03/09/2020

Crítica do filme: 'Piqueiro'


Os Sobressaltos das peças envolventes, o caminhar elegante e o prazer de curtir um momento que para muitos pode ser simples mas que para esse personagem cria-se um prazer inenarrável. Quem nunca conseguiu dar valor aos pequenos momentos de sua vida? Em uma era de velocidade de informações, ritmo frenético em trabalhos árduos mundo à fora, paramos de prestar a atenção em nós mesmos e na nossa importante arte do sonhar. Com roteiro e direção de Gino Francesco Baldeón Ottati (também conhecido como Gino Imagino), Piqueiro é um curta-metragem de poucos minutos mas que nos fazem refletir durante horas. Utilizando a técnica de animação inclui em sua chamada de reflexão o poder da manipulação dos nossos sonhos.

Visto na 1ª Mostra Internacional de Cinema Virtual, realizada pelo Governo do Estado de São Paulo, em tempos complicados de ainda pandemia por aí, o projeto desconstrói qualquer racionalidade dentro de uma realidade que não existe. O prazer e a renovação de um novo dia podem ser argumentativos ou explicados pela troca da natureza e suas forças inexplicáveis. Um dos ícones das Ilhas Galápagos, um piqueiro de pés azuis é o protagonista que não causa estranheza somente nos faz levitar e sonhar e sonhar. Afinal, quem não queria um pedaço da lua para si?

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #79 - José Eduardo Belmonte


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso convidado de hoje é paulista e tem cinco décadas de amor ao cinema. Cinéfilo, formado em cinema na Universidade de Brasília, José Eduardo Belmonte é diretor e roteirista. Fez seu primeiro curta-metragem, Três (1995), sob orientação de Nelson Pereira dos Santos. Subterrâneos, em 2003 foi seu primeiro longa-metragem e depois uma série de importantes trabalhos no audiovisual nacional: A Concepção (2005), Se Nada mais der Certo (2008), Meu Mundo em Perigo (2010); Billi Pig (2012); O Gorila (2012); Alemão (2014); Entre Idas e Vindas (2016); Carcereiros - O filme (2019). Atualmente, Belmonte está na parte de montagem de outros quatro projetos: Auto da Mentira, Alemão 2, As Verdades e O Pastor e o Guerrilheiro.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Me mudei pro RJ faz pouco tempo- até pela proximidade eu vou muito no Net da Gávea.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

São dois. Solaris do Tarkovski e Gaviões e Passarinhos do Pasolini - os dois vi aos 15 anos anos numa mostra sobre cinema fantástico - o primeiro me causou estranhamento, mas intrigou muito. O segundo me causou profunda identificação com a liberdade criativa.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Também não existe um. Tenho uma lista de cinco preferidos que vai mudando com o tempo. Mas hoje seriam Godard (Prénon Carmem), Scorsese (Touro indomável) Johhnie To (Exilados), Alain Resnais (Meu Tio da América) e Fritz Lang (Scarlet Street) - se você me perguntar ano que vem provavelmente algo vai mudar.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Difícil um só também, rs. Mais numa lista tríplice: Terra em Transe (Glauber Rocha), Macunaíma (Joaquim Pedro de Andrade) e São Bernardo (Leon Hirszman).

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É ter amor pelo cinema-  é gostar, se dedicar, ter curiosidade pelas diferenças, pelos detalhes, estar aberto a mudanças, perseverar.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

O cinema talvez seja a arte que, por causa do seu modo de produção, mais sofra a dicotomia entre negócios e arte- daí penso que pode até ter pessoas que conhecem cinema na programação, mas acho - ênfase no acho - que quando um filme faz boa bilheteria o exibidor dá preferência a esse, independente se esse filme for uma experiência cinematográfica menos interessante que outros filmes.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Penso que não, pois o hábito de ir para um lugar escuro e ver/ ouvir histórias com um grupo Existe desde do tempo das cavernas. Mas sim, talvez a configuração que exista hoje mude e talvez a sala de cinema acabe pra alguns tipos de filmes. Como tudo na vida haverá perdas e ganhos - a proporção de cada parte disso só o tempo dirá.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Não consigo um também. Confiança do Hal Hartley; Sudoeste do Eduardo Nunes; Tell me Lies do Peter Brook;  Nelson Mandela: The Myth and Me de Khalo Matabane; se começar a fazer uma lista aqui não acabo rs. Acho que isso valia uma mostra.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Minha opinião é que não. Mas a questão é que é uma doença nova que ainda não sabemos muito sobre ela. E se a vacina demorar- e se ela não ter imunidade por um longo tempo- e se os cinemas quebrarem- existe alguma forma de abrir algum protocolo de segurança- existe algum plano econômico factível pra socorrer as salas de cinema? Acho importante que se junte a sociedade pra discutir sobre essas questões e consigamos consenso com discernimento. Sei que não sou um especialista, mas hoje não consigo entender porque algumas coisas abrem e outras não.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Hoje existe um volume de produção muito grande e enfim uma possibilidade de indústria se formando - ainda que nesse momento esteja estagnada- e pra quem começou em Brasília nos anos collor- em que a produção era um longa por ano e em Brasília era um curta a cada dois anos- ver isso é bom. Ver muita gente produzindo e outros polos de produção pelo país. Mas acho que a gente precisa ainda buscar mais a diversidade- de estilos, de modos de produção, de gente fazendo- e procurar entender mais o país pelos nossos filmes.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Tem um curta metragista que admiro muito que está agora chegando ao primeiro longa: Cássio Pereira dos Santos- que é formado em cinema em Pequim. E também acompanho com interesse toda a produção da Filmes de Plástico e do Gabriel Mascaro.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Duas rs.

“O cinema não tem fronteiras nem limites.

É um fluxo constante de sonho.” - Orson Welles.

“Cinema é a importância do que está dentro do quadro e o que está fora.” — Martin Scorsese.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Na faculdade fui com um colega ver o Ano Passado em Marienbad do Alain Resnais- e meu colega estava no churrasco e tinha bebido muito e naquelas horas do filme que as cenas ficam se repetindo em looping ele falou pra mim: "cara, to muito bêbado, to vendo a mesma cena várias vezes..."

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Nunca vi- mas são as tentativas de cinema comercial brasileiro- é uma longa trajetória de tentativa e erro.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não precisa- não existe uma regra. Mas claro, o conhecimento só agrega e aumenta seu repertório.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Tenho habilidade que gosto em mim que é de esquecer um filme ruim- ou não ir até o final de um.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Na Captura dos Friedman. Nunca consigo um - então tem Cabra Marcado pra Morrer.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Só em festival de cinema. Mas já senti vontade quando vi Estrada Perdida do David Lynch e Asas do Desejo do Wenders.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Tem dois: Leaving Las Vegas e A Outra Face

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #78 - Phylis Huber


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, carioca da gema, carioca da gema, poeta, amante das artes. Phylis Lilian Huber foi tradutora, professora de inglês, assistente de direção de cinema para Francisco de Paula na Oceano Atlantis, e assistente de direção e produção para Ulf Lindroff e Roberto Bakker no Zodiaco Filmes, mais uma grande variedade de outras atividades. 

Obs: querida Phylis, frequentadora das cabines cariocas. Sempre me recordo com carinho de nossos papos em frente ao Joia.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Cine Joia

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Bambi.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?  

Isto passa por fases…….   Olive Stone agora por causa da biografia que ele lançou, Woody Allen mesma razão. Depende!

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?  

Tem muitos.  Não dá para escolher um!!  Tem fases de documentários,  gosto muito dos filmes de Chico de Paula.

 

5) O que é ser cinéfilo para você? 

Não tenho certeza!

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema? 

Nem todos…..

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar? 

Não.  Nunca!

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo. 

Oh. Tantos.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19? 

Sim. Se pode andar de avião, comer num restaurante, ir aos shoppings...etc...cinema também pode.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente? 

Sempre foi ótimo...pena que ainda tem gente que pensa” não vi e não gostei".

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.  

Faço questão de assistir todos os filmes nacionais.

 

12) Defina cinema com uma frase: 

Magia no escuro.

 

13) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?   

Muitas vezes!!

 

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #77 - Marcelo Muller


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado é uma das pessoas de melhor texto sobre cinema no Brasil. Professor, jornalista, e crítico de cinema, Marcelo Muller é membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Ministra cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ e no Sesc/RJ. Suas aulas sempre são um espetáculo, como um combustível transparente de amor ao cinema. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017) e "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018). Além de tudo isso, ele é um dos editores do excelente site Papo de Cinema (https://www.papodecinema.com.br/).

Obs: Querido irmão cinéfilo, saudades de nossos papos presenciais, ou algum encontro rápido em Copacabana ou Niterói. Conversar com Marcelo sobre cinema é sempre enriquecedor, as vezes vale a pena até ter um caderninho por perto para anotar tantas referências e dicas que se multiplicam sobre o universo do cinema. Um dos textos que acompanho sempre, entro até nas lives do papo de cinema e mando mensagens!

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Aqui no RJ é a do Espaço Itaú em Botafogo. Pois tem uma programação diversificada, ali passa o tipo de filme que eu gosto de assistir, a sala é confortável, é próximo da minha casa. É um misto de tudo: programação que acho ótima, conforto e o entorno: a localização, que além de me facilitar, permite que a ida ao cinema se desdobre em outros programas.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

A minha cinefilia é uma cinefilia tardia. Não sou o tipo de cinéfilo que pode dizer que desde muito cedo atentou para o cinema. Eu sempre via muitos filmes, principalmente em casa, nós lá em casa demoramos muito para ter um vídeo cassete, também demoramos para ter dvd mas o filme que fez com que eu sentisse vontade de estudar mais cinema, frequentar cinema (pois eu sou de uma cidadezinha do Rio Grande do Sul chamada Caxias do Sul em que as alternativas de cinema eram muito poucas), o filme que mudou minha relação com o cinema foi O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel que fez com que eu fizesse atravessar a cidade (a ida para o cinema pra mim era isso, atravessar a cidade). A partir desse filme comecei a me aprofundar muito no cinema.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Isso muda todo dia. Mas hoje posso dizer que é o David Lynch e o meu filme favorito do Lynch é o meu filme favorito da vida...por enquanto (porque a gente sempre tá mudando rs) que é o Cidade dos Sonhos. Pra mim, esse é um filme muito especial por trabalhar com uma questão muito sensorial, por trabalhar com uma indeterminação que me agrada no cinema. Eu adoro o tipo de filme em que eu me perca no trajeto.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Deus e o Diabo na Terra do Sol. Sou um grande apreciador do cinema brasileiro. É um filme que conjunta algumas coisas que me agradam. É um primor técnico, embora algumas pessoas tendem em ficar falando de alguma precariedade. Talvez até exista mas ela é utilizada pelo Glauber Rocha como o ruído que se transforma em linguagem e acho que a gente tem muito do Brasil ali. A luta de classes, a religião, o capitalismo, as figuras míticas, Glauber Rocha conjugando o faroeste no terceiro mundo, utilizando alguns preceitos do cinema soviético, metendo um pouco de Akira Kurosawa. É um filme que acho incrível.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo é gostar de ter um modo de vida que de alguma forma é condicionado ou muito guiado pelo mundo do cinema, pelas possibilidades do cinema. Embora eu acredite que de uns tempos para cá, a cinefilia que é essa possibilidade de vivermos em torno do cinema nos alimentando do cinema, retroalimentando esse amor, a cinefilia tenha ficado um pouco desgastada pela ideia do cinéfilo chato, aquele que só quer ter razão, quer mostrar para os outros que sabe mais. Até porque a cinefilia, assim como qualquer outro conhecimento, denota uma espécie de poder e eu gosto de me afastar dessa realidade. Lógico que fico lisonjeado quando alguém me diz que me vê como uma referência pela minha profissão ou pelo que eu faço mas eu reluto essa ideia de influenciador, de influencer, em alguma questão. Eu entendo a cinefilia como uma coisa pura e mais profunda do que algo a mediar as relações que por ventura nós podemos ter com nossos pares.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acho que a maior parte das salas de cinema que eu frequento, felizmente, são feitas por pessoas que tem algum olhar mais detido para cinema. Que compreendem um pouco melhor cinema. Mas se formos analisar o todo, fica muito a desejar essa relação. Acho que boa parte das pessoas que trabalham com cinema não tem essa devoção pelo cinema, não tem essa paixão pelo cinema e acho que isso faz toda a diferença.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não acredito que as salas algum dia irão acabar. Desde que o cinema foi inventado ele vem sofrendo uma espécie de ‘concorrência’ de outros meios. Quando a televisão surgiu, postulou-se que o cinema ia acabar; quando o home vídeo surgiu postulou-se que o cinema ia acabar; quando agora que tem o streaming se fala muito que o cinema vai acabar, nos tempos pandêmicos que vivemos onde muitos lançamentos estão sendo lançados via streaming sem lançamento na janela cinema se fala muito que o cinema pode acabar. Mas eu acho que o cinema nunca vai acabar. Talvez, fique mais polarizado. De um lado restrito a grandes espetáculos, filmes que encontram o espaço no cinema. E no outro, sala pequenas que se preocuparão com a arte do cinema e não só com a lucratividade.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Essa é uma boa pergunta! Essa questão de acharmos que as pessoas não viram os filmes é complicado parece que estamos falando a partir de uma bolha mas uma bolha errada. Mas tem um filme que sempre recorro a ele: Amor à Flor da Pele do Wong Kar-Wai. Pra mim, um dos melhores filmes feitos dos anos 2000 pra cá e eu acho que se a galera não viu, é uma excelente pedida. Dentro dessa pergunta existe também alguns filmes nacionais que foram poucos vistos e dentro desse sentido eu indicaria também O Corpo Ardente do Walter Hugo Khouri. Esse filme tem até uma cópia disponível no youtube.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho que as salas de cinema não devem abrir antes de termos uma vacina da covid-19. Acho que saúde em primeiro lugar. Não podemos ficar refém da lógica econômica do negócio e óbvio que eu me compadeço de toda uma indústria que está parada. Eu como profissional da crítica de cinema também sofro com essa situação pois temos toda uma cadeia de anunciantes que acabam retraindo seus investimentos nesse momento. Mas eu acho que antes de tudo temos que zelar pela segurança, não só a nossa mas a das pessoas que estão ao nosso redor.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acho incrível. Aliás acho como um todo incrível. Se a gente for pensar na história do cinema brasileiro que é uma cinematografia de mortes e ressurreições desde de 1986 até os dias de hoje: o cinema brasileiro é antes de tudo um forte! Pegando emprestado essa frase. Na atualidade é um cinema muito fértil de ideias, muito fértil de linguagem, um cinema em que estamos evoluindo em algumas coisas. Talvez a palavra certa não seja evolução mas ganhando novas camadas. Fora a questão industrial que ainda vamos sofrer muito por conta desse desgoverno que entende a cultura e a qualquer pessoa que dela faz parte como um inimigo ou inimiga, do ponto de vista do cinema propriamente dito nós estamos muito bem obrigado! Não só cinema mas séries também! Tá na hora de exterminamos essa ideia de cinema brasileiro ser ruim, como incapaz de fazer certas coisas. Pra mim, o cinema brasileiro é um dos melhores do mundo!

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Jorge Furtado. Na atuação, o Matheus Nachtergaele e Irandhir Santos são dois atores que me chamam muito a atenção. Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, os filmes do Kleber Mendonça Filho, do Karim Ainouz, da Gabriela Amaral Almeida. Tem muita gente nesse conjunto de artistas que eu tento não perder nenhuma obra. Wagner Moura também.

 

12) Defina cinema com uma frase:

O cinema é o lugar onde eu gosto de me perder para depois me encontrar a partir dele ou com a ajuda dele. Cinema é porta, é janela, é espelho.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Eu já vi tanta coisa numa sala de cinema. Fora as chatices de sempre: as pessoas contando coisas ou quase fazendo sexo. Uma história inusitada, talvez, não tão inusitada... no Festival do RJ de 2018 fui assistir ao filme O Morto não Fala do Dennison Ramalho aí um cara sentou do meu lado, era ali no São Luiz no Largo do Machado, e abriu uma caixa de pizza inteira e comeu a pizza toda do meu lado. Fiquei com raiva não por ele tá comendo mas porque ele não me deu nenhum pedaço.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Tu acredita que eu não vi Cinderela Baiana? É uma mancha em meu currículo que pretendo limpar em pouco tempo.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Eu acredito que nada precisa. Eu já tive contato com obras de diretores que são muito cinéfilos e os filmes são incríveis. Já tive contato com obras de diretores que afirmam que assistem a poucos filmes e os filmes são incríveis. Mas eu sempre tendo a achar um pouco estranho quando um cineasta ou uma cineasta diz que não gosta de assistir a filmes. Existem casos excepcionais em que a pessoa vai fazer um filme incrível sem ter uma base cinematográfica. Mas acho que de alguma forma nos aproxima dessa experiência quando tem um realizador ou realizadora que gosta de cinema, que eventualmente vai fazer suas menções, suas alusões aos seus filmes favoritos. Ou seja, que vai também utilizar o cinema como um motor. Eu tendo a simpatizar mais com realizadores ou realizadoras que gostam também de cinema.

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #77 - Marcelo Muller

02/09/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #76 - André Auler


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, formado em Comunicação Social pela FACHA com MBA em Marketing pelo IBMEC. André Auler começou sua carreira em 1985 como produtor de comerciais e vídeo clipes. Depois, entre 86 e 93, trabalhou na TV Manchete como produtor de programas documentais dirigidos pelo cineasta Maurice Capovilla, e também com programas da Linha de Show e de Eventos ao Vivo da emissora. Em seguida foi para o SESC sendo o res-ponsável pelo departamento de vídeo da instituição onde também dirigia, escrevia e produzia todos os vídeos. Em 1994 foi para Globosat onde trabalhou como coordenador de produção no Telecine e entre 2000 e 2012 foi Gerente de Programação e diretor do programa “What’s On” no Universal Channel quando entrevistou várias celebridades de Hollywood. Dentre elas: Tom Cruise, Hugh Laurie (Dr. House), Will Smith, Angelina Jolie, Dustin Hoffman, Harrison Ford, Robert Downey Jr, Gerard Butler, Kiefer Sutherland, Reese Witherspoon, Ralph Fiennes, Lucy Liu, Jack Black, Jon Favreau, Vin Diesel, Dwayne Johnson (The Rock), Paul Walker, Daniel Radcliffe e o elenco da franquia “Harry Potter”, Benicio Del Toro, Will Arnett, Jonah Hill entre outros..

Em 2016, roteirizou, produziu e dirigiu o documentário Faces de um Conflito vencedor de 8 prêmios internacionais. Atualmente escreve, produz e dirige para o setor audiovisual.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Rio de Janeiro. Não sei se posso dizer que tenho uma sala preferida. Gosto da programação do Estação Net Rio, do Espaço Itaú, mas também gosto dos filmes que entram em cartaz no dito "cinemão": Cinemark e UCI. 

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O primeiro filme que vi na vida, ainda muito criança, que foi O Calhambeque Mágico (Chitty Chitty Bang Bang) no Roxy em Copacabana. O Roxy naquela época era uma única sala e, portanto, um cinema gigantesco com uma tela imensa, ainda mais para uma criança de 5 anos.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Não tenho um diretor favorito. Sou bem eclético nessa questão. Todos esses diretores mais famosos têm filmes que gosto muito e outros nem tanto, mas dentre eles citaria o Alan Parker, que aliás foi a minha primeira entrevista internacional para um programa que eu produzia na TV Manchete chamado "Cinemania". Gosto muito também dos clássicos que são referência como Chaplin e Hitchcock que foram inovadores e precursores na maneira de contar as histórias e, muitas vezes, na forma de filmar determinadas cenas. Não posso deixar de falar do argentino Juan José Campanella e do espanhol Almodóvar porque seus filmes geralmente são imperdíveis. Mas tem um diretor que, além de gostar muito de seus filmes, gosto da maneira como ele humaniza as histórias: Ang Lee. Destaco 3 filmes dele: O Banquete de Casamento (1993), O Tigre e o Dragão (2000) e O Segredo de Brokeback Mountain (2005).  

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

São tantos.... mas um dos meus favoritos é Central do Brasil pela sua grandeza dentro de sua simplicidade.  

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

 

É se interessar e conhecer vários tipos e gêneros de filmes de várias nacionalidades, inclusive os do "mainstream" e saber que existe público para cada um deles. É conhecer um pouco mais sobre os filmes do que o público em geral, como por exemplo o elenco, o diretor e o porquê de ele ter usado determinadas técnicas ou formas de contar aquela história. É ter um conhecimento mais profundo sobre cada obra.  

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. A maior parte tem uma programação voltada para o grande público e, consequentemente, as salas exibem apenas os chamados "blockbuster" que são títulos que dão um considerável retorno financeiro para os donos de cinema. Não que esses filmes sejam necessariamente ruins. Nesse pacote vem ótimos filmes também, mas geralmente são filmes com um apelo mais popular.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não acredito. O cinema tem sua magia. As salas de cinema não acabaram quando houve a febre das videolocadoras. Pelo contrário, as videolocadoras acabaram e as salas de cinema estão aí até hoje.   

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Dúvida (Doubt) de 2008. Apesar de ser um filme americano, e talvez considerado parte do "cinemão", pelo que já conversei com amigos e pessoas que curtem cinema, quase ninguém viu esse filme. A história é ótima e o elenco de primeiríssima: Meryl Streep, Viola Davis, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams. 

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Essa pergunta é difícil de ser respondida porque há no mundo um problema de saúde pública. Então, o mais importante não é o que eu acho e sim o que os protocolos de segurança e saúde definirem. Segurança em primeiro lugar.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Em termos técnicos e artísticos o cinema brasileiro não fica atrás do cinema de outros países que temos como referência como bons produtores de filmes, tanto na América Latina, quanto Europa e Estados Unidos. Da famosa retomada para cá melhoramos bastante. Mas acho que poderíamos dar mais chances a novos diretores e roteiristas. Conseguir verba para a realização de um filme melhorou com as leis de incentivo, mas ainda não é tão fácil quanto parece, principalmente para nomes desconhecidos do grande público. Um outro problema é a distribuição dos filmes nacionais. A maioria dos filmes brasileiros não consegue sala e quando consegue é por apenas uma ou duas semanas, salvo raras exceções. 

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Fernanda Montenegro.

 

12) Defina cinema com uma frase: 

Cinema é diversão, arte e cultura em forma de sonho que a gente assiste acordado.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Não sei se é uma história inusitada, mas uma vez fui num sing-a-long no Cine Odeon do filme A Noviça Rebelde. Foi o máximo ver e ouvir a plateia inteira cantando as músicas do filme. Claro que eu cantei junto porque sei todas as músicas de trás pra frente desde criancinha.

  

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

"Prefiro não comentar..."

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não. Precisa ser um bom contador de histórias. E com os recursos cinematográficos que tiver disponível. 

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Eu nem sei o nome do filme. Foi um filme que passou num dos Festivais de Cinema do Rio, no início dos anos 2000. O filme inteiro é um casal se arrastando pelos cômodos da casa. Num momento ele arrasta ela no chão da sala para o quarto e, no outro momento, ela arrasta ele da cozinha para o banheiro. Aí, eles resolvem se arrastar no jardim da casa. Nas pouquíssimas cenas em que um ou outro personagem fica em pé, o enquadramento só mostra do pescoço para baixo. É inacreditavelmente chato e sem sentindo.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Faces de um Conflito porque foi escrito, produzido e dirigido por mim rsrsrs... Mas fora essa preferência egocêntrica, destaco o "Cine-Olho", também conhecido como "Cinema-Olho" de 1924, do russo Dziga Vertov. Vertov usa técnicas visuais e enquadramentos extremamente ousados e inovadores para a época, inclusive o uso da metalinguagem. Muitos cineastas da década de 60 para cá beberam da fonte desse documentarista russo. Vários movimentos de câmera, enquadramentos e maneiras de contar a história que hoje são corriqueiros, são criação de Dziga Vertov.  

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Não rsrs

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #76 - André Auler

01/09/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #75 - Felipe Cataldo


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é diretor, roteirista e professor de Cinema. Felipe Cataldo atualmente está em fase de finalização de Benjamin Zambraia e o Autopanóptico, seu primeiro longa-metragem, com produção da Cavídeo. Dirigiu curtas-metragens com repercussão em festivais e mostras dentro e fora do Brasil como Cambridge Super-8 International Film Festival (Inglaterra), Festival des Cinémas Différents et Expérimentaux de Paris, Jaipur International Film Festival (Índia), Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Curta Santos, Super-Off, Curta-8, Mostra do Filme Livre, entre outros, tendo sido premiado em 2007 no Curta Cinema - Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro e em 2008 no FLÔ - Festival do Livre Olhar de Porto Alegre. Os filmes também circularam no âmbito das Artes Plásticas, sendo exibidos em eventos como Jardim Suspenso no Morro da Babilônia, SESC Noites Cariocas Arte 24 Horas, Abre Alas - Galeria A Gentil Carioca, Jogos de Guerra - Memorial da América Latina (São Paulo), SPA - Semana Pernambucana de Artes (Recife) e Rede FUNARTE Artes Visuais (Belém). Também atua como professor de Cinema e Linguagem Audiovisual em diversos projetos sociais e ações culturais por todo o Brasil. Em 2013, lançou pela Editora Verve o livro 22 com fotografias em preto-e-branco e poemas.

Obs: meu querido irmão cinéfilo. Tantas noites quase madrugadas falando de cinema nos eventos do Cine Joia em Copacabana. Como é bom de falar de cinema com Cataldo, um cara que ama essa arte de forma tão bonita e intensa! Um dos grandes cinéfilos que conheço.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

As programações de circuito comercial de Cinema que mais me interessam geralmente entram em cartaz no Espaço Itaú e no Estação Botafogo, ambos localizados em Botafogo. Sou amante incondicional do cinema estadunidense, sem dúvida, mas também sou igualmente amante do Cinema europeu, asiático e latino-americano (infelizmente conheço pouco do Cinema feito na África e na Oceania), e dificilmente esses filmes entram em cartaz nas salas de shopping ou mais voltadas à cultura pop. Mas confesso que, mesmo antes da pandemia, estava indo pouco ao Cinema e assistindo mais filmes em casa mesmo, infelizmente. Só que a saudade tá grande! De fato é deveras acalentador estar numa sala de Cinema e mergulhar em um filme com toda a propriedade, numa viagem de imersão para dentro da gente mesmo através da obra, da Arte. Saudade dessa mágica! Também sou frequentador assíduo da Cinemateca do MAM, onde faço a curadoria de um cineclube desde 2016 (CineMAM), do Centro Cultural Banco do Brasil e da Caixa Cultural, que infelizmente está ameaçada de fechar, seguindo essa trilha desoladora de desaparelhamento cultural promovida pelo atual governo.

 

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

A lembrança mais forte que tenho de Cinema na infância foi em 1988, eu então com sete anos de idade, quando meus pais me levaram para assistir aos meus ídolos em O Casamento dos Trapalhões de José Alvarenga Jr no Art Palácio, que ficava localizado na Praça Saens Peña, na Tijuca (hoje Leader Magazine). Tenho a lembrança de ter visto também alguns filmes estrangeiros como S.O.S. - Tem um Louco no Espaço de Mel Brooks (Spaceballs), Esqueceram de Mim de Chris Columbus (Home Alone), entre outros. Mas não tive o mesmo elã e hoje sei por quê: eu não estava ouvindo a minha língua dentro do Cinema. E isso não é pouca coisa, não.

 

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

 

Essa pergunta é irrespondível.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Primeiramente eu não gosto da nomenclatura "nacional" porque ela é imprecisa e pode ter interpretações equivocadas. Mas acho que meu filme brasileiro favorito é Hitler IIIo Mundo de José Agrippino de Paula. Assisti durante a Mostra Meu Filme Único realizada pro Barbara Kahane e Monique Cruz na Caixa Cultural, reiterando mais uma vez que trata-se também de um espaço de formação e que não deve ser desmantelado. Achei o filme uma loucura! Imagens que ricocheteiam dentro da cabeça formando um mosaico louco e alegórico da humanidade.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Uma tara.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não, caso contrário não veríamos de forma recorrente casos de multiplex com diversas salas passando um filme só, o que pra mim deveria até ser inconstitucional (se não o é e as pessoas não respeitam). Mais uma vez eu digo, amo o Cinema feito nos EUA, adoro filme de super-herói, sou consumidor de cultura pop, tudo isso. Mas existem mais coisas por aí, e sou a favor da diversidade sempre. Não só no Cinema, como também na vida.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

As salas comercias de Cinema eu não sei, espero do fundo do meu coração que isso nunca aconteça. Se acabarem, nos restarão somente as salas de centros culturais para satisfazer nossos desejos de ver filme em sessão. A não ser que esse processo de assassinato cultural se estenda em proporções estratosféricas, extinguindo-os também por completo. Penso também na possibilidade das empresas de streaming como Netflix e Amazon terem suas próprias salas para exibirem seus conteúdos em sessões coletivas, na verdade ano passado ouvi um papo de que isso já estava sendo estudado por elas inclusive.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Abaixo a Gravidade de Edgard Navarro.

 

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Sim, afinal já abriram bares, restaurantes, lojas, shoppings e tantos outros serviços. Mas eu não vou.

 

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Gosto de muitos filmes produzidos no Brasil no século XXI, porém sentiremos certamente um impacto negativo nos próximos anos devido à paralisação da ANCINE por parte do Governo Federal desde o ano passado. O Brasil estava em ascensão com seu Cinema, vide Bacurau em Cannes, por exemplo. Mas infelizmente esse processo foi interrompido. Uma crítica que tenho é que falta ao Cinema brasileiro apostar em filmes populares de gênero para enfim estar amalgamado com a população. Filmes de ação mesmo, ou de terror, de aventura, de suspense... Minha opinião é que existe uma certo mecanismo engendrado de se produzir filmes voltados à festivais internacionais, os chamados "filme-cabeça", que circulam um pouquinho, passam uma ou outra vez na TV fechada e depois é como se nunca tivesse existido. Eu, sinceramente, tenho cada vez menos paciência pra ver esse tipo de filme.

 

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Edgard Navarro, sempre!

 

 

12) Defina cinema com uma frase:

Vou responder com a tradicional frase do Cachaça Cinema Clube: "O cinema é a minha cachaça".

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Vou contar uma história que aconteceu comigo no próprio Cachaça Cinema Clube, na minha opinião o melhor cineclube de todos os tempos, com sessões mensais de curtas no Cine Odeon, que para quem não conhece é um cinema de 550 lugares localizado na Cinelândia. Era uma sessão de aniversário, então estava mais do que lotado. Decidiu-se por fazer uma segunda sessão logo em seguida, para quem não havia conseguido entrar na primeira. O procedimento do cineclube era distribuir doses de cachaça para degustação após as sessões, para que as pessoas circulassem pelo espaço, que ainda contava depois com festa, música, DJs e até bandas. Pois bem, nessa sessão de aniversário do cineclube eu não consegui entrar na primeira sessão, mas já estava bebendo a cachaça com todo mundo na saída. Quando entrei para a segunda sessão, já levemente alcoolizado, vi o Odeon lotado e em silêncio. Achei estranho. Uma das organizadoras subiu no palco e falou ao microfone que estavam rebobinando os filmes (eles exibiam em película, tanto 35mm quanto 16mm) e que em dez minutos a sessão estaria no ponto para começar. Não sei o que deu na minha cabeça que, assim que ela desceu, eu subi no palco e peguei o microfone: "Se temos dez minutos vou preencher o tempo falando poesia!". Assim que comecei a falar, o segurança subiu no palco, e eu estava tão louco que ainda "fiz o cara de escada", fiquei tipo "contracenando" com ele de forma inconsequente: "Ele tá armado! Ele vai me matar! Meu sonho vai se tornar realidade, vou morrer em cena!". Otávio Terceiro, meu mestre e guru, levantou-se e com sua voz inconfundível falou: "Deixa o rapaz falar, o que ele está falando aí é muito importante". Nisso o público começa a gritar em coro: "Poeta! Poeta!". A organizadora do evento subiu no palco com os olhos arregalados e falou: "Você vai continuar?", e eu de súbito respondi: "Não, já tô satisfeito", arrancando uma gargalhada final do público. Sentei-me ao lado do Otávio e assisti à sessão com o coração disparado, saindo pela boca. E depois, festa! Ai, ai, quanta juventude...

 

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Nunca vi. Mas sei que é o filme que lançou Lázaro Ramos, apesar disso não ser muito comentado por aí.

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31/08/2020

Pausa para uma série #11 - The Head: Mistério na Antártida


A vingança como pano de fundo numa análise sobre o ego humano. Talvez, um dos grandes achados do catálogo da Globoplay seja The Head: Mistério na Antártida, minissérie de suspense eletrizante com ótimas atuações e um desfecho de deixar qualquer de queixo caído. Tudo funciona muito bem ao longo dos detalhistas seis episódios, o roteiro constrói arcos preparando para o aprouch final de maneira muito inteligente deixando rastros de pistas a cada episódio. Criada pelos espanhóis David Pastor e Àlex Pastor a minissérie conta com um elenco de várias nações, inclusive um rosto bastante conhecido aqui no Brasil, Álvaro Morte, o professor de La Casa Del Papel.

Na trama, seguimos para os detalhes complicados de decifrar de um grupo de pessoas que são de uma equipe de pesquisa que precisam ficar seis meses longe de tudo e todos no meio da terra gelada da Antártida. Acontece que quando uma outra equipe chega até onde eles estavam, liderados por Johan (Alexandre Willaume), após três semanas sem comunicação, apenas dois sobreviventes são encontrados, em situação de trauma total. Assim, Johan deve comandar uma investigação e descobrir quem está mentindo em uma investigação que está inclusa até mesmo sua esposa Annika (Laura Bach) uma das integrantes da expedição que deu problema.

A minissérie começa devagar mas de repente uma série de reviravoltas colocam as peças no tabuleiro e pelos olhos de Johan principalmente vamos tentando decifrar os mistérios que começam a se amontoar conforma vamos sabendo sobre o que de fato aconteceu. A questão em cheque é acreditar ou não na única sobrevivente que está falando claramente sobre o que ocorreu, isso deixa tudo em cheque a todo tempo. O clima de tensão instaurado é altíssimo, essa é um dos projetos que estão disponíveis nos streaming brasileiros que você não consegue não maratonar.

O desfecho é perfeito, camufla a vingança em torno do ego do ser humano e tudo acaba fazendo bastante sentido com os argumentos analisados. Um grande final para uma ótima minissérie. Imperdível!

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #74 - Alvaro Campos


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso convidado de hoje é cinéfilo e começou na TV, onde escreveu para TV Globo, Multishow, Record, OI TV e MTV programas como o Comédia MTV. Roteirista, produtor e diretor Alvaro Campos em 2016 realizou seu primeiro curta-metragem, Leo & Carol, vencedor de festivais na França, Espanha, Bélgica. No ano seguinte realizou seu primeiro longa-metragem Altas Expectativas e fez parte da seleção do Festival do Rio. Depois escreveu e dirigiu o longa documentário Tá Rindo de Quê? ao lado de Cláudio Manoel e Alê Braga. Seu próximo trabalho será sobre a cinebiografia da cientista e educadora brasileira Joana D'Arc Félix para a Globofilmes. (Fonte: https://www.aicinema.com.br/).

Obs: Vi Alvaro uma vez na noite de pre estreia do filme Ta Rindo de Que? No Reserva Cultual Niterói. Cara gente boa, falamos de cinema e do botafogo, que estava jogando naquele momento uma partida importante por algum campeonato que não lembro.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Estação Itaú Botafogo. Sempre deu espaço pro cinema de arte e pro cinema comercial, de forma bem elegante. Menção Honrosa pro IMS, na Gávea, e pro Cine Santa, cujos espaços por si só fazem valer a pena qualquer filme. 

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Cinema Paradiso. Com meu pai. Num cinema de clube. E os filmes do Domingos de Oliveira, que me mostravam que aquele lugar diferente também podia ser gestado aqui no nosso quintal com muito menos.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Pra mim o hall de monstros é sempre o mesmo mas o camisa 10 muda ano a ano. Não tem jeito, nós mudamos e os preferidos mudam também. Hoje, 2020, fico com Spike Lee e o Faça a Coisa Certa.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Pagador de Promessas do Anselmo Duarte e Dias Gomes. Nada é mais original, potente e brasileiro que esse filme. Mas pessoalmente não consigo deixar de citar O Palhaço de Selton Mello; Central do Brasil, de Walter Salles; Deus é Brasileiro, de Cacá Diegues; Benzinho, de Gustavo e Karine Telles; Que Horas Ela Volta, de Anna Muylaerte; Bicho de Sete Cabeças da Laís Bodansky... Todos são fantásticos e não abrem mão nem por um frame de sua comunicabilidade e simplicidade.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

 

Ver que o cinema é um coordenada fundamental pra entender seu lugar no mundo.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não quero presumir que saiba o que é o “verdadeiro” cinema a ser entendido. Cada um tem o seu e cada programador tem o seu. Dentro da sua realidade, cada um deles faz o melhor que pode e cria territórios distintos. E sempre é ótimo ter opção, mesmo que a minha preferida não tenha o número de salas que eu desejaria.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

O teatro tá aí há 2500 anos, não vai ser o cinema que vai morrer em cento e poucos... Qual a graça de ver um blockbuster numa tela pequena e sem uma multidao com a mesma expectativa que a sua? Qual a graça de ver um filme de arte sem sentir-se pertencer a uma comunidade? Tudo se ajusta, mas nao desaparece.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

A Passageira (Magallanes) filme peruano extraordinário.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Estávamos num caminho muito próximo de uma produção sustentada de filmes de arte pra figurar anualmente nos principais festivais do mundo. Também estávamos bem num longo caminho de sedimentar um cinema comercial capaz de ser um motor financeiro real pra indústria. O que Paulo Gustavo faz em um Uma Mãe é uma Peça, superando Star Wars e afins aqui dentro, merece tantas palmas quanto o histórico Bacurau. E se tínhamos Bacurau e Minha Mãe é uma Peça num mesmo ano, como poderíamos estar mal? Agora é esperar pra ver as transformações nada simples de 2020 na nossa cinematografia, que vai perder em quantidade e pluralidade. Mas ainda é cedo pra julgar. Torço pra que as condições de guerra de hoje propiciem criatividades audaciosas e novos nomes na cena.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

 

Karin Ainouz, Anna Muylaerte, Kleber Mendonça, Jorge Furtado, Julia Rezende, Pedro Amorim, João Moreira Salles...

 

12) Defina cinema com uma frase:

quem sou eu...

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema

Buenos Aires. Rocky 6. Na luta final, um gordinho de mullets se põe de pé pra torcer pelo Rocky gritando como se tivesse numa final na Bombonera. Mesmo ele sabendo que no Rocky 6 não iria haver um final diferente daquele que ele já viu nos outros 5. Rocky de novo perdeu ganhando, o gordinho vibrou chorando no fim e em momento nenhum ninguém na sala pediu que ele sentasse.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Toda vida é sonho. (frase do La Barca, muito menos Top of Mind que o Cinderela Baiana)

 

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acredito que sim. Mas há torrentes infinitas de imagens sendo oferecidas pela internet, pela TV, pelos quadrinhos, pela video-arte.. Não descartaria a hipótese de alguém filmar muito bem bebendo só de fontes paralelas ao cinema.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Street Fight, com Jean Claude Van Damme. Toda vez que o Raul Júlia aparece numa cena um curió explode sem razão aparente. 

 

17) Qual seu documentário preferido?

As Canções, do Coutinho. Mas Ônibus 174 e Santiago são fundamentais pra mim. 

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Quem nunca fez isso? 

 

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #73 - Rodrigo Mendes


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é um fã incondicional de cinema. Rodrigo Mendes ama devorar os filmes todos os dias. Um dia sem um filminho nem que seja de 90 minutos é um dia cinzento. Adora escrever sobre cinema e sua maior paixão são os filmes do mestre do Thriller Alfred Hitchcock. Se formou em Comunicação Social em várias áreas, jornalismo, rádio e televisão e produção editorial. Fez curso de cinema com Walter Webb, expandindo seu conhecimento que nasceu dessa paixão cinéfila. Paralelo a isso, foi blogueiro de cinema por muitos anos. Atualmente escreve no Facebook, mas ainda tem uma página na internet sobre crítica cinematográfica: http://cinemarodrigo.blogspot.com.br/

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Petra Belas Artes. Pelo cuidado em trazer filmes alternativos normalmente nunca exibidos em cinemas de shopping. Tenho predileção pelo Cinema de Rua, mais íntimo e charmoso.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Quando criança lembro de ter gostado de Os Caçadores da Arca Perdida, do Spielberg, tive essa sensação de ser transportado para um lugar mágico e diferente da minha realidade, mesmo que tenha visto na TV aberta pela primeira vez.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Alfred Hitchcock. Ousadia perguntar (risos!) votarei em Psicose.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Bandido da Luz Vermelha, do Rogério Sganzerla. Um filme seminal em vários aspectos, original e ousado. Um Thriller de Ficção policial com uma linguagem que nem mesmo Orson Welles faria melhor.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Amar os filmes e o cinema incondicionalmente. Acompanhar as novidades, gostar realmente e sentir prazer em assistir filmes despretensiosamente. Não se trata em saber mais que os outros, apenas conhecer os filmes e mergulhar naquela história sendo contada na tela.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Nos grandes circuitos comerciais, creio, ser algo raro. Não conheço (pessoalmente de trocar ideias olho no olho) pessoas que trabalham nesse ramo. Acredito que em shoppings a coisa seja mais mecânica. Filme X arrasa-quarteirão trará lucro e, portanto, terá mais horários e salas. Filmes independentes dependem de exibidores em cinemas de rua, com público específico.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Impossível. Só acabaram as arenas de Gladiadores (risos!). O teatro, estádio de futebol, restaurantes e cinemas (e TV) são divertimentos que fazem parte da história humana. Quando a televisão nasceu temiam a mesma coisa e isso nunca aconteceu.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Corrida Sem Fim (Two-Lane Blacktop), 1971, de Monte Hellman.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

De maneira alguma. É uma questão de saúde pública. Não precisamos desta histeria coletiva de voltar imediatamente para uma sala de exibição em meio a uma pandemia.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Os filmes brasileiros nunca foram uma decepção para mim em todas as suas fases históricas. É claro que existem alguns filmes irregulares, mas isso independe da época de seu lançamento. Atualmente acho que os (as) diretores (as) espelham um nível de produção mais comercial que outrora. E, sim, os gêneros cinematográficos atualmente apresentam mais diversidade e ousam um pouco mais com filmes que não seguem um padrão brasileiro. Sinfonia da Necrópole (2014), de Juliana Rojas é bom um exemplo. 

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

 

Diretor? Kleber Mendonça Filho.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Sentar na poltrona, apagar a luz e me entregar.... e vou parafrasear Margo Channing: “Apertem seus cintos. Vai ser uma noite turbulenta".

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Aconteceu numa sessão retrospectiva no "Clássicos Cinemark", o filme era O Poderoso Chefão. Uma senhora sentou ao meu lado e me perguntou se dava para abaixar o volume por estar alto demais! A anedota aconteceu no exato momento em que Michael Corleone atira no Capitão McCluskey. Só respondi um educado NÃO com a cabeça!

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

"Me dê isso menina, você devia estar brincando e estudando, não jogada na estrada, para ganhar uns míseros trocados pra matar a fome. Vai passarinho, você como as crianças também tem o direito à liberdade. De que adianta essas campanhas demagógicas, se essas crianças continuam aqui na estrada e com fome. Todos os pequeninos merecem proteção, alimentação, amor e paz". Depois é só SEGURAR O TCHAN!!!! [detalhe que a coreografia está fora de sincronia com a música!]

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

O diretor deve conhecer o ramo em que atua e isso inclui assistir filmes, muitos filmes! Estar antenado e conhecer bem o ofício e a indústria cinematográfica. Acho vaidade não apreciar, reconhecer ou mesmo criticar, falar sobre, numa boa, filmes de colegas e dos cineastas mais antigos que inspiram gerações. Será que um maestro é capaz de reger uma orquestra sem ter ouvido Mozart? Difícil.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

The Room (2003), de Tommy Wiseau.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Cabra Marcado Para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Nunca. Sou muito quieto numa sala de cinema e mesmo em casa. Prefiro terminar a sessão em silêncio e só depois me manifestar. O mais legal é fazer isso numa roda de amigos tomando cafezinho ou na internet, escrever sobre o filme e promover os debates virtuais.

 

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30/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #72 - Paulo Henrique Fontenelle


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado tem muitas décadas de amor ao cinema, seja atrás das câmeras com seus documentários multipremiados, seja na cadeira do cinema vendo um filme. Paulo Henrique Fontenelle, é editor e diretor de programas, documentários e DVDs musicais. Mas acima de tudo um grande cinéfilo! Dirigiu e produziu o curta Mauro Shampoo (2006), que ganhou mais de 20 prêmios – no Brasil e exterior; o longa biográfico do mutante Arnaldo BatistaLoki –, também bastante premiado; Dossiê Jango (2012) - Prêmio de melhor documentário pelo júri popular no Festival do Rio de 2012 e Cássia (2014), documentário sobre a cantora Cassia Eller, um gigantesco sucesso de público e crítica.

Obs: meu querido amigo cinéfilo Paulinho! Lembro da pré estreia do Cassia no Cine Joia onde falamos muito sobre cinema e teve até cantora fazendo um pocket show com músicas da grande artista que nos deixou. Vi como ficara contente de estar naquele ambiente cinéfilo cheio de pessoas que estavam loucas para ver o seu filme. O mais legal é que geralmente os diretores ficam nervosos com a estreia do filme, se o som ta bom etc, etc. E lembro de você sempre calmo e feliz querendo falar sobre cinema com todos. Nessa vida é tão bom encontrar com pessoas que possuem a mesma paixão pela sétima arte do que você! Dizem que nós cinéfilos somos pessoas solitárias mas ao longo da vida percebemos que somos muitos e quando nos encontramos tudo vira uma grande festa, nos divertimos e rimos com muito pouco! Mesmo nos vendo pouco sempre aguardo nosso próximo papo! Até foto com o Gaspar Noé nós temos né? Viva nós cinéfilos!

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Eu tenho um amor especial pelos cinemas do Estação que foram responsáveis por uma enorme parte da minha bagagem cinéfila. Gosto muito da programação do Cine Joia também e lamento não ter tido tantas oportunidades de frequentar o Reserva Cultura de Niterói. Mas se eu tiver que escolher apenas um cinema, fico com o Espaço Itaú da Praia de Botafogo. Lá é possível encontrar todos os tipos de filmes em um só lugar: Filmes franceses, filmes nacionais, documentários, blockbusters... E ainda temos sempre a possibilidade de dar uma passadinha na livraria do lado e comprar aquela pipoca de rua.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Foi Guerra Nas Estrelas que assisti em 1978 no extinto Cine Coral, onde hoje funciona o Espaço Itaú. Ali eu percebi que o cinema era uma arte sem limites. Eu tinha sete anos de idade e foi o primeiro filme legendado que vi na minha vida. Eu saí do cinema sem entender metade do que tinha acontecido, mas com a certeza de que minha vida nunca mais seria a mesma.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

É difícil conseguir escolher um diretor favorito. São tantos e variam de semana em semana. A lista é longa. Os cineastas que admiro vão desde Chaplin a Kieslowski, passando por Alan Parker, Milos Forman, Woody Allen, Martin Scorsese, Errol Morris... Cada um deles marcou um momento importante na minha vida. Já filme favorito, esse não tenho nem como titubear. Magnolia do Paul Thomas Anderson é o melhor filme já feito na história da humanidade não só pela sua qualidade técnica, mas também pelos temas que ele aborda como o perdão, reconciliação com o passado, a necessidade de seguir adiante e de expressar o amor pelas pessoas. "Its Not Going to Stop,  till you wise up". Me lembro de ter assistido na estreia no UCI com metade do público vaiando o filme. Acho que eles viram o Tom Cruise no cartaz e esperavam um filme de ação. Nessa mesma noite, cheguei em casa e, por coincidência (ou não) passou na tv o clipe da Aimee Mann cantando Save Me. Corri para o computador para saber mais sobre a obra e, depois de lutar contra a internet discada, li uma linda crítica sobre o filme no site Cinema em Cena que me trouxe ainda mais admiração, não só pelo filme, como também pela profissão de crítico de cinema. Na época, voltei ao cinema umas cinco vezes para rever o Magnolia e quando eu comprei o Dvd importado, deixava ele rolando diariamente na minha televisão feito um aquário.  Era um período em que eu já estava desistindo de trabalhar com cinema e esse filme foi uma epifania como a que senti aos sete anos vendo o Guerra Nas Estrelas. Graças a ele, eu segui adiante na profissão.

Até hoje agradeço a você, Raphael Camacho, e ao Cine Joia por ter me proporcionado a oportunidade de rever esse filme numa tela de cinema em 2016. Foi o maior presente que um cinéfilo pode dar a outro cinéfilo.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Acho que o primeiro filme nacional que me impressionou muito, ainda na infância, foi o Pra Frente Brasil do Roberto Faria. É um cineasta que eu gosto muito pela versatilidade de seus filmes. Hoje sou agradecido por ter tido a oportunidade de trabalhar com ele no documentário Dossiê Jango onde ele é um dos autores do argumento junto com o Paulo Mendonça e que trata de temas parecidos com os retratados no filme dele. Outro que gosto muito é o Pagador de Promessas do Anselmo Duarte. É impressionante como ele se mantém atual. Mas quando penso num filme que me traz um sorriso no rosto e uma vontade de celebrar a vida é Todas as Mulheres do Mundo do eterno Domingos Oliveira.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Eu me lembro uma vez, ainda em 1999, quando encontrei por acaso o Cavi saindo do Cinema onde ele tinha acabado de assistir Pokemon - O Filme. Eu perguntei a ele porque diabos ele resolveu assistir esse filme e a resposta foi muito simples: "Não tinha mais nenhum outro filme pra ver no cinema. Eu já vi todos os outros". Quando eu percebi que eu me encontrava na mesma situação, resolvi seguir o exemplo, comprei um ingresso, e fui torcer pro Pikachu. Acho que isso pode ser um sintoma de cinefilia.

Eu não sei como definir o que é ser cinéfilo em palavras. Pois acho que cada um tem a sua experiência e a maneira de exercer o seu amor pelo cinema. Posso falar apenas do ponto de vista pessoal e, para mim, ser cinéfilo é enxugar as lágrimas enquanto respondo essa entrevista ao perceber que minha vida é indissociável dos filmes que vi e das experiências que vivi dentro das salas de cinema. Quando revejo ou leio sobre um filme sou capaz de lembrar exatamente em que cinema eu o assisti pela primeira vez, com quem eu estava e o que eu sentia nessa época. O cinema faz parte da minha trajetória na Terra. Agradeço todos os dias aos mestres do cinema que despertaram essa paixão em mim, à todos as aventuras que vivi no festival do Rio onde, muitas vezes sou obrigado a escolher se devo almoçar ou assistir mais um filme, às longas noites em que eu ficava na Cavideo sem pegar filme nenhum (apenas olhando as capas dos Dvds e conversando horas sobre cinema) e, principalmente, por cada minuto que passei dentro da sala escura me emocionando com essa arte que hoje se tornou meu meio de vida.

 

 

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito que a maioria sim. Algumas pessoas precisam se adaptar às diretrizes do cinema e ao tipo de público que ele atende, mas quem trabalha com programação, certamente tem, no mínimo, um grande amor pela arte.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Nunca.  Elas podem se modificar, se adaptar, mudar o público, mas morrer jamais. O Cinema é eterno.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Os Amantes do Círculo Polar do Julio Medem é um filme que me marcou muito. Vejo ele como uma poesia audiovisual. Eu acho que ele chegou a ganhar prêmios no Festival de Gramado em 1997, mas é um filme difícil de se encontrar para assistir. Um documentário fantástico que eu também indicaria é o Democracia em Preto e Branco do Pedro Asbeg. Todo brasileiro deveria ver. Outro filme que me vem à cabeça agora é o islandês Volcano (Eldfjall) de Rúnar Rúnarsson, mas sobre esse vou falar mais lá embaixo na última pergunta.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Eu acho muito arriscado abrir nesse momento. Mas, pelo que estou acompanhando, é algo que parece ser inevitável. Se isso acontecer que pelo menos seja feito com um sistema rígido de segurança, que garanta capacidade mínima onde público, o uso de máscara durante toda a sessão e a proibição de alimentos na sala. O Problema é garantir que essa fiscalização seja feita com seriedade, pois nesse momento, o que está em jogo é a vida das pessoas.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro, para mim, é um dos melhores cinemas do mundo. Ele possui uma variedade de temas e estilos que dificilmente se encontra em outras cinematografias e o sucesso que nossos filmes vêm fazendo em festivais internacionais é uma prova disso. O problema é sempre a velha questão de como fazer o nosso público ter acesso a essa variedade de filmes que são produzidos e muitas vezes não encontram espaço nas salas de exibição.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Fernando Meirelles, Kleber Mendonça, Daniel Rezende, Wagner Moura... A lista é enorme, pois temos um grande número de artistas fantásticos. Mas, no final das contas, eu acabo assistindo praticamente todos que são lançados independente de quem dirigiu ou de quem está no filme.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é a arte da empatia.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Em todos esses anos de cinefilia, existe uma coleção de situações bizarras que vivi na sala de cinema. Já assisti filme do Denzel Washington numa sessão vespertina com um casal transando do meu lado esquerdo e, do meu lado direito, o lanterninha do cinema reclamando da vida e me pedindo conselhos se ele deveria interromper o ato sexual ou "deixá-los serem jovens". Eu só queria saber se o Denzel ia pegar o assassino ou não... Me recordo também de uma epopéia vivida no Cine Odeon durante a exibição do documentário do Scorsese sobre o George Harrison durante o Festival do Rio de 2013 onde, depois de meia hora de atraso, com o público protestando, a sessão começou exibindo a segunda parte do filme. O público vaiou e a sessão foi interrompida. Após uns dez minutos, a sessão reiniciou seguindo todas as formalidades, anúncios de patrocinadores, vinhetas do festival e o filme começou novamente pela segunda parte. O público foi ficando cada vez mais nervoso, começou a gritar mais alto ainda e a sessão foi interrompida de novo com o pobre do gerente do cinema dizendo que a primeira parte do filme estava com problemas, pois tinha que ter uma senha para destravar o arquivo e o cara que sabia a senha estava preso no trânsito em botafogo (????). O gerente ainda sugeriu que começássemos pelo final do filme para depois vermos o começo. O Público começou a ficar enfurecido e a sessão virou um ato político com as pessoas subindo no palco protestando contra o descaso pela cultura em nosso país, pelo aumento do salário dos professores e outras pregando que, somente a união do povo, faria o filme ser exibido da forma correta. A situação piorou com o gerente tendo que avisar que a sessão seria cancelada, pois já tinha fila pro filme da sessão seguinte. O Odeon foi tomado pelo grito ininterrupto de "Ninguem sai! Ninguem sai!!!". A situação já era caótica quando, por algum motivo inexplicável, os autofalantes do cinema começaram a transmitir uma... aula de língua portuguesa: "João foi ao mercado. Qual o sujeito da oração?" "Vamos falar sobre oração coordenada assindética...". A aula ficou rolando por uns 40 minutos em meio a gritos de protestos, discursos políticos e um cara cantando o hino do Botafogo. O mais bizarro é que eu estava chegando de uma viagem a Inglaterra onde o documentário já tinha sido lançado nas lojas. Fui direto do aeroporto para o cinema com minhas malas e com... o DVD do filme debaixo do braço. Cheguei a oferecer pro gerente exibir o meu dvd, mas ele achou melhor não fazer isso. Quando a situação já estava insustentável o tal funcionário que sabia a senha chegou e o filme rolou finalmente na íntegra. E aí você vê a magia do cinema: No final do filme, todos choravam e cantavam emocionados as músicas do George Harrison. Todo o stress que havia acontecido até ali, agora pertencia ao passado. Vi pessoas aos prantos agradecendo e abraçando o gerente emocionado. Tudo ficou bem no final daquela saga que durou 7 horas e meia (menos para meu amigo que parou o carro no estacionamento da cinelândia e pagou quase cem reais por conta de todo esses contratempos).

Recentemente, passei por uma outra situação curiosa ao assistir o filme Antes Que eu Vá. Era uma sessão depois do almoço e, apesar do cinema estar vazio, eu fiquei numa daquelas espreguiçadeiras que ficam na primeira fila. Devia ter mais umas 8 pessoas na sala. Acabei adormecendo por alguns instantes e quando acordei achei que o filme estava um pouco fora de foco. O problema é que a espreguiçadeira estava muito confortável para eu ter vontade de me levantar e ir reclamar. Continuei assistindo o filme. O tempo foi passando e a imagem começou a ficar cada vez mais embaçada. Cheguei a pensar que eu precisava de uma visita ao oculista. O tempo passou e chegou uma hora que, além da imagem do filme estar impraticável, a sala estava com um cheiro muito estranho de queimado. Finalmente tomei forças para sair da espreguiçadeira, me levantar e gritar: "Ô projecionista, olha o foco....". Foi quando vi que a cabine de projeção e a sala inteira estava vazia com uma fumaça tomando conta de cada centímetro dela. Achei que era uma alucinação típica do Donnie Darko. Eu não conseguia enxergar nem um palmo a minha frente. Sai da sala correndo até chegar ao corredor do cinema completamente escuro e com uma fumaça mais densa ainda. Eu já não conseguia mais respirar. De repente, eu vi um vulto vindo em minha direção. Era um bombeiro me puxando pelo braço e perguntando o que eu estava fazendo ali dentro, pois o shopping estava pegando fogo. Ou seja: Eu assisti metade de um filme no meio de um incêndio. Depois, quando eu estava no hospital tirando uma chapa do pulmão, pensei que, seu eu tivesse morrido, teria sido um final de vida cinematográfico. Morrer numa sala de cinema. Se isso acontecer algum dia, espero que, pelo menos eu chegue ao final do filme.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Acredita que eu nunca vi? Estou esperando ser lançado em Blu Ray pela Criterion.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho que quanto mais referências, mais rico será a sua arte. Eu sou viciado em cinema e procuro sempre buscar cada vez mais conhecimento e explorar as obras, não apenas dos grandes cineastas, mas também de outros diretores menos acessíveis ao grande público. Mas, ao mesmo tempo, eu pessoalmente conheço diretores que não conhecem e nem tem interesse em conhecer nada da obra de Truffaut, Bergman ou Tarkovski, mas que possuem um grande conhecimento técnico e artístico que os possibilitam a fazer belos trabalhos. Acho que o mais importante de tudo é você ter amor pela sua profissão. 

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Essa pergunta é muito difícil, pois já vi muito filme ruim nessa vida. Mas pra escolher um mais recente, voto no Yoga Hosers do Kevin Smith que passou há alguns anos no Festival do Rio e que fala sobre salsichas nazistas.  Mas posso também acompanhar o relator e dar uma menção honrosa ao Apocalpise com o Nicolas Cage.

 

17) Quem teve a ideia primeiro? Michael Haneke em 'Amour' ou Rúnar Rúnarsson em 'Volcano' (Eldfjall)?

O mais interessante é que essa pergunta não tem nada a ver com o resto do questionário, mas eu tinha certeza de que o Raphael não ia resistir em não fazê-la. Em 2011, eu estava viajando pela Islândia e, por coincidência, estava tendo um festival de cinema por lá. Resolvi conferir o tal Volcano que era o indicado pelo país a concorrer uma vaga ao Oscar. Saí do cinema impactado por aquele filme tão triste e tão belo e, ao mesmo tempo, senti uma grande frustração por não ter com quem comentar. O filme acabou não sendo indicado ao Oscar e, ninguém mais falou dele. O Tempo passou, e, no começo de 2013, fui assistir o Amour do Michael Haneke que tinha sido o vencedor do Oscar de Filme Estrangeiro daquele ano. O filme era maravilhoso, mas no meio da projeção, comecei achar que o ele estava ficando muito parecido com o outro que eu tinha visto na Islândia um ano e meio antes. Quando chegou a cena mais dura e impactante do filme, o cinema inteiro gritou e eu fiquei meio apático com a sensação de que eu já tinha visto aquilo em algum lugar. Eu achei que eu estava ficando maluco até que encontrei o Raphael Camacho que me disse que, um dia tinha, visto um filme Islandês que se parecia muito com o Amour. Foi um alívio ter a sensação de que eu não estava sozinho nesse mundo. Me senti como parte daquele casal do filme Yesterday que são os únicos que se lembram dos Beatles. Eu e Raphael já travamos vários debates e formulamos várias teorias, mas até hoje eu não sei se um filme inspirou o outro ou se os dois cineastas tiveram a mesma ideia. O fato é que tanto o Amour como o Volcano são dois filmes fantásticos e que merecem ser sempre vistos e redescobertos.


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