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16/04/2024

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Crítica do filme: 'Hoje é o Primeiro Dia do resto da sua vida'


Um filme sobre pais e filhos sempre traz reflexões e emoções para todos nós que acreditamos em dias melhores para toda uma nova geração. Selecionado para o Festival ‘É Tudo Verdade’ 2024, o documentário paulista Hoje é o Primeiro Dia do resto da sua vida nos leva ao encontro com uma família que está crescendo, com uma adoção aguardada e as iminentes mudanças em torno de suas vidas. Filmado na própria casa de um casal com o lado profissional ligado ao audiovisual, momentos se tornam eternos nesse registro pulsante que coloca a maternidade e paternidade lado a lado.

Mostrando a parte final do processo de adoção de Gael, de apenas 4 meses pelos seus novos pais, os cineastas Bel Bechara e Sandro Serpa, em meio aos tempos complexos de pandemia, de forma leve, verdadeira e emocionante conhecemos as conflitantes emoções que se jogam no caminho, além de descobertas que valerão para toda uma vida. As inseguranças de pais de primeira viagem, as reviravoltas no cotidiano do casal, as novas maneiras de enxergar o mundo, o medo do futuro, se juntam ao abstrato das emoções aqui se ligando a uma ternura que emociona.

Recortes de momentos que outros pais de primeira viagem já tiveram, aproximam essa história com a de tantas outras. É muito fácil se emocionar quando a verdade está presente em cada cena, em cada preocupação. Um mundo que era de dois, agora é de três e o alicerce desse projeto é exatamente mostrar essas mudanças cotidianas que vão desde a arrumação da casa até as primeiras experiências com tudo que uma nova vida precisa. O caos político de uma eleição próxima a vir (o projeto foi filmado em 2021) abre incertezas, medos, caso não haja mudanças.

Hoje é o Primeiro Dia do resto da sua vida é um singelo recorte de uma nova família, uma nova estrutura que é voltada ao amor. Tomara que esse filme chegue até o circuito exibidor. Merece.

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Crítica do filme: 'Luiz Melodia – No Coração do Brasil'


Um observador do próprio cotidiano sem deixar de ampliar os olhares para o coletivo. Escolhido como filme de encerramento do 'Festival É Tudo Verdade' 2024, Luiz Melodia - No Coração do Brasil nos leva para um tour objetivo sobre a carreira gloriosa, com altos e baixos, de um dos maiores artistas que o Brasil já viu. Chegando até o sucesso e o inusitado de ir ao seu desencontro, ao longo de 85 minutos de projeção, pelas ruas da alegria e com o violão debaixo do braço, acompanhamos um meteoro de carisma e genialidade que saiu do morro e conquistou plateias de todo o país.

Com o auxílio do próprio protagonista contando sua história através de imagens e vídeos, o documentário passa pelo toque de sonhar sozinho que levou o grande melodia a uma direção de sucesso atrás de sucesso. Sem fronteiras quanto ao gosto musical, seus embates com o próprio mercado fonográfico, a primeira canetada de sucesso, as parcerias musicais, são algumas das passagens desse belo trabalho assinado por Alessandra Dorgan.

Passando rapidamente por seus primeiros passos na música, sua relação carinhosa e muito próxima com o lugar onde foi criado, o Morro Do Estácio, a chegada ao mundo da fama, num primeiro momento logo reconhecido como talentoso compositor, depois seu desabrochar como um intérprete de apresentações únicas, vemos ao longo de 85 minutos a caminhada até seu brilhantismo que conquistou a atenção de Gal Costa e outras lendas da Música Brasileira.

Com o rico auxílio de imagens de outrora, passeando no estácio, um lugar que sempre lhe quis, ou num momento pelos palcos da vida, Luiz Melodia - No Coração do Brasil costura, num recorte interessante sobre sua carreira, o homem e o artista de forma empolgante. Melodia pode ter ido por aí mas jamais saiu daqui...dos nossos corações.

 

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08/04/2024

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Crítica do filme: 'Igualada'


Eu sou porque somos. Exibido no Festival É Tudo verdade 2024, o documentário colombiano Igualada chega para mostrar algumas verdades do mundo político e as possibilidades de como a coragem aliada à uma forte corrente de mudanças buscam se libertar do medo, da intolerância. Partindo de um termo desdenhoso, referido à ativista social Francia Márquez, que logo acende uma chama para um caminho de uma candidatura à princípio sem apoio nenhum, o documentário acende uma luz no fim do túnel virando mais um símbolo de um movimento que ganhou força pelas redes sociais e também nas urnas colombianas.

Quem chora pelos mortos? Através de entrevistas, do relacionamento entre a protagonista e sua aldeia, a contextualização, mesmos nos curtos 70 minutos de projeção, é muito bem feita. Sem entrar em alguns detalhes, entendemos a raiz de um movimento de mudanças encabeçada pela candidatura de uma mulher, mãe, negra, que em sua vida esteve em direto convívio com a violência para todos os lados, massacres, a luta pela terra, vendo a cada dia as dificuldades se tornando regra. Num universo quase sem regras de uma região afastada dos grandes centros colombianos, surge a esperança.

O foco do documentário, é uma visão geral dos meses do envolvimento de Francia Márquez com sua candidatura à presidência do seu país. Num início de campanha sem apoio de partido político, com muitas dificuldades financeiras, seguindo em frente com voluntários fiéis ao movimento criado, ‘Sou porque somos’, percebemos um forte posicionamento para pautas ligadas às causas sociais, ao feminismo, ao meio ambiente. Esses fatores ganharam o mundo através das redes sociais, tornando Francia um fenômeno nas votações e conseguindo, dias próximos às nomeações oficiais, ser nomeada como vice-presidente na chapa do agora presidente colombiano Gustavo Petro nas eleições de 2022.

Mas esse caminho não deixou de ser doloroso, com o preconceito estando próximo em cada esquina. Seus comícios em palanques por toda a Colômbia vinham sempre com uma preocupação com sua segurança e um forte esquema de segurança que em alguns casos até interrompiam suas falas por conta de prováveis ameaças. Uma cena do documentário retrata esse último ponto. Mesmo assim nada parou Francia, na verdade toda a adversidade parece ter servido como combustível para o restante da árdua caminhada, equilibrando os problemas pessoais com as barreiras políticas impostas por muitos que não queriam a ver no poder.

Como todo bom documentário, que não apenas liga a câmera e espera o acaso ou pontos que se acha importantes acontecerem, há uma estrutura narrativa que consegue de forma simples e objetiva traçar um recorte amplo da vida da protagonista e deixar margens para reflexões de todos que acompanham sua caminhada rumo às tentativas (necessárias) de mudanças.

Dirigido pelo experiente documentarista Juan Mejía Botero, Igualada é a jornada emocionante de uma ativista social que virou um símbolo de um movimento que mudou o foco dos olhares de quem está no poder de um país que esteve durante anos no alto dos rankings de violência.


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Crítica do filme: 'Brizola'


A Inquietude na busca por um tempo bem melhor para se viver. Selecionado para o Festival É Tudo Verdade 2024, o documentário Brizola busca através de fatos e depoimentos traçar um recorte profundo da trajetória de vida de um político dono de uma personalidade forte, combativa, marcante, que ao longo dos anos foi se tornando um eterno inconformista com a situação do povo brasileiro. Em cerca de uma hora e meia de duração, o cineasta Marcos Abujamra faz uma ampla cobertura de períodos importantes da política brasileira deixando margens para reflexões para toda uma nova geração.

A narrativa traça seus horizontes no antes, a pausa e o depois. Filho de camponeses do interior do sul do país, criado pela mãe viúva, Leonel Brizola conseguiu alcançar os estudos na década de 40, se formando engenheiro e logo depois já entrando de cabeça na vida política. Dono da marca de ‘exílio mais longo de todos os políticos brasileiros’, mais de 5.000 dias fora do território brasileiro durante os tempos de Ditadura, o criador do PDT tem sua carreira política dividida em duas etapas. Ao longo do anos foi deputado, prefeito, governador (de dois estados), tentou algumas vezes ser o presidente do Brasil. Temido por possíveis competidores em meio ao sempre conturbado cenário político de nosso país.

Numa época, não muito distante, onde alterar o sistema de poder era tratado como um ato comunista, o desencanto dos dias de revolucionário chega quando o personagem central do documentário desembarca no Uruguai (fugindo do Brasil após o golpe de 1964), com a força das desilusões e afastamento com lideranças políticas, inclusive com membros de Cuba dos quais era muito ligado. Tempos depois, a chegada à Nova Iorque (depois Lisboa), sob o aval do até então presidente americano Jimmy Carter, logo após praticamente ser expulso do território uruguaio, acende novamente o desejo de se reunir com lideranças políticas brasileiras e planejar um possível retorno.

Ligado a causa trabalhista e principalmente a educação, Brizola não deixava de expor suas opiniões, além de ações que contrariava interesses. Com isso teve rusga com o famoso presidente norte-americano John F. Kennedy, calorosos embates com jornalistas, sempre tendo como marca uma inquietude para realizar aquilo que colocava na cabeça. O documentário tem um mérito importante: através de fotografias, entrevistas, depoimentos, molda a narrativa de forma a ser um grande aulão sobre a história brasileira.

Já numa segunda parte de sua carreira política, o conturbado cenário de uma de suas eleições para governador no Rio de Janeiro ganha os holofotes em um importante momento do doc. Aqui as influências da imprensa internacional serviria como ferramenta de proteção ao caos do sistema eleitoral à beira de fraudulentas ações. Criação da Passarela do Samba, o popular sambódromo, e a criação dos CIEPS são feitos notórios de seu governo. Esse último ponto, tendo como objetivo a educação como um braço da cultura, algo que seus opositores insistiam em destruir com a elite e suas ideologias indo para um confronto que envolvia até mesmo o quarto poder.

A esquerda e sua eterna divisão (algo parecido com o que vimos recentemente) que acabou deixando a direita elitista assumir com folgas o poder das primeiras eleições democráticas após a ditadura, personificada aqui na figura do ex-presidente Fernando Collor de Mello, marcaria a proximidade do fim de seu sonho de ser presidente do país. Depois novamente governador do RJ, o documentário não deixa de citar sua proximidade com Collor, seu antigo rival de urna, algo que marcaria o início da sua queda como força política.

Figura marcante na política brasileira, Brizola sempre será um nome lembrado. Suas ideias, suas desavenças, ganham olhares e reflexões nesse projeto que consegue resumidamente, mas sem deixar de mostrar importantes detalhes, apresentar um pouquinho do que foi nosso país e muitas verdades que vemos no Brasil de hoje.  

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