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10/12/2025

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Crítica do filme: 'Vípuxovuko – Aldeia' [Fest Aruanda 2025]


Trazendo as reflexões sobre formas de organizações comunitárias, resistência cultural e gritos de identidade em uma aldeia urbana indígena no Mato Grosso do Sul, o curta-metragem Vípuxovuko – Aldeia parte para a ficção com muitas bases na realidade. O projeto surgiu de uma conversa do diretor filme, Dannon Lacerda, com a porteira do seu prédio, cujo sobrinho viria a se tornar inspiração para a obra.

Selecionado para a mostra competitiva de curtas-metragens nacionais do Fest Aruanda 2025, a obra avança nas suas críticas sociais, muito bem articuladas a partir de um protagonista de raízes indígenas, que escapa de generalizações. Ele trabalha como entregador e também exerce a função de líder de sua comunidade, reivindicando direitos e protegendo seu povo das ações desenfreadas dos mecanismos do Estado.  

A cultura indígena ganha registros através da fé, da cultura, da tradição e da preservação desses povos originários, que em muitos casos estão sempre na luta pela continuidade identitária em meio ao urbano e capitalista, sempre pronto para aprontar alguma manobra que ferem essas comunidades. A narrativa, em seus 15 minutos, preenche a tela com passagens marcantes que atravessam esses conflitos, sem deixar de revelar também a beleza dos ensinamentos e a riqueza estética e espiritual que, mesmo com a pressão e insensibilidade capitalista, nunca perderá seu valor.

 

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Crítica do filme: 'A arte de morrer ou Marta Díptero Braquícero' [Fest Aruanda 2025]


Por que estamos vivos? Existe algum momento para se entregar? Lançando a todo instante perguntas existenciais e desabafos em formas de reflexões, hipnotizando o público com palavras carregadas de múltiplos sentidos, o curta-metragem A arte de morrer ou Marta Díptero Braquícero, adaptado de um conto de Bruno Ribeiro, apresenta de maneira criativa suas fascinantes estranhezas e abre um convite para que os espectadores reflitam sobre a vida e a morte.

Um cliente (Luiz Carlos Vasconcelos) divaga sobre a antítese mais famosa de todo ciclo vital. Logo, se junta a ele uma garçonete (Ingrid Trigueiro), e assim os dois conversam sobre questões da existência após uma mosca se entregar à morte num prato de bife com batata frita - episódio que chama a atenção de um dos personagens, esse também narrador, que quebra a quarta parede nos envolvendo em pensamentos antes distantes, mas que ganham vida quando o marasmo da existência desperta a necessidade de contemplações.

Um cenário, uma fotografia deslumbrante – que provoca uma experiência expressiva, sem distrações - e palavras que envolvem. Com muito pouco, mas com uma criatividade cinematográfica que amplia todo o contexto, chegamos rapidamente às indagações provocadas pelas ações da natureza, pela sobrevivência e como tudo isso influencia o nosso redor. Escrito e dirigido por Rodolpho de Barros, A arte de morrer ou Marta Díptero Braquícero é uma pequena obra-prima que vai causar impacto onde quer que seja exibido.

É impressionante como esse projeto fica na gente, muito além dos seus curtos 14 minutos de projeção. Com várias portas que se abrem para pensarmos sobre o que vemos, o que salta aos olhos são aqueles momentos de reflexões quando estamos sozinhos - pensamentos distantes que só aparecem quando acessamos o inconsciente, nos levando a prender nosso foco para questões que afligem e nos fazem considerar sobre o real peso do mundo. Filmaço!

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Crítica do filme: 'Vulkan' [Fest Aruanda 2025]


Fugindo de qualquer zona de conforto e se arriscando no sensorial, a co-produção Brasil e França, Vulkan, é um filme quase sem falas, que repousa suas contemplações na sensualidade e da erupção do prazer questionando sem pressa as relações convidando o público a sentir e interpretar, longe de qualquer estrutura careta de um roteiro previsível. Dirigido por Julia Zakia, esse interessante curta-metragem foi selecionado para a mostra competitiva nacional do Fest Aruanda 2025.

Três personagens e a filosofia relacional do poliamor são as peças centrais desse projeto que celebra o sentimento mais poderoso que existe. Da leveza da felicidade às intensidades da intimidade e aos momentos de reflexão, somos conduzidos para refletir sobre essa dinâmica afetiva. Em cena, as atrizes brasileiras Bruna Linzmeyer e Georgette Fadel se juntam à francesa Mata Gabin, compondo um retrato poético sobre o que transborda na imprevisibilidade e no desejo ardente.

Há uma certa poesia que paira sobre a atmosfera desse projeto, que apresenta uma estética apurada, fruto de uma fotografia que busca um olhar observador bem próximo das interações dos personagens, criando um forte vínculo emocional - também em relação ao lugar. Essa proximidade é a força de uma narrativa que se reflete através de imagens e movimentos, ganhando sentido conforme o filme avança para as intimidades, transformando-se em um registro experimental, com seus méritos, que envolve.

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Crítica do filme: 'Malaika' [Fest Aruanda 2025]


O isolamento para chegar nas linhas da solidão. Um silêncio profundo no início do longa-metragem Malaika já nos transmitia a ideia de que embarcaríamos em uma jornada de deslocamento, com interpretações e sentimentos voltados ao não-pertencimento. Dirigido por André Morais, a obra aposta suas fichas em um recorte sensorial que contempla incertezas e estímulos perceptivos, mas esquece de um ponto importante: a narrativa, que se arrasta pela fabulação sem sustentar de forma satisfatória seus próprios elementos em cena.

Uma jovem albina chamada Malaika chega à escola para o primeiro dia de aula em uma zona rural do interior nordestino, onde logo percebe o ambiente hostil, fruto do bullying de outros alunos. Ela vive com vive com a mãe Isabel, que trabalha para uma família da região. Aos poucos, vai inicia um processo de amadurecimento em uma jornada de autodescoberta.

Sempre com a câmera próximas da protagonista, acompanhando uma movimentação de forma bem próxima, íntima, querendo provocar uma imersão sensorial – até mesmo transmitir subjetividade, o filme conduz suas reflexões por um ritmo contemplativo, sensorial em muitos momentos, indo ao encontro da intensidade dos conflitos que logo se revelam para os personagens.

Contar essa história de uma maneira envolvente era um grande desafio. A narrativa se torna pouco eficaz para o público por conta de conflitos mal conduzidos, misturando suas progressões dramáticas às fragilidades de um roteiro que tem seus méritos, mas não prende a atenção como poderia.

O filme, que teve sua primeira exibição no Nordeste durante o Fest Aruanda 2025, onde concorreu na Mostra Competitiva Sob o Céu Nordestino, parte de um recorte íntimo, de ‘dentro para dentro’ deixando margens para o espectador refletir sobre questões sociais e familiares.

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09/12/2025

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Crítica do filme: 'Outono em Gotham City' [Fest Aruanda 2025]


Quando olhei para o curioso título desse filme, logo pensei: o que será que me espera? Selecionado para a Mostra Competitiva Sob o Céu Nordestino, o longa-metragem paraibano Outono em Gotham City não tem nada de Batman; o título funciona como uma referência à cinefilia e – talvez – à maneira como se pode brincar com a linguagem cinematográfica, testando possibilidades e experimentando novas maneiras de enxergar os epicentros de uma história.

Eu já havia me deparado com o cinema do diretor dessa obra, o Tiago A. Neves no peculiar e interessante longa-metragem Maças no Escuro, mas, em Outono em Gotham City, o cineasta campinense avança em sua coragem de desbravar o que é pouco explorado. Só por conta disso ganha-se pontos. No entanto, ao embolar o que poderia ser simples, o filme acaba não encontrando um norte para sua narrativa confusa, além de apresentar personagens com pouca presença marcante e fraco impacto emocional.    

Em resumo, a história gira em torno de um jovem sonhador que ama cinema e busca aprender sobre o mundo da atuação com um ator veterano, frustrado por questões familiares em seu presente. Desse encontro, aprendizagens para os dois lados se tornam inevitáveis, em uma série de situações que mesclam o humor e o drama.

Explorando o processo criativo – na frente e atrás das câmeras – o pot-pourri proposto apresenta: um ‘oi’ às épocas das videolocadoras; um narrador-personagem buscando alcançar ritmo narrativo – incluindo inversões de narradores e perspectivas – além de optar por uma espécie de esquetes explorando situações tragicômicas, conectadas a um abismo emocional familiar que parece distante a todo momento.

Outono em Gotham City, pode ser enxergado de várias formas; pode ser que alguma dessas, ao menos, entretenha parte do público. O projeto não estaciona na premissa - ainda com a dificuldade de enxergar sobre o que é essa história -, mas circula de forma pouco atraente suas ideias, em uma narrativa confusa e arrastada, que se transforma em um mar de situações isoladas em busca de algum questionamento.

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Crítica do filme: 'O Nordeste sob a Caravana Farkas' [Fest Aruanda 2025]


Nos anos 1960 e 1970, o produtor húngaro-brasileiro Thomaz Farkas reuniu realizadores de várias partes do Brasil para registrar modos de vida de diferentes lugares, em especial do nordeste brasileiro. O Nordeste sob a Caravana Farkas, longa-metragem exibido na mostra Sob o Céu Nordestino do Fest Arunda 2025, joga luz para essa jornada, dividida em alguns episódios que percorrem histórias de vaqueiros, as melodias de improviso de artistas repentistas, o conturbado cangaço e a o trabalho artesanal com o barro.

Dirigido pela dupla Arthur Lins e André Moura Lopes, esse projeto paraibano reúne uma importante pesquisa sobre esse tour, provocando uma valorização profunda de personagens e suas histórias. Do resgate das tradições à transmissão intergeracional e à afirmação identitária, passando pelas manifestações culturais de muitos lugares desconhecidos por grande parte dos brasileiros, vamos percorrendo o concreto da realidade com tentativas de paralelos com o tempo.

Uma característica que chama a atenção na narrativa é a maneira espaçada com que os subtópicos do tema são apresentados. Não há deslizes estéticos nem criações mirabolantes em relação a linguagem; porém, ao contar a história da forma proposta – mesmo com o fio condutor estabelecido desde a legenda inicial -, as pontes necessárias para maior fluidez se desmancham. O filme acaba não provocando, apenas encantando. O que é contado é super válido como registro, mas a maneira como se desenvolve a narrativa pode ser tornar maçante ao espectador.

Mesmo com esses poréns, o projeto consegue um certo equilíbrio para atingir um dos seus principais objetivos: mostrar o antes e depois, as amarras do que é histórico e o reflexo do contemporâneo nordestino. É preciso paciência aos longo dos extensos 107 minutos de projeção ao embarcar nessa viagem, tendo como ponto de partida a importância do registro - que logo se amplia para resistências, preservação de identidade atingindo, novos olhares e considerações.

 

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'Boi no Mato' e 'Teatro em Jampa Vive' [Fest Aruanda 2025]


Boi no Mato

Apresentando uma breve e, em certos pontos, eficiente ‘Sinfonia do Vaqueiro’, o curta-metragem Boi no Mato, de Ana Calline, busca uma atmosfera que transita entre sensações e cotidiano, dentro de um sentido cultural que vai da coragem à vida selvagem enraizada na cultura sertaneja. Logo, solta na tela a identidade e resistência se juntando ao pertencimento, ligados ao vínculo afetivo e às tradições de toda uma região.

A narrativa tenta estabelecer elos para prender a atenção do espectador; as imagens geram impacto, embora muitas vezes faltem algumas explicações - certos porquês - especialmente para quem não conhece sobre o tema abordado. Mesmo com esse detalhe que fragiliza a narrativa, o alcance do entorno progride, deixando margem para reflexões sobre a força da dimensão cultural, da memória e da resistência.

 


Teatro em Jampa Vive

Com mensagens diretas e uma comunicação objetiva, de finalidade essencialmente promocional, o curta-metragem Teatro em Jampa Vive, de Kelly Freire Moreira, se limita ao formato de vídeo institucional ao colocar em evidência artistas e suas trajetórias pelos palcos de João Pessoa, na Paraíba. Embora cumpra o papel de comunicar e registrar a memória artística de toda região – algo válido e importante -, o filme deixa de explorar as experimentações cinematográficas que poderiam enriquecer o projeto.

Sanzia Pessoa, Buda Lira, Sôia Lira, Vittor Blam, Fabíola Ataíde, Raymon Farias são alguns nomes que entregam depoimentos ligados à memória da cultura pessoense. Essa riqueza cultural é sentida por meio das falas desses artistas. A questão é que, nesta obra, não se fura a bolha das fragilidades narrativas que se apresentam a todo instante, com um comprometimento excessivo com uma linguagem meramente funcional. Liga-se a câmera, preenche com depoimentos – com pouca ilustração do que é dito – junta-se tudo e faz-se um filme. Muito pouco, não é?

 

 

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Crítica do filme: 'Jacu' [Fest Aruanda 2025]


Em um exercício satisfatório – não diria inventivo – que alcança ritmo e prende a atenção, o curta-metragem Jacu, dirigido por Ramon Batista, nos convida a conhecer mais sobre a história de um fenômeno social e cultural por meio de um representante marcante de um nordeste profundo. Selecionado para a mostra competitiva ‘Sob o Céu Nordestino’ do Fest Aruanda 2025, esse é um trabalho que foge da narrativa tradicional priorizando uma experiência imersiva, construída a partir de imagens evocativas.

Com a câmera ligada em lugares que mostram marcas do passado - muitas vezes de forma estática, mas ainda assim encontrando movimento - e criando simbolismos e tensões através do sensorial, o projeto costura a maneira de contar sua história através de uma cirúrgica narração que acompanha toda a projeção. Assim, percebemos uma criatividade evidente na forma como o filme se comunica com o espectador, com elementos técnicos e estéticos em destaque.   

Partindo de uma casa histórica envelhecida pelo tempo como cenário, construindo um paralelo entre o antes e depois, chegamos à figura controversa do cangaceiro paraibano Chico Pereira, que colaborou com o grupo liderado por Lampião e viveu na fazenda Jacu – que dá nome ao filme.

Não se prendendo a essa figura emblemática para toda uma região, a obra abre seus leques de contextualização, permitindo reflexões sobre questões sociais e políticas, que ganham espaço nas entrelinhas, se tornando, ao longo dos seus 12 minutos, um importante registro sobre o sertão nordestino.

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08/12/2025

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Crítica do filme: 'Colmeia' [Fest Aruanda 2025]


Um dos mais interessantes curtas-metragens exibidos no Festa Aruanda 2025, selecionado para a mostra competitiva ‘Sob o Céu Nordestino’, o projeto Colmeia nos leva para um show de imagens e seus paralelos que alcançam um mar de reflexões sobre a relação entre a natureza e os seres humanos. Tudo funciona em perfeita harmonia, deixando o público de portas abertas para suas próprias interpretações.

Nessa obra, impressiona a qualidade criativa para juntar elementos em cena que conseguem virar um turbo de pensamentos por meio dos contrapontos que estabelece. O trabalho, o cotidiano, as adaptações de sobrevivência – e até mesmo respingos da vida e da morte - são apresentados com diversos paralelos, numa jornada sensorial em que o som desempenha papel importante, conduzindo o espectador para o pensar a vida e o pulsar da existência.  

Além disso, o filme consegue encontrar elementos criativos dentro da própria linguagem – como um travelling acelerado cujos movimentos se acoplam - criando sensações de exaustão do cotidiano, como a pressa; ou de organização, como nas cenas com as abelhas; e até mesmo para comprimir percepções temporais, culminando em um efeito visual deslumbrante.  

Colmeia, dirigido por Tatiane de Oliveira, é uma grande análise existencialista – da liberdade à angústia e à condição humana - que abre seus leques para revelar igualdades e diferenças nas múltiplas relações. Filosófico e sociológico, esse filme faz nossa mente pensar bastante nos curtos 10 minutinhos de projeção. Maravilhoso!

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07/12/2025

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Crítica do filme: 'Ato Noturno' [Fest Aruanda 2025]


Reunindo um envolvente ping-pong entre o caráter e a moral – entre o certo pra si e o que é considerado aceitável pela sociedade –, o longa-metragem Ato Noturno adentra o desejo e o fetiche, para apresentar uma espécie de tragédia grega, marcada por quedas inevitáveis provocadas pelos deslizes humanos. Dito isso, o enredo convencional, de desenvolvimento linear e caminhos fáceis de acompanhar, com um conflito central bem definido, não alcança muitas camadas e vai diretamente ao encontro sensorial, conectando-se mais ao que é sentido do que ao que é elaborado.

Matias (Gabriel Faryas) é um jovem ator que consegue uma oportunidade num grupo famoso da cena teatral. Prestes a estrear a peça, acaba conhecendo um outro homem, Rafael (Cirillo Luna), por meio de um aplicativo de encontros. Com a intensidade amorosa ficando cada vez mais constante, Matias descobre que Rafael é um político em ascensão que vai concorrer ao cargo de prefeito. Dessa relação, que acompanhamos sob a perspectativa de Matias, a ambição e os desejos vão chegando a superfície das ações.

Exibido no Festival de Berlim e selecionado para a mostra competitiva de longas-metragens nacionais do Fest Aruanda 2025 o projeto dirigido por Filipe Matzembacher e Marcio Reolon chama a atenção, em um primeiro momento, pela concepção visual e estética, marcada por uma poderosa fotografia num mix criativo de luzes e enquadramentos envolventes, comunicando sensações e provocando reações diretas do público.

A trama é bem amarrada – para essa análise, consegui enxergar uma divisão em dois atos – e, no primeiro, mal sentimos o tempo passar, graças a um bom desenvolvimento narrativo. Porém, no segundo, surgem questões ligadas à culpa e confronto com o moralismo constante, que não fogem do lugar-comum.

Entre os desafogos das angústias e o livre fluir de pensamentos que invadem o protagonismo da própria vida, Ato Noturno apresenta as dores dos riscos das escolhas, com o contestar em segundo plano e o sentir pulsando vivo na tela.

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Crítica do filme: 'No Compasso do Coração' [Fest Aruanda 2025]


Carregado muito mais pela tentativa de provocar emoções do que por um roteiro estruturado de forma equilibrada, o curta-metragem No Compasso do Coração nos leva até um recorte imersivo - e muitas vezes subjetivo - a partir de um personagem autista que encontra, nos movimentos corporais através da dança, aquilo que o liberta. Pena que a narrativa não encontra elos para uma construção coesa e articulação consistente dos acontecimentos, deixando o público refém de breves respiros traduzidos em mensagens importantes.

Com uma relação próxima com a mãe, Olivio tem um verdadeiro fascínio pela expressão artística do corpo em movimento: a dança, onde encontra um oásis para expressar, através de gestos, sentimentos conflitantes. Em meio à pandemia, uma importante apresentação é cancelada, e o protagonista precisa lidar com a ansiedade. Juntando as peças desse momento delicado, ele não desiste de retomar o contato com o pulsar da vida.

Dentro dessa perspectiva sensorial, cheia de percepções individuais, a relação familiar e a arteterapia ganham espaço – e encontram, aí, caminhos para que mensagens sejam transmitidas -, mas sempre com uma necessidade de inserir o público por meio de um leque limitado de perspectivas, fato que tira o olhar observador mais amplo sobre um contexto que não se apresenta de forma envolvente.  

Do isolamento às reconexões, No Compasso do Coração, selecionado para a mostra Sob o Céu Nordetino do Fest Aruanda 2025, é um caso clássico de ‘corrida ao clímax’, um calcanhar de aquiles evidente que compromete o impacto emocional, mesmo diante da boa intenção das reflexões que conseguimos alcançar.  

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04/12/2025

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Crítica do filme: 'Index' [Fest Aruanda 2025]


O cinema pode ser um caminho para expressar a arte e remeter questões cravadas pelo tempo, onde a beleza precisa dar as mãos ao conteúdo. No curta-metragem Index, do artista visual João Lobo, a dinâmica proposta é refletir sobre o tempo por meio de inscrições rupestres de um sítio arqueológico localizado na cidade de Ingá, município paraibano, limitando o público a um papel de observador. Mas será que isso basta para entendermos a obra por completo?

Em um tiro curto de 9 minutos – com um ar psicodélico -, a imersão excessiva sobre o que não é explicado salta aos olhos: pelos céus, pela terra, colocando também a natureza em destaque. Vamos sendo conduzidos para uma viagem repleta de beleza, onde se fixam ideias isoladas em uma narrativa intraduzível, na qual o desassossego se torna constante pelas lacunas não preenchidas. Uma pena.

Parece ser um filme feito para si mesmo, sem pretensões de ampliar reflexões ou mesmo debates sobre o tour pelas belezas que se apresentam. Forma e o conteúdo não conversam; distanciam-se. Essa abordagem sensorial vira um experimento excessivamente entediante, conseguindo a proeza de, em 9 minutos, dispersar os espectadores.

Cinema é imagem e movimento, mas também é conteúdo que precisa ser apresentado sem a necessidade de explicações – ou, pelo menos, contendo dicas - sobre o que é sua obra. Um dos filmes de abertura do Fest Aruanda 2025, Index necessita de complementos de pesquisa para ser minimamente compreendido e, assim, perde toda a graça. É frustrante não aprendermos mais pela própria tela do cinema.  

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Crítica do filme: 'Ary' [Fest Aruanda 2025]


Trazendo um pouquinho do Brasil por meio das peculiaridades que circulam entre as ironias e o bom humor de um dos mais conhecidos compositores das história da música brasileira, o longa-metragem Ary, dirigido por André Weller, acerta em cheio ao construir uma narrativa com camadas simbólicas, emocionais e também sociais. Misturando documentário com pitadas de ficção, somos convidados a participar como observadores de um deslumbrante tour pela capacidade inventiva de um artista idolatrado, que abraçou em suas criações a cultura brasileira.

Filme de abertura da 20ª edição do Fest Aruanda 2025, o projeto acerta ao contar essa história de forma cronológica e, em uma boa sacada, traz a voz marcante de Lima Duarte como narrador em primeira pessoa. Dentro dessa estrutura narrativa fluida - ora divertida, ora empolgante -, de Minas para o Rio (e depois conquistando o exterior), vamos conhecendo os momentos-chave de sua trajetória, nos quais a vida pessoal se mistura com a profissional.

Com imagens raras de arquivo – inclusive de um inesquecível Rio de Janeiro antigo -, conversando com a narração a todo instante e tendo como pano de fundo algumas de suas inesquecíveis canções na voz de Dorival Caymmi, Nora Ney, Jamelão, Quarteto em Cy e outros artistas do passado, o filme busca criar um ‘aryverso’ de possibilidades em uma única obra – e consegue com maestria.

Diferente dos sambas-canção que compunha com cadência e elegância no ritmo, sua vida foi, em partes, uma grande aventura agitada, com vários fatos peculiares. Seu amor pelo Flamengo – que, por coincidência, foi mais uma vez campeão brasileiro exatamente no horário da sessão do filme na abertura do Fest Aruanda – não fica de fora, assim como seus inacreditáveis tempos como narrador de futebol e os detalhes do período em que virou pianista profissional, trabalhando em um cinema no Rio de Janeiro, na época dos filmes mudos, quando a trilha sonora terceirizada ao vivo levava qualquer produção cinematográfica ao seu ápice.

Invadindo também as particularidades do processo criativo, chama a atenção o seu ‘libertando o samba das tragédias’, presente em sua música mais conhecida – Aquarela do Brasil – fruto de uma fixação por um país que amava. Criou a canção - música e letra - em apenas 10 minutos, em meio à chuva de um lugar que adotou como casa e onde não se sabe conversar baixinho.

Ary Barroso conquistou não só o seu país, mas também os gringos - principalmente os americanos. Foi, inclusive, o primeiro brasileiro a ser indicado ao Oscar, na categoria Melhor Canção Original, além de alcançar mais de um milhão de execuções nas rádios americanas. Ao longo de 70 minutos – que passam rapidinho e com gosto de quero mais –, Ary se consolida como um forte registro de um artista: uma experiência envolvente, repleta de observações sociais, que mostra facetas do ‘Brasil Brasileiro’ por meio de uma narrativa envolvente repleta de delicadeza e graça.  

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01/12/2023

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Critica do filme: 'Nada Será como Antes – A Música do Clube da Esquina'


Que notícia que nos dão de vocês? Buscando trazer novos olhares para um famoso movimento de talentosos músicos mineiros na década de 60, o Clube da Esquina, o documentário dirigido pela cineasta Ana Rieper, Nada Será como Antes – A Música do Clube da Esquina, navega com leveza e poesia pela história de algumas criações de sucessos em canções oriundas de uma observação detalhada do que viviam, também dos amores. As referências musicais e os paralelos entre o movimento estudantil e o cinema como pontos importantes para a criação do grupo são amplamente debatidos sob diversos olhares. Ganchos para um recorte mais amplo de uma época de constante mudanças no Brasil são vistos mas a narrativa estaciona na superfície.


A primeira parte do documentário é contagiante, seguimos numa estrada deliciosa que nos mostra curiosidades da amizade ao brilhantismo. No bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, futuros compositores e letristas de sucessos se reuniam, cada um com suas referências musicais, alguns adoravam Jazz, outros Beatles. Essa diversidade de influências é muito bem captada pelas lentes da diretora que por meio de imagens de arquivos e depoimentos de quem viveu todo aquele início de história leva o espectador a ficar hipnotizado durante a reflexão de como a simplicidade e a genialidade encontram paralelos constantes.


Todo dia é dia de viver. Na sua segunda metade, sem se desprender de mérito algum, o filme perde fôlego, tentando entrar em um recorte mais amplo de uma época com muita coisa a se dizer, caminha lentamente para um lugar perto do comum, como muitas outras produções. Exibido no Festival do Rio, na Mostra de São Paulo e filme de abertura da décima oitava edição do Fest Aruanda Nada Será como Antes – A Música do Clube da Esquina pode ser visto como um registro marcante para quem viveu o Brasil desde aqueles tempos além de plantar uma semente para o olhar atento de uma nova geração.


Naquela calçada, fugindo de outro lugar, talvez num domingo qualquer, a história foi escrita. Milton Nascimento, Lô Borges, Marcio Borges, Toninho Horta, Wagner Tiso, Beto Guedes e outros integrantes brindaram a todos nós com o flerte ao inesquecível, uma poderosa ferramenta de amor pela cultura como um todo de um timaço da nossa música que provaram a cada verso que os sonhos não envelhecem.

 


 

 

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23/10/2023

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Crítica do filme: 'Levante'


Os conflitos que mudam os caminhos. Abordando um dos temas mais polêmicos do planeta, o aborto, o novo trabalho da cineasta Lillah Halla nos joga para um olhar para a adolescência onde a chegada da maturidade, os embates com os conflitos que se seguem, e a força da amizade batem à porta a todo instante. Exibido no Festival de Cannes em 2023, inclusive vencendo um prêmio, Levante é um filme forte, profundo, que estaciona no seu principal conflito explorando os muitos olhares sobre uma questão muito sensível que no Brasil ainda é um enorme tabu.


Na trama, conhecemos Sofia (Domênica Dias), uma adolescente super alegre, entrosada com as amigas de longa data, craque do time de vôlei de seu bairro que após se destacar nas quadras recebe uma possível proposta irrecusável, sendo forte concorrente à uma bolsa de estudos para jogar seu esporte favorito em outro país sul-americano. Acontece que no mesmo período dessa grande notícia, uma outra abala suas estruturas emocionais, ela está grávida. Desesperada e querendo interromper a gravidez, ela busca forças nas amigas e no seu pai (Rômulo Braga) mas sem deixar de sentir a fúria de um grupo de pessoas que fica sabendo da tentativa de aborto e que começa a discriminá-la.


Mesmo estacionado no seu principal conflito, o que podemos entender como um clímax constante, o roteiro escrito por María Elena Morán (e pela própria Lillah Halla) ganha muito méritos ao conseguir prolongar esse momento, fato que nos leva a refletir cada vez mais sobre a discussão proposta.


Há muitos pontos de reflexões que se seguem pela dinâmica narrativa. Partindo de um choque entre a realidade e a oportunidade, a jornada de Sofia apresenta várias variáveis ligadas ao emocional, no início numa bolha em forma de isolamento buscando entender as variáveis que se apresentam no seu presente, depois na luta pelos seus direitos em ser ouvida. O aborto no Brasil vem sendo debatido mais a partir do final da década de 80, com a constituição federal brasileira juntamente com a luta das mulheres para serem ouvidas. A saga da personagem de alguma forma representa outros tantos casos espalhados pelo nosso país.


Ainda sem previsão de estreia no circuito de exibição brasileiro, Levante estende sua bandeira sem deixar de mostrar visões, verdades, dúvidas, opiniões de todos os lados.



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16/10/2023

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Crítica do filme: 'Othelo, o Grande'


Buscando por meio de imagens de arquivos e depoimentos sobre diversos temas, contar de forma breve a trajetória de um intérprete de vários sentimentos que logo se tornou um dos mais destacados artistas da história dos palcos e telas de nosso país, Othelo, o Grande nos declama a genialidade do improviso e o dom de fazer rir se tornando um projeto fundamental para quem ama a sétima arte. O documentário, dirigido por Lucas H. Rossi traz em seu paralelo importantes momentos do cinema brasileiro.


Ao longo de hipnotizantes 82 minutos de projeção, acompanhamos parte da história de Sebastião Bernardes de Souza Prata, nascido na hoje conhecida Uberlândia, em 1915, um homem que tinha a política de fazer rir! Lutando contra o preconceito em praticamente todas as fases de sua vida, logo ficou conhecido como Grande Otelo, sendo o grande responsável por dar vida à personagens com enorme apelo popular que estão nas memórias de muitas pessoas até hoje.


Trechos de muitos de seus trabalhos mais conhecidos ganham pequenos recortes e reflexões, como: Macunaíma do cineasta carioca Joaquim Pedro de Andrade e Fitzcarraldo, do aclamado cineasta alemão Werner Herzog. Entre os momentos mais marcantes, seu encontro com Orson Welles gera um depoimento sobre o sumiço de filmes que mostravam grandes verdades do Brasil na década de 40, fato que poucos conhecem. A dupla com Oscarito não foi esquecida, essa que marcou uma fase impressionante da comédia brasileira.


O início da Atlântida (famosa produtora de filmes), no início da década de 40, além dos rumos do cinema brasileiro ganham alguns depoimentos de Grande Otelo tiradas de algumas das inúmeras entrevistas que o documentário conseguiu em sua excelente pesquisa. Durante todo o tempo em que esteve ativo no mercado, o ator nunca escondeu o que pensava sobre os bastidores. As tragédias da vida pessoal também ganham espaço, flertou com esse momento inclusive em plena Avenida Presidente Vargas sem ser época de carnaval.


Othelo, o Grande venceu o prêmio de Melhor Documentário no Festival do Rio 2023, um merecido prêmio para um filme que mostra com muita riqueza de detalhes, a vida de um gigantesco artista brasileiro.

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Crítica do filme: 'Ana'


Atravessando o recorte na vida de uma jovem moradora da periferia carioca que vive um presente repleto de conflitos, o novo trabalho do cineasta Marcus Faustini abre seu leque de reflexões a partir do medo e insegurança amarrados em uma profunda crise existencial. O projeto de 75 minutos de projeção busca com os conflitos criar uma narrativa que foge do discurso de apresentar soluções, é um filme que vai de encontro às verdades dentro de um recorte real da sociedade onde o medo se acopla em sonhos e desejos.


Na trama, conhecemos Ana (Priscila Lima), uma jovem que está atualmente com a cabeça voltada para trabalhar. Ela mora com o único irmão (Gustavo Luz) em uma modesta casa na periferia do Rio de Janeiro e tem como ganha pão passear com cachorros na parte rica da cidade. Com saudades da mãe, falecida meses atrás, busca proteger o irmão contra o preconceito que bate à sua porta. Parece viver uma crise existencial profunda mas sem deixar de interagir com os amigos. E nesse presente repleto de conflitos, ainda tem a chegada de Cristiano (Vinícius de Oliveira), um ex que fugiu para a Bahia sem maiores explicações por quem ainda tem sentimentos.


Um abstrato retrato do medo ganha fortes expressões por aqui. O medo de uma sociedade desleal, da opressão de cada esquina. Ana parece viver os seus medos e os dos que ama, um jornada que paralisa seu sonhar. Ela parece detectar isso, se enxerga muitas vezes perdida, querendo resolver os problemas que a cercam mas seu dar os primeiros passos para soluções. Mas será que todos os problemas que a cercam tem soluções? As sessões com a psicóloga, com fitas gravadas para driblar a timidez, servem para revelar suas angústias a um outro alguém, assim entendemos melhor a intrigante personagem dentro de sua bolha existencial que não encontra caminhos para o sentimento que se vive e se torna difícil de falar.


Ana nos leva também a pensar nos problemas de uma periferia em crises sociais constantes, no preconceito de uma ainda sociedade conservadora onde a homofobia bate na porta de muitas pessoas que somente querem ser felizes. Longe do discurso de encontrar soluções, o longa-metragem é mais reto e direto, apresenta muitas verdades que acontecem por aí.



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12/10/2023

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Crítica do filme: 'Pedágio'


Pare, olhe, escute. Um embate familiar que se choca com a realidade de uma vida difícil, com o preconceito, com verdades impostas, com a absurda oferta de uma ‘cura gay’ se tornam os primeiros elementos de um longa-metragem exibido nos festivais de San Sebastian e Toronto, que contorna as duras camadas de momentos conflitantes com inteligência, com uma fotografia que escancara as emoções. Segundo longa-metragem da carreira de Carolina Markowicz, uma grande contadora de histórias com imagens em movimento (já tínhamos visto isso no excelente Carvão), Pedágio não é um filme fácil, necessita de atenção, há reflexões por todos os lados. Um dos melhores longas-metragens exibidos no Festival do Rio 2023.


Na trama, acompanhamos Suellen (Maeve Jinkings, em grande atuação) uma mulher batalhadora que trabalha como cobradora de um pedágio em Cubatão, São Paulo. Ela tem um filho, Tiquinho (Kauan Alvarenga), perto de completar 18 anos, que adora fazer vídeos e imitar divas da música. Ao longo do tempo, Suellen passou a se incomodar com algumas situações envolvendo o filho e de maneira inconsequente resolve ser parte de uma pequena gangue que rouba relógios, tudo isso para financiar a ida de seu filho à uma cura gay organizada por um pastor gringo.


Os protagonistas, mãe e filho não chegam a ser antagonistas, há sentimentos conflitantes mas não falta amor. Essa relação repleta de altos e baixos, acaba se transformando em mais um personagem que segue como uma sombra para todas as ações e consequências que se chocam no destino dos protagonistas. Suellen vive num presente perdida em um relacionamento abusivo repleto de falsas promessas em choque com a carência, com a solidão e parece despejar todas suas frustrações no único filho. Tiquinho sofre com as agressões por sua orientação sexual mas não deixa de seguir seu caminho driblando a bolha conservadora que sua mãe está estacionada.


Como percorrer uma distância entre dois pontos? Tem artistas que adotam o discurso reto e direto outros buscam as trajetórias mais difíceis por meio de profundas camadas dramáticas para trazer ao centro do palco (ou melhor, da telona) uma série de críticas sociais importantes para serem debatidas. Um relacionamento entre mãe e filho marcado pelo preconceito é o primeiro passo de um brilhante roteiro que detalha a vida como ela é, uma versão nua e crua de recortes de uma sociedade que algumas vezes buscam os caminhos mais difíceis em busca de algum sentido para verdades impostas. A narrativa é cirúrgica também ao relatar e se fazer refletir sobre a opressão sofrida pela comunidade LGBTQIA+.


Um dos seis filmes pré-selecionados para uma vaga no Oscar 2024 (acabou sendo escolhido Retratos Fantasmas), Pedágio estreia dia 30 de novembro. Um filme que marca mais uma vez o talento de Carolina Markowicz.



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07/10/2023

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Crítica do filme: 'Sem Coração' (Festival do Rio 2023)


Tempo bom, tempo ruim, nas duas situações se aprende. Com passagem pelo prestigiado Festival de Veneza em 2023, o longa-metragem brasileiro Sem Coração desembarcou no Festival do Rio 2023 para sua première nacional. O projeto ambientado em uma Alagoas dos anos 90 aborda a descoberta da sexualidade na visão de uma jovem adolescente com o destino traçado longe do lugar onde foi criada. Escrito e dirigido por Nara Normande e Tião, o filme reforça o discurso das fases conturbadas da adolescência por meio de uma narrativa com altos e baixos.


Na trama, conhecemos Tamara (Maya de Vicq), uma jovem alegre e repleta de amigos que vive seus últimos momentos numa cidade no litoral de Alagoas, onde nasceu e foi criada. Certo dia, ela escuta falar de uma outra jovem, conhecida como ‘sem coração’ (Eduarda Samara), uma menina solitária que ajuda o pai pescador nos trabalhos profissionais. Aos poucos Tamara começa a desenvolver uma atração por essa jovem.


O imaginar, o sonhar e a realidade entram em choque, numa zona de conflito que busca ser o combustível da narrativa, por vezes confusa, outras alcançando o refletir com certo brilhantismo. O projeto caminha sobre a descoberta da sexualidade por alguns pontos de vistas, não só da protagonista, reforçando o discurso das fases conturbadas da adolescência. A amizade se torna uma força dentro do roteiro, nesse olhar social de interação a troca de experiências abrem margens para longos debates sobre a vida. Nesse último ponto, brilham jovens atores, rostos ainda desconhecidos do cinema brasileiro mas que estarão em breve em outras produções.


Pais e filhos, amizade, dúvidas, a violência, o preconceito, a desigualdade social, o roteiro abre seu leque para personagens e seus conflitos. Oriundo de um curta-metragem premiado no Festival de Cannes, uma extensão dessa história, Sem Coração, mesmo sem alcançar um clímax, se perdendo muitas vezes nas constantes subtramas que o envolvem, o filme consegue chegar ao objetivo de refletir sobre a vida na visão imatura de uma fase repleta de medos e incertezas sobre o futuro.



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