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01/12/2023

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Critica do filme: 'Nada Será como Antes – A Música do Clube da Esquina'


Que notícia que nos dão de vocês? Buscando trazer novos olhares para um famoso movimento de talentosos músicos mineiros na década de 60, o Clube da Esquina, o documentário dirigido pela cineasta Ana Rieper, Nada Será como Antes – A Música do Clube da Esquina, navega com leveza e poesia pela história de algumas criações de sucessos em canções oriundas de uma observação detalhada do que viviam, também dos amores. As referências musicais e os paralelos entre o movimento estudantil e o cinema como pontos importantes para a criação do grupo são amplamente debatidos sob diversos olhares. Ganchos para um recorte mais amplo de uma época de constante mudanças no Brasil são vistos mas a narrativa estaciona na superfície.


A primeira parte do documentário é contagiante, seguimos numa estrada deliciosa que nos mostra curiosidades da amizade ao brilhantismo. No bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, futuros compositores e letristas de sucessos se reuniam, cada um com suas referências musicais, alguns adoravam Jazz, outros Beatles. Essa diversidade de influências é muito bem captada pelas lentes da diretora que por meio de imagens de arquivos e depoimentos de quem viveu todo aquele início de história leva o espectador a ficar hipnotizado durante a reflexão de como a simplicidade e a genialidade encontram paralelos constantes.


Todo dia é dia de viver. Na sua segunda metade, sem se desprender de mérito algum, o filme perde fôlego, tentando entrar em um recorte mais amplo de uma época com muita coisa a se dizer, caminha lentamente para um lugar perto do comum, como muitas outras produções. Exibido no Festival do Rio, na Mostra de São Paulo e filme de abertura da décima oitava edição do Fest Aruanda Nada Será como Antes – A Música do Clube da Esquina pode ser visto como um registro marcante para quem viveu o Brasil desde aqueles tempos além de plantar uma semente para o olhar atento de uma nova geração.


Naquela calçada, fugindo de outro lugar, talvez num domingo qualquer, a história foi escrita. Milton Nascimento, Lô Borges, Marcio Borges, Toninho Horta, Wagner Tiso, Beto Guedes e outros integrantes brindaram a todos nós com o flerte ao inesquecível, uma poderosa ferramenta de amor pela cultura como um todo de um timaço da nossa música que provaram a cada verso que os sonhos não envelhecem.

 


 

 

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23/10/2023

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Crítica do filme: 'Levante'


Os conflitos que mudam os caminhos. Abordando um dos temas mais polêmicos do planeta, o aborto, o novo trabalho da cineasta Lillah Halla nos joga para um olhar para a adolescência onde a chegada da maturidade, os embates com os conflitos que se seguem, e a força da amizade batem à porta a todo instante. Exibido no Festival de Cannes em 2023, inclusive vencendo um prêmio, Levante é um filme forte, profundo, que estaciona no seu principal conflito explorando os muitos olhares sobre uma questão muito sensível que no Brasil ainda é um enorme tabu.


Na trama, conhecemos Sofia (Domênica Dias), uma adolescente super alegre, entrosada com as amigas de longa data, craque do time de vôlei de seu bairro que após se destacar nas quadras recebe uma possível proposta irrecusável, sendo forte concorrente à uma bolsa de estudos para jogar seu esporte favorito em outro país sul-americano. Acontece que no mesmo período dessa grande notícia, uma outra abala suas estruturas emocionais, ela está grávida. Desesperada e querendo interromper a gravidez, ela busca forças nas amigas e no seu pai (Rômulo Braga) mas sem deixar de sentir a fúria de um grupo de pessoas que fica sabendo da tentativa de aborto e que começa a discriminá-la.


Mesmo estacionado no seu principal conflito, o que podemos entender como um clímax constante, o roteiro escrito por María Elena Morán (e pela própria Lillah Halla) ganha muito méritos ao conseguir prolongar esse momento, fato que nos leva a refletir cada vez mais sobre a discussão proposta.


Há muitos pontos de reflexões que se seguem pela dinâmica narrativa. Partindo de um choque entre a realidade e a oportunidade, a jornada de Sofia apresenta várias variáveis ligadas ao emocional, no início numa bolha em forma de isolamento buscando entender as variáveis que se apresentam no seu presente, depois na luta pelos seus direitos em ser ouvida. O aborto no Brasil vem sendo debatido mais a partir do final da década de 80, com a constituição federal brasileira juntamente com a luta das mulheres para serem ouvidas. A saga da personagem de alguma forma representa outros tantos casos espalhados pelo nosso país.


Ainda sem previsão de estreia no circuito de exibição brasileiro, Levante estende sua bandeira sem deixar de mostrar visões, verdades, dúvidas, opiniões de todos os lados.



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16/10/2023

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Crítica do filme: 'Othelo, o Grande'


Buscando por meio de imagens de arquivos e depoimentos sobre diversos temas, contar de forma breve a trajetória de um intérprete de vários sentimentos que logo se tornou um dos mais destacados artistas da história dos palcos e telas de nosso país, Othelo, o Grande nos declama a genialidade do improviso e o dom de fazer rir se tornando um projeto fundamental para quem ama a sétima arte. O documentário, dirigido por Lucas H. Rossi traz em seu paralelo importantes momentos do cinema brasileiro.


Ao longo de hipnotizantes 82 minutos de projeção, acompanhamos parte da história de Sebastião Bernardes de Souza Prata, nascido na hoje conhecida Uberlândia, em 1915, um homem que tinha a política de fazer rir! Lutando contra o preconceito em praticamente todas as fases de sua vida, logo ficou conhecido como Grande Otelo, sendo o grande responsável por dar vida à personagens com enorme apelo popular que estão nas memórias de muitas pessoas até hoje.


Trechos de muitos de seus trabalhos mais conhecidos ganham pequenos recortes e reflexões, como: Macunaíma do cineasta carioca Joaquim Pedro de Andrade e Fitzcarraldo, do aclamado cineasta alemão Werner Herzog. Entre os momentos mais marcantes, seu encontro com Orson Welles gera um depoimento sobre o sumiço de filmes que mostravam grandes verdades do Brasil na década de 40, fato que poucos conhecem. A dupla com Oscarito não foi esquecida, essa que marcou uma fase impressionante da comédia brasileira.


O início da Atlântida (famosa produtora de filmes), no início da década de 40, além dos rumos do cinema brasileiro ganham alguns depoimentos de Grande Otelo tiradas de algumas das inúmeras entrevistas que o documentário conseguiu em sua excelente pesquisa. Durante todo o tempo em que esteve ativo no mercado, o ator nunca escondeu o que pensava sobre os bastidores. As tragédias da vida pessoal também ganham espaço, flertou com esse momento inclusive em plena Avenida Presidente Vargas sem ser época de carnaval.


Othelo, o Grande venceu o prêmio de Melhor Documentário no Festival do Rio 2023, um merecido prêmio para um filme que mostra com muita riqueza de detalhes, a vida de um gigantesco artista brasileiro.

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Crítica do filme: 'Ana'


Atravessando o recorte na vida de uma jovem moradora da periferia carioca que vive um presente repleto de conflitos, o novo trabalho do cineasta Marcus Faustini abre seu leque de reflexões a partir do medo e insegurança amarrados em uma profunda crise existencial. O projeto de 75 minutos de projeção busca com os conflitos criar uma narrativa que foge do discurso de apresentar soluções, é um filme que vai de encontro às verdades dentro de um recorte real da sociedade onde o medo se acopla em sonhos e desejos.


Na trama, conhecemos Ana (Priscila Lima), uma jovem que está atualmente com a cabeça voltada para trabalhar. Ela mora com o único irmão (Gustavo Luz) em uma modesta casa na periferia do Rio de Janeiro e tem como ganha pão passear com cachorros na parte rica da cidade. Com saudades da mãe, falecida meses atrás, busca proteger o irmão contra o preconceito que bate à sua porta. Parece viver uma crise existencial profunda mas sem deixar de interagir com os amigos. E nesse presente repleto de conflitos, ainda tem a chegada de Cristiano (Vinícius de Oliveira), um ex que fugiu para a Bahia sem maiores explicações por quem ainda tem sentimentos.


Um abstrato retrato do medo ganha fortes expressões por aqui. O medo de uma sociedade desleal, da opressão de cada esquina. Ana parece viver os seus medos e os dos que ama, um jornada que paralisa seu sonhar. Ela parece detectar isso, se enxerga muitas vezes perdida, querendo resolver os problemas que a cercam mas seu dar os primeiros passos para soluções. Mas será que todos os problemas que a cercam tem soluções? As sessões com a psicóloga, com fitas gravadas para driblar a timidez, servem para revelar suas angústias a um outro alguém, assim entendemos melhor a intrigante personagem dentro de sua bolha existencial que não encontra caminhos para o sentimento que se vive e se torna difícil de falar.


Ana nos leva também a pensar nos problemas de uma periferia em crises sociais constantes, no preconceito de uma ainda sociedade conservadora onde a homofobia bate na porta de muitas pessoas que somente querem ser felizes. Longe do discurso de encontrar soluções, o longa-metragem é mais reto e direto, apresenta muitas verdades que acontecem por aí.



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12/10/2023

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Crítica do filme: 'Pedágio'


Pare, olhe, escute. Um embate familiar que se choca com a realidade de uma vida difícil, com o preconceito, com verdades impostas, com a absurda oferta de uma ‘cura gay’ se tornam os primeiros elementos de um longa-metragem exibido nos festivais de San Sebastian e Toronto, que contorna as duras camadas de momentos conflitantes com inteligência, com uma fotografia que escancara as emoções. Segundo longa-metragem da carreira de Carolina Markowicz, uma grande contadora de histórias com imagens em movimento (já tínhamos visto isso no excelente Carvão), Pedágio não é um filme fácil, necessita de atenção, há reflexões por todos os lados. Um dos melhores longas-metragens exibidos no Festival do Rio 2023.


Na trama, acompanhamos Suellen (Maeve Jinkings, em grande atuação) uma mulher batalhadora que trabalha como cobradora de um pedágio em Cubatão, São Paulo. Ela tem um filho, Tiquinho (Kauan Alvarenga), perto de completar 18 anos, que adora fazer vídeos e imitar divas da música. Ao longo do tempo, Suellen passou a se incomodar com algumas situações envolvendo o filho e de maneira inconsequente resolve ser parte de uma pequena gangue que rouba relógios, tudo isso para financiar a ida de seu filho à uma cura gay organizada por um pastor gringo.


Os protagonistas, mãe e filho não chegam a ser antagonistas, há sentimentos conflitantes mas não falta amor. Essa relação repleta de altos e baixos, acaba se transformando em mais um personagem que segue como uma sombra para todas as ações e consequências que se chocam no destino dos protagonistas. Suellen vive num presente perdida em um relacionamento abusivo repleto de falsas promessas em choque com a carência, com a solidão e parece despejar todas suas frustrações no único filho. Tiquinho sofre com as agressões por sua orientação sexual mas não deixa de seguir seu caminho driblando a bolha conservadora que sua mãe está estacionada.


Como percorrer uma distância entre dois pontos? Tem artistas que adotam o discurso reto e direto outros buscam as trajetórias mais difíceis por meio de profundas camadas dramáticas para trazer ao centro do palco (ou melhor, da telona) uma série de críticas sociais importantes para serem debatidas. Um relacionamento entre mãe e filho marcado pelo preconceito é o primeiro passo de um brilhante roteiro que detalha a vida como ela é, uma versão nua e crua de recortes de uma sociedade que algumas vezes buscam os caminhos mais difíceis em busca de algum sentido para verdades impostas. A narrativa é cirúrgica também ao relatar e se fazer refletir sobre a opressão sofrida pela comunidade LGBTQIA+.


Um dos seis filmes pré-selecionados para uma vaga no Oscar 2024 (acabou sendo escolhido Retratos Fantasmas), Pedágio estreia dia 30 de novembro. Um filme que marca mais uma vez o talento de Carolina Markowicz.



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07/10/2023

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Crítica do filme: 'Sem Coração' (Festival do Rio 2023)


Tempo bom, tempo ruim, nas duas situações se aprende. Com passagem pelo prestigiado Festival de Veneza em 2023, o longa-metragem brasileiro Sem Coração desembarcou no Festival do Rio 2023 para sua première nacional. O projeto ambientado em uma Alagoas dos anos 90 aborda a descoberta da sexualidade na visão de uma jovem adolescente com o destino traçado longe do lugar onde foi criada. Escrito e dirigido por Nara Normande e Tião, o filme reforça o discurso das fases conturbadas da adolescência por meio de uma narrativa com altos e baixos.


Na trama, conhecemos Tamara (Maya de Vicq), uma jovem alegre e repleta de amigos que vive seus últimos momentos numa cidade no litoral de Alagoas, onde nasceu e foi criada. Certo dia, ela escuta falar de uma outra jovem, conhecida como ‘sem coração’ (Eduarda Samara), uma menina solitária que ajuda o pai pescador nos trabalhos profissionais. Aos poucos Tamara começa a desenvolver uma atração por essa jovem.


O imaginar, o sonhar e a realidade entram em choque, numa zona de conflito que busca ser o combustível da narrativa, por vezes confusa, outras alcançando o refletir com certo brilhantismo. O projeto caminha sobre a descoberta da sexualidade por alguns pontos de vistas, não só da protagonista, reforçando o discurso das fases conturbadas da adolescência. A amizade se torna uma força dentro do roteiro, nesse olhar social de interação a troca de experiências abrem margens para longos debates sobre a vida. Nesse último ponto, brilham jovens atores, rostos ainda desconhecidos do cinema brasileiro mas que estarão em breve em outras produções.


Pais e filhos, amizade, dúvidas, a violência, o preconceito, a desigualdade social, o roteiro abre seu leque para personagens e seus conflitos. Oriundo de um curta-metragem premiado no Festival de Cannes, uma extensão dessa história, Sem Coração, mesmo sem alcançar um clímax, se perdendo muitas vezes nas constantes subtramas que o envolvem, o filme consegue chegar ao objetivo de refletir sobre a vida na visão imatura de uma fase repleta de medos e incertezas sobre o futuro.



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