Do que o ser humano é capaz? Com um excelente roteiro, inspirado num caso que chocou o Brasil, conhecido como Fera da Penha, O Lobo Atrás da Porta completa 10 anos em 2023 sendo considerado por muitos um dos grandes filmes brasileiros da última década. Nos mostrando o sumiço de uma criança, um tenso interrogatório com versões de uma mesma história, o filme passa um raio-x na obsessão, impulsividade, na violência. Quem está mentindo? Qual a verdade? Ao longo dos 101 minutos de projeção detalhes de um chocante crime vão sendo revelados dentro de um alto clima de tensão.
Na trama, conhecemos Bernardo (Milhem Cortaz), um fiscal de uma empresa de ônibus, casado com Sylvia
(Fabiula Nascimento) com quem tem
uma filha. Quando a garota desaparece misteriosamente após ser pega por alguém
na creche em que estava, Bernardo e Sylvia vão até a polícia onde um tenso
interrogatório acontece. O delegado de plantão (Juliano Cazarré) começa a
desconfiar de algumas versões da história e logo se descobre que Bernardo tem
uma amante chamada Rosa (Leandra Leal)
que também é convocada para prestar depoimento. O tempo passa e as verdades
começam a aparecer.
Exibido em muitos festivais de cinema, inclusive no Festival
de Toronto (onde estreou) e também no Festival do Rio (onde levou dois
prêmios), O Lobo Atrás da Porta tem
uma narrativa brilhante, tudo funciona para não deixar o clima de tensão
escapar, onde o vai e vém nas histórias dos envolvidos acabam trazendo enormes
surpresas. A traição é um ponto central, onde tudo começa, se desenvolve e
termina, há um olhar minucioso para conflitos nos relacionamentos, onde o lado
psicológico chama a atenção em relação as ações e consequências nas portas que
são abertas para esses conflituosos personagens.
Rosa é a mais intrigante personagem, sonsa, obsessiva,
dissimulada, se mostra capaz de qualquer coisa para não sair da sua bolha de carência
que é repensada com a chegada de um novo amor, mesmo esse sendo casado e a
usando como objeto de desejo. As reflexões sobre nossa sociedade e as formas de
enxergar a violência, a vingança, se colocam sob as ações dessa chocante
personagem. Brilha em cena Leandra Leal,
uma das melhores atrizes em atividade no nosso cinema.
Escrito e dirigido pelo ótimo cineasta Fernando Coimbra, em seu primeiro longa-metragem, o filme teve
orçamento abaixo dos 2 milhões de reais, muito abaixo de outras produções
nacionais. O projeto nas bilheterias brasileiras alcançou nem 30.000
espectadores. O que gera várias perguntas: Por que as pessoas não foram
assistir? Será que ainda existia/existe algum pré-conceito ou mesmo preconceito
com as produções brasileiras no nosso próprio país? Quantas salas de cinema
colocaram o filme? Será que as salas de cinema que não colocaram o filme em
cartaz estavam repletas de produções internacionais? Para se pensar!
Para quem se interessou em conferir, o filme está disponível
na Star Plus, na Netflix e na HBO Max.