o seriado argentino Meu Querido Zelador nos leva para uma jornada com paradas na psicologia, na sociologia, onde assistimos um metódico modo de pensar egoísta entrar em descontrole. Com uma narrativa puxada para a comédia, onde brilha o veterano ator argentino Guillermo Fancella, esse seriado lançado em 2022, sem muita badalação, conquista o público deixando um gosto de quero mais.
Criada pelo trio Mariano
Cohn, Gastón Duprat e Martin Bustos, ao longo de onze
episódios de cerca de 30 minutos de duração acompanhamos a história de Eliseo (Guillermo Francella), um quase senhor
de idade, bastante ativo, que é zelador de um prédio de classe média alta numa
região central de uma grande cidade na Argentina. Seus dias são intensos, com
muitos afazeres e tentando agradar a todos os moradores a todo instante. Mas o
protagonista tem um lado obscuro ligado ao seu egocentrismo marcante buscando
levar vantagens em situações do dia a dia. Seu controle sobre tudo acaba indo por agua
abaixo quando um dos moradores, o narcisista Matías Zambrano (Gabriel Goity) resolve colocar em
prática uma votação para criar uma piscina no último andar do prédio,
exatamente o lugar onde Eliseo mora. Ao mesmo tempo, o projeto prevê a demissão
dele. Assim, o intrigante personagem principal dessa história embarcará em uma
jornada para convencer a maioria dos moradores do prédio a votarem a seu favor.
A sociopatia é um traço marcante por aqui. Dono de ações
absurdas, como: chantagens, colocação de outros personagens em ‘sinuca de bico’,
mentiras deslavadas, esse empreendedor da malandragem egocêntrica, eterno
observador, não tem limites quando o objetivo é conseguir o que quer. Profundo,
Eliseo é apresentado pelos seus dois lados e muito do que assistimos é fruto de
uma solidão, alguém que encontrou uma forma de viver na comodidade como se
realmente fosse um dos moradores. Mas a realidade chega de forma visceral, no
desleixo da empatia, no ar de superioridade de um vizinho igualmente intrigante.
Nesse ponto é estabelecido um duelo. O Anti-heroísmo é óbvio mas a situação que
domina a narrativa nessa primeira temporada de alguma forma transforma o protagonista
para lapsos de reflexões sobre o próprio jeito de ser e a maneira como lida com
os outros.
O cotidiano dos conflitos de um condomínio viram cenário
para reflexões sobre classes sociais, o preconceito, expressando-se muitas vezes
em diálogos que mostram a complexidade do ser humano. Nessa engrenagem tudo
funciona pela boa administração das pitadas cômicas e a grande atuação do
genial ator argentino Guillermo
Francella.