A Inquietude na busca por um tempo bem melhor para se viver.
Selecionado para o Festival É Tudo Verdade 2024, o documentário
Brizola busca através de fatos e
depoimentos traçar um recorte profundo da trajetória de vida de um político
dono de uma personalidade forte, combativa, marcante, que ao longo dos anos foi
se tornando um eterno inconformista com a situação do povo brasileiro. Em cerca
de uma hora e meia de duração, o cineasta
Marcos
Abujamra faz uma ampla cobertura de períodos importantes da política
brasileira deixando margens para reflexões para toda uma nova geração.
A narrativa traça seus horizontes no antes, a pausa e o
depois. Filho de camponeses do interior do sul do país, criado pela mãe viúva,
Leonel Brizola conseguiu alcançar os estudos na década de 40, se formando
engenheiro e logo depois já entrando de cabeça na vida política. Dono da marca
de ‘exílio mais longo de todos os políticos brasileiros’, mais de 5.000 dias
fora do território brasileiro durante os tempos de Ditadura, o criador do PDT
tem sua carreira política dividida em duas etapas. Ao longo do anos foi
deputado, prefeito, governador (de dois estados), tentou algumas vezes ser o
presidente do Brasil. Temido por possíveis competidores em meio ao sempre
conturbado cenário político de nosso país.
Numa época, não muito distante, onde alterar o sistema de
poder era tratado como um ato comunista, o desencanto dos dias de
revolucionário chega quando o personagem central do documentário desembarca no
Uruguai (fugindo do Brasil após o golpe de 1964), com a força das desilusões e
afastamento com lideranças políticas, inclusive com membros de Cuba dos quais
era muito ligado. Tempos depois, a chegada à Nova Iorque (depois Lisboa), sob o
aval do até então presidente americano Jimmy Carter, logo após praticamente ser
expulso do território uruguaio, acende novamente o desejo de se reunir com lideranças
políticas brasileiras e planejar um possível retorno.
Ligado a causa trabalhista e principalmente a educação,
Brizola não deixava de expor suas opiniões, além de ações que contrariava
interesses. Com isso teve rusga com o famoso presidente norte-americano John F.
Kennedy, calorosos embates com jornalistas, sempre tendo como marca uma
inquietude para realizar aquilo que colocava na cabeça. O documentário tem um
mérito importante: através de fotografias, entrevistas, depoimentos, molda a
narrativa de forma a ser um grande aulão sobre a história brasileira.
Já numa segunda parte de sua carreira política, o conturbado
cenário de uma de suas eleições para governador no Rio de Janeiro ganha os
holofotes em um importante momento do doc. Aqui as influências da imprensa
internacional serviria como ferramenta de proteção ao caos do sistema eleitoral
à beira de fraudulentas ações. Criação da Passarela do Samba, o popular
sambódromo, e a criação dos CIEPS são feitos notórios de seu governo. Esse
último ponto, tendo como objetivo a educação como um braço da cultura, algo que
seus opositores insistiam em destruir com a elite e suas ideologias indo para
um confronto que envolvia até mesmo o quarto poder.
A esquerda e sua eterna divisão (algo parecido com o que
vimos recentemente) que acabou deixando a direita elitista assumir com folgas o
poder das primeiras eleições democráticas após a ditadura, personificada aqui
na figura do ex-presidente Fernando Collor de Mello, marcaria a proximidade do
fim de seu sonho de ser presidente do país. Depois novamente governador do RJ,
o documentário não deixa de citar sua proximidade com Collor, seu antigo rival
de urna, algo que marcaria o início da sua queda como força política.
Figura marcante na política brasileira, Brizola sempre será
um nome lembrado. Suas ideias, suas desavenças, ganham olhares e reflexões
nesse projeto que consegue resumidamente, mas sem deixar de mostrar importantes
detalhes, apresentar um pouquinho do que foi nosso país e muitas verdades que
vemos no Brasil de hoje.
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