Eu sou porque somos. Exibido no Festival É Tudo verdade 2024, o documentário colombiano Igualada chega para mostrar algumas verdades do mundo político e as possibilidades de como a coragem aliada à uma forte corrente de mudanças buscam se libertar do medo, da intolerância. Partindo de um termo desdenhoso, referido à ativista social Francia Márquez, que logo acende uma chama para um caminho de uma candidatura à princípio sem apoio nenhum, o documentário acende uma luz no fim do túnel virando mais um símbolo de um movimento que ganhou força pelas redes sociais e também nas urnas colombianas.
Quem chora pelos mortos? Através de entrevistas, do
relacionamento entre a protagonista e sua aldeia, a contextualização, mesmos
nos curtos 70 minutos de projeção, é muito bem feita. Sem entrar em alguns detalhes,
entendemos a raiz de um movimento de mudanças encabeçada pela candidatura de uma
mulher, mãe, negra, que em sua vida esteve em direto convívio com a violência
para todos os lados, massacres, a luta pela terra, vendo a cada dia as dificuldades
se tornando regra. Num universo quase sem regras de uma região afastada dos
grandes centros colombianos, surge a esperança.
O foco do documentário, é uma visão geral dos meses do
envolvimento de Francia Márquez com
sua candidatura à presidência do seu país. Num início de campanha sem apoio de
partido político, com muitas dificuldades financeiras, seguindo em frente com
voluntários fiéis ao movimento criado, ‘Sou porque somos’, percebemos um forte
posicionamento para pautas ligadas às causas sociais, ao feminismo, ao meio
ambiente. Esses fatores ganharam o mundo através das redes sociais, tornando
Francia um fenômeno nas votações e conseguindo, dias próximos às nomeações
oficiais, ser nomeada como vice-presidente na chapa do agora presidente colombiano
Gustavo Petro nas eleições de 2022.
Mas esse caminho não deixou de ser doloroso, com o
preconceito estando próximo em cada esquina. Seus comícios em palanques por
toda a Colômbia vinham sempre com uma preocupação com sua segurança e um forte
esquema de segurança que em alguns casos até interrompiam suas falas por conta
de prováveis ameaças. Uma cena do documentário retrata esse último ponto. Mesmo
assim nada parou Francia, na verdade toda a adversidade parece ter servido como
combustível para o restante da árdua caminhada, equilibrando os problemas
pessoais com as barreiras políticas impostas por muitos que não queriam a ver
no poder.
Como todo bom documentário, que não apenas liga a câmera e
espera o acaso ou pontos que se acha importantes acontecerem, há uma estrutura
narrativa que consegue de forma simples e objetiva traçar um recorte amplo da
vida da protagonista e deixar margens para reflexões de todos que acompanham sua
caminhada rumo às tentativas (necessárias) de mudanças.
Dirigido pelo experiente documentarista Juan Mejía Botero, Igualada é
a jornada emocionante de uma ativista social que virou um símbolo de um movimento
que mudou o foco dos olhares de quem está no poder de um país que esteve durante
anos no alto dos rankings de violência.