“Quem foge da saudade preso por um fio, se afoga em outras
águas mas no mesmo rio.” Citando parte da linda canção “Saudade” do gênio
Paulinho Moska, começamos esse humilde artigo que fala sobre um sentimento
intenso, vivido a cada segundos por muitos de nós que tem em sua casa o vazio.
Para tal, não existe cura, não existe explicação. Esse sentimento vira mais
doloroso ainda quando estamos com saudade de alguém que amamos e por forças do
destino, erros irreparáveis, falta de sorte, imaturidade, infantilidades,
entendemos que não há volta, assim, deixamos que o beijo dure, deixamos que o
tempo cure. Para ajudar a superar, o cinema pode ajudar.
O mundo do cinema no presenteou com inúmeras obras que falam
sobre essa tal de saudade. Choramos, torcemos mas nem sempre as histórias
terminam com um final feliz. A primeira coisa que a pessoa pensa quando está em
um momento vulnerável é: “não posso ver esse filme de drama pois ele vai me
derrubar!” Mas nem sempre isso é uma boa saída. Ver, sentir, entender os
sentimentos e pontos de vista de outras histórias parecidas com a sua, pode ser
uma bela saída para você enfrentar de queixo erguido toda essa tempestade.
Abaixo, 10 filmes que podem te ajudar a entender sua saudade,
mesmo sabendo que essa é um eterno filme em cartaz.
10) Todas as Canções
falam de Mim
Quanto mais vasto o tempo que deixamos para trás, mais
irresistível são os pensamentos que nos convidam ao retorno. Passando pelo
Brasil como um foguete, no já distante ano de 2010, o maravilhoso filme Todas
as Canções Falam de Mim dirigido pelo espanhol Jonás Trueba, é uma
jornada amistosa que fala sobre a palavra que não existe tradução em muitos
outros idiomas, a saudade. A química que os atores Oriol Vila e Bárbara Lennie
provocam em cena pode ser comparada com a que Julie Delpy e Ethan Hawke
conseguem na trilogia amorosa de Richard Linklater.
Todas as Canções Falam de Mim chama a atenção de qualquer alma
sensível por conta deste título maravilhoso. Mas o filme é muito mais que isso.
É uma visão madura sobre a reconquista de um amor. Entre citações de grandes
romancistas e músicas que confortam qualquer coração ansioso para amar
novamente, o espectador é premiado com uma história sobre duas almas muito mais
comuns na vida real do que no mundo mágico do cinema. Se você viveu ou vive
alguma história parecida, ao final do filme escute seu coração. Quem sabe essa
história não era o combustível que faltava para você reconquistar um grande
amor?
O que esse filme
ensina: Se você ainda ama alguém, LUTE POR ESSE AMOR! CORAGEM! Escreva um
livro, um artigo, poste canções para ela. Nunca deixe de acreditar.
09) Ela
Se apaixonar é uma forma socialmente existencial de
insanidade? Depois de apresentar ao mundo uma versão peculiar da tristeza por
meio de metáforas e universos inimagináveis, no longa-metragem Onde
Vivem os Monstros, o diretor norte-americano Spike Jonze volta aos
cinemas, quatro anos depois, com um projeto audacioso que fala sobre o
diferente relacionamento no futuro entre um homem e uma máquina, Ela. Com muita
suscetibilidade aplicada nas ações dos personagens, o famoso diretor precisava
de um ator completo para executar o complexo protagonista. E acreditem, não
havia escolha melhor do que Joaquin Phoenix. O porto-riquenho de 39 anos
conquista o público, já nos primeiros segundos, com um maravilhoso monólogo.
É muito difícil perder alguém que a gente gosta. Aos poucos o
protagonista começa a entender que amar também é deixar ir embora. A melancolia
do personagem é maravilhosamente bem interpretada pelo ótimo ator Joaquin
Phoenix. Conseguimos sentir toda a tristeza, sentimentos e em certos pontos nos
identificamos. Muitas vezes com sua emblemática camisa de cor salmão, o
inteligente personagem, escrito por Jonze, tem um pensamento triste e constante
de que já sentiu tudo que deveria sentir na vida e não sentirá nada de novo, só
versões menores do que um dia já viveu. Sair dessa melancolia, sem a ajuda do
Lars Von Trier, é uma caminhada muito bonita que acompanhamos atentos em cada
detalhe, cada atitude do personagem.
O que esse filme
ensina: O tempo te mostrará o caminho para curar a saudade, por mais que
machuque ficar longe de quem você ama.
08) À Procura do Amor
Escrito e dirigido pela cineasta norte-americana Nicole
Holofcener, À Procura do Amor é um filme de romance maduro e bastante sensível.
O excelente roteiro consegue captar todos os detalhes que o público precisa
para se familiarizar com a trama. Além disso, há um entrosamento fabuloso entre
os artistas em cena. Julia Louis-Dreyfus e James Gandolfini merecem todos os
elogios do mundo. Esse último deixa para seus milhares de fãs uma linda
interpretação nessa espécie de despedida do fantástico mundo do cinema.
Quando a idade chega, as chances de viver uma linda história
de amor fica cada vez mais rara. A protagonista entre nesse furacão emocional e
incrivelmente apresenta uma imaturidade incomum, tomando uma série de atitudes
equivocadas. A personagem principal é muito bem construída por Julia
Louis-Dreyfus. Insegura, infeliz, gosta de tricotar e possui uma amizade
maternal com a melhor amiga da filha.
Seus altos e baixos são vistos com os olhos atentos do público que
percebe as desconstruções de personalidade ao longo da fita.
Esse, é um daqueles trabalhos que de tão sensível, passamos
a torcer pelos personagens. Mesmo com as dores do passado, o medo de seguir e
confiar no outro novamente, aos poucos a sabedoria e a experiência vão virando
antídotos para curar aos que se machucaram. Sentados nos degraus de uma simples
casa no subúrbio, confidências, carinhos, risos e esperança deixam o espectador
decidir qual será o final dessa história.
O que esse filme ensina: Nunca feche as portas de seu coração mesmo se ele
ainda estiver muito machucado.
07) Azul é a Cor Mais
Quente
E vem da terra de Godard o filme mais quente deste ano, Azul
é a Cor mais Quente. Dirigido pelo tunisiano Abdellatif Kechiche, ganhador da Palma de Cannes neste ano, o drama
francês é uma excepcional e comovente história recheada de diálogos árduos,
cenas picantes e uma inteligente análise dos sentimentos humanos, feita de
forma transparente, real e bastante atual. O longa metragem é provocante,
chocante e ao mesmo tempo apresenta contornos dramáticos em forma de gestos de
ternura e carinho de suas personagens. Esse é um filme que ficará na sua
memória por muito tempo.
A construção da protagonista é maravilhosa, em certo momento
do filme, motivada por inseguranças e ciúmes, a personagem enfrenta uma crise
existencial. Admiradora de Kubrick, Scorsese e do cinema norte americano Adèle
se constrói e desconstrói durante os 180 minutos de fita. Na primeira fase da
história, confusa e com desejos reprimidos sofre pressão do grupinho de amigas
que faz parte. Já na segunda fase, mais
madura e completamente apaixonada, precisa enfrentar as dores de um amor que
nasceu de forma bonita e se encaminha para um desfecho melancólico por conta
das atitudes inconseqüentes da própria personagem.
As conversas em alto nível intelectual vão agradar o
público. As amantes dão um show de conhecimento das artes argumentando sobre
quadros de Picasso e conversando sobre teorias de Sartre. Os cinéfilos são
abençoados com duas grandes interpretações. Todos os prêmios do mundo para as
atrizes Léa Seydoux (Adeus, Minha Rainha) e Adèle Exarchopoulos. Vocês não
podem perder esse lindo trabalho. Um dos melhores filmes do ano, sem dúvidas!
Bravo!
O que esse filme
ensina: Vive intensamente todos os dias com seu amor, você nunca sabe o que
pode acontecer. Na hora da saudade, se abrace nas coisas boas que viveram
juntos. Não cura mas ajuda a continuar vivendo.
06) O Último Amor de
Mr. Morgan
O quão triste é perder alguém? Escrito e dirigido pela
cineasta alemã Sandra Nettelbeck – que tirou leite de cabra da atriz Ashley
Judd (Invasão à Casa Branca) no excelente filme Helen (2009) - O Último Amor de
Mr. Morgan é um filme, vale dizer, sensível. Quem possui qualquer tipo de
relação conturbada com seu pai terá suas estruturas abaladas. O vulnerável
protagonista, interpretado brilhantemente pelo britanico Michael Caine (Truque
de Mestre), guia o espectador pela força
que as imaginárias lembranças de sua falecida esposa tem sobre ele. Assim,
somos jogados em um mar dramática cheio de emoções a todo instante.
O filme, um pouco mais forte do que um copo de água com
açúcar, é o retrato de muitas relações familiares. Lindas paisagens, de uma
França moderna e nublada, é o cenário escolhido da complexa relação que Mr.
Morgan possui com o mundo, sem sentido, em que vive. Pauline acende uma chama
de esperança mas a chegada do que restou de sua família acaba ganhando
contornos dramáticos, já no meio do longa-metragem, o que só faz crescer a
expectativa do público sobre como acabará essa história.
O desfecho gera opiniões diversificadas, pois o personagem
torna-se carismático aos olhos do público que torce para um final feliz. Qual o
sentido de vida que o personagem busca? Qual o último amor de Mr. Morgan? As
respostas podem surpreender você, afinal, poucas coisas são mais deprimentes do
que cabides velhos.
O que esse filme
ensina: Você deve guardar a saudade no cantinho do seu coração. Não deve
perder a oportunidade quando a mesma bate na porta. Mas entendo quem pensa que
a saudade é maior que qualquer nova oportunidade. Eu entendo.
05) Vulcão
Como reconstruir quando você só destrói? Falando sobre a
busca da felicidade de um homem, o jovem cineasta islandês Rúnar Rúnarsson – em
seu primeiro longa metragem - transforma um conflito pessoal em uma obra
de arte. Vulcão é o tipo de filme que você nunca ouviu falar mas
que certamente vai querer debater sobre ele.
Theodór Júlíusson – o ator que interpreta o protagonista da história
- tem uma atuação fabulosa. Não perde um segundo o foco de seu difícil
personagem, o que facilita a exposição dos conflitos para o espectador.
Toda a dor, angústia, aflição, insegurança e desespero são mostrados com
uma verdade que impressiona. A todo instante, o público interage com a trama e
sai do cinema sem saber se Hannes é o vilão ou o mocinho dos fatos.
A cena mais importante da película, a do travesseiro, expõe
o tão longe do seu limite emocional o protagonista ja se encontrava. A dor dá lugar
à compaixão, podemos interpretar não como uma despedida mais um ato de socorro
de quem quer recomeçar mais escolheu muito tarde essa opção. É uma parte
tocante, uma espécie de clímax desta dramática história. Diretamente das lindas
paisagens geladas da Islândia uma pérola cinematográfica brota. Vejam, não há
como se arrepender. Fabuloso. Bravo!
O que esse filme
ensina: Não deixe de amar ao próximo nem um segundo por dia. Quando esse
próximo vai embora, nossa saudade tem que ser sustentada por momentos maravilhosos.
Se você assistir a esse filme com alguém que ama, certifique-se que ele não
seja o último filme que viram juntos. É aterrorizante ter esse fato preso
dentro de seu coração, mesmo que o filme seja maravilhoso.
04) Elena
"Elena, sonhei com você essa noite." Falando sobre
um dos sentimentos mais sinceros e profundos, Elena é mais do que um
documentário família. O projeto dirigido pela cineasta Petra Costa é um retrato
delicado sobre a saudade. A diretora revive memórias tristes e distantes de sua
irmã, Elena Costa, que cometeu suicídio
na década de 80 nos Estados Unidos.
Elena conheceu Coppola, dançou em muitos ritmos, se jogou na
difícil carreira de atriz. Porém, como em toda vida, nem tudo era perfeito.
Quando a solidão se une à desilusão percebemos a desistência de um coração
triste. Elena vivia em conflito, completamente sem direção. As dificuldades da
profissão foram aos poucos derrotando a jovem artista nos levando a um desfecho
trágico que mais parece um desabafo profundo, uma necessidade constante de
respirar.
Um documentário muito parecido com os filmes metafóricos de Mallick. Aperta o coração em alguns momentos e tenta camuflar a dor de forma bela. Busca que o público também encontre algum alívio para o que vê nas pequenas brechas da poesia. Reúne o passado e o presente de forma inteligente mas longe de ser linear. A trilha sonora é empolgante, joga o publico para dentro de todo aquele drama. Profundo e inesquecível, um documentário que beira ao espetacular. Você precisa conferir essa experiência. Bravo!
Um documentário muito parecido com os filmes metafóricos de Mallick. Aperta o coração em alguns momentos e tenta camuflar a dor de forma bela. Busca que o público também encontre algum alívio para o que vê nas pequenas brechas da poesia. Reúne o passado e o presente de forma inteligente mas longe de ser linear. A trilha sonora é empolgante, joga o publico para dentro de todo aquele drama. Profundo e inesquecível, um documentário que beira ao espetacular. Você precisa conferir essa experiência. Bravo!
O que esse filme ensina:
Nunca esqueça alguém que foi importante para sua vida. Faça homenagens,
compartilhe os bons momentos principalmente quando a saudade bater.
03) O Abismo Prateado
Quando chega a hora de sair do conflituoso cotidiano. No
novo trabalho do diretor Karim Ainouz (O Céu de Suely) passeamos pelas ruas
de Copacabana acompanhando um desespero de um alguém surpreendentemente
abandonado tentando encontrar respostas, porém, perdida em um mar de solidão
sem fim. A proposta do filme, baseado em uma letra de Chico Buarque, é bem
franca, detalhar o desespero da não aceitação de um término matrimonial.
Abismo Prateado é praticamente um monólogo de Negrini.
Conhecemos a história pelos olhos e aflições de sua personagem. A bela atriz
consegue levar o filme para um lugar interessante deixando o conflito ser
discutido e opinado pelo espectador. A câmera do diretor tenta captar toda
aquela inconstância muito bem exemplificada na dança frenética e desesperante
estilo Flashdance, na cena da boate, que mostra também um lado cinéfilo do
personagem, da atriz ou do diretor.O longa tem uma pegada européia. O roteiro,
que possuía uma dificuldade enorme por ser uma adaptação de uma letra de
música, não apresenta graves problemas. Se justifica na construção do
personagem.
O que esse filme ensina:
Para tornar possíveis mudanças profundas em nossas vidas, por mais que a
saudade bata o tempo todo, você tem que estar certo de sua decisão. Qualquer dúvida
haverá um sofrimento em dobro.
02) Era uma vez Eu, Verônica
É possível viver uma vida em conflito? Dirigido pelo
elogiado diretor Marcelo Gomes, Era uma vez eu, verônica é um longa que possui
pensamentos fortes, impactantes. A cena inicial é profunda, nua e exposta,
ligando-se aos instintos e aos êxtases daquele momento. Paciente de si mesmo, a
personagem principal vai se tornando complexa, sem dependência ao romance; sexo
vira só sexo. O filme a toda hora parece que vai cair em um vazio existencial,
mas consegue, seja em um bom diálogo ou em uma frase que faz muito sentido,
suprir e apresentar razões para todos os conflitos que vemos e sentimos.
Louvável a entrega da protagonista Hermila Guedes (do
excelente O Céu de Suely). Suas expressões e a transmissão das emoções para o
público são os pontos altos dessa ótima atuação. O filme é todo de sua
personagem, seu dia a dia é ouvir os problemas dos outros e tentar uma solução
para os seus próprios. Mas quem a escuta? Como fica refém de si mesmo, somos
jogados na história por um ritmo que é ditado por pausas existenciais,
ressaltando de uma outra forma a essência daqueles bons diálogos. Depois de
alguns acontecimentos, há uma transformação da personagem, rumando para uma
tentativa de viver um amor e a confiança no novo trabalho.
"Tá tudo padronizado em nosso coração". A trilha
sonora é cirurgicamente bem entrosada com a erupção de sentidos que observamos.
Não é um filme fácil de digerir. A liberdade dos corpos nos apresenta a
importância dos sentidos para a protagonista. Como é algo muito particular, o
público pode sentir dificuldade de entender algumas passagens - porém, não pode
deixar de conferir esse ótimo filme nacional. Bravo!
O que esse filme
ensina: Para ser feliz precisamos entender muito bem a nós mesmos. As
pessoas medrosas giram e não saem do lugar onde vivem. Lute pelo seu amor!
01) Celeste e Jesse –
Para Sempre
Com uma abertura trivial mas criativa Celine e Jesse – Para Sempre
dava a entender que seria mais um filminho bobinho sobre casais e seus
problemas amorosos afetivos. Bem, se enganará quem pensar assim. O novo
trabalho do cineasta Lee Toland Krieger é um drama com pitadas de humor mais
profundo do que parece a princípio. Existem histórias de amor ‘cult’ comuns e
outras apenas ‘light’, essa fita se encaixa eu todas essas características pois
tem um roteiro maduro que transforma os personagens ao longo da fita.
Na trama, conhecemos a relação de divórcio esquisita entre
ex-pombinhos Celine e Jesse que estão se separando mas vão juntos a todos os
lugares, fora as brincadeirinhas infantis típico de muitos relacionamentos.
Celeste é uma mulher bonita, inteligente que é analista de tendência e possui
uma empresa de marketing. Já Jessie é um designer que não gosta muito de
trabalhar e adora ficar em casa, abrindo
salgadinhos embalados e chorando vendo os ‘Vt’s’ das olimpíadas de Pequim. Com
o passar do tempo e com novas pessoas circulando na vida social da dupla,
perguntas e muitos conflitos vão começando a se formar. Ao subestimar a relação
de anos em que vivia Celeste aos poucos percebe que cometeu um erro e tenta
consertá-lo a todo instante. Entre um encontro e outro o espectador fica com um
leque aberto de opções para chegar até o desfecho.
O que esse filme
ensina: Há amor onde menos esperamos. Às vezes não sabemos porque amamos,
porque sentimos saudades. Temos que seguir em frente mas sempre lembrando do filme
mais bonito que já vimos, o amor da realidade.