O que é o certo e o errado em uma guerra? Não é de hoje que ações militares de países em território distante sempre nos colocam de frente com evidências sobre as formas e os porquês de determinada ordem. Trazendo depoimentos de dois lados de uma batalha ocorrida num país da África Oriental, a nova série documental da Netflix, dividida em três partes, Sobrevivendo à queda dos Black Hawks nos leva de volta até os horrores documentados quando um fato mudaria os rumos dessa ação norte-americana na capital da Somália, Mogadíscio.
A história - que foi o ponto principal para o filme de Ridley Scott, Falcão Negro em Perigo –
nos leva de volta até o início do segundo semestre de 1993 quando a maior força
armamentista mundial mandou suas forças especiais militares (inclusive os Delta
Force, famosa tropa de elite) para ajudar uma campanha humanitária da ONU. Mas a
ação logo virou uma intervenção para atuar contra as milícias que reuniam
exércitos numerosos de fiéis seguidores.
Dentro desse cenário e sob as ordens do até então presidente
norte-americano Bill Clinton, no
início de outubro uma batalha pelas ruas da cidade litorânea de Mogadíscio
(capital da Somália) ficariam marcadas para sempre na história militar norte-americana,
com a queda de dois helicópteros Black Hawks e soldados perdidos em linha de
fogo esperando reforço. Mas até esse epicentro, é importante entender o cenário
como um todo, algo que a minissérie busca em sua narrativa só que de forma bem
superficial.
Temos de um lado um país em guerra civil – algo que perdura
até hoje - que levou a fome generalizada e uma divisão entre lados milicianos. Do
outro, o mais poderoso país do mundo em uma missão de apoio à ONU, que logo
vira uma ação de captura e depois uma missão de resgate. Desde a chegada dos
norte-americanos ao território alvo, as interações com a população foram da
esperança ao ódio agitando uma panela de pressão que culminaria em horas de
terror e heroísmo.
Civis e aliados de malícias contam suas versões do que
viveram. Militares que estiveram de frente na linha de confronto também,
inclusive com histórias que se interlaçam. Assim, conseguimos chegar em várias
linhas de reflexões que passam inclusive pelos pensamentos humanitários
isolados pelo medo de uma situação de risco.
Diversos pontos de vistas são usados para dar o máximo de
realidade ao ocorrido. Entre depoimentos e simulações fictícias - contando
ainda com filmagens reais feitas por um cinegrafista amador somaliano – é fácil
entender que a dor e o sofrimento estavam em todos os lugares. Uma cronologia
detalhista - com uma riqueza de ações e emoções – nos leva para um tabuleiro
estratégico onde a parte política ganha holofotes por algumas vertentes.
Sobrevivendo à queda
dos Black Hawks é um retrato sobre dores e traumas. O certo e o errado de
um confronto ganham interpretações colocando em evidência que as ilusões de uma
paz ficam cada vez mais distantes quando o real problema vira uma questão
política.