Mostrando postagens com marcador Mostra de Cinema de Gostoso 2024. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mostra de Cinema de Gostoso 2024. Mostrar todas as postagens

29/01/2025

, , ,

Crítica do filme: 'Tijolo por Tijolo' [Mostra de Cinema de Tiradentes 2025]


Selecionado para a Mostra de Cinema de Tiradentes depois de passear - deixando ótimas impressões - em outros festivais de nosso país, o documentário Tijolo por Tijolo caminha pela era das redes sociais e, em consequência, as oportunidades pelo mundo dos influencers sem esquecer de paralelos com os sonhos e a realidade difícil. Nesses versos de imagens e movimentos urbanos com recortes de um cotidiano familiar chegamos de forma animada nas maneiras de como lidar com as dificuldades.

Dirigido por Victória Álvares e Quentin Delaroche, esse filme de 103 minutos nos leva até a história de uma carismática família, moradores do Ibura, na periferia do Recife, com a realidade atravessando o sonhar ainda numa época de pandemia. A reconstrução de uma casa se torna o primeiro passo para abertura de camadas profundas onde descobertas chegam ao mesmo tempo de recortes intimistas de um cotidiano guiados pela figura materna que se lança como influenciadora digital.

Um dos grandes méritos desse projeto é o fato de não deixar de ser interessante nem um minuto. Busca o dinamismo através das camadas que se abrem como pontos de vistas sobre o trabalho, a reconstrução de um lar, a relação familiar. Numa pequena mostra dentro da seleção de Tiradentes, onde há um forte debate sobre temas e formas, Tijolo por Tijolo apresenta sua simplicidade e a riqueza das possibilidades de câmeras em várias mãos.

Muito bem montado, com filmagens que duraram dois anos, consegue fluir numa narrativa onde questões sociais se ampliam para ótimos debates. O empreender, a maternidade, se tornam pontos chaves sempre ligados ao amor, a luta, a solidariedade e ao afeto. Esse é um daqueles documentários que marcam. Tijolo por Tijolo é, sem dúvidas, um dos melhores documentários brasileiros do ano passado.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Tijolo por Tijolo' [Mostra de Cinema de Tiradentes 2025]

26/11/2024

,

Crítica do filme: 'Manas'


Vi um dos grandes filmes brasileiros dos últimos anos, um projeto dilacerante, angustiante e que mostra verdades duras. Selecionado para a Mostra de Cinema de Gostoso 2024, depois de passar por outros festivais com grande sucesso, Manas apresenta o recorte de uma família pela visão de uma jovem adolescente que sofre com muitos tipos de violência em seu cotidiano. Dirigido por Marianna Brennand, o projeto dilacera de forma contundente os muitos tipos de abusos dentro e fora de casa.

Na trama conhecemos Tiele (Jamilli Correa), que vive com sua família em uma região na Ilha de Marajó, no Pará. Cheia de sonhos logo entra em um pesadelo, começando por perguntas em respostas no sumiço da irmã. Quando se vê perdida e completamente atingida pela violência que chega aos seus olhos de forma cruel, persegue o socorro por um caminho solitário até as últimas consequências.

Impressiona a maneira como a violência é retratada, de forma sutil a competente narrativa apresenta a angústia de forma dilacerante. Os olhares vão todos para a protagonista num clímax constante, numa busca por soluções para os absurdos que passa se colocando muitas vezes em uma estrada de rompimento do silêncio. Sem esquecer de outras fortes críticas sociais, percebemos um labirinto dentro de uma bolha com respostas cada vez mais distantes.

O núcleo familiar adiciona as camadas para esse poderoso drama que personifica muitas realidades pelo Brasil. Na incompreensão da passividade da mãe – interpretada pela ótima atriz Fátima Macedo – na iminência dos confrontos com o pai (Rômulo Braga) , até seu despertar para fugir do seu futuro naquelas condições, Tiele passa pelo terror sabendo que medidas drásticas podem ser a única solução para sair dele.

Rodado na região amazônica, o filme é brilhante tecnicamente falando. As imagens e movimentos se tornam elementos que ajudam a nos mostrar as incertezas colhidas por essa estrada. É como se cada detalhe fosse pensando para criar a imersão necessária para a angústia saltar aos nossos olhos e de maneira constante.

Eu estava com muitas expectativas pra assistir e valeu cada segundo. Será um filme que ficará nas minhas memorias por muito tempo. Manas é um filme duro, chocante, uma forte crítica social e um retrato dilacerante da violência.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Manas'

23/11/2024

, , , ,

Crítica do filme: 'Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí' [Mostra de Cinema de Gostoso 2024]


Uma história de amor em meio a um rico material de um profissional exemplar que sempre colocou a cultura brasileira em suas pautas. Assim podemos começar uma análise sobre esse cativante projeto. Exibido em primeira mão na Mostra de Cinema de Gostoso 2024, Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí reúne uma importante pesquisa, que junta materiais de arquivo aos detalhes do cotidiano, para registrar o começo, meio e as novas descobertas do viver de um homem diagnosticado com uma doença cruel que continua a escrever a sua própria história.

Diagnosticado com demência frontotemporal, o jornalista Maurício Kubrusly marcou a história do rádio e da televisão brasileira. Desde a primeira matéria de repercussão – ainda quando era estagiário – um furo de reportagem sobre a passagem da atriz francesa Brigitte Bardot pelo Rio de Janeiro décadas atrás, até as lendárias críticas musicais, passando também por um quadro de sucesso no importante programa televisivo da Rede Globo, Fantástico, que levou o olhar curioso de vários pontos do Brasil que poucos conheciam, Kubrusly é um mestre na arte de como atrair a atenção dos espectadores - inspiração para tantos outros profissionais da área.

Fugindo do convencional, o projeto vai do divertido ao curioso, guiado por um olhar delicado, sensível, que navega pelo tempo sendo essa uma variável com paralelos e trocas com a fabulosa carreira do personagem principal. Com um rico material, em áudio e vídeo, ultrapassa os desafios dos arquivos criando uma sintonia no discurso honesto e intimista que se propõe. Através de retratos de uma história de amor, sua forte ligação com a esposa – que conheceu anos atrás em um site de relacionamentos – logo chegamos na intimidade que conversa com as lembranças e se juntam com a sua condição de hoje, na perda da memória.  

Sendo também importante para falar de uma condição de saúde (demência frontotemporal (DFT) que invade tantos outros lares, que recentemente ganhou holofotes por ser a mesma que passa o ator Bruce Willis, Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí é um recorte também sobre os caminhos para lidar com essa doença e pode servir de inspiração para tantas outras famílias que passam pela questão com um alguém próximo.

Dirigido por Caio Cavechini e Evelyn Kuriki esse projeto que chega no início de dezembro na Globoplay se consolida como uma obra atemporal, muito bem estruturada, comovente, que vai seguir como um importante registro de um jornalista único, uma linda história de amor e a eterna arte de novos olhares para o viver.  

Continue lendo... Crítica do filme: 'Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí' [Mostra de Cinema de Gostoso 2024]