O italiano Luca Guadagnino é um dos mais interessantes cineastas da atualidade - e isso não vai mudar. Seu cinema busca reflexões sociais atuais, dialogando com o público a cada ponto de suas narrativas, como já se viu na maioria dos seus filmes. Em seu novo trabalho, Depois da Caçada, exibido pela primeira vez no prestigiado Festival de Veneza – e filme de Abertura do Festival do Rio 2025 -, ele volta a recortes sociais importantes e, dessa vez, convida o público a embarcar em um elevador para camadas de assuntos que vão se amontoando, sem respiro para reflexões.
Pra embarcar nesse longa-metragem, é preciso atenção. Pelas
entrelinhas de diálogos bem construídos, a filosofia surge como base – o principal
ingrediente desse molho que busca, no conflito, as pausas necessárias pra expor
a ética e a moral em uma sociedade cada vez mais egoísta. Foucault, Locke são
citados e servem de gancho para camadas que exploram desde a necessidade de
controle e o cancelamento até as relações interpessoais e as linhas tênues que
se apresentam no caminho para pensar a existência.
Alma (Julia Roberts)
é uma professora renomada da prestigiada universidade de Yale. Casada com Frederick
(Michael Stuhlbarg), ela trabalha há
anos para ganhar a titularidade e reconhecimento do seu trabalho. Quando Maggie
(Ayo Edebiri), uma aluna de
doutorado, faz uma acusação contra Hank (Andrew
Garfield), outro professor da instituição, Alma se vê perdida em dilemas
trazendo à tona um segredo do passado que transforma seu presente num mar de
instabilidades emocionais.
Com uma trilha sonora muitas vezes incessante – um elemento
complementar a composição da ebulição das emoções que se apresentam –, somos colocados
no papel de observadores de um castelo de cartas que se constrói e descontrói. Tudo
funciona em cena para potencializar o caos interno dos personagens a partir dos
assuntos que surgem, elevado por um elenco primoroso que sustenta um roteiro
denso com o foco nas perspectivas desses personagens.
O cancelamento e os caminhos para lidar com isso – tanto dos
envolvidos quanto por quem está ao redor – é um dos temas que mais se projetam,
onde realmente há uma construção mais constante, um assunto que busca lapidar
as camadas que se expandem. A questão é que essas muitas camadas que se abrem,
deixam o respiro em segundo plano, alongando o tempo de projeção – mesmo que
sem redundância. É maçante em muitos momentos, pois enquanto estamos pensando
sobre um ponto, logo outro se apresenta, e costurar isso tudo quando se chega
ao fim é uma tarefa árdua – talvez até um convite para assistir ao filme de novo.
A partir também da moral e da ética, o roteiro busca com seu
discurso cheio de significados pensar o hoje sob muitos olhares. Provavelmente
vai dividir opiniões, mas tem méritos que são facilmente absorvidos.
