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26/11/2024

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Crítica do filme: 'Manas'


Vi um dos grandes filmes brasileiros dos últimos anos, um projeto dilacerante, angustiante e que mostra verdades duras. Selecionado para a Mostra de Cinema de Gostoso 2024, depois de passar por outros festivais com grande sucesso, Manas apresenta o recorte de uma família pela visão de uma jovem adolescente que sofre com muitos tipos de violência em seu cotidiano. Dirigido por Marianna Brennand, o projeto dilacera de forma contundente os muitos tipos de abusos dentro e fora de casa.

Na trama conhecemos Tiele (Jamilli Correa), que vive com sua família em uma região na Ilha de Marajó, no Pará. Cheia de sonhos logo entra em um pesadelo, começando por perguntas em respostas no sumiço da irmã. Quando se vê perdida e completamente atingida pela violência que chega aos seus olhos de forma cruel, persegue o socorro por um caminho solitário até as últimas consequências.

Impressiona a maneira como a violência é retratada, de forma sutil a competente narrativa apresenta a angústia de forma dilacerante. Os olhares vão todos para a protagonista num clímax constante, numa busca por soluções para os absurdos que passa se colocando muitas vezes em uma estrada de rompimento do silêncio. Sem esquecer de outras fortes críticas sociais, percebemos um labirinto dentro de uma bolha com respostas cada vez mais distantes.

O núcleo familiar adiciona as camadas para esse poderoso drama que personifica muitas realidades pelo Brasil. Na incompreensão da passividade da mãe – interpretada pela ótima atriz Fátima Macedo – na iminência dos confrontos com o pai (Rômulo Braga) , até seu despertar para fugir do seu futuro naquelas condições, Tiele passa pelo terror sabendo que medidas drásticas podem ser a única solução para sair dele.

Rodado na região amazônica, o filme é brilhante tecnicamente falando. As imagens e movimentos se tornam elementos que ajudam a nos mostrar as incertezas colhidas por essa estrada. É como se cada detalhe fosse pensando para criar a imersão necessária para a angústia saltar aos nossos olhos e de maneira constante.

Eu estava com muitas expectativas pra assistir e valeu cada segundo. Será um filme que ficará nas minhas memorias por muito tempo. Manas é um filme duro, chocante, uma forte crítica social e um retrato dilacerante da violência.


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23/11/2024

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Crítica do filme: 'Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí' [Mostra de Cinema de Gostoso 2024]


Uma história de amor em meio a um rico material de um profissional exemplar que sempre colocou a cultura brasileira em suas pautas. Assim podemos começar uma análise sobre esse cativante projeto. Exibido em primeira mão na Mostra de Cinema de Gostoso 2024, Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí reúne uma importante pesquisa, que junta materiais de arquivo aos detalhes do cotidiano, para registrar o começo, meio e as novas descobertas do viver de um homem diagnosticado com uma doença cruel que continua a escrever a sua própria história.

Diagnosticado com demência frontotemporal, o jornalista Maurício Kubrusly marcou a história do rádio e da televisão brasileira. Desde a primeira matéria de repercussão – ainda quando era estagiário – um furo de reportagem sobre a passagem da atriz francesa Brigitte Bardot pelo Rio de Janeiro décadas atrás, até as lendárias críticas musicais, passando também por um quadro de sucesso no importante programa televisivo da Rede Globo, Fantástico, que levou o olhar curioso de vários pontos do Brasil que poucos conheciam, Kubrusly é um mestre na arte de como atrair a atenção dos espectadores - inspiração para tantos outros profissionais da área.

Fugindo do convencional, o projeto vai do divertido ao curioso, guiado por um olhar delicado, sensível, que navega pelo tempo sendo essa uma variável com paralelos e trocas com a fabulosa carreira do personagem principal. Com um rico material, em áudio e vídeo, ultrapassa os desafios dos arquivos criando uma sintonia no discurso honesto e intimista que se propõe. Através de retratos de uma história de amor, sua forte ligação com a esposa – que conheceu anos atrás em um site de relacionamentos – logo chegamos na intimidade que conversa com as lembranças e se juntam com a sua condição de hoje, na perda da memória.  

Sendo também importante para falar de uma condição de saúde (demência frontotemporal (DFT) que invade tantos outros lares, que recentemente ganhou holofotes por ser a mesma que passa o ator Bruce Willis, Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí é um recorte também sobre os caminhos para lidar com essa doença e pode servir de inspiração para tantas outras famílias que passam pela questão com um alguém próximo.

Dirigido por Caio Cavechini e Evelyn Kuriki esse projeto que chega no início de dezembro na Globoplay se consolida como uma obra atemporal, muito bem estruturada, comovente, que vai seguir como um importante registro de um jornalista único, uma linda história de amor e a eterna arte de novos olhares para o viver.  

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