27/10/2018

Crítica do filme: 'Entrevista com Deus'


Não há como começar o texto desse filme sem perguntar o lógico: o que você faria se pudesse perguntar qualquer coisa em um encontro com quem criou a tudo e a todos? Entrevista com Deus, com estreia prevista para o circuito brasileiro no dia 15 de novembro, explora o poder da fé e as inúmeras dúvidas que temos sobre os obstáculos que enfrentamos não só em nosso presente mas com as marcas incuráveis do passado. De roteiro simples, buscando força nos diálogos e principalmente nas resposta do todo poderoso, o filme cria uma elo de simpatia com todo o positivismo das palavras que vem dele.

Na trama, inteiramente rodada em Nova York, conhecemos o perturbado jornalista Paul (Brenton Thwaites, o Robin/Dick Grayson da nova série Titãs) que após voltar do Afeganistão, onde fora como correspondente de guerra (jornalista), tem uma crise enorme em seu casamento e vive buscando ultrapassar seus obstáculos sempre com muita dificuldade de entender a si mesmo. Um certo dia, é colocado a ele uma pauta, onde o inusitado acontece: seu entrevistado alega ser Deus (David Strathairn). Tentando entender tudo que acontecer a seguir de suas inicias conversas com esse misterioso homem, Paul acaba embarcando em uma jornada de curar feridas de sua própria vida.

Diferente de outros filmes onde somente no final sabemos se o ser inusitado que aparece é ou não é realmente que diz ser (K-Pax, por exemplo), em Entrevista com Deus as resoluções e provas de afirmações são bastante rápidas, transformando tudo que vemos a seguir em uma história de superação do personagem Paul. Um filme com teores bíblicos e feito com bastante mensagens positivas, além disso, o lucro da produção foi destinado à entidades de crianças carentes, fato que é sempre muito legal.  O personagem de Deus, interpretado pelo indicado ao Oscar David Strathairn não passa a mão na cabeça de Paul, praticamente o desafia a melhorar para ser uma pessoa mais feliz.

O projeto marca o retorno do cineasta californiano Perry Lang na direção de longas metragens, seu último filme fora Homem de Guerra, estrelado em 1994 pelo hoje conhecido Dolph Lundgren. Entrevista com Deus é um filme simpático, repleto de positividade. Pode dar sono em alguns momentos mas se prestarmos bem a atenção, muitos ensinamentos conquistaremos.


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28/09/2018

Crítica do filme: 'Mandy'

Quando o sinistro se une ao esquisito. Exibido no Festival de Sundance desse ano, Mandy, novo trabalho do diretor italiano Panos Cosmatos, é uma caótica narrativa inventiva com pitadas fervorosas de tendências à psicodelia. Sim, é uma doideira danada. Esteticamente, o projeto ganha muitos pontos, visualmente embarca na loucura de seus excêntricos personagens fazendo ligações o tempo todo com os sentimentos que afloram frame a frame.

Na trama, ambientada no início da década de 80, conhecemos Red (Nicolas Cage) e Mandy (Andrea Riseborough), um casal que mora em um lugar no interior dos Estados Unidos, muito isolado dos grandes centros, praticamente dentro de uma floresta. Nesse mesmo lugar isolado, um culto repleto de pessoas loucas resolve implicar com Mandy e decidem sequestrá-la. Pensamento somente em vingança e munido de uma motossera, uma espada medieval (ou algo parecido) e muita sede de sangue, Red embarca em uma jornada infernal em busca de paz interior.

Violento, polêmico, sanguinário. Mandy se encaixa em vários gêneros mas não foge de vestir a camisa do terror. Elementos quase sobrenaturais e conceitos para lá de malucos compõe as razões e emoções de tudo que vimos ao longo dos intensos 121 minutos de projeção. Muito vão dizer que Red e seu embarque à loucura combina com Cage e outros personagens excêntricos de sua contestada carreira, mas o sobrinho de Coppola tem atuação apenas aceitável (por mais que não venha na cabeça outro ator a não ser ele para desempenhar esse papel).

Cosmatos e sua estética quase delirante jogam em sintonia com as bizarras cenas de violência que acompanham o longa. Mandy, filme que deve chegar ao Brasil em outras janelas exceto cinema, é uma experiência cinematográfica para poucos, ou você chega até o fim ou abandona em poucos minutos.

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Crítica do filme: 'O Orgulho'

A linha tênue entre o ensinar e o provocar. Dirigido pelo ator e cineasta israelense Yvan Attal, Le Brio, no original, é a saga de uma relação controversa entre um mestre e uma aluna, com pitadas jurídicas e diálogos que preenchem nosso campo emocional.  Ainda em exibição no circuito exibidor brasileiro, o filme é uma grande aula sobre a sociedade que vivemos e como enxergamos o próximo.

Indicado em algumas categorias ao César (o Oscar francês) desse ano, na trama, conhecemos a jovem, estudiosa e esforçada Neila (Camélia Jordana) que entra em uma prestigiada universidade para cursar direito. Logo no primeiro dia de aula, chega minutos atrasada e é repreendida na frente de todos pelo experiente e polêmico professor Pierre (Daniel Auteuil). Assim, começa a relação entre esses dois, completamente opostos que precisarão unir seus aprendizados quando Pierre é indicado para dar aulas preparatórias à Neila visando um importante concurso de oratória entre universidades francesas.

O roteiro é básico e eficiente. Mas quem comanda as ações são as belas atuações de Auteuil e Jordana, duas gerações distantes que brilham na tela. Essa relação mextre x aluno é o grande epicentro da história, deixando qualquer ida além da superfície em subtramas de lado. Há uma abiguidade no modo de se tratarem, na maneira como enxergam o mundo, durante todo o filme vemos uma luta de argumentos, muito deboche e ensinamentos que ambos levarão para o restante de suas vidas. É um filme que estudantes de direito de todo o mundo vão curtir, quem não curte muito essa vertente também tem outras brechas para se apaixonar por essa história.

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19/09/2018

Crítica do filme: 'Sicario: Dia de Soldado'


Fogo contra fogo, vamos falar do seu futuro. Tentando repetir o bom roteiro do primeiro filme da franquia, Sicario: Dia do Soldado apresenta uma história forte, que às vezes imita a realidade, na eterna guerra que o governo norte americano enfrenta contra os cartéis de drogas. O roteiro é do competente Taylor Sheridan (Terra Selvagem, Sicário: Terra de Ninguém, A Qualquer Custo) e a direção é assinada pelo cineasta italiano Stefano Sollima.

Dessa vez, o agente Matt Graver (Josh Brolin) convoca uma operação arriscada em território não norte americano que envolve o seqüestro da filha de um dos principais chefões de droga de todo o mundo. Quando a operação começa a ter problemas, Graver e Alejandro Gillick (Benicio Del Toro), que vimos no primeiro filme como um homem sem nada a perder e buscando a vingança pela morte de sua família, começam a entrar em conflito moral e ético e as escolhas de cada um deles define as conseqüências que vemos nesse forte e sangrento projeto.

Um dos pontos positivos do projeto é saber como lidar com o ritmo das subtramas. Repleto de ação e cenas fortes, buscando na linguagem nua e crua mostrar o terror que é essa guerra contra o mundo das drogas. Nossos olhos são Alejandro e todo seu passado trágico que o transformou em um homem sem regras. Dentro da ótima trama acaba tendo uma desconstrução do personagem ao lidar com as escolhas que a situação provocada pelo seqüestro planejado. Indo além da superfície no quesito moral e ético, o roteiro, adentra pouco sobre o papel do governo norte americano dentro das ações que se seguem, deixando margem para preenchimento com cenas muito bem elaboradas de ações e um certo suspense sobre como vão terminar os personagens.  

Nesse segundo filme, além de dar ótima brecha para um futuro terceiro projeto, mantém a consistência do primeiro filme, com ótimo desenvolvimento dos personagens, uma direção segura e um roteiro muito bem amarrado.

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17/09/2018

Crítica do filme: 'Gente de Bem'


É complicado retratar a depressão e a falta de sentido da vida com personagens tão diferentes e mesmo assim ser um filme interessante. Gente de Bem, filme que estreou no último Festival Internacional de Toronto e lançado após na rede de streaming Netflix, sem dúvidas não é um filme para qualquer um. Escancara a realidade modelando seu ritmo com pitadas de humor depressivo nos diálogos, situações constrangedoras e atitudes para lá de polêmicas. No papel principal, o excelente ator australiano Ben Mendelsohn (Reino Animal, Jogador Número 1) que mais uma vez mostra todo seu talento em um excêntrico e bastante peculiar personagem.

Na trama, dirigido pela cineasta Nicole Holofcener (À Procura do Amor – 2013) e roteirizado pela mesma, a partir da obra The Land of Steady Habits de Ted Thompson, conhecemos o recém separado Anders (Ben Mendelsohn), um homem que largou o emprego e partiu para uma aposentadoria antecipada mudando os rumos de sua vida e de toda sua família já que pede divórcio da esposa Helene (Edie Falco) ao mesmo tempo. Certo tempo depois, encontramos Anders desolado, sem saber ao certo se as decisões que tomou foram as melhores, já que a ex-esposa encontrou um novo amor, seu único filho parece ser um recém graduado sem rumo na vida e a única pessoa que consegue dialogar com ele por muito tempo é o filho de um casal amigo de sua família que passa por um fase de drogas e sumiços. Tentando direcionar melhor seus rumos, Anders passará por situações inusitadas em busca de seu melhor entendimento sobre o que é viver.

Muito parecido com Beleza Americana, principalmente na hora de escancarar os problemas que acontecem na vida real da sociedade norte americana, Gente de Bem bate na tecla da família, seus segredos e todo o julgamento de terceiros sobre situações que acontecem em quatro paredes. Os personagens são muito bem escritos, além do complexo protagonista, enxergamos as óticas dos dois jovens que navegam na história, um sem futuro certo após a formatura e morando com a mãe próximo aos 30 anos e um outro completamente abandonado pelos pais, que não conseguem enxergam e encontrar soluções para um problema grave que afeta não só o seu filho mas todo um planeta.

Mas a luz principal cai toda para cima de Anders, um fator de interseção de todas as subtramas. Vamos entendendo melhor ao personagem a partir dos olhos de outros e toda a dor que acaba causando onde passa, fruto de todas as escolhas que fez nos últimos tempos. Escolhas, verdades, mentiras, são premissas que são jogadas no liquidificador desse belo trabalho que merecia ganhar as telonas.

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15/09/2018

Crítica do filme: 'Tio Drew'


Cinema Comercial ou Comercial Cinema? Há duas maneiras de sair da sala de cinema após assistir a esse filme. Uma, você que ama basquete e adorou ver as enterradas, as jogadas de efeito de ex-jogadores e alguns ainda em atividade ao longo da projeção. A segunda maneira é pensar  que você não viu um filme mas sim um comercial de um refrigerante sem carisma e com diversos exageros. Tio Drew, fora lançado no circuito brasileiro de exibição faz poucas semanas, e senão me engano já saiu bem rápido de cartaz. Mal lançado (a temporada de basquete nem começou!), o projeto baseado em seu protagonista, astro de uma série de comerciais da Pepsi , interpretado no filme pelo genial jogador do Boston Celtics Kyrie Irving, falha demais quando pensamos em cinema.

Na trama, conhecemos um fracassado técnico de basquete de rua chamado Dax (Lil Rel Howery). Um homem assombrado por um erro numa partida de basquete quando era adolescente que busca sua redenção como treinador em um torneio de grande divulgação. Só que as vésperas do torneio, ele perde seu melhor jogador para outra equipe, além de ser jogado para fora de casa pela namorada interesseira. Sem rumo, acaba indo parar de quadra em quadra da cidade até encontrar Tio Drew (Kyrie Irving), um famoso jogador do passado que está aposentado e bastante velho mas não perdeu as habilidades excepcionais do jogo. Assim Dax convence Drew a reunir uma equipe de velhinhos ex-jogadores e assim tentarem ganhar o torneio.

Estimado em 19 milhões de dólares (quanto filme bom daria para ser feito com esse dinheiro!) e dirigido pelo cineasta Charles Stone III, com Roteiro de Jay Longino (Fora do Rumo (2016)), Uncle Drew, no original, é um show de propaganda de uma gigante dos refrigerantes que tentaram transformar em filme. O roteiro é falho, sem profundidade, além dos absurdos clichês que navegam a história. É um quebra cabeça com as peças todas erradas no tabuleiro, só serve mesmo de diversão para os amantes do basquete rever gênios como o mais famoso dos defensores da história Shaq, Reggie Miller e suas bolas de três, e a força no garrafão de Chris Weber, além das habilidades de Nate Robinson e o único ainda em atividade, Kyrie Irving, que fora parceiro de Lebron James durante muitos anos em Cleveland.

Mais fácil ligar nos jogos da NBA, quando a temporada começar. Que saudade de Space Jam!

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Crítica do filme: 'Missão Impossível: Efeito Fallout'


Um filme de ação, relembrando bons anos do cinema hollywoodiano de anos atrás. Muito se fala do astro, Tom Cruise, principalmente no segmento pessoal. Mas uma coisa não há como negar, um dos atores mais conhecidos do mundo sabe como ninguém entrar em projetos grandiosos e muitas vezes com saldo bem positivo.  Em mais uma aventura do agente secreto Ethan Hunt, um dos papéis mais emblemáticos de Cruise no cinema, Missão Impossível: Efeito Fallout nem de longe é o fechamento de um ciclo mas com certeza atinge ao seu ápice com um roteiro afiado, cenas de ação de tirar o fôlego e um ritmo eletrizante.

Nesse sexto filme, da franquia que começou em 1996, o agente secreto Ethan Hunt (Tom Cruise), luta para proteger o seu passado após uma nova missão dar muito errado e um elemento destruidor cair em mãos inimigas. Contando com a ajuda de sua equipe da IMF (Impossible Mission Force), principalmente os amigos Luther (Ving Rhames) e Benji (Simon Pegg), Hunt precisará controlar suas emoções principalmente quando sua ex-esposa Julia (Michelle Monaghan) acaba sendo envolvida nessa nova missão.

Com filmagens em Londres, Paris e na Nova Zelândia, Missão Impossível: Efeito Fallout talvez não dê o retorno em bilheteria de outros filmes da franquia, no Brasil com certeza não por conta dessa crise que demoraremos a passar. Mas é o melhor filme da franquia até agora, sem dúvidas. Dirigido pelo cineasta norte americano Christopher McQuarrie (Missão: Impossível - Nação Secreta, Jack Reacher: O Último Tiro), o projeto faz diversas menções a outras histórias da franquia, por isso é bom ver os outros filmes para conseguir ter uma total compreensão às referências.

Os arcos são muito bem definidos, e as quase duas horas e meia de projeção passam rapidamente, nessa mistura ótima de espionagem, tons cômicos em alguns diálogos e cenas de ação. As características dos personagens são mantidas, todos brilham um pouco. Observasse uma pequena mudança, uma certa transformação em Hunt, já sofrendo com delíros/premonições, sempre preocupado com o passado que fora obrigado a deixar no campo amoroso. Essas alterações em Hunt, justificam algumas escolhas importantes que vemos ao longo do filme.

Missão Impossível: Fallout ainda se encontra em cartaz em algumas salas de cinema no Brasil e no mundo. É um ingresso que vale a pena.

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31/08/2018

Crítica do filme: 'Ferrugem'


O caos da irresponsabilidade e as verdades que precisamos responder. Grande vencedor do prêmio de melhor filme brasileiro do Festival de Gramado desse ano, além de ter sido selecionado para o prestigiado Festival de Sundance, Ferrugem, dirigido por Aly Muritiba, traz a tona os problemas causados pela exposição de conteúdos pelas redes sociais, questão amplamente noticiada e cada vez mais sem controle, principalmente entre os jovens de todo o mundo. Ferrugem, é um retrato detalhista de nossa sociedade, com um primoroso desfecho, ótima direção e inspiradas atuações. Sem dúvida, um dos bons filmes nacionais lançados em circuito esse ano.

Na trama, acompanhamos Tati (Tifanny Dopke) uma jovem estudante do ensino médio que após terminar um namoro, começa a se interessar por Renet (Giovanni de Lorenzi). Durante uma viagem da escola, Tati acaba perdendo seu celular que continha um conteúdo comprometedor de seu antigo relacionamento. O vídeo acaba vazando em grupos de whatszapp de toda a escola, deixando a jovem desesperada e a beira de uma atitude que irá mexer com muitas vidas.

Dois pontos de vistas são muito marcantes nesse belo projeto. O olhar de Tati e todo o vendaval de exposição que acaba passando. Nessa ótica também observamos que nunca vemos os rostos de seus pais, deixando a ficção e a realidade se encontrarem através dos paralelos de histórias parecidas vistas em nossa sociedade o tempo todo. As conseqüências, são absorvidas por Renet e toda sua família, e nas frentes do pai Davi (Enrique Diaz) e da mãe distante Raquel (Clarissa Kiste). As opções de escolhas são determinadas ao jovem, ir de igual pensamento do pai que é mais presente (além de ser o professor da escola onde os jovens estudam), ou entender melhor a situação e buscar uma solução ao seu sofrimento, além de uma reaproximação com a mãe. O que comanda cada linha do roteiro são as escolhas.

Dividido em partes que se completam, o roteiro de Ferrugem é um dos melhores vistos nos últimos tempos quando pensamos em cinema nacional. Com ritmos bastante parecidos e deixando as atuações preencheram qualquer brecha, as partes contam sobre uma ação e as conseqüências dela, aos olhos de ótimos personagens que navegam na história em subtramas importantes para o total entendimento dos porquês do que vemos. Após os interessantes Para Minha Amada Morta (2015) e A Gente (2013), Muritiba volta inspirado à telona, desfilando técnica e criatividade bastante objetiva.

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29/08/2018

Crítica do filme: 'Do Jeito que Elas Querem'


O bom hábito das leituras com amigos. Em seu primeiro trabalho como diretor de longa metragem, o cineasta norte americano Bill Holderman traz para a telona uma simpática saga de quatro amigas de longa data que se reúnem semanalmente para o que chamam de Clube da Leitura, onde escolhem títulos de interesse para lerem e debaterem. Protagonizado por quatro grandes atrizes do cinema: Diane Keaton, Jane Fonda, Candice Bergen e Mary Steenburgen , Do Jeito que Elas Querem é um agradável passatempo com direito a muitos risos.

Na trama, quatro amigas inseparáveis, desde os tempos de faculdade, se reúnem toda semana para lerem e debateram livros que escolhem aleatoriamente, formando um clube da leitura, que não deixa de ser uma maneira, um pretexto, para sempre se reunirem e não deixar a amizade cair na rotina. Após alguns debates sobre temas do cotidiano, resolvem ler Cinqüenta Tons de Cinza, e o livro parece que chega para despertar as jovens senhoras para a vida que ainda tem pela frente. Assim, entre a lida dos três volume da saga do casal Grey, muita coisa vai mudando em suas próprias rotinas.

A fórmula é certeira para agradar ao público. Repleto de situações engraçadas e sempre com uma pontinha além da superfície para todos os dramas que sofrem em suas vidas as protagonistas. A falta de uma relação mais íntima de uma delas, a dificuldade em encontrar um pretendente de uma realizada juíza, a dificuldade em entender um novo amor após o falecimento do homem com quem teve durante toda uma vida, as problemáticas do se entregar a uma antiga paixão, por meio de subtramas bem amarradas, feitas para serem vistas de forma leve, engraçada e elegante, o roteiro ainda abre um ponto importante, uma brecha, para uma certa mensagem positiva em torno da leitura.

Tem clichê? Sim, tem. Mas qual o problema? Nem sempre o clichê vira algo negativo, faz parte das licenças poéticas encontradas pelos roteiristas. O filme é muito simpático, daqueles de sair da sala do cinema com um enorme sorriso de que, se não viu um filme inesquecível, pelo menos se divertiu durante 105 minutos.

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Crítica do filme: 'Perfeitos Desconhecidos (2017)'


Não há segredos que o tempo não revele. Já no catálogo da poderosa rede de streaming Netflix, o longa metragem espanhol Perfeitos Desconhecidos , oriundo em forma de remake de uma obra homônima italiana lançada em 2016, é um retrato do caótico universo do ser humano quando resolve esconder situações, contornando em mentiras, segredos escondidos e a exposição de tudo que antes ninguém sabia. Dirigido pelo experiente cineasta espanhol Álex de la Iglesia (O Bar – também no catálogo da Netflix), somos testemunhas de situações constrangedoras e surpreendentes ações durante uma única noite, em meio a um jantar entre amigos.

Na trama, conhecemos Alfonso (Eduard Fernández) e Eva (Belén Rueda), um casal com ótima situação financeira que mora em uma cobertura num grande centro da Espanha. Certa noite, resolvem convidar amigos de longa data para um jantar, estão entre os convidados dois casais, um com problemas na sua rotina diária e outro em início de noivado. O único que vai sozinho é Pepe (Pepón Nieto). Após algumas taças de vinho, os amigos resolvem embarcar em uma brincadeira onde precisam deixar seus celulares expostos na mesa, e a cada mensagem ou ligação precisam mostrar a todos. Assim, começa um enigmático clima em torno da brincadeira, com as mensagens e ligações chegando a todo minuto.

Abordando infidelidade, mentiras e situações surpreendentes, vamos aos poucos conhecendo as facetas da psicologia humana. Cada um dos sete personagens, pensam de forma diferente e reagem de maneira única para cada situação que são expostos. Assim, como se fosse um pente fino, uma lupa, vamos sendo surpreendidos com assuntos tabus que são jogados na mesa a todo instante, deixando a amizade em segundo plano e todos buscando suas próprias versões para o que chegam de informação.

No ritmo dinâmico, como uma boa peça de teatro, bem parecido aliás, já que tudo acontece em sucessivos minutos perto de uma gigante mesa de jantar, Perfeitos Desconhecidos é um ótimo passatempo, uma ótima dica para assistir na Netflix.

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27/08/2018

Crítica do filme: 'Escobar, a Traição'


Após vários filmes, séries, mini séries, chegou aos cinemas brasileiros na semana passada (23) mais um projeto sobre o narcotraficante colombiano Pablo Escobar. Em Escobar, a Traição acompanhamos com mais profundidade o relacionamento amoroso que teve como uma famosa jornalista colombiana enquanto subia cada vez mais na cadeia de comando do tráfico de drogas. No papel principal, o vencedor do Oscar Javier Bardem que com bastante maestria, coloca sua contribuição nesse papel que já fora de diversos atores. Penélope Cruz, também vencedora do Oscar, interpreta Virginia Vallejo, a jornalista que acaba se envolve com Escobar e vê sua vida mudar drasticamente. Bardem e Cruz são casados na vida real, e esse é o quinto filme que atuam juntos.

Na trama, baseado no livro de memórias da jornalista Virginia Vallejo, Amando a Pablo, Odiando a Escobar, conhecemos a rotina de Pablo Escobar (Javier Bardem), um dos mais famosos traficantes sul-americanos e toda a estrutura que monta no apoio a políticos, e das estratégias da chegada das drogas que produz até os Estados Unidos. Conforme vai crescendo na cadeia de poder, mais fica em evidência de órgãos norte americanos. Nessa mesma época, ele começa um ardente romance com a jornalista Virginia Vallejo (Penélope Cruz).

Longe de ser somente uma história de amor, mas com muitas marcas na vida dos envolvidos, o filme navega pela consolidação de Escobar com seu negócio ilegal, a curta carreira política e a idolatria que tinha nas áreas de periferias da grande Colômbia. A vida amorosa do narcotraficante também é bastante detalhada, principalmente o envolvimento com Vallejo. Os arcos são bem definidos e se juntam em certos pontos. Paralelo ao corte central do romance, vemos o crescimento e as atitudes impensadas de Escobar para ter cada vez mais poder, o que o leva a ruína quando as autoridades apertam o cerco.

Ao longo de cerca de duas horas de projeção, Escobar, a Traição é mais um capítulo, com mais uma faceta mostrada, da história desse poderoso homem que conseguiu mandar e desmandar em um país repleto de corrupção naquela época.

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26/08/2018

Crítica do filme: 'O Aviso'


O destino e a matemática andando lado a lado. Disponível no catálogo da Netflix, o longa metragem espanhol O Aviso aborda uma fábula matemática ligada ao destino, quando uma misteriosa ligação entre assassinatos em um mesmo lugar, ao longo de anos, se tornam uma obsessão para um homem, campeão de olimpíadas de matemática, que luta contra sua psicopatia. Dirigido pelo cineasta espanhol Daniel Calparsoro (do interessante Cien años de perdón) e protagonizado pelo ótimo ator Raúl Arévalo (do surpreendente Pecados Antigos, Longas Sombras), o projeto entrega um belo roteiro com um final cheio de opções de interpretações.

Baseado na obra El Aviso de Paul Pen, o filme, ao longo de duas linhas temporais com dez anos de diferenças, acompanha em uma delas Jon (Raúl Arévalo), um homem com problemas pessoais que após parar em um posto de gasolina, vê seu melhor amigo ser assassinado a sangue frio por assaltantes. Enquanto o amigo luta pela vida contra o coma, Jon, um homem ligado à matemática, começa a pesquisar sobre o passado daquele posto de gasolina e descobre uma enorme coincidência ou não sobre relações com outros assassinatos que foram cometidos no mesmo lugar. Lutando contra o tempo e buscando soluções para sua equação, Jon ainda tem que se preocupar com seu estado de saúde mental, já que tomava remédios controlados para combater seu lado psicótico. 10 anos à frente, o jovem Nico (Hugo Arbues), perceberá que sua vida pode mudar caso Jon não seja ouvido no passado.

Mesmo o inusitado tomando conta de todo o background do filme, o roteiro, muito bom, consegue percorrer caminhos de temas atuais como o bullying, enfrentado, muito bem retratado, pela subtrama familiar, dez anos à frente, que tem o jovem Nico e sua mãe Lucía (Aura Garrido, em grande atuação) no centro. Outro tema interessante é a questão do desligar ou não os aparelhos de um paciente com poucas chances de sobrevivência, núcleo encabeçado pela ótima Belén Cuesta e sua personagem Andrea, futura noiva do amigo de Jon, em coma.

Mas o que move as ações são mesmo as ansiedades e desespero de Jon, que dão ritmo ao filme. O desfecho é convincente, mesmo beirando um certo absurdo, encontra-se uma certa lógica para todos os argumentos apresentados. O Aviso é aquele tipo de filme que torcemos para descobrir o final, já que várias portas são abertas.

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23/08/2018

Crítica do filme: 'Upgrade'


Qual o tamanho da sua vingança? Escrito e dirigido pelo cineasta australiano Leigh Whannell, em seu segundo trabalho como diretor de um longa-metragem (o primeiro foi Sobrenatural: A Origem), Upgrade é um filme que adiciona à sua trama excelentes elementos, tanto técnicos de movimentações de câmera, direção da ação, como também bastante profundidade na saga do protagonista que embarca em uma vingança sem direção, guiado por uma tecnologia indutiva. No papel principal, o ‘clone’ de Tom Hardy, e também igualmente talentoso Logan Marshall-Green.

Na trama, ambientada em um futuro não tão distante, conhecemos o mecânico Trey (Logan Marshall-Green), um homem que vive em uma profissão do passado e mora em uma confortável e elegante casa com sua esposa Asha (Melanie Vallejo), uma bem sucedida profissional da área de tecnologia que trabalha em uma empresa conhecida. Certo dia, após visitarem um cliente de Trey, o carro futurístico em que estavam acaba sofrendo um acidente e ambos acabam parando em uma área violenta da cidade onde um grupo de homens matam Asha e deixam Trey em estado tetraplégico. Alguns meses se passam, Trey continua em busca dos assassinos e acaba recebendo uma oportunidade única: volta a andar, através de um implante tecnológico produzido por Eron Keen (Harrison Gilbertson) um famoso dono da principal empresa de tecnologia do mundo. Assim, acaba embarcando em uma jornada sangrenta rumo a encontrar os assassinos da esposa.

Um sci-fi repleto de ação com um plot twist bastante interessante? Definir Upgrade é bem complexo. Consegue romper a superfície dos profundos dramas que passa o personagem principal, reunindo em arcos muito bem escritos e definidos toda a consequência dos atos que se seguem na trama. A questão clássica de filmes de ficção científica (humanos vs tecnologia) é colocado de forma bem simples, através do implante falador que é injetado no corpo com problemas de Trey. A partir daí, a saga do protagonista muda, com elementos novos incorporados as ações e uma outra batalha começa a ser travada interna, mental.

Poderíamos ficar aqui durante longos parágrafos apontando vários itens de sucesso para esse grande filme. Há muita qualidade em tudo que é visto. Pena que o filme ainda não foi comprado por nenhuma distribuidora nacional, mesmo com elogios diversos mundialmente e alta nota do IMDB e outros sensores. É um projeto eficiente mas que passa desapercebido por nosso circuito por enquanto.
 

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Crítica do filme: 'Aqui em Casa Tudo bem (A Casa Tutti Bene)'


A verdadeira família é aquela unida pelo espírito e não pelo sangue. Lançado em fevereiro desse ano na Itália e com filmagens realizadas na paradisíaca ilha italiana de Ísquia, no golfo de Nápoles, o novo trabalho do cineasta Gabriele Muccino (À Procura da Felicidade) reúne diversos personagens em uma comemoração para mostrar todos os altos e baixos, sonhos e esperanças, de uma família que convive pouco junto e quando se reúne, a poeira debaixo do tapete vem à tona. Entre alegrias e tristezas, Muccino retrata, sem muita profundidade dessa vez, o ambiente familiar e suas curiosas histórias.

Na trama, conhecemos a enorme família de Alba (Stefania Sandrelli) e Pietro (Ivano Marescotti), que reúnem filhos, sobrinho, netos para comemorem as bodas de ouro na pequena ilha de Ísqua, onde moram e possuem um restaurante. Tudo era para ser bem rápido, com os convidados chegando via balsa de diversos lugares. Porém, após a comemoração, na hora de voltarem para casa, uma forte tempestade impede da balsa retornar ao centro de Nápoles, fazendo com que todos os convidados precisem ficar por mais algumas horas na ilha. Assim, situações começam a serem instauradas, fruto de um passado não tão distante de todos os personagens. Cada um com seu drama, buscam inspiração na família para tentar driblar qualquer eventualidade do destino.

Toda família tem sua história, seus dramas, suas alegrias, suas comemorações. Já ouvimos falar de traições, novos amores, aquele primo interesseiro que muitos não gostam, a esposa com ciúmes da ex do marido, o encanto da primeira vez, a sintonia perfeita de amores do passado. Explorando diversos tipos de personagens, cada qual como subtrama, Muccino faz um grande apanhado sobre a consequência e os atos em si que acabam sendo expostos de maneira abrupta, com desfechos sem reviravoltas. Tudo gira em torno da comemoração, que deveria durar apenas um dia mas quis o destino prolongar esse reencontro de muitas gerações e dramas.

O ritmo do filme é agradável, uma fotografia belíssima, mas falta aquele fator diferencial, provocado por mais profundidade quando adentra o universo das escolhas. Vira um filme comum, mesmo com diversas referências. Um ótimo passatempo para uma tarde de domingo mas que quando chega na segunda, esquecemos.



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19/08/2018

Crítica do filme: 'Te Peguei!'


Lembram daquela brincadeira de ‘pique pega’ que muitos de nós brincávamos quando criança? Então, Te Peguei! explora o universo de uma brincadeira infantil ainda mantida por anos, em prol da amizade, por adultos, em sua maioria bem sucedidos. Dirigido por Jeff Tomsic, debutando na direção de longas-metragens para cinema, baseado em fatos reais, a comédia tem cara de besteirol mas tenta criar paralelos, que não conseguem adentrar a superfície, para falar sobre amizade. O elenco é de rostos bastante conhecidos, Ed Helms (Se Beber não Case), Jon Hamm (Mad Men), Isla Fisher (Truque de Mestre), Jeremy Renner (o Gavião Arqueiro da Saga os Vingadores), Leslie Bibb (Popular) e Lil Rel Howery (Corra!).

Com estreia marcada para dia 23 de agosto no circuito exibidor brasileiro, o filme conta uma história para lá de inusitada de um grupo de amigos já na fase adulta de suas vidas que durante o mês de maio pregam inusitadas situações para brincar de ‘pega a pega’. Apenas um deles nunca perdeu nessa brincadeira (nunca conseguiu ser ‘pego’), Jerry (Jeremy Renner), que vai se casar exatamente no mês da brincadeira, o que faz com que seus amigos bolem diversos planos mirabolantes para tentar enfim pegar o melhor jogador do grupo de amigos. A brincadeira chama a atenção de Rebecca (Annabelle Wallis), jornalista de um famoso jornal, que passa a acompanhar a saga dos amigos em busca da vitória.

A manutenção da amizade, ou pelo menos o espírito mais puro dela, é uma das âncoras do filme mas que explora isso de maneira escrachada, muitas vezes ambíguas, pois, nunca sabemos quando estão falando a verdade ou criando situações para conseguir vencer no jogo. Os planos criados pelos ‘jogadores’ são para lá de peculiares. Situações cômicas ou relatos constrangedores são comentados e/ou vistos. As filmagens também devem ter sido intensas já que, por exemplo, Jeremy Renner quebrou o cotovelo direito e o pulso esquerdo durante uma cena.

Puxado muito mais para a comédia do que para qualquer outro gênero, o filme começa a inclinar para o drama quando um plot twist aparece já no arco final, preenchendo algumas lacunas na gincana de hiperatividade que é vista ao longo dos 100 minutos de projeção. Entre exageros e levando em conta uma certa licença poética, mesmo em doses não equilibradas, Te Peguei! cumpre seu papel em fazer rir.


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