Os olhares sobre uma escolha. Indicado para mais de 100 prêmios desde seu lançamento mundial, A Baleia, novo trabalho do cineasta e ex-frequentador da Universidade de Harvard Darren Aronofsky, é um filme que navega nas escolhas de um professor de inglês, que sofre com transtorno da compulsão alimentar e seu caminho para deixar um legado em laços corrompidos, principalmente com sua única filha com quem teve um relação sempre distante. Indo a fundo em uma melancolia durante suas quase duas horas de projeção, o projeto marca o renascimento de um artista muito querido por fãs e pela própria indústria cinematográfica, o indicado ao Oscar Brendan Fraser.
Na trama, conhecemos Charlie (Brendan Fraser), um professor que trabalha home office dando aulas
online para alunos de um curso de escrita. Esse personagem é amargurado, com
fortes problemas emocionais muitos desses causados por um forte perda no seu
passado. Ele se encontra com quase 300 quilos, com grandes dificuldades de
locomoção, e parece entregue, sem querer ajuda de hospitais ou médicos
especializados. Sua única companhia é a enfermeira, e ex-cunhada, Liz (Hong Chau), talvez a única pessoa que
ele escute nessa fase final da vida. Durante essa jornada que marca o provável
desfecho de sua trajetória, outros personagens começam a entrar em seus dias,
como o enigmático e vinculado a uma religião Thomas (Ty Simpkins), sua ex-esposa Mary (Samantha Morton) e principalmente sua filha Ellie (Sadie Sink). Com essa última, Charlie
se esforça para resolver a complicada relação de pai e filha.
Baseado em uma peça teatral homônima, dramaturgo americano
de 42 anos Samuel D. Hunter, A Baleia
é um recorte introspectivo de um homem que escolheu chegar ao fim de sua
jornada (algo parecido do que acontece no filme Despedida em Las Vegas) e tem como objetivo uma última redenção na
relação conturbada com sua filha. Falando
abertamente sobre transtorno da compulsão alimentar, o roteiro parece que não
alcança seu clímax por completo mesmo recheado de ótimas reflexões pelos pontos
de vistas dos ótimos coadjuvantes que complementam demais as lacunas dessa
jornada.
Aronofsky não é bobo, seu cinema é muito pensado, vemos por
exemplo o uso explícito de suas ideias na maneira como o público recebe seu
filme, partindo para a primeira reflexão na relação entre a largura e altura de como foi
filmado, um paralelo com as limitações de espaço que enfrenta o protagonista.
Há também lacunas que o próprio olhar e sensibilidade do espectador acaba
precisando preencher dentre os achismos que compõe as ações dos personagens.
Com 90% de suas cenas dentro de um apartamento e com um
dedicado Brendan Fraser, que teve
que vestir um traje protético pesado e foi ovacionado durante a exibição no
Festival de Veneza, A Baleia concorre
à três Oscars em 2023 com fortes chances de vitória para Fraser.