A solidão e o despertar. Uma reunião familiar para o natal vira o palco para relações deterioradas pelo tempo, por atitudes repetitivas aos olhos de uma protagonista amargurada, muitas vezes com o olhar perdido, como se não pudesse controlar o tempo que se passou. Vencedor de cinco Kikitos e uma menção honrosa no Festival de Gramado, o longa-metragem Tia Virgínia, escrito e dirigido por Fabio Meira joga pra escanteio a melancolia de escolhas no passado para trilhar a estrada do se reinventar.
Na trama conhecemos Virginia (Vera Holtz), uma mulher solteira, que nunca teve filhos ou se
casou, que cuida da sua mãe de quase 100 anos em uma casa confortável. Ela está
prestes a receber a visita das duas irmãs, o esposo de uma delas e alguns de
seus sobrinhos para comemorarem juntos aquele que pode ser o último natal da
mãe já bem debilitada. Ao longo de memórias da família, situações que beiram ao
constrangimento, Virgínia passa esse dia prestes a perceber que é a hora de
realizar tudo aquilo que sempre sonhou, entrando em conflito com quem quer que
seja.
A narrativa nos joga para dentro de desabafos, desilusões,
escolhas de integrantes de uma família com um jogo de olhares fixados em
Virginia, a única solteira e a escolhida pra cuidar da mãe. Igual a muitos
lares, parece a vida real! Em 24 horas ali presa naquele lugar e com os mesmos
confrontos que chegam de quem tá do lado de fora, uma série de acontecimentos,
como se fosse um vulcão em erupção, a faz ver o filme de sua vida tomando de
loucuras o caminho que ainda falta. Mas será loucura mesmo desabrochar, tomar
coragem e ser feliz?
A câmera posicionada de forma fixa em muitos momentos
transformam nossos olhares em um personagem que acompanha tudo como se
estivéssemos com o buraco da fechadura em aberto. As reflexões da terceira
idade ganham moldes, o eventual rancor se mostra de forma madura acoplando num
despertar para a vida que sempre quis, isso tudo sob o plano de fundo impactada
pela belíssima trilha sonora assinada por Cesar
Camargo Mariano.
Tia Virgínia é um
atemporal peça de teatro sobre a vida, aqui numa versão cinematográfica. As
cores ganham força, a melancolia é apenas detalhada como transição, o futuro
pertence somente aqueles que conseguem se desprender daqueles olhares com tom de
repreender, ah, e o aprender não tem idade... o viver então...