29/04/2020

Crítica do filme: 'Resgate'


Nenhum soldado fica pra trás na mente do guerreiro. Escrito por Joe Russo (diretor dos últimos dois filmes da vitoriosa franquia Os Vingadores, ao lado de seu irmão Anthony) e com direção de Sam Hargrave, debutando em longas-metragens, Resgate, novo filme de ação e explosão da toda poderosa (nos tempos de pandemia ainda mais) Netflix é uma grande seleção de clichês em meio a bombas e cenas de ação bem executadas. O fraco roteiro de Russo, transforma o filme em uma caçada sem fim, seco e com ritmo destrutivo. Parece muito os filmes de barulho e explosão do Michael Bay. Tudo é tão repetitivo que dá um grande sono chegar até o fim prestando a atenção ao que acontece, pois, já sabemos intuitivamente. Filme bom mesmo com o mesmo tema, ‘extraction’, é Prova de Vida com o Russell Crowe.

Na trama, conhecemos um jovem, filho de um líder do submundo indiano que um dia é sequestrado por um rival de seu pai. Buscando uma solução, a família do garoto parte para contratar uma equipe especializada nesse tipo de assunto e assim chega ao nome de Tyler (Chris Hemsworth), um homem com um passado triste que beira a inconsequência nos seus atos. Chegando até o local onde o jovem está, começa uma explosiva busca para encontrarem o caminho de casa.

Típico dos pipocões que chegam às salas de cinema, falta muita profundidade no roteiro para entendermos melhor os personagens, o que fica como parâmetro, por incrível que pareça e viajar na onda do clichê, é, imaginar analogias com outros sofridos heróis imortais. Tyler não tem direção, não tem destino, é um soldado pronto para a guerra mas de repente tentamos entende-lo quando sabemos algumas informações de seus traumas do passado, por isso a importância de uma certa profundidade. As subtramas do roteiro são esquecidas, do outro ‘herói’ que trabalha par aa família do menino sequestrado, ou mesmo de um aproveitamento melhor de David Harbour (estrela da Netflix em Stranger Things).

E não custa nada, produtores e produções, tentarem fazer de Tyler uma espécie de herói de guerra, como Rambo ou qualquer personagem assim, e realizarem inúmeras continuações para suas aventuras. Até certo ponto há uma carência nesse tipo de filme para essa nova ‘geração vingadores’. Mas por favor, caso isso ocorre, que não vire somente um bang bang em alguma cidade com problemas, que tenha mais profundidade no completo da trama.

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28/04/2020

Crítica do filme: 'New World'


Em uma estrada com apenas dois caminhos, você precisa escolher o seu lado. Escrito e dirigido pelo cineasta sul-coreano Hoon-jung Park, New World, Sinsegye no original, é mais um daqueles interessantes roteiros sul-coreanos cheio de reviravoltas que deixa o espectador sempre com os olhos atentos ao que acontece a cada cena. Com muitas cenas de ação e bastante sangue, à la Tarantino, o projeto navega na onda da ganância pessoal e no instinto de sobrevivência como alicerce de uma personalidade consumida por emoções divididas. O protagonista é enigmático e leva as consequências de suas escolhas até o último frame. Mesmo com alguns pequenos deslizes e alguns arcos um pouco mal construídos, esse é mais um impactante trabalho sul coreano pro mundo da sétima arte.

Na trama, acompanhamos a história de Ja-sung (Jung-jae Lee), um agente infiltrado da polícia que está sob disfarce faz quase uma década e enfim consegue o objetivo que queria juntamente com a única pessoa que sabe que ele está disfarçado, o chefe de polícia Kang (Min-sik Choi). Dentro de uma operação chamada Novo Mundo que mexe com os poderosos submundos dos sindicatos na Coreia do Sul, Ja-sung precisará agora escolher se segue em frente e completa o objetivo, pesando o fato de ele estar com um filho a caminho e o fato de o medo sempre o pairar em ser descoberto. Assim, se envolvendo em uma série de situações explosivas sucessivas, a escolha será feita.

De tão mirabolante o roteiro as vezes se perde, exatamente pelas idas e vindas no roteiro já no seu arco final o que deixa o público sem amplitude para suas perspectivas. As peças se embaralham muito rápido nesse filme que possui um ritmo eletrizante em alguns momentos, além de cenas de luta muito bem coreografadas. Quando conseguimos nos entender com a história e montar grande parte do quebra-cabeça o filme cresce aos nossos olhos, ainda deixando brechas para futuras surpresas que viriam.

Não é de hoje que a Coreia do Sul é um dos pilares de qualidade do cinema mundial. Impressiona a cada ano. Mesmo quando buscamos resgatar filmes de anos passados (como é esse o caso), já que poucos filmes coreanos chegam ao nosso circuito exibidor (esperamos que isso mude em breve! Alô distribuidoras!), somos surpreendidos com filmes de impacto.

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27/04/2020

Crítica do filme: 'Fuga de Pretória'


As ideias e as engenhocas da liberdade. Transformando em cinema a história do livro Escape from Pretoria de Tim Jenkin, o cineasta britânico Francis Annan apresenta uma mirabolante fuga de uma prisão na África do Sul no epicentro do Apartheid em 1979. O projeto navega em um roteiro nada mirabolante que usa de artifícios/técnicas cinematográficas para gerar alguma força nas cenas que acompanhamos. É o típico caso de uma história mas um filme nem tão bom assim. Fora que acaba caindo em comparação com referências a outros tantos ótimos filmes de ‘fuga de prisão’, onde está bem abaixo. Um esforçado Daniel Radcliffe (cada vez mais distante do bruxinho que o tornou famoso) busca ser a mola propulsora para o filme ganhar ritmo e força nas cenas, consegue em partes.
 
Na trama, acompanhamos a África do Sul no epicentro do Apartheid no final da década de 70, onde muitos lutavam pelo término desse regime de separação racial. Dentro desse contexto, conhecemos Tim (Daniel Radcliffe) e Stephen (Daniel Webber), dois amigos que se associam na luta contra o governo mas acabam sendo presos e enviados a uma prisão de segurança máxima em Pretória. Dentro da prisão, tentando não enlouquecer, Tim cria um mirabolante plano que consiste em criar com pedaços de madeiras os moldes de todas as portas da prisão e assim possibilitar uma grande fuga.

Há uma falta de profundidade evidente na composição dos personagens coadjuvantes. O que leva o peso todo para o protagonista interpretado por Radcliffe. As ações passam a todo instante por ele e seu instinto de liberdade desde o primeiro dia na prisão. Ao não focar um pouco no lado de fora da prisão, coisa que com certeza a obra em que foi baseada o roteiro menciona, a história como um todo perde força. Por mais que o desejo de liberdade seja evidente, as subtramas que compõe esse desejo desaparecem em meio as forçadas tentativas de clímax e uma trilha envolvente a cada colocada de chave nos buracos de fechaduras.

De qualquer forma, esse filme que acabara sendo lançado em alguns países no início da pandemia do coronavírus e acabou atrapalhando sua carreira nas janelas de exibição não é um trabalho esquecível, principalmente quando paramos para pensar sobre a origem de sua história, a época do apartheid Acredito que professores possam usar esse filme para falar sobre esse importante tema da história da humanidade.

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Crítica do filme: 'Jojo Rabbit'


As delicadezas de uma época triste. Tentando ser o mais leve possível para falar sobre as absurdas caçadas aos judeus pelos nazistas, o diretor neo-zelandês Taika Waititi consegue com seu novo trabalho, Jojo Rabbit (indicado a algumas categorias do Oscar) criar um universo peculiar, fruto de um roteiro criativo (baseado na obra Caging Skies, de Christine Leunens) que navega na linha tênue entre a tragédia e os bons sentimentos de uma família de dois, que na verdade eram três. Com muita força expressiva em cena com diálogos marcantes, e porque não dizer emocionantes, o projeto mostra ao mundo mais uma vez que pela arte conseguimos recriar o passado mas sem perder a ternura em determinados olhares.

Na trama, ambientada no período da segunda grande guerra, conhecemos o jovem Jojo (Roman Griffin Davis, em atuação marcante), um pequeno alemão ridicularizado por muitos colegas, completamente extremista por tudo que ouviu falar sobre o nazismo. Jojo passa seus dias trazendo pra sua realidade sua mente fértil. Tão fértil que consegue ter um incomum amigo imaginário: Hitler, de quem escutas todo dia conselhos e mais conselhos. Certo dia, após ouvir um barulho em sua casa, descobre, escondida, uma jovem judia chamada Elsa (Thomasin McKenzie).  A partir daí, sua vida muda e suas dias passam a debates interessantes com sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) e com a nova amiga.

Impressiona a força que possui a personagem de Johansson, sua delicadeza em recriar um mundo mais amável para seu filho, brincando e dançando para fugir de uma rotina de notícias ruins ligadas a violência, ódio e guerra que chegam aos ouvidos de seu filho a todo instante. O projeto fala sobre família, esse sentimento bom que vem de quem a gente ama mesmo com o mundo pirando fora de nossa casa. A amizade ganha luz e ao mesmo tempo força, unindo uma judia em fuga e um pequeno nazista consumido por um extremismo doentio por tentar encontrar um lugar onde se encaixe. Os arcos do roteiro, muito bem definidos, transformam dor em esperança a cada sequência.

Ganhador do BAFTA de melhor roteiro no ano passado, orçado em 14 milhões de dólares (bem abaixo de muitas outras produções indicadas ao Oscar em 2019), Jojo Rabbit é um filme pouco comentado, para alguns até exagerado, mas que apresenta ao público uma leveza tão difícil de encontrar dentro de todo o contexto triste de uma guerra. Um belo trabalho do descendente de judeus, Taika Waititi.


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16/04/2020

Crítica do filme: 'Buoyancy'


A falta de perspectiva em um mundo que se distancia das emoções positivas. Indicado da Austrália ao Oscar de Melhor filme estrangeiro no ano passado (não chegou entre os cinco finalistas), Buoyancy, ou Empuxo como alguns denominaram por aqui, é uma forte e dramática saga de um jovem sem rumo que buscando oportunidades na liberdade das escolhas acaba envolvido no submundo absurdo do tráfico de pessoas. Com uma fotografia impecável e um roteiro com bastante profundidade, o projeto dirigido e roteirizado pelo cineasta australiano Rodd Rathjen (debutando em longas) nos guia para uma metáfora de sobrevivência cruel e impactante.

Há muitas verdades sobre o mundo lá fora que nem imaginamos ou nunca paramos para pensar. O dia a dia de milhares de jovens sem oportunidades de renda, alimentação e estudo básicos é o pontapé inicial dessa cruel história de um jovem de menos de 15 anos chamado Chakra (Sarm Heng) que resolve abandonar a família no Camboja para tentar a sorte de ser alguém no mundo e assim acaba sendo enviado para um barco de pesca em alto mar onde o capitão é uma alma bastante cruel. Buscando sobreviver após humilhações e testemunhando atos cruéis do capitão, Chakra precisará ser forte e lutar com todas suas forças para sobreviver ao pesadelo.

Existem filmes onde a profundidade da maldade é colocada dentro de uma profundeza difícil de acessar. Humano até o limite de qualquer borda de alma, os princípios de raízes da sobrevivência viram a única solução para a situação caótica enfrentada pelo protagonista. Há um jogo de emoções conturbado por situações extremas, como o fato de ter que trabalhar quase o dia todo para comer um potinho de arroz. O protagonista vai se modelando, inflando dentro de sua emoções para se tornar amadurecido a ponto de tomar decisões vitais para ter alguma chance de sobreviver em meio a essa maldade toda.

O arco final é intenso e condiz com tudo que o filme se mostra. Exibido no Festival de Berlim do ano passado, Buoyancy vai até seu último minuto nos mostrando as escolhas e como e porquê o protagonista resolve suas questões. O que será do futuro dele? Há esperança por dias melhores? Ele se tornara outra pessoa? Depois dessa tempestade, uma coisa é certa, ninguém fica igual ao que era antes. Filmaço, que absurdamente não ganhou chances no circuito brasileiro de exibição.  

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15/04/2020

Crítica do filme: 'A Verdade'


As analogias da tartaruga e no desdém do cotidiano nas relações interpessoais. Baseado em curto argumento de Ken Liu, o primeiro embarque a uma produção fora do oriente do aclamado cineasta japonês Hirokazu Koreeda, A Verdade, indicado ao Leão de Ouro em Veneza no ano passado e exibido no prestigiado Festival de Toronto no mesmo ano, é uma grande rodada de argumentos e situações envolvidos dentro de um drama familiar oriundos dos gestos e ações de uma amargurada atriz veterana que busca o conflito a todo instante. Há muita sutileza na condução de Koreeda mas a profundidade dos ricos personagens de outros filmes aqui se camuflam em uma única destacada atuação. É como se a melancolia atravessasse a trama de maneira a deixar tudo sem sentido em importantes definições de arcos.

Na trama, conhecemos mais profundamente Fabienne (Catherine Deneuve), uma excêntrica estrela do cinema francês que resolve de uma hora pra outra lançar um livro de memórias o que acarreta na ida de sua filha Lumir (Juliette Binoche) que mora nos Estados Unidos e trabalha como roteirista ir até a França para visitá-la junto de seu marido, Hank (Ethan Hawke), um ator de série b da televisão norte-americana. Chegando na casa de sua mãe e voltando para a rotina de set de filmagens e difíceis conversas, o tempo passa mas o passado chega forte com assuntos mal resolvidos dentro de uma profunda amargura nos diálogos de ambos os lados.  

O roteiro se sustenta nos embates insípidos da protagonista com todos que a cercam, desde sua eclética família até mesmo suas colegas de profissão mas principalmente a filha. Apontando o dedo em tudo e em todos, as razões da perfeição não se sustentam em nenhum momento, talvez fruto da amargura vista em cena. As críticas sobre atuações, sobre os textos duvidosos da Wikipedia as vezes dão luz a um medo pela próxima aposentadoria mas sem nunca reconhecer erros ou verdades de outros sobre situações do presente ou passado. Os retratos inimistas e familiares conhecidos pela filmografia de Koreeda aqui se transformam em longos minutos sem muita força e principalmente, sem dizer nada. Não chega a ser decepcionante mas esperávamos tanto de um filme com tanta qualidade na frente e atrás das câmeras.

Ainda sem previsão de estreia no circuito exibidor brasileiro por conta da pandemia do coronavírus que mexeu com o mercado audiovisual mundial de maneiro impactante A Verdade tem em seu maior pecado os poucos respiros dentro do eterno e inacabável embate entre mãe e filha. É de cortar o coração que o sono chegue forte em um filme com Deneuve e Binoche.




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Crítica do filme: 'O Chefe'


As verdades quando são descobertas se desenrolam com mais naturalidade do que quando são apenas ditas pelos outros. Debutando em longas após uma série de curtas-metragens, o cineasta espanhol Sergio Barrejón traz para a tela do streaming Netflix a comédia O Chefe. O projeto é uma sucessão de mudanças na vida de um empresário importante que vão desde sua separação, o inusitado encontro com uma colombiana, até os novos rumos de sua complicada empresa. Escondido no catálogo, o filme passa na média mesmo não conseguindo ir além de uma superfície tapada por clichês mas com a vantagem de ter muito carisma nas atuações de seu elenco.

Na trama, conhecemos o endinheirado e CEO de uma empresa que ele mesmo criou, César (o ótimo Luis Callejo), um homem que atravessa uma fase difícil na vida com a eminente separação de seu casamento de anos, o distanciamento de seu único filho, e a surpreendente notícia de que alguém de sua própria empresa o está roubado faz anos. Munido de uma personalidade explosiva, que aflora na semana que vai definir de vez os rumos de sua vida dali pra frente, em uma noite trabalhando até tarde no escritório acaba conhecendo Ariana (Juana Acosta), uma faxineira colombiana que acaba criando um laço de amizade com o protagonista.

Uma coisa que sempre é importante em um filme e tentamos argumentar por aqui: o ritmo. Esse filme tem ritmo mesmo que não consiga romper as complexas barreiras da superfície quando pensamos em emoções e formas de lidar com as consequências preenchidas pelos atos que acompanhamos ao longo dos modestos 90 minutos de projeção. O filme é todo implementado na ótica de Cesar e sua conturbada visão do mundo, o desconstruir ao longo do filme desse personagem é um dos pontos positivos desse longa que pode não ser nem de longe a melhor comédia disponível na Netflix mas cumpre seu objetivo de tentar ser uma narrativa que busca ser envolvente, mesmo com defeitos.

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Crítica do filme: 'Frankie'


Os desejos de um momento chave na vida de uma pessoa que teve tudo na vida. Abordando um grave drama na vida de uma artista e suas escolhas que se sucedem a partir do acontecido, o cineasta norte-americano Ira Sachs volta às telonas, após um pequeno hiato de três anos, para dirigir mais um ótimo elenco na carreira no indicado à Palma de Ouro em Cannes no ano passado, Frankie. Pena que as peças não se encaixam, tentando dar leveza à profundidade e melancolia que o momento da protagonista corresponde, Ira Sachs (dos excelentes O Amor é Estranho e Deixe a Luz Acesa) acaba nos aparentando uma bonita paisagem apenas e uma porção de diálogos insossos com o grande elenco pouco inspirado. Sem dúvidas, uma das grandes decepções do ano.

Na trama, conhecemos a famosa atriz francesa Françoise Crémont, para os amigos íntimos Frankie (Isabelle Huppert), que resolve se refugiar na belíssima cidade de Sintra, em Portugal, chamando amigos e conhecidos de seu ciclo mais próximo para passar com ela seus últimos momentos, já que a protagonista está com uma doença que avança diariamente. Assim, conhecemos, entre outros, seu atual marido, o ex-marido, seu filho, sua enteada e uma velha amiga que ela tenta de todas as formas que fique com seu filho. Conforme os dias vão passando Frankie possui momentos de diálogos sobre a situação dela com a maioria desses personagens.

Um dos defeitos desse projeto é nunca conseguir alcançar seu clímax com força, na verdade até mesmo chegar no clímax acaba não conseguindo, se tornando tedioso assistir a uma série de diálogos que não se encaixam nos guiando a belas paisagens apenas. É como se estivéssemos assistindo a um daqueles programas de viagens turísticas que passam de madrugada na televisão, ou, aquele time de futebol que tem o domínio da bola, toca e toca mas não consegue chutar no gol. As subtramas também não ganham seu devido valor, deixando os potenciais coadjuvantes sumidos atrás dos desejos de manipulação da protagonista. Uma grande decepção, em muitos sentidos.

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14/04/2020

Crítica do filme: 'Borrowed Time'


As dores de traumas do passado em um ambiente hostil e cheio de melancolia. Um dos indicados ao prêmio de melhor curta de animação do Oscar de 2017, Borrowed Time utiliza a técnica de animação para dar luz a uma história que fala sobre como um momento pode guiar toda uma vida. Escrito e dirigido pelo trio da Pixar Andrew Coats, Lou Hamou-Lhadj e Mark C. Harris, o faroeste curtinho é um dos bons curtas de animações dos últimos anos.

Na curta trama, acompanhamos em rápidos dois tempos a história de um jovem e seu pai xerife que ao passar por uma situação de risco o segundo acaba morrendo nas mãos do filho. De volta ao mesmo lugar onde tudo ocorreu muitos anos mais tarde, o filho, agora velho e que seguiu na carreira da lei também, precisa enfrentar seus traumas do passado.

Profundo e bastante humano. No universo de conjuntos das leis as emoções são muito intensas e traumas viram pesadelo que podem percorrer durante anos. Essa relação de perda entre filho e pai nos leva a questionar valores e situações, quando há mais pingos de consequências para qualquer ato principalmente quando pensamos no perdoar, no sem querer. A mágoa com o ex-momento o leva a tal das segundas chances, onde alguns conseguem atravessar a ponte do sentido daquilo tudo que viveu. Borrowed Time é bruto em sua essência mas necessário para muitas almas.

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Crítica do filme: 'Pearl'


Impressionante como em 6 minutos dizem tanto sobre quanta coisa para muita gente. Escrito e dirigido pelo cineasta Patrick Osborne (que antes trabalhara na equipe de animação de Big Hero e O Avião de Papel), Pearl é comovente do primeiro ao último minutinho. Profundo em apresentar a relação de carinho e afeto entre pai e filha, o projeto consegue levar o espectador a uma road trip de amadurecimento e quando precisamos abrir mãos de nossos sonhos a favor de uma causa maior. Maravilhoso projeto indicado ao Annie Award de melhor curta animado e na mesma categoria no Oscar de anos atrás.

Na curta trama acompanhamos um pai músico independente e sua filha que atravessam cidades dentro de um carro antigo fazendo pockets shows pelas esquinas. A menina cresce, se torna adolescente e o pai vê a necessidade de ter um emprego fixo e mudar totalmente sua vida para dar mais chances para sua filha no futuro. A garota cresce e os sonhos esquecidos se tornam reais através de outros olhos.

As cores do filme preenchem para o espectador as emoções e os momentos, curioso perceber que quando estão dentro do carro as cores viram quase uma só reforçando o elo de amor e carinho dessa família de dois. Com poucos diálogos, conseguimos entender tudo pelo coração, principalmente as partes dos sonhos distantes e o recomeço pelo outro. O carro, valor mais importante desse elo, tem valor emocional, ele começa e terminar essa história que fica pra sempre em nosso coração cinéfilo.

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13/04/2020

Crítica do filme: 'A Volta por Cima'


Como conseguir ritmo e cenas com mensagens dentro de um caos camuflado de clichês? Mal ranqueado no imdb (fato que influenciam alguns cinéfilos) o filme francês A Volta por Cima é um baita achado para quem gosta de se divertir e perceber profundidade sociais características dos novos tempos nas entrelinhas. Escrito e dirigido pela dupla Remy Four e Julien War o projeto consegue tirar risos das situações menos inusitadas possíveis e com emblemáticos pontos quando pensamos na trajetória e inconsequências dos personagens principais.

Na trama, conhecemos, Jonathan (Jérôme Niel) e Pierre (Ludovik Day), dois amigos de longa data, bem sucedidos que descobrem uma comemoração da turma que estudaram quando criança e sofriam bastante bullying. Agora de bem com a vida, resolvem ir até esse encontro para se gabarem de seu presente mas acabam esquecendo que surpresas podem ocorrer quando se há um reencontro depois de muito tempo e obviamente nada sai como o esperado deixando a dupla em situações onde precisarão tomar decisões rápidas para se sentirem bem.

Todo o entorno do esqueleto do roteiro de A Volta por Cima já foi visto e revisto diversas vezes em muitos outros filmes, europeus ou não. A questão do bullying, a questão do ‘antes e depois’, reunião de amigos da escola, etc. A fórmula nesse caso funciona bem por conta da trivial profundidade que se dá através dos atos dos protagonistas e de tudo que acaba girando ao redor dessas atitudes. Assim como muitos do lado de cá da telona, Jonathan e Pierre através do seu esforço e dedicação, buscam uma certa vingança pelo sofrimento e traumas do passado mas acabam entrando em uma jornada onde esquecem um pouco quem são, e somente mais pra frente, ficam em conflito quando vestem de vez a camisa do que são como pessoa.

Lançado em agosto do ano passado na Netflix, esse pequeno tesouro está escondido na poderosa do streaming. Se você quiser se divertir, não perca seu tempo e assista a esse filme, um filme com alta sensibilidade camuflado de pipocão.  

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Crítica do filme: 'Um Amor, Mil Casamentos'


Algumas reviravoltas que matam a experiência do espectador. Um Amor, Mil Casamentos, novo filme no catálogo da Netflix nesses tempos de pandemia tanta causar riso adotando a fórmula de Morte no Funeral (o original principalmente) mas que se perde totalmente após uma inusitada rebobinada que joga fora toda o primeiro arco. A partir daí tudo se desmonta e contamos os minutos acabarem lentamente como um grande sofrimento que nossos olhos estão sendo testemunhas. Dirigido pelo cineasta britânico Dean Craig (roteirista de Morte no Funeral), o filme bate na tecla da repetição e dos clichês se tornando mais um filme esquecível.

Na trama, conhecemos Jack (Sam Claflin) um jovem engenheiro estrutural beirando aos 30 anos que durante uma passagem pela Itália para visitar sua irmã, acaba conhecendo Dina (Olivia Munn) e se apaixona mas a despedida deles não foi como a esperada. Anos mais tarde, o protagonista está de volta à Itália para, agora, o casamento da irmã e tem a chance de reencontrar esse provável amor, só que outras subtramas e outros excêntricos personagens aparecerão para transformar tudo em uma grande confusão. O filme conta com uma peculiar rebobinada que mexe bastante nos rumos de todos.
 
Será que o sonho de todo roteirista é driblar os clichês e analogias óbvias com outros filmes? Acredito que não, porque, como todos sabem, cinema é uma indústria e agradar a parte do público com risadinhas e momentos tragicômicos limitados acaba virando receita de bolo de muitas produções ao longo de todos os anos. Em Um Amor, Mil Casamentos o filme começa de uma forma e seu desenrolar se perde completamente deixando claro e evidente a falta de carisma dos personagens e muita falta de força cênica. Tudo é extremamente forçado, com ritmo descontrolado munidos de caras e expressões de espanto/cômicas.

Sem pretensão em tentar ser um bom filme a mais do que um tipo de público, as limitações são migalhas reunidas desde o primeiro minutos até o sonolento desfecho. Abordar ações e consequências em ‘estradas’ diferentes são para poucos, talvez se adotassem a fórmula do ponto de vista seria mais certeiro. Fora que, em minutos momentos parece uma cópia muito mal feita de Morte no Funeral. Isso incomoda que pesca as referências.

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Crítica do filme: 'Confissão de Assassinato'


As verdades que aparecem através da paciência. No seu segundo longa-metragem como diretor, no ano de 2012, o cineasta sul-coreano Byung-gil Jung (que depois realizaria o bom filme A Vilã, em 2017) reuniu tudo de excelente em técnicas cinematográficas dentro de um roteiro assinado por ele e a dupla Won-Chan Hong e Dong-kyu Kim, culminando em um filme de suspense, com uma genial reviravolta onde o espectador não consegue desgrudar os olhos durante as quase duas horas de projeção. Um projeto impactante que marca mais uma vez uma excelência do cinema sul-coreano de reconhecimento mundial.

Em Confissão de Assassinato, Nae-ga sal-in-beom-i-da no original, somos apresentados a um detetive chamado Choi (Jae-yeong Jeong em grande atuação) que há 17 anos atrás deixou escapar um serial killer, responsável pela morte de no mínimo 10 mulheres em uma grande cidade da Coreia do Sul. Sempre incomodado como a forma que ocorreu o desenrolar dessa história, certo dia, Choi é surpreendido por um homem chamado Lee Du-seok (Shi-hoo Park) que publica um livro chamado Confissão de Assassinato onde assume as responsabilidade dos crimes cometido 17 anos atrás. Virando uma celebridade instantânea e protegido pelas leis coreanas de crimes prescritos após esse período de distância entre as mortes e seu reaparecimento, Lee Du-seok confundirá a cabeça do detetive, ainda mais quando uma terceira pessoa entre na história alegando ser o verdadeiro assassino.

Não é à toa que o cinema sul-coreano detém mais de 60% da bilheteria em seu país faz mais de um década. Não perdem em nada a maioria dos filmes feitos ao redor do planeta. A qualidade é impressionante e parece que a cada nova geração de realizadores sul-coreanos a margem de satisfação dos cinéfilos só aumenta. Em Confissão de Assassinato, filme do início da década, nada é o que aparenta ser e esconder esses segredos do público é algo muito difícil mas que, nesse caso, é feito com bastante maestria. Além do esqueleto do roteiro e seus background bem definidos, há pitadas de crítica em relação a imprensa e ao entendimento da situação pelo público já oriundo dessa onda de massificação instantânea das ‘pseudocelebridades’.

Se você leitor, curte filmes empolgantes, surpreendentes e muito bem filmados, você não pode perder esse excelente projeto que, a não ser que eu esteja enganado pois estou puxando de memória sem pesquisar, nunca chegou ao circuito brasileiro de exibição. Um absurdo tamanho e pior que isso acontece com frequência, principalmente com os filmes orientais. Porque será? Falta de visão das distribuidoras? Falta de faro cinéfilo? Sim, entre outras questões.

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11/04/2020

Crítica do filme: 'The Way Back' (O Caminho de Volta)


As segundas chances para quem precisa e as oportunidades diferentes que a vida oferece. Com um background bem definido falando sobre o alcoolismo, The Way Back é um poderoso drama que dribla os clichês com bastante proximidade com a realidade, fruto de uma interpretação bastante honesta do intérprete do protagonista, Ben Affleck, sem dúvidas, um dos seus grandes trabalhos na carreira. Dirigido pelo cineasta nova iorquino Gavin O'Connor (O Contador) e roteirizado por Brad Ingelsby (Tudo por Justiça) essa grata surpresa é mais um dos lançamentos desse ano que vão direto para plataformas digitais por conta da crise dos cinemas pela pandemia que o mundo atravessa.

Na trama, acompanhamos o desiludido, deprimido, alcóolatra, ex-astro dos campeonatos de basquete do high school na década de 90 e atualmente trabalhador de obras Jack (Ben Affleck). O protagonista passa seus dias entre um gole e outro, tendo uma relação bastante explosiva com sua irmã e um distanciamento da ex-esposa. As coisas parecem tentar mudar para Jack quando seu telefone toca e uma inesperada oportunidade de treinar um time de basquete de um colégio onde estudou aparece. Mas problemas do seu passado voltam a atormentar e o personagens trilhará um caminho complicado em busca de uma luz no fim do túnel.

Com arcos bem definidos, fica claro desde o início que o foco é o protagonista e as analogias do ganhar ou perder se tornam escancaradas aos olhos cinéfilos, sendo nos jogos de seu novo time, ou, seja nos caminhos espinhosos de dramas inesquecíveis de seu passado. Jogando com essa variável das emoções congeladas no tempo a construção desse complicado protagonista é feita com muita honestidade por Affleck, o trabalho corporal, inclusive, é muito visível.

Muito mais do que vencer partidas como treinador de um time de jovens, Jack busca encontrar um real sentido para sua vida após uma perda irreparável e o abismo de um vício terrível que assombra milhares de pessoas mundo à fora.

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Crítica do fime: 'Vivarium'


As impossibilidades de viver em uma loucura e a insanidade de um argumento que não existe. Em seu segundo longa como diretor, o cineasta Lorcan Finnegan consegue reunir toda uma insana trama, jogar dentro de um processador críticas sociais, no que vale a intimidade de um casal, e, como cereja do bolo, uma série de cenas sem pé nem cabeça fazendo o espectador perder mais de uma hora e meia do seu precioso tempo. Tudo dá errado em Vivarium!

Na trama, conhecemos Gemma (Imogen Poots) e Tom (Jesse Eisenberg), um jovem casal que vive feliz seu dia a dia. Eles estão na fase de morarem juntos e assim decidem irem procurar alguma imobiliária que os atraia. Passando após o trabalho em uma específica, entram e logo são envolvidos pelo agente imobiliário para visitarem naquele mesmo dia a residência. Chegando lá, a surpresa! Um imenso condomínio com todas as casas iguais e onde nada é o que parece, principalmente na hora de tentar ir embora.

Depois de estrear no Festival de Cannes ano passado, e um dos filmes transferidos da janela cinema para o streaming por conta da pandemia desse ano, Vivarium é o tipo de filme que ou você ama ou você odeia. É uma trama muito complicada de explicar sem causar spoilers mas podemos afirmar que a excentricidade rola solta e o espectador fica a todo tempo tentando buscar referências/argumentos para o que capta na tela. Tentando ir a fundo na questão existencial de um casal, o filme passa por metáforas recriadas do absurdo e seus desenrolares.

Olha, tá pra existir um filme mais louco do que esse nesse século. As peças não se encaixam, a direção é fraca, tudo é muito artificial. Nada faz sentido quando você abre a ótica fora relacionamento entre o casal e os atritos dentro do imaginário mundo criado. Você se sente jogando The Sims com extensão em filmes de terror a todo tempo. Uma perda de tempo.

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