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09/11/2024

Crítica do filme: 'Nascida para Você' [Festival de Cinema Italiano 2024]


Circulando com muita emoção a importância do amor para uma vida e preenchendo cada detalhe de uma história baseada em fatos reais, Nascida para Você joga para o centro das reflexões o sistema jurídico italiano e a caminhada da adoção que logo se estabelece como um importante debate para tudo que assistimos. A partir do desejo de ser pai e a luta persistente de uma advogada acompanhamos uma narrativa intimista que emociona do início ao fim. O projeto é dirigido pelo cineasta Fabio Mollo.   

Na trama conhecemos Luca (Pierluigi Gigante), um homem solteiro, homossexual, que trabalha fazendo um lindo trabalho em uma ONG para pessoas especiais. Ele tem o sonho de ser pai e quando é selecionado para tentar a adoção de uma recém-nascida com síndrome de Down, rejeitada por vinte famílias, enfrenta uma dolorosa batalha com o sistema judiciário de Nápoles.

A construção dos personagens é belíssima, Luca e seu desejo de ser pai nos leva até as camadas da expectativa por esse momento em um país que foi um dos últimos da Europa a aprovar a legalização de casais homossexuais. Assim, chegamos no seu entorno familiar, na relação com o namorado que logo estremece, nas vezes que desanima por conhecer os contextos frios do país que nasceu. A ponta de esperança chega com o auxílio de uma advogada querendo mostrar seu valor, uma mãe solteira.

Os holofotes se jogam para cima do sentimento mais profundo que existe: o amor. E aqui, a construção ganha dois alicerces: o lado da emoção gerada pela expectativa de um possível laço eterno e uma cansativa e por vezes angustiante batalha jurídica. A partir de um caso real ocorrido em 2017 na Itália conhecemos uma história que nos coloca de frente com as burocracias legislativas. Esse duelo com o tribunal é apresentado de forma objetiva - fugindo dos ‘juridiquês’ – onde logo se torna um dos méritos da obra: trazer reflexões e debates sobre um caso que se tornou emblemático na Itália.

Essa é uma história que nos faz refletir sobre a vida, sobre as relações mais profundas entre pais e filhos. Uma jornada de um homem que persiste em provar o que já era óbvio para um sistema de leis conservador e com o olhar obsoleto. Nascida para Você mostra a importância do cinema ao trazer assuntos importantes para debates e quem sabe gerar as mudanças necessárias para que o amor sempre vença.


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13/03/2024

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Crítica do filme: 'Eu, Capitão'


Contando a saga de dois jovens que vai do sonho de uma vida melhor passando por um enorme pesadelo sem fim na busca do objetivo, o longa-metragem Eu, Capitão, indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional nesse ano, é um profundo recorte cheio de temas atuais que nos faz refletir a todo instante. Dirigido pelo cineasta italiano Matteo Garrone o filme embarca em uma narrativa que relata muito dos conflitos dos nossos tempos se tornando uma história impactante sob o ponto de vista de refugiados e suas superações.

Na trama, conhecemos os primos Seydou (Seydou Sarr) e Moussa (Moustapha Fall), dois jovens senegaleses que resolvem fazer uma viagem de Dakar até a Itália em busca de seus sonhos. Só que essa jornada não será como ele imaginam, sofrem com os horrores da ganância humana, conflitos geopolíticos, esgotando as curtas margens de esperança mas também encontrando pelo caminho novas formas de entender o mundo.

Vencedor de alguns prêmios no Festival de Veneza, o filme coloca em seu principal holofote os valores da moral e a humanidade tendo como referência o olhar imaturo e até ingênuo de dois jovens que acabam descobrindo os horrores que os seres humanos são capazes durante a caminhada. Os dilemas se tornam constantes, continuar ou não continuar? É possível confiar com o pesadelo batendo na janela dos sonhos a toda hora?

A questão dos refugiados é amplamente debatida. Um refúgio num lugar seguro, uma premissa básica de quem sofre na sua terra natal, vai entrando em contraponto à políticas governamentais, pessoas maldosas que buscam se aproveitar da esperança alheia, esgotando a esperança e a transformando em lapsos entrando quase sempre em uma situação de sobrevivência. A história mostrada no filme se aproxima demais com a de milhares de outras pessoas que buscam outros países para chamarem de lar, por isso a importância do ponto de vista deles que aqui é brilhantemente retratado.

Eu, Capitão é um dos filmes mais impactantes da lista dos indicados ao Oscar desse ano. Um filme pra ver e refletir, uma brilhante narrativa que vai demorar a sair de nossas memórias.



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