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29/01/2025

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Crítica do filme: 'Tijolo por Tijolo' [Mostra de Cinema de Tiradentes 2025]


Selecionado para a Mostra de Cinema de Tiradentes depois de passear - deixando ótimas impressões - em outros festivais de nosso país, o documentário Tijolo por Tijolo caminha pela era das redes sociais e, em consequência, as oportunidades pelo mundo dos influencers sem esquecer de paralelos com os sonhos e a realidade difícil. Nesses versos de imagens e movimentos urbanos com recortes de um cotidiano familiar chegamos de forma animada nas maneiras de como lidar com as dificuldades.

Dirigido por Victória Álvares e Quentin Delaroche, esse filme de 103 minutos nos leva até a história de uma carismática família, moradores do Ibura, na periferia do Recife, com a realidade atravessando o sonhar ainda numa época de pandemia. A reconstrução de uma casa se torna o primeiro passo para abertura de camadas profundas onde descobertas chegam ao mesmo tempo de recortes intimistas de um cotidiano guiados pela figura materna que se lança como influenciadora digital.

Um dos grandes méritos desse projeto é o fato de não deixar de ser interessante nem um minuto. Busca o dinamismo através das camadas que se abrem como pontos de vistas sobre o trabalho, a reconstrução de um lar, a relação familiar. Numa pequena mostra dentro da seleção de Tiradentes, onde há um forte debate sobre temas e formas, Tijolo por Tijolo apresenta sua simplicidade e a riqueza das possibilidades de câmeras em várias mãos.

Muito bem montado, com filmagens que duraram dois anos, consegue fluir numa narrativa onde questões sociais se ampliam para ótimos debates. O empreender, a maternidade, se tornam pontos chaves sempre ligados ao amor, a luta, a solidariedade e ao afeto. Esse é um daqueles documentários que marcam. Tijolo por Tijolo é, sem dúvidas, um dos melhores documentários brasileiros do ano passado.

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Crítica do filme: 'Nem Deus é tão Justo Quanto seus Jeans' [Mostra de Cinema de Tiradentes 2025]


Selecionado para a aguarda Mostra Aurora da 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o projeto paulista Nem Deus é tão Justo Quanto seus Jeans explora o vazio existencial que a depressão provoca através de um amargurado e perdido personagem que vaga pelo cotidiano preso nos pensamentos movidos por amores num passado que se foi e num presente cheio de interrogações. A direção é assinada por Sergio Silva.

A vida de Marcos anda uma amargura só: afastado do trabalho e em casa para curar suas dores, se perde em seus pensamentos através do que estrutura como as verdades que se seguirão em sua trajetória. Entendendo quase nada sobre sua nova relação com o namorado Gabriel – também preso no luto pelo ex que faleceu - se joga com força nas consultas com uma psiquiatra e acaba encontrando caminhos quando um inusitado gatilho aparece: a chegada de baby, um cãozinho deixado por um tempo sob seus cuidados pela irmã.

A narrativa busca explorar a linguagem e suas infinidades possíveis de forma organizada tendo uma estrutura base alcançada com o protagonista sendo o epicentro entre a razão e a emoção. Os desabafos se tornam estradas para chegarmos aos desejos e pensamentos, o que nada mais é que uma manifestação do inconsciente. O olhar do outro ganha importantes manifestações – aqui no sentido de revelação – tendo até mesmo o sobrenatural como elemento.

As peças se movimentam de forma lenta ao longo de 73 minutos, com os diálogos virando o alicerce do entendimento. Caminhar pela melancolia constante pode atrair ou não os olhares permanentes do público, principalmente quando a obra escapa do discurso indo para experimentações.

Com apenas seis diárias e pegando equipamento emprestado Nem Deus é tão Justo Quanto seus Jeans é um dos projetos mais interessantes que se encaixaram na proposta da nova Mostra Aurora, agora para o primeiro filme de realizadores e realizadoras.

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28/01/2025

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Crítica do filme: 'Para Lota' [Mostra de Cinema de Tiradentes 2025]


Mostrando através da escuridão - que esconde as belezas de um emblemático point carioca - interpretações de desabafos em cartas trocadas sobre questões que envolveram a criação de um parque num aterro do Flamengo, o documentário Para Lota, é um filme, praticamente nascido de uma imagem, que transforma o tempo numa importante variável. Esse jogo de temporalidades, desbravando a linguagem, se junta num imaginar dos desejos e luta de uma contraditória e sonhadora da elite carioca.

Exibido no segundo dia da 28a Mostra de Cinema de Tiradentes, esse projeto dirigido por Bruno Safadi e Ricardo Pretti, mesmo trazendo importantes reflexões sobre uma época de mudanças em nosso país - que sempre devem entrar nas reflexões - poderá ser um grande teste de paciência. Viajando com sua câmera através do travelling, de ponta a ponta de um ponto turístico muito conhecido, apresenta passagens que não se ampliam em contextos, pecando na superficialidade da transmissão de mensagens, indo de encontro a um retrato de um país em tumultuado período na política.

A proposta segue linhas de encontro a partir de uma época pandêmica onde uma filmagem de 8km pela noite carioca entregou uma ideia ao diretor: contar em um objetivo recorte questões sobre a criação do Parque do Flamengo através de cartas escritas pela criadora do lugar, a arquiteta-paisagista e urbanista da elite brasileira Lota de Macedo Soares. As atrizes Leandra Leal e Mariana Ximenes dão vozes as cartas. O desafio a partir desse ponto é: como transformar isso em cinema?

Para Lota encontra em sua narrativa imagens de uma escuridão sem pessoas em plano, somente a paisagem, que poderia ser um interessante complemento contemplativo para o conteúdo histórico das cartas escritas por Lota. Porém, mesmo sem redundância e passando por uma época turbulenta no Brasil, sem deixar de se arriscar nas possibilidades autorais da linguagem, encontra seu sentido apenas para quem alcança a paciência.

  

 

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Crítica do filme: 'Prédio Vazio' [Mostra de Cinema de Tiradentes 2025]


Filho de um ex-mágico e já consolidado como uma referência no gênero terror em nosso cinema brasileiro, o cineasta Rodrigo Aragão circula dramas e questões entre mães e filhas através de almas infelizes, atormentadas, com uma protagonista que está encontrando o seu pulsar pelo amor através do que encontra pelo caminho. Selecionado para a Mostra Olhos Livres, da 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o terror capixaba Prédio Vazio se afasta a cada segundo do convencional comercial, ganhando forte originalidade, onde o gótico e o ocultismo se encontram.

Desde criança tendo lembranças vagas de um certo momento traumático que viveu com sua mãe, a jovem Luna (Lorena Corrêa) está em um relacionamento ainda de descobertas com o namorado (Caio Macedo). Quando ela percebe que a mãe (Rejane Arruda) possa estar em perigo durante os últimos dias de carnaval, viaja até Guarapari em sua busca, entrando num edifício arrepiante na orla capixaba. Nesse lugar, vai se deparar com um enorme pesadelo.

Com referências que vão do grande José Mojica Martins até Dario Argento, esse projeto, que contou com apenas 20 diárias de gravações, acerta no clima de tensão colocando a criatividade na frente de suas possibilidades o que causa um efeito dominante na atenção do público. Luzes coloridas, plot twist... das linhas do roteiro até as ações na narrativa, através do medo e do aterrorizar, encontramos camadas sobre relação entre mães e filhas, também pinceladas sobre as descobertas do amor.

Em Prédio Vazio, o gótico e o ocultismo andam de mãos dadas, até mesmo com um charme cômico que se encaixa como uma luva dentro de toda a atmosfera criada. Aragão vai de encontro a um universo que domina como poucos levando o público para uma jornada aterrorizante mas também divertida pelas infinidades do sobrenatural. São cerca de 80 minutos que passam rapidinho com gosto de quero mais.

 

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