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19/11/2024

Crítica do filme: 'Mia' [Festival de Cinema Italiano 2024]


O passo a passo de um desmoronamento familiar. Com um foco quase que total em um pai controlador e uma mãe perdida em como lidar com algumas situações que se apresentam, o longa-metragem Mia possui um clima angustiante, focalizando no limite das emoções uma gangorra de desespero apresentando os detalhes do antes e depois de um acontecimento trágico. Dirigido por Ivano De Matteo, esse forte drama aborda e reflete sobre relacionamentos tóxicos, as indescritíveis camadas da dor e a incapacidade de ajuda.

Na trama conhecemos Sergio (Edoardo Leo) um bondoso motorista de ambulância que vive com sua esposa Valeria (Milena Mancini) e a filha de 15 anos, Mia (Greta Gasbarri). Exigente e muitas vezes controlador, Sergio está sempre atualizado sobre a vida da filha. Um dia Mia conhece um jovem com quem passa a ter um relacionamento que logo se mostra tóxico. A partir desse ponto, a família passará por uma enorme tempestade que deixam em iminência uma tragédia.

Destrinchando relações entre três elementos do mesmo lar, percorremos alguns momentos na vida de uma família como se após a ultrapassagem de uma linha – entenda como um fato marcante – uma desconstrução acontecesse. Do amor ao desespero, com a culpa logo se tornando um elemento importante de uma equação sem solução, o projeto ruma para seu clímax com a tensão contínua marcado pela violência de muitas formas. O elenco é muito bom, grande harmonia em cena.

O apartamento onde moram se torna o cenário de uma transformação que liga os pontos do sofrimento. A direção de arte é muito bem feita, elementos em cena conversam com o abstrato dos conflitos que se estabelecem somatizando cenas impactantes e de confronto. A narrativa bem conduzida por Matteo apresenta cada detalhe e as verdades de um relacionamento tóxico e como isso atinge a todos os personagens. Muitas reflexões dessa obra passam por esse ponto, parecendo perguntar ao espectador o que faria naquela situação.

Rumando para interpretações de uma revolta seguida de dor, Mia não é um filme fácil, é um recorte duro sobre o desencontro no ajudar e as fraquezas que refletem em comportamentos.


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Crítica do filme: 'A Alma em Paz' [Festival de Cinema Italiano 2024]


Uma família disfuncional, uma jovem cheia de sonhos distantes. Começando uma jornada de desconstruções com essas duas variáveis se chocando em ações inconsequentes, o longa-metragem A Alma em Paz logo se identifica como um drama contundente que joga um alvo nos desperdícios de oportunidades. A normalização da dor e das dificuldades cotidianas apontam olhares beirando o precipício da moral, sem saídas, em um mundo injusto onde o desmoronar virou uma rotina.

Na trama, ambientada ainda nos tempos onde a pandemia buscava ser controlada na Itália, conhecemos Dora (Lívia Antonelli) uma jovem de origem humilde que trabalha duro para sobreviver e na outra parte do dia complementa a renda traficando. Ela vive com a tia e a mãe e tem um passado repleto de traumas. Lutando para ter de volta os irmãos entregues para a assistente social, acaba conhecendo um homem que a faz acreditar em alguns sonhos perdidos.

Há soluções em meio ao caos? Logo percebemos que o ambiente se torna um paralelo para que a narrativa amplie o olhar. Com as ruas vazias e a violência se mostrando uma força que cisma em dar as caras, percorremos os conflitos emocionais da protagonista a partir das diferentes formas de encarar o mundo ao seu redor. Com os pés no chão e explorando recortes de realidades, o roteiro fortalece o discurso sobre os desencontros com a felicidade.

Interpretações sobre o sentido de família - aqui fortemente colocados sobre os deslizes da figura materna - também ganham os holofotes dando voltas na pergunta: O que precisamos ter para ser feliz? Nesse forte drama selecionado para o Festival Italiano de Cinema 2024, escrito e dirigido por Ciro Formisano, a normalização de uma situação caótica abre camadas para reflexões sociais e tantos outros assuntos.   


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18/11/2024

Crítica do filme: 'Um Mundo à Parte' [Festival de Cinema Italiano 2024]


O sonhar e o realizar. Buscando por meio do sorriso abrir leques superficiais de reflexões sobre questões sociais – principalmente ligadas à educação e a imigração – o longa-metragem Um Mundo à Parte, selecionado para o Festival de Cinema Italiano 2024, é antes de mais nada um filme nada pretencioso. Por meio de suas mensagens diretas e objetivas, o simpático projeto escrito e dirigido por Ricardo Milani, nos leva para um recorte na vida de um professor que passa por uma enorme transformação quando tem um desejo realizado.

Na trama conhecemos Michele (Antonio Albanese) um professor do ensino fundamental que está louco pra sair de Roma e ser transferido para um cidade do interior do país. Um dia ele consegue, indo parar numa cidadezinha gelada no interior que tem pouquíssimos habitantes. Quando consegue se estabelecer no lugar, o risco da escola ser fechada o faz ir atrás de soluções ao lado de Agnese (Virgínia Raffaele), a diretora do colégio.

O que muda e o que permanece. A escolha de um protagonista professor obviamente nos leva para as problemáticas do sistema educação, aqui caminhando apenas no superficial quando pensamos em críticas contundentes. Desmotivado num grande centro, o personagem principal entra em total desconstrução quando se vê envolvido como peça fundamental de um resgate para melhorias de um novo lugar. O que acontece de interessante a partir disso, dessa parte da premissa, é que entramos em interessantes debates sobre o êxodo das cidades menores, além de abrir seus olhares para a questão dos refugiados.

As diferentes tradições culturais dentro do mesmo país, as formas distintas de relações, são elementos que também contornam as boas reflexões dessa história. De forma animada, esse projeto se consolida como uma honesta boa sessão da tarde com muitas cenas engraçadas.


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Crítica do filme: 'Parece Bastante Paris' [Festival de Cinema Italiano 2024]


As alegrias de uma falsa verdade. Uma criativa viagem de mentirinha para cumprir o último desejo do pai é a base da história do longa-metragem Parece Bastante Paris, selecionado para o Festival de Cinema Italiano 2024. Nessa comédia com leves pitadas dramáticas, baseada em partes numa história real que aconteceu em 1982 na Toscana, acompanhamos desabafos de parentes afastados envolvidos por um só objetivo.

Na trama conhecemos três irmãos afastados que se reencontram num momento delicado. O pai vai parar no hospital e lá ficam sabendo da condição dele. Mesmo com as desavenças que o passado deixou, resolvem realizar o último desejo dele: visitar Paris. Só que pela condição do pai, optam por criar uma viagem fictícia, rodando numa van por uma região que conhecem e assim recriando o trajeto para a capital da França.

Quem nunca viu em um filme uma história sobre família e seus problemas? Seguindo na linha do convencional da maioria das tramas que abordam o tema, o projeto busca o riso a todos instante. A partir de um tema beirando ao fúnebre o roteiro opta pela alegria ao encontrar um gancho na criatividade da premissa como força motora.

Memórias antigas e desabafos do presente se tornam o fôlego para a narrativa preencher - com exageros - lacunas para reflexões. Com as peças avançando em trocas sobre os próprios presentes, o drama chega por meio das frustrações, dos segredos, da intimidade, gotas num oceano envolvida pelo inusitado.

A vida e suas variáveis de aflições logo se tornam elementos importantes e contornam parte desse recorte que ruma ao intimista. Parece bastante Paris é um filme na linha do trivial, onde todos não se dão bem mas saem felizes dessa jornada. Nos filmes e suas infinitas possibilidades, essa sempre é uma delas.


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16/11/2024

Crítica do filme: 'Éramos Crianças' [Festival de Cinema Italiano 2024]


Toda ação gera reação. Girando em torno de um dos sentimentos sem volta que desestabiliza o comportamento humano, a vingança, o longa-metragem Éramos Crianças e sua narrativa que navega em um ping pong na linha temporal busca prolongar um suspense que envolve um forte trauma na infância acoplados em questões familiares. Dirigido por Marco Martani, o projeto é um dos selecionados para a ótima seleção do Festival de Cinema Italiano 2024.

Na trama conhecemos um homem encaminhado para um interrogatório. Durante esse período vamos conhecendo sua história. Assim, chegamos em Walter (Lorenzo Richelmy), Gianluca (Alessio Lapice), Cacasotto (Francesco Russo) e Marguerita (Lucrezia Guidone), quatro amigos que se reencontram a pedido de um deles na cidade onde moraram quando crianças. Ao se reunirem, lembranças terríveis daqueles tempos voltam e eles resolvem se vingar da pessoa que marcou a vida de suas famílias.

Escondendo seu clímax de todas as formas possíveis – fato que pode atravessar a paciência do público - a narrativa da seu pontapé através da construção intimista de seus machucados personagens. Assim, conhecemos a raiva, a culpa, a desdém, como se cada um personificasse um sentimento que juntos seriam a pólvora da inconsequência que se segue. Dessa forma, o suspense se prolonga com peças soltas, com o motivo de tamanha revolta escondido pelos 101 minutos de projeção.

O cenário paradisíaco da costa calabresa logo acha seu contraponto com tons escuros e imagens que conversam com a notória transmissão dos abalos emocionais que são um paralelo do presente dos personagens. O clima de tensão é logo atingido. O inconsciente também se mostra presente através do luto permanente, aqui cada uma das peças envolvidas reage ao vivido de uma forma, isso fica mais nítido quando atravessam o caminho sem volta da vingança e inconsequência.

Éramos Crianças busca aos trancos e barrancos manter a atenção, tem seus méritos de conseguir chegar na imersão dos seus conflitos mas se prolonga nas suas resoluções.



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Crítica do filme: 'Toquinho: Encontros e um Violão' [Festival de Cinema Italiano 2024]


O reconhecimento de um fabuloso artista. Trazendo para o público histórias cativantes da carreira de um dos maiores nomes da música popular brasileira, Toquinho: Encontros e um Violão, documentário de 90 minutos selecionado para a ótima seleção do Festival de Cinema italiano 2024, parte do vínculo do músico - grande parceiro de Vinícius de Moraes - com a Itália para nos apresentar detalhes de fatos marcantes que marcaram a história da música.

Com arquivos de shows e entrevista compondo a narrativa, além de depoimentos de pessoas próximas e do próprio Toquinho, ao longo de um delicioso bate-papo com o artista paulista de 78 anos vamos vendo a história cultural de dois países sendo contada. Sempre ao lado de seu violão, uma união que gerou canções eternizadas, vemos um depoimento emocionado de um alguém que nasceu pra brilhar.

Das lembranças das melodias do passado e da importância do início dos contatos com fabulosos professores, passamos pelo primeiro grande sucesso no início da década de 1970, uma parceria inesquecível com Jorge Ben JorQue Maravilha – até sua caminhada ao lado de Vinícius de Moraes e os sucessos que se seguiram na carreira solo, no Brasil e no exterior.

Conforme as histórias são sendo contadas, percebemos a importância de sua carreira que não deixa de percorrer gerações. Seus trabalhos inesquecíveis pela música infantil não são esquecidos e aqui faz-se um elo novamente com a Itália. Assim conhecemos seu ponto de vista na criação de algumas dessas canções, como a mais emblemática delas: Aquarela.

Em resumo, Toquinho: Encontros e um Violão se consolida como um registro importante sobre a obra de um gênio. Um documentário pra ter na coleção.


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09/11/2024

Crítica do filme: 'Nascida para Você' [Festival de Cinema Italiano 2024]


Circulando com muita emoção a importância do amor para uma vida e preenchendo cada detalhe de uma história baseada em fatos reais, Nascida para Você joga para o centro das reflexões o sistema jurídico italiano e a caminhada da adoção que logo se estabelece como um importante debate para tudo que assistimos. A partir do desejo de ser pai e a luta persistente de uma advogada acompanhamos uma narrativa intimista que emociona do início ao fim. O projeto é dirigido pelo cineasta Fabio Mollo.   

Na trama conhecemos Luca (Pierluigi Gigante), um homem solteiro, homossexual, que trabalha fazendo um lindo trabalho em uma ONG para pessoas especiais. Ele tem o sonho de ser pai e quando é selecionado para tentar a adoção de uma recém-nascida com síndrome de Down, rejeitada por vinte famílias, enfrenta uma dolorosa batalha com o sistema judiciário de Nápoles.

A construção dos personagens é belíssima, Luca e seu desejo de ser pai nos leva até as camadas da expectativa por esse momento em um país que foi um dos últimos da Europa a aprovar a legalização de casais homossexuais. Assim, chegamos no seu entorno familiar, na relação com o namorado que logo estremece, nas vezes que desanima por conhecer os contextos frios do país que nasceu. A ponta de esperança chega com o auxílio de uma advogada querendo mostrar seu valor, uma mãe solteira.

Os holofotes se jogam para cima do sentimento mais profundo que existe: o amor. E aqui, a construção ganha dois alicerces: o lado da emoção gerada pela expectativa de um possível laço eterno e uma cansativa e por vezes angustiante batalha jurídica. A partir de um caso real ocorrido em 2017 na Itália conhecemos uma história que nos coloca de frente com as burocracias legislativas. Esse duelo com o tribunal é apresentado de forma objetiva - fugindo dos ‘juridiquês’ – onde logo se torna um dos méritos da obra: trazer reflexões e debates sobre um caso que se tornou emblemático na Itália.

Essa é uma história que nos faz refletir sobre a vida, sobre as relações mais profundas entre pais e filhos. Uma jornada de um homem que persiste em provar o que já era óbvio para um sistema de leis conservador e com o olhar obsoleto. Nascida para Você mostra a importância do cinema ao trazer assuntos importantes para debates e quem sabe gerar as mudanças necessárias para que o amor sempre vença.


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13/03/2024

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Crítica do filme: 'Eu, Capitão' [Festival de Cinema Italiano 2024]


Contando a saga de dois jovens que vai do sonho de uma vida melhor passando por um enorme pesadelo sem fim na busca do objetivo, o longa-metragem Eu, Capitão, indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional nesse ano, é um profundo recorte cheio de temas atuais que nos faz refletir a todo instante. Dirigido pelo cineasta italiano Matteo Garrone o filme embarca em uma narrativa que relata muito dos conflitos dos nossos tempos se tornando uma história impactante sob o ponto de vista de refugiados e suas superações.

Na trama, conhecemos os primos Seydou (Seydou Sarr) e Moussa (Moustapha Fall), dois jovens senegaleses que resolvem fazer uma viagem de Dakar até a Itália em busca de seus sonhos. Só que essa jornada não será como ele imaginam, sofrem com os horrores da ganância humana, conflitos geopolíticos, esgotando as curtas margens de esperança mas também encontrando pelo caminho novas formas de entender o mundo.

Vencedor de alguns prêmios no Festival de Veneza, o filme coloca em seu principal holofote os valores da moral e a humanidade tendo como referência o olhar imaturo e até ingênuo de dois jovens que acabam descobrindo os horrores que os seres humanos são capazes durante a caminhada. Os dilemas se tornam constantes, continuar ou não continuar? É possível confiar com o pesadelo batendo na janela dos sonhos a toda hora?

A questão dos refugiados é amplamente debatida. Um refúgio num lugar seguro, uma premissa básica de quem sofre na sua terra natal, vai entrando em contraponto à políticas governamentais, pessoas maldosas que buscam se aproveitar da esperança alheia, esgotando a esperança e a transformando em lapsos entrando quase sempre em uma situação de sobrevivência. A história mostrada no filme se aproxima demais com a de milhares de outras pessoas que buscam outros países para chamarem de lar, por isso a importância do ponto de vista deles que aqui é brilhantemente retratado.

Eu, Capitão é um dos filmes mais impactantes da lista dos indicados ao Oscar desse ano. Um filme pra ver e refletir, uma brilhante narrativa que vai demorar a sair de nossas memórias.



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