O equilíbrio entre a mente e o corpo nos preenchimentos de lacunas ligadas aos limites. Um dos mais impactantes documentários lançados no universo dos streamings em 2023, De Tirar o Fôlego, indicado à cinco prêmios desde seu lançamento, nos mostra o forte elo de dois destinos que se cruzam através dos riscos de um dos esportes mais perigosos do mundo, o mergulho livre. Escrito e dirigido pela cineasta irlandesa Laura McGann, esse projeto tem a maestria de uma narrativa que consegue manter o interesse do espectador do início ao fim onde reviravoltas são vistas aos montes nos levando para enormes caminhos de tensão, angústia e reflexões sobre a vida.
O epicentro da trama gira em torno de duas correntes
paralelas, duas almas com destinos escritos para se cruzarem, um renomado instrutor
de mergulho irlandês chamado Stephen
Keenan e uma atleta fenômeno dos
esportes aquáticos, a italiana Alessia
Zecchini. Do primeiro, acompanhamos sua trajetória ao redor do mundo, sua
necessidade de ir atrás dos seus sonhos sem saber ao certo onde será seu porto
seguro. Da segunda, acompanhamos uma atleta de destaque desde muito jovem que
trocou as piscinas pelos mares em busca de cada vez mais chegar às profundezas,
lutando constantemente contra uma imaturidade e ansiedade em quebras de
recordes inéditos que a leva algumas vezes para caminhos de incertezas. Essas
duas almas vão se encontrar, se conectar e passarão por uma enorme tragédia num
conhecido lugar de mergulho chamado Blue Hole em Dahab, no Egito.
Essa é uma história pública, mas de conhecimento apenas de
quem é ligado a esse peculiar esporte. Então, basicamente, tudo que vemos
trazem enormes surpresas. A maneira como é contada essa história (narrativa)
transforma esse projeto em um filme com altas cargas dramáticas que deixam as
respostas chegarem aos poucos, onde as peças do quebra-cabeça vão sendo
montadas aos poucos após a linda apresentação dos dois personagens.
Temos aqui uma pegada Nietzschiana, em cima do conhecido
espírito livre, algo que encosta na trajetória de vida dos dois personagens, e
principalmente no entendimento deles em relação às responsabilidades das
próprias ações. Os depoimentos de amigos e dos que os conhecem, preenchem curiosidades,
moldam suas essências, trazendo para a tela um enorme raio-x.
Estão cada vez mais fascinantes os documentários que
conseguem traduzir na tela os conflitos emocionais de personagens reais e suas
interações entre a natureza e o alcançar objetivos que levam ao limite a mente
e o corpo. Foi assim com o Professor Polvo
(Netflix) e Free Solo (Disney Plus)
e alguns outros. De Tirar o Fôlego segue
essa linha, um poderoso extrato do abstrato dos emoções, um filme marcante,
emocionante, que vamos levar nas nossas memórias durante muito tempo.