Já dizia alguém: é nos pequenos frascos que estão os melhores perfumes! Com uma composição visual deslumbrante, criando significados a partir do desbravar da linguagem, quase um chamado para a imersão de sentimentos que pulsam na tela, o curta-metragem Alice, dirigido por Gabriel Novis é um retrato comovente e profundo de uma mulher trans nascida em Maceió. Embarcando em uma reinvenção de sua própria trajetória, Alice Barbosa apresenta ao público a sua história, que teve estreia nacional no Festival do Rio 2025.
É impressionante como, em apenas 17 minutos, nossos
pensamentos se veem mergulhados em reflexões constantes de um retrato muito bem
construído e sensível. Tocante e contornando o terror do preconceito, a
narrativa nos projeta para conhecer uma história que fala muito sobre família,
despertar para suas verdades, o luto, os prazeres através do esporte e também
as mudanças com as despedidas. Com uma narração da própria personagem-título,
somos conquistados do primeiro ao último minuto.
Contextualizando de forma certeira a violência, o
preconceito, a misoginia e a transfobia - traços de uma sociedade em constante
medo, e, muitas vezes, incapaz de enxergar a realidade do próximo - Alice apresenta sua protagonista: uma
jovem artista trans que desperta para algumas questões de sua vida após a
perda, muito sentida, do pai. Esse luto, é uma variável que se torna constante,
ganha simbolismo em tela, um elemento que cruza a trajetória que acompanhamos –
das memórias da infância ao presente - de maneira acachapante.
Esse é um filme para ser sentido, debatido, e embarcar na
criatividade com que se modela a linguagem. Tudo o que aparece em tela parece
dialogar com o discurso e com os pontos que se ligam à emoção. Esse
curta-metragem alagoano foi o vencedor de um dos maiores festivais de
documentários do planeta, o Hot Docs, no Canadá – feito que o posiciona como
uma obra qualificável para a disputa do próximo Oscar. Tomara! Que filmaço!