A visão de um contexto que todos nós conhecemos. Exibido no Festival É Tudo Verdade de 2021, o documentário Alvorada, de Anna Muylaert e Lô Politi, apresenta em forma quase de memórias, registros, de uma situação poucas vezes vistas em nossa história. Golpe? Absurdo? Inconstitucional? Assistimos ao impeachment da presidente Dilma Rousseff visto pelo olhar dos que circulam por dentro da residência oficial dos presidentes brasileiros. Você leitor recebe mais alguns argumentos, mesmo que de forma nada explícita, na superfície, através da arte, do cinema, para chegar as suas próprias conclusões. As reflexões sobre a fragilidade da maldade chegam já no contexto final, talvez a parte mais profunda de um projeto que poderia contextualizar muito mais sobre a decisão de tirar da presidência a única mulher da história a chegar nesse posto.
Discutir sobre política no Brasil virou algo estressante e
muitas vezes até perigoso, já tivemos mostra de alguns exemplos de radicalismo (de
ambos os lados). Mesmo não mostrado nesse projeto, uma alta polarização é nítida
desde lá até agora, dos bastidores da velha política os gritos a favor ou
contra Dilma tomando conta das ruas. Em abril de 2016 se instaura por meio da
câmara dos deputados do Brasil, o início do processo do impeachment da presidente
Dilma Rousseff. Logo após, em maio, ela é afastada, assim chegamos ao epicentro
desse documentário, esse retrato, recorte, que busca os detalhes das últimas
horas de esperança no veredito do senado. Dilma passa a maior parte desse tempo
no palácio da Alvorada.
Entre assessores e políticos que passam pela Alvorada, vale
a atenção do público para a aflição dos funcionários e de todos que são
próximos dela mas não são políticos. Outro detalhe importante é que em meio a
conturbados momentos nos discursos argumentativos, e, às vezes, técnicos sobre
sua defesa, volta e meia a própria Dilma pede para não gravarem determinados
diálogos. Sobre curiosidades, vemos diálogos da presidente sobre música,
inclusive relembra uma passagem quando estava presa onde uma outra prisioneira a
ensinou sobre o tango pois tinha toda a coleção de Gardel; também sobre
literatura, história. Porém, acaba falando pouco sobre si mesma deixando apenas
como foco principal o registro de uma página complicada e polêmica na história
do Brasil.