Pare, olhe, escute. Um embate familiar que se choca com a realidade de uma vida difícil, com o preconceito, com verdades impostas, com a absurda oferta de uma ‘cura gay’ se tornam os primeiros elementos de um longa-metragem exibido nos festivais de San Sebastian e Toronto, que contorna as duras camadas de momentos conflitantes com inteligência, com uma fotografia que escancara as emoções. Segundo longa-metragem da carreira de Carolina Markowicz, uma grande contadora de histórias com imagens em movimento (já tínhamos visto isso no excelente Carvão), Pedágio não é um filme fácil, necessita de atenção, há reflexões por todos os lados. Um dos melhores longas-metragens exibidos no Festival do Rio 2023.
Na trama, acompanhamos Suellen (Maeve Jinkings, em grande atuação) uma mulher batalhadora que trabalha
como cobradora de um pedágio em Cubatão, São Paulo. Ela tem um filho, Tiquinho
(Kauan Alvarenga), perto de
completar 18 anos, que adora fazer vídeos e imitar divas da música. Ao longo do
tempo, Suellen passou a se incomodar com algumas situações envolvendo o filho e
de maneira inconsequente resolve ser parte de uma pequena gangue que rouba
relógios, tudo isso para financiar a ida de seu filho à uma cura gay organizada
por um pastor gringo.
Os protagonistas, mãe e filho não chegam a ser antagonistas,
há sentimentos conflitantes mas não falta amor. Essa relação repleta de altos e
baixos, acaba se transformando em mais um personagem que segue como uma sombra
para todas as ações e consequências que se chocam no destino dos protagonistas.
Suellen vive num presente perdida em um relacionamento abusivo repleto de
falsas promessas em choque com a carência, com a solidão e parece despejar
todas suas frustrações no único filho. Tiquinho sofre com as agressões por sua
orientação sexual mas não deixa de seguir seu caminho driblando a bolha
conservadora que sua mãe está estacionada.
Como percorrer uma distância entre dois pontos? Tem artistas
que adotam o discurso reto e direto outros buscam as trajetórias mais difíceis
por meio de profundas camadas dramáticas para trazer ao centro do palco (ou
melhor, da telona) uma série de críticas sociais importantes para serem
debatidas. Um relacionamento entre mãe e filho marcado pelo preconceito é o
primeiro passo de um brilhante roteiro que detalha a vida como ela é, uma
versão nua e crua de recortes de uma sociedade que algumas vezes buscam os
caminhos mais difíceis em busca de algum sentido para verdades impostas. A
narrativa é cirúrgica também ao relatar e se fazer refletir sobre a opressão
sofrida pela comunidade LGBTQIA+.
Um dos seis filmes pré-selecionados para uma vaga no Oscar
2024 (acabou sendo escolhido Retratos
Fantasmas), Pedágio estreia dia
30 de novembro. Um filme que marca mais uma vez o talento de Carolina Markowicz.