28/02/2025

Crítica do filme: 'História de Amor em Copenhague'


A poesia de um roteiro sensível e cheio de significados encontrando as verdades de muitas realidades é um pouco do que explica o surpreendente filme dinamarquês História de Amor em Copenhague. Ao longo de um recorte na vida de uma mulher vivendo as expectativas de realizar o sonho de ser mãe e os atritos de um relacionamento com altos e baixos, o longa-metragem dirigido por Ditte Hansen e Louise Mieritz consegue, em seus 105 minutos de projeção, emocionar do início ao fim.

Mia (Rosalinde Mynster) é um escritora de sucesso que vive seus dias em total descontrole, adepta das relações constantes e descartáveis. Tudo muda em sua vida quando conhece Emil (Joachim Fjelstrup), um solteiro, pai de dois filhos. Os dois logo se apaixonam e começam a viver o desejo de ter um filho juntos. Mas esse processo colocará à prova todo o amor que sentem um pelo outro.

É muito fácil dizer que o amor vence qualquer barreira, esse geralmente é o discurso de muitas produções que se acomodam numa narrativa simplória sem muitas pretensões. Mas nesse longa-metragem não é o ocorre. De corpo e alma, os personagens nos levam para uma gangorra de emoções com uma profundidade tocante que ainda por cima consegue passar bem longe de clichês. A direção opta por uma riqueza de detalhes buscando sentido na explosão de sentimentos, no íntimo de corações em conflito.

Partindo do início de uma história de amor chegamos num clímax bem construído onde um desejo acaba sendo a turbulência por conta de tudo que está envolvido. A razão e a emoção se chocam sob a ótica de uma protagonista que se encontra na vulnerabilidade do entender o momento em que vive com a consequência de lidar com o que estão ao seu redor. A liberdade e as responsabilidades encontram a crise existencial atingindo uma angústia vista até a última gota.  

Trazendo essas verdades para um contexto entre duas pessoas fadadas a andarem juntas – na lógica do grande amor - onde o cotidiano nos mostra que os quebra-molas são inúmeros e as barreiras aparecem quase sempre, História de Amor em Copenhague vai fisgar muitos olhares dentro de sua subjetividade e nas lições que deixa em todo seu caminho. Lindo filme!

 

 

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26/02/2025

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Pausa para uma série: 'A História da minha Família'


Uma das gratas surpresas do ano até agora, a minissérie italiana A História da minha Família é um desfile profundo pelo acaso moldando de forma contagiante uma história de perda e luto se descontruindo através de uma necessidade de laços afetivos. A partir de um carismático personagem principal e seu último desejo, vamos embarcando em uma jornada comovente sobre resiliência e quando o amor bate de frente com a dor.

Ao longo de seis episódios, essa minissérie - que entrou no catálogo da Netflix nesse início de 2025 - nos apresenta a vida de Fausto (Eduardo Scarpetta) em dois momentos. No primeiro, como um carinhoso pai de família que encontrou o amor de sua vida de forma inusitada, numa cafeteria. Anos mais tarde, já separado e com a ex-esposa Sara (Gaia Weiss) enfrentando graves problemas psicológicos, é diagnosticado com uma doença terminal e precisa arrumar as peças soltas em sua família desestruturada antes de partir.

Um momento difícil na vida de uma pessoa sempre é algo tocante. Mas como transformar uma história que ruma para a tristeza em algo leve e revigorante? Ao longo dos capítulos dessa trama - que utiliza com sabedoria o flashback - conhecemos seus personagens de forma individual e coletiva, com cada episódio dedicado a um olhar mais próximo de algum deles. Tendo o protagonista como o elo que constrói todos os laços por aqui, o roteiro não entra em fantasias, busca se aproximar de verdades possíveis na realidade.

O tempo se torna uma peça importante para chegar aos conflitos através de um trivial antes e depois. Abordando relações antes apaixonadas e que depois chegam em suas rupturas, vamos acompanhando ao longo desse tempo as mudanças de vidas e as adaptações necessárias ou impostas por acontecimentos. Desde os primeiros passos do sonhar, passando por amadurecimentos precoces, até a chegada ao concreto das desilusões, a narrativa preenche seus conflitos sem se entregar completamente ao melodrama.      

Mesmo com alguns exageros e ponta soltas dentro de um conflito central que se expande, A História da minha Família comove e chega rapidamente em lições por todos os lados. Se animar em assistir, prepara o lenço, emoção é o que não falta!


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25/02/2025

Crítica do filme: 'A Garota mais Linda do Mundo'


A forma delicada como é apresentada a construção da descoberta do amar – mesmo com todos os clichês que se encontram pelo caminho - é o grande achado do longa-metragem indonésio A Garota mais Linda do Mundo. Dirigido por Robert Ronny, e protagonizado pelos ótimos Reza Rahadian e Sheila Dara Aisha, essa não é somente uma história convencional de duas almas que se encontram e se apaixonam.

O que acontece nas mais de duas horas de projeção é um retrato maduro, muitas vezes surpreendente, sobre as possibilidades de interpretações do que é o amor, além de destilar críticas sociais certeiras aos produtos descartáveis televisivos. Percorrendo com dinamismo traumas, relações de atritos na família e verdades que se descontroem, esse pode ser considerado mais um dos grandes acertos da Netflix nesse 2025.

O playboy e herdeiro de um grande canal de televisão Reuben (Reza Rahadian) passa seus dias no conforto e comodidade de uma vida fácil. Quando seu pai morre de forma inesperada, para receber a herança, ele precisa casar com a ‘garota mais linda do mundo’. Assim resolve participar de um reality show de casamento que a emissora produz. Passando por um processo de maturidade durante esse tempo, aos poucos vai se aproximando de uma de suas funcionárias, Kiara (Sheila Dara Aisha).

Não precisa ter um beijo sequer para nascer um filme bonito e romântico. O corajoso e inteligente roteiro consegue prender a atenção dando um choque de realidade para a fantasia de um conto de fadas. Com arcos dramáticos de dois personagens em contrapontos, que logo alcançam um harmonioso clímax, vamos acompanhando um discurso que se transforma, jogando para escanteio qualquer previsibilidade.  

Sem esquecer de uma profunda crítica ao mundo televisivo, o machismo descarado, as encenações e a distância do real – aqui exemplificado com os descartáveis reality shows – percorremos uma história de amor sem deixar de ter a disposição reflexões sobre nossa sociedade.


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24/02/2025

Crítica do filme: 'Os Altos e Baixos do Amor'


A beleza de Gotland - maior ilha da Suécia - é o plano de fundo da inocente comédia da Netflix, Os Altos e Baixos do Amor. Cheio de baladas românticas, com os conflitos culturais entre o campo e a cidade ganhando força, o longa-metragem com cerca de 90 minutos é uma leve viagem pelas emoções que estaciona na superfície dos conflitos familiares de uma quase união.

Samuel (Charlie Gustafsson) é um jovem chef em ascensão, já dono de restaurante, que encontra o amor em Hannah (Matilda Källström). Mesmo com pouco tempo juntos, resolvem se casar. A cerimônia é na casa dos pais dele e lá vão enfrentar alguns embates com os sogros querendo ajudar o grande dia.

Escrito e dirigido por Staffan Lindberg essa comédia busca no seu alto-astral tapar os buracos de um roteiro sem ambições pra maiores desenvolvimentos. As subtramas são praticamente nulas, evoluções emocionais (arcos dramáticos) com contribuições simplistas, personagens sem carisma dentro de um escopo limitado as expectativas de um casamento. Convencional até seu último minuto, com uma narrativa igual a tantas outras por aí, se consolida como uma nada chamativa trama ‘água com açúcar’.

Filmado em Estocolmo, mesmo ambientado na já mencionada ilha, o lugar parecia ter mais história pra contar mas trava numa sonolenta e muito batida rivalidade sobre costumes entre o campo e a cidade. Durante a época Viking, o Gotland foi um ponto importante de comércio com inúmeros tesouros cobiçados, mas nesse filme - longe de grandes contextos - se resume a uma região limitada e simples com a economia baseada na agricultura.

Chegando ao Top 10 da Netflix no Brasil, Os Altos e Baixos do Amor usa do escudo da já recorrente disputas com sogros se moldando em uma série de situações nada atrativas tendo o amor como resolvedor de todos os problemas. Um filme que você assiste e logo esquece.

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21/02/2025

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Pausa para uma série: 'Dia Zero'


Um ataque cibernético em grande escala ameaça o solo norte-americano. Dá pra imaginar isso na vida real? Bem, na ficção é o cenário da aguardada minissérie da Netflix Dia Zero - primeiro projeto seriado protagonizado pelo lendário Robert de Niro.

Um liquidificador de atritos com manobras políticas, sociopatas descarados, o quarto poder se manifestando, retóricas radicais, vão se tornando elementos de um campo minado político que apresenta em sua figura central as fragilidades de um ex-presidente que embarca na jornada do herói - aos trancos e barrancos.

O ex-mandachuva da maior potência mundial George Mullen (Robert de Niro) vive seus dias na tranquilidade de sua confortável residência ao lado da esposa Sheila (Joan Allen). Certo dia, após um ataque hacker sem precedentes, é convocado pela atual presidente Evelyn Mitchell (Angela Bassett) para ser o encarregado pela 'comissão do dia zero' - uma ação definida pela presidente com extensão de poderes totais até os responsáveis serem descobertos. Aos poucos vai percebendo que nada será simples.

Os episódios iniciais buscam preencher as lacunas no modo de pensar e atual momento do protagonista, algo que se torna prolongado, caindo em certa redundância. Mesmo assim, o desenvolvimento do personagem chama a atenção, com mistérios sobre sua saúde mental, um segredo escondido durante sua administração, sua rede de contatos e uma relação complicada com a filha. Há também um conflito interessante quando percebe um país e governo completamente diferentes dos seus tempos como presidente. De Niro debuta no mundo das séries com eficiência dando vida a esse difícil personagem.

Falar de política é sempre complexo ainda mais num país que tem cada detalhe esmiuçado em todos os cantos. Mas esse roteiro consegue furar barreiras do politiques, transformando esse eterno caldeirão para os tempos atuais. Nos sentimos em alguns momentos numa espécie de jogo de RPG político onde ficamos imaginando o que faríamos se fossemos tal personagem.

Aos poucos, um ninho de cobras que vão de empresários controladores, empreendedores com dedo no governo (já viram isso por aí, né?), até políticos em busca do mais alto escalão vão dando as caras dentro de uma certa obviedade em forma de armadilha política. A arte do convencimento se choca com uma variável bem explorada: o confronto com o inimigo interno.

Outro ponto interessante é que as subtramas - muito bem aproveitadas - ajudam a contar essa história. Temos a filha deputada, que por desavenças com o pai aceita ser marionete num jogo de poder, um fiel escudeiro com segredos no passado, uma competente chefe de gabinete com laços secretos com o ex-chefe, entre outros e outras.

Dividida em seis longos episódios Dia Zero embala na reta final, mais precisamente no penúltimo episódio com as cartas escondidas se mostrando chaves para resoluções. Então paciência que pode ser recompensado! Pra quem curte projetos onde não ficam prontas soltas, esse pode ser um bom achado.


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Crítica do filme: 'De Sombra e Silêncio'


A cumplicidade em meio a um mar de descobertas. Diretamente de um país da Europa central com ótimas contribuições à sétima arte, a República tcheca (ou atualizado, Tchéquia), o longa-metragem De Sombra e Silêncio de forma objetiva e sem muita delonga transforma um segredo familiar em um pilar de acontecimentos surpreendentes  que rumam para o imprevisível.

A vida do veterinário Martin (Marian Mitas) passou por uma enorme transformação após um acidente de trabalho, fato esse que o deixou em uma situação estável mas bastante limitada, sem falar e com sérios problemas. Para cuidar dele, a esposa Erika (Jana Plodková) entra logo num embate com a sogra Dana (Milena Steinmasslová), com quem nunca teve boa relação. Com a chegada de uma outra mulher nessa história, segredos do passado vai sendo passados a limpo culminando em uma série de situações surpreendentes.

Umas das chaves do roteiro assinado - pelo também diretor da obra - Tomas Masin é gradativamente empilhar camadas em relações que chegam ao estopim com um acontecimento abrupto que muda todas as vidas dos personagens. Durante uma investigação de assassinato, com flashbacks que ajudam a reviver peças importantes desse tabuleiro misterioso, vamos vendo o desenvolvimento dos personagens num antes e depois. Isso entrega um dinamismo que ganha os caminhos da tensão.

Assuntos direcionados para as relações e a sociedade vão compondo uma série de elementos importantes para entendermos motivos dentro de ações e consequências. O elenco é ótimo, principalmente o trio feminino afiado em esconder o que nos espera no desfecho. E que final, já vale o ingresso!

Dentro do recorte que busca, num discurso reto e objetivo, há um olhar para a sociedade logo chegando de encontro com a exposição em torno da eutanásia, nas visões sobre uma traição, os embates familiares de longa data e a maturidade que se alcança através de um revés. Esse é um daqueles filmes de suspense bons para debate.


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18/02/2025

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Pausa para uma série: 'Homicídio nos EUA: Gabby Petito'


Uma viagem pelos Estados Unidos de dois jovens recém noivos termina com apenas um deles voltando pra casa. Partindo desse ponto para montar peças de um quebra-cabeça macabro que envolve a violência doméstica e a dependência emocional, chegou ao catálogo da Netflix uma série documental de três episódios que apresenta os fatos de um crime que chocou um país.

Homicídio nos EUA: Gabby Petito nos leva até acontecimentos de anos atrás, um true crime que mostra muito mais do que um frio assassinato mas contribui para bons debates sobre o circo midiático em casos como esse, além de reflexões sociais profundas na ação policial.

Uma van e um sonho. Depois de pouco mais de um ano juntos, o casal Gaby e Brian partiram para morar um tempo juntos, vivendo como nômades, num veículo com tudo que precisam. Ela com o sonho de ser vlogueira, ele acompanhando. Quando Gaby fica sem dar notícias por duas semanas, sua família entra em contato com a polícia e assim inicia-se um capítulo triste dessa história.

Usando a inteligência artificial para recriar a voz de Gabby para textos do seu diário e mensagens, o documentário - também investigativo - acompanha detalhes dessa relação através de depoimentos dos pais, das forças policiais e amigos próximos. Um retrato de Brian vai sendo montado sob o ponto de vista de todos que cercam Gaby. Não há um outro lado dessa história pois todos ligados a Brian não quiseram dar depoimentos.

Conduzindo o documentário com os elementos que tem em mãos, a dupla de diretores consegue chegar até mesmo em críticas sociais profundas, com duas delas em destaque. Uma sequência chama muito a atenção, quando a van do casal é parada por policiais numa estrada, após uma denuncia ser feita, o tratamento e conclusões da situação escancaram o machismo e o despreparo policial em identificar um grave problema. Outro ponto é a questão do jornalismo em relação aos fatos. O documentário apresenta questões que vão muito além do circo midiático que virou o caso.


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Crítica do filme: 'Nós derrotamos o Dream Team'


No primeiro ano que os jogadores da NBA puderam disputar as olimpíadas, um verdadeiro time dos sonhos foi enviado até a Espanha para vencer com autoridade o evento no verão de 1992 em Barcelona. Durante os treinamentos, oito jovens astros do basquete universitário foram chamados para um jogo treino. Eles venceram o Dream Team.

Disponível na Max, o documentário Nós derrotamos o Dream Team nos mostra por meio de vídeos e depoimentos, olhares para um detalhe pouco mencionado em meio ao estrondoso impacto que teve a equipe norte-americana, liderados por Magic Johnson, Michael Jordan e Larry Bird, no mundo dos esportes.

Mas para entender por completo essa história, é importante um contexto que o documentário passa como uma flecha. Os Estados Unidos até 1988 enviavam times de jogadores universitários para os eventos mundiais, até que perderam pra união soviética numa semifinal e mais outras derrotas em sequência em eventos pelo mundo. Assim, entrando em acordo com a FIBA (Federação Internacional de Basquete), ficou permitido que os atletas da principal liga de basquete do mundo disputassem pelo seu país eventos internacionais.

Com algumas regras que se diferem da aplicada na NBA, o treinador Chuck Daly resolveu criar um cenário utilizando jogadores fantásticos mas ainda não profissionais que fizeram sucesso em suas faculdades. Assim, um jogo impressionante aconteceu a portas fechadas.

Narrado em grande parte por Grant Hill, ex-atleta de sucesso na NBA e que fez parte dos oito selecionados para treinar com o Dream Team, ao longo do documentário, que conta detalhes sobre a ótica dos envolvidos, percebemos uma mudança de foco na parte final quando nota-se um certo desabafo por conta de um depoimento de um dos assistentes de Daly anos após o ocorrido. Esse fato preenche ainda mais a riqueza dos fatos apresentados, mostrando a importância e pressão que até os maiores nomes do esportes podem sofrer.


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17/02/2025

Crítica do filme: 'Entre Montanhas'


Embarcando na ficção através de uma estrada pelas teorias de conspirações que liga governos, operações secretas - aquele universo paralelo geopolítico cheio de possibilidades para mentes criativas - o novo longa-metragem lançado com exclusividade na Apple Tv Plus, Entre Montanhas, busca, entre seu desfile armamentista de grandes potências, se encontrar com reflexões que encostam em correntes filosóficas que partem do pragmatismo para um municiar o existencialismo. A direção é assinada pelo ótimo cineasta norte-americano Scott Derrickson, diretor de O Exorcismo de Emily Rose e outros sucessos.

O atirador de elite e o fuzileiro reformado Levi (Miles Teller) vive tempos de instabilidade na sua vida não conseguindo dormir e sem objetivos no lado profissional. Um dia é chamado para uma missão secreta com duração de um ano. A assassina lituana Drasa (Anya Taylor-Joy) depois de cumprir mais um objetivo em sua longa lista de assassinatos é convocada para a mesma missão. Num lugar isolado, cada um dos dois é selecionado para ficar de guarda numa torre, em lados opostos. Aos poucos vão se conhecendo melhor e descobrindo segredos.

Num primeiro momento, o filme parece rumar para caminhos interessantes. Ao longo de duas horas de projeção e com os meses marcando os atos, o abre alas da história se sustenta na solidão, na tristeza, e todos os sentidos que podem vir a partir disso. Esse ponto existencialista, exatamente alcançar o objetivo de vida através das próprias decisões, deixa sugestões de complemento através da autonomia existencial e moral que se colocam a disposição nos arcos dramáticos.

Mas com o peso de fazer da mescla de ação, romance, suspense e terror agradar a todos os públicos - e com o pé no acelerador para as cenas de grandes proporções visuais - o projeto embarca num caminho sem volta rumo a tensão longe do psicológico. Esse ponto é prejudicado pelas muitas tentativas de explicar o terror, através da simplória junção de segredos e mentiras, além de teorias conspiratórias. A partir daí, tudo fica bem confuso e pouco atrativo com a bala comendo solta em ações desenfreadas.

Entre Montanhas muitas vezes se parece um videogame. A narrativa com seu discurso direto leva o público para a resolução e conflitos de dois personagens muito bem interpretados como grandes momentos no primeiro ato.


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16/02/2025

Crítica do filme: 'Invasão de Lua de Mel'


Sem medo de escorregar nos clichês - de forma nada pretenciosa - a comédia francesa Invasão de Lua de Mel, novo sucesso da Netflix, nos leva até uma história longe de ser inovadora, com a autodescoberta dominando o desenvolvimento e os conflitos dos personagens. Dirigido pelo cineasta Nicolas Cuche, o roteiro bem ajustado busca a diversão abordando com certa maturidade sobre relações mães e filhos, também a diferença de idade nas várias formas do amar.

O destino vem pregando peças no introspectivo - e por vezes chato - Lucas (Julien Frison), um homem que quando encontra o amor de sua vida é abandonado no altar. Sem saber o que fazer e com a viagem de lua de mel já comprada, resolve chamar sua mãe Lily (Michèle Laroque) para aproveitar alguns dias mais relaxados num verdadeiro paraíso repleto de casais. Nesse período irá descobrir mais sobre ela e também novas formas de enxergar o mundo que sempre se colocou à sua disposição.

Destrinchando um relacionamento maternal, algo que sempre chama a atenção em qualquer linha de roteiro, esse projeto consegue um interessante recorte no presente de um dos personagens principais em conflito dominado pelas amarguras da vida. Nada de muito novo até aqui. Mas olhando mais profundamente, mesmo com os exageros correndo soltos e uma ingenuidade na resoluções de conflitos, uma coisa chama muito a atenção: há uma leveza e maturidade nos pontos de reflexões. 

Entre o riso e as pitadas dramáticas encontram-se elementos harmônicos que nos levam até ações e consequências sem muitas camadas. O duplo protagonismo e a duas visões da vida naquele presente, vira duas linhas que andam em paralelo mas com pontos que se encontram dentro de um contexto improvável. Ajudando a contar essa história, merece destaque o elenco super carismático, com nomes como: Michèle Laroque, Kad Merad e a fabulosa artista espanhola Rossy de Palma.

Invasão de Lua de Mel ainda brinca com os sentimentos e os olhares sobre as diferenças de idade, situação que de alguma forma aproxima a ficção de pitacos para análises do comportamento, da realidade. Nesse projeto água com açúcar, o que vale como entretenimento é o distrair em forma de divertimento mas sem esquecer de abrir o olhar para questões sobre a vida cotidiana.


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