A roda gigante entre a responsabilidade e o sonho. Selecionado para a Mostra de Tiradentes 2021, o longa-metragem Mirador conta a estrada percorrida por um lutador, em muitos sentidos, que precisa reajustar seu destino em uma nova jornada de vida pois agora precisa ser o responsável pela filha em tempo integral após a mãe da criança sumir do mapa. Buscando reflexões para a situação, parecida com muitos do lado de cá da telona espalhados pelo Brasil, o projeto dirigido por Bruno Costa é um drama existencial, profundo em muitos momentos. Belo trabalho, do Paraná para o Brasil.
Na trama, conhecemos Michael (Edilson Silva), um rapaz batalhador de trinta e poucos anos, vindo
de Pernambuco para o sul do país anos atrás. Entre um bico e outro, envolve seu
cotidiano juntamente com os treinamentos para uma eventual competição no Boxe,
uma de suas grandes paixões. Ele tem uma filha chamada Malu. Certo dia, quando
a mãe da menina some do mapa, Michael precisa aprender muitas coisas para criar
sua filha.
Um dia a dia de batalha. O paralelo entre o ringue (boxe) e
as duras batalhas da vida é ótimo, gera reflexões de várias maneiras, dentro do
foco: a paternidade. O protagonista entra em construção muito bonita, após
buscar se desconstruir da figura do pai que só vê a filha as vezes. Com seu
cotidiano sendo afetado vemos uma luta constante dele para dar o seu melhor, sem
desistir da vida, encontrando forças no amor e carinho pela única filha. A situação
abandono de uma criança pela mãe (ou pai) não é fato raro infelizmente, sempre
há notícias sobre o assunto nos noticiários.
As dificuldades legais na inscrição da creche da filha,
problemas com o conselho tutelar, com quem deixar a criança para ir trabalhar,
várias ótimas questões são levantadas pelo roteiro. Mirador merecia ser visto
no cinema com debates após as sessões. De lição ganhamos que a verdadeira luta
do protagonista, um homem honesto e trabalhador como muitos de nós é vencer a
batalha da vida ao lado de sua filha.