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12/01/2024

Crítica do filme: 'Blondi'


O refúgio de quem não quer ser adulto. Primeiro trabalho na direção da atriz argentina Dolores Fonzi, também a protagonista, Blondi nos leva para uma jornada sentimental de altos e baixos que enfrenta uma mulher com síndrome de Peter Pan quando começa a perceber movimentos para frente dos que a cercam. A narrativa e seu ritmo cadenciado, que busca nos detalhes os pontos de reflexões, navega pelos conflitos dos ótimos personagens de maneira leve, divertida, mas sem deixar um forte ar de incertezas.

Na trama, conhecemos Blondi (Dolores Fonzi), uma mulher imatura, perto dos 40 anos, que trabalha em uma empresa que produz uma espécie de Censo. Mãe desde os 15 anos do já adulto Mirko (Toto Rovito), preenche as lacunas do seu cotidiano indo de um lado para o outro com o filho e sendo amiga dos amigos dele. Quando algumas decisões de pessoas próximas a ela acontecem, Blondi começa a perceber que não tem como controlar os rumos da vida dos outros, fato que acaba também a fazendo passar por transformações na sua própria.

Lançado no segundo semestre do ano passado no catálogo da Prime Video, Blondi é muito mais do que um filme que aborda a maternidade, é um recorte e uma análise sobre a vida de uma mulher e suas descobertas sobre o estar em conflito. Muito fiel as suas convicções de não mexer na bolha que criou, mescla suas ações com um ar de imaturidade misturado com irresponsabilidade, como se não importasse o que os outros pensam sobre ela. A construção dessa personagem é a alma do roteiro. Muitas vezes enigmática, transmite um forte carisma.

Esse é um filme de personagens, onde a realidade com os altos e baixos se tornam um forte paralelo de identificação com o espectador. E não é só a protagonista que brilha. As subtramas dos ótimos coadjuvantes entram de forma complementar, como gatilhos para a protagonista. Assim chegamos no dilema do filho em busca de um sonho, da irmã que revira a vida infeliz que leva e parte rumo à novas aventuras. Até mesmo na visão de Pepa (Rita Cortese), a vovó parceira das filhas.

Exibido no Festival de Sán Sebastian 2023, Blondi é um filme pouco conhecido no Brasil. Uma pérola intimista com um simpático convite para reflexões. Pra quem se interessar, está disponível no catálogo da Prime Video.


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10/01/2024

Crítica do filme: 'Intruso'


Amor, o elemento mais surpreendente da vida. A imersão no conceito de possibilidades sobre os rumos do planeta terra num futuro próximo é um tema de fascínio de muitas mentes criativas e algumas dessas teorias chegam ao mundo do cinema. Esse é o caso de Intruso, um dos primeiros lançamentos da Prime Video em 2024, um drama, também suspense, com pitadas generosas de ficção científica, que vai a fundo numa história com ares filosóficos que envolve um olhar fixo para um casamento e uma variável incontrolável ligada à inteligência artificial além dos rumos do planeta.

Na trama, ambientada num futuro visto como logo ali, em 2065, conhecemos Hen (Saoirse Ronan) e Junior (Paul Mescal) um jovem casal que vive em uma fazenda isolada dos grandes centros cheios de temores sobre os próximos passos de suas vidas em um planeta pagando as consequências de séculos de exploração e negligência. Um dia, bate na porta deles Terrance (Aaron Pierre), designado por uma empresa chamada Outer More, com uma proposta no mínimo curiosa que vai mexer pra sempre com o casamento deles.

Cinco anos após seu último trabalho nas telonas, o longa-metragem Maria Madalena (protagonizado por Joaquin Phoenix e Rooney Mara), o cineasta australiano Garth Davis comanda as ações de um verdadeiro ninho de dilemas, um raio-x sobre um casamento, intimidades, comunicação, identidade, onde a força dos diálogos se tornam a base de uma narrativa contemplativa. Tudo é captado em cena para se somar aos paralelos das emoções que transbordam sentimentos conflitantes.

Baseado na obra homônima do escritor canadense Iain Reid, essa co-produção Austrália e Estados Unidos, o filme tem uma história com elementos interessantes, dentro de variáveis que encostam em achismos, só que contada de forma confusa. Temos introduções sobre uso da Inteligência Artificial, uma convocação obrigatória (na linha de muitos serviços militares espalhados pelo mundo), carros futurísticos, a possibilidade de cidades superpopulosas invadindo lugares fora da Terra, uma nova forma de vida, situações que se envolvem no centro das discussões sobre um relacionamento e seus problemas em uma vida que em breve será passado.

Como fazer um casamento sobreviver em condições nunca vistas antes? Será que o tempo deixa tudo previsível? A análise sobre tudo que acontece de consequência na vida dos protagonistas se baseiam no confronto de uma liberdade perdida. As fraquezas, a loucura, os calcanhares de aquiles só vistos entre quatro paredes se multiplicam, como se o dedo na ferida fosse ferramenta para novos pensamentos surgirem. As dores e as incertezas se tornam rotina principalmente na visão de Hen brilhantemente interpretada por Saoirse Ronan.

De uma proposta inusitada até o caminho de escolhas possíveis, chegando em um desfecho surpreendente, Intruso não deixa de ser uma crítica social não só aos rumos das possibilidades tecnológicas bateram de frente com o livre-arbítrio mas também os olhares pra um planeta que parece ter prazo de validade e as opções que podem surgir no único lugar que o homem (ainda) não destruiu.


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07/01/2024

Crítica do filme: 'Uma Boa Pessoa'


O encarar a realidade sem os que foram. Buscando detalhar um recorte doloroso na vida de uma jovem que vê os rumos de seu destino mudarem abruptamente após uma tragédia, o longa-metragem, Uma Boa Pessoa, escrito e dirigido pelo ator e diretor Zach Braff reflete e emociona numa poderosa tentativa de chegada ao recomeço. O forte drama, que relata o fundo do poço, o luto, a culpa, o egoísmo que afasta, os conflitos emocionais de um esmorecimento, é mais um impactante projeto protagonizado por uma das melhores atrizes do momento, Florence Pugh, que ainda contribuiu com duas canções que cantou e escreveu: ‘The Best Part’ e ‘I Hate Myself’.

Na trama, acompanhamos Allison (Florence Pugh) uma mulher de 26 anos, radiante, que está num momento muito feliz de sua vida, prestes a se casar com o grande amor de sua vida. Só que um dia, uma tragédia acontece fazendo com que sua vida mude completamente. Tentando seguir em frente, meses após o ocorrido, seu destino novamente se cruza com o de seu ex-sogro, Daniel (Morgan Freeman), um ex-policial e também ex-alcoólatra. Ambos vão precisar se entender e buscar entendimento para curar feridas do passado.

A narrativa, repleta de simbolismos, nos faz embarcar em um caminho que parece sem volta para uma melancolia insistente aos olhos de um alguém que não consegue ter forças para bater de frente com as consequências. Sofrendo, destruída emocionalmente. As confidências com a mãe, o olhar da família, aqui sobre algumas perspectivas, nos levam a entender melhor as transformações que passam a personagem em uma linha do tempo de um ano. Florence Pugh brilha intensamente em um dos papéis mais difíceis de sua carreira.

O antes e o depois entram em choque para a personagem principal, e nesse ponto o roteiro busca seu ritmo sem perder a objetividade com flertes com alguns clichês, principalmente com o retorno em sua vida do sogro, um ex-combatente do Vietnã, de uma forma profunda ligado à tragédia que houve. Esse encontro é o elemento central, que dita o caminho para o arco dramático da protagonista. Tudo é mostrado em cena buscando transmitir as emoções e principalmente o estado emocional presente dos personagens, os paralelos são inúmeros para o olhar mais observador.

A premissa do encarar a realidade sem os que foram aproxima o espectador, já que essa história é sobre os seres humanos em seus momentos de incertezas, de fraquezas quando estão longe de encontrarem soluções. Quem nunca se sentiu no fundo do poço, não é mesmo? Uma Boa Pessoa entrou de forma discreta no catálogo da Prime Video em 2023, um poderoso drama que nos leva ao caos da dor incansável aliada a culpa no aguardo das brechas de esperança que podem ou não chegar.


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31/12/2023

Crítica do filme: 'Uma Família Extraordinária'


O chegada do olhar para si. Inspirado em uma história real, chegou na Prime Video no final de 2023 um sobre família e suas camadas de conflitos aos olhos de uma jovem que por muito tempo teve sua direção e preocupação aos outros que acaba embarcando em uma jornada para um importante olhar para seus próprios sonhos, sua vida que está em momentos decisivos. Baseado em um documentário do cineasta Matt Smukler (que também assina a direção dessa produção), Uma Família Extraordinária mesmo rumo ao previsível, ensina, comove, abre debates profundos sobre o que de fato é ser feliz.

Na trama, conhecemos Bea (Kiernan Shipka), uma jovem adolescente que após sofrer um acidente entra em coma reunindo para perto de si toda sua família e amigos. Assim, vamos conhecendo melhor essa família. Bea, filha de pais deficientes e com uma família que se embaralha no suporte necessário, ao longo de toda sua trajetória, da infância até aquele presente momento, momentos importantes viram peças de reflexões em um filme sobre os laços profundos e suas camadas.

O que seria uma família perfeita? Isso existe? Uma Família Extraordinária busca um amplo recorte da trajetória de sua protagonista. Do preconceito até o entendimento do real sentido do amor maternal e paternal, somos testemunhas de um desabrochar para a maturidade onde a necessidade de pitadas de egoísmo acaba se tornando uma válvula propulsora. A narrativa expõe dilemas, dramas, fatos marcantes, elementos que de alguma forma moldam a personalidade forte de sua personagem principal.

O olhar da família, seus pensamentos conflitantes, e as derrapadas na hora de prestar qualquer ajuda vão se construindo ao longo do tempo sempre com a preocupação por conta das limitações dos pais de Bea. As duas avós, interpretadas pelas excelentes Jacki Weaver e Jean Smart, são responsáveis por diálogos impactantes, com uma leveza e verdade, deixando transparente seus conflitos mais profundos.

Previsível porém importante. Uma Família Extraordinária não deixa de ser uma emocionante caminhada para o entendimento maduro do sentido de família e a luz no fim do túnel quando passamos a olhar para nosso próprio caminho.



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23/12/2023

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Crítica do filme: 'Saltburn'


O drible do sanguessuga. Escrito e dirigido pela ganhadora do Oscar Emerald Fennell, o projeto que vamos comentar agora usa do chocar para expor um recorte sobre a decadência da moral fruto de uma insana necessidade de um descontrole das emoções. Com duas indicações ao Globo De Ouro, com grandes chances de ter alguma indicação ao próximo Oscar, Saltburn muitas vezes é o que não parece, se jogando em uma narrativa com inteligentes trocas de perspectivas e com atuações fabulosas, principalmente do seu protagonista, o ótimo Barry Keoghan.


Na trama, conhecemos o recém chegado à faculdade de Oxford, o aparente solitário Oliver (Barry Keoghan), um jovem que parece sofrer com a vida que leva fora daquele lugar. Quando conhece Felix (Jacob Elordi), um jovem milionário também estudante de Oxford, Oliver se vê atraído pelo universo de Felix, de riqueza e poder. Até que um dia que Felix o convida para passar o verão na mansão da família, Saltburn, junto com sua família cheia de peculiaridades.


Um dos méritos de como a história é contada passa por conseguir não perder o clima de tensão mesmo misturando as peças dentro de uma troca de perspectiva constante revelando algumas verdades apenas no seu desfecho surpreendente e brilhante. Uma trilha pelo abstrato começa a se compor, tendo a mente humana como epicentro de reflexões. Os conflitos mais profundos chegam numa gangorra onde estão sempre posicionados o ódio e o amor, a paixão e a loucura. Será nos choques das emoções as verdades da real mente perturbada?


O longa-metragem que estreou no Festival de Cinema de Telluride insiste no seu discurso destacar algo como a pergunta: o que são os valores que regem uma sociedade? Para ajudar nessa resposta, o roteiro transforma Saltburn em mais um personagem e não apenas um cenário propriamente dito. Por esse lugar, um desfile da psiquê humana (ego, mente e espírito), onde vemos dissimulados, mimados, gananciosos, egoístas e sanguessugas apresentarem seus blefes e suas cartadas. Em reforço a isso, na tela tudo ganha cores envolventes e cada detalhe se torna importante, méritos de uma direção de arte impecável e um direção envolvente.


Se você estiver realmente querendo ver um filme que te deixe tenso, cause espanto, reflita sobre a mente humana, o desejo e ainda te deixe de queixo caído com seu final você tem que correr na Prime Video e assistir Saltburn.



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17/12/2023

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Crítica do filme: 'Uma Lição de Amor' (2021)


Pai, você foi meu herói, meu bandido. Nas histórias mais simples encontramos reflexões para toda uma vida. Longa-metragem belga escondido no catálogo da Prime Video, Uma Lição de Amor (sim, homônimo daquele lindo filme com Sean Penn), dribla o tom melancólico para uma direção mais objetiva na construção de um relacionamento antes distante, agora com uma segunda chance. O filme, produzido pelos irmãos Dardenne, e dirigido pela cineasta Amélie van Elmbt, em seu segundo longa-metragem da carreira, pode ser definido como um retrato delicado sobre um enorme conflito de um homem e suas escolhas.


Na trama, acompanhamos Antoine (Thomas Blanchard) um jovem que teve escolhas difíceis no passado que retorna para a cidade onde nasceu e foi criado logo procurando Camile (Judith Chemla), sua ex-namorada e sua filha, a pequena Elsa que nunca conheceu. Quando Camille resolve deixar Elsa com Antoine, o protagonista embarca em uma jornada de descobertas sobre o valor de ser um pai presente.


Como reestabelecer laços nunca antes construídos? A jornada egoísta de Antoine, que abandonou a namorada e a filha para ir atrás de seus sonhos profissionais ganha um enorme foco na narrativa que busca caminhar na construção de um alguém que aos poucos vai percebendo o tempo que perdeu. Será ele um grande vilão? Merece uma segunda chance? Já que não é possível voltar no tempo, o que fazer? O que é ser pai? As perguntas são inúmeras e muitas dessas são preenchidas com um olhar delicado para o enorme conflito que se estabelece.


A figura da mãe na história é super importante, muitas vezes dizendo muito com o olhar se vê em dilemas por estar em dúvidas se deixa ou não o homem que a abandonou fazer parte da vida da filha que nunca quis conhecer. Pelas entrelinhas e nos intensos diálogos percebemos um passado de dor e luta pra criar a filha sozinha.


Filmado em lindas locações da cidade de Bruxelas, na Bélgica, Uma Lição de Amor retrata o abandono traumático mas também as novas oportunidades que o destino deixa no nosso caminho. Lindo filme.



 
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14/12/2023

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Crítica do filme: 'Soldado Universal'


O faz de conta e seus paralelos com a realidade. Trazendo como protagonistas dois dos rostos mais famosos quando pensamos em filmes de ação de algumas décadas atrás, Jean-Claude Van Damme e Dolph Lundgren, Soldado Universal busca se colocar como uma crítica ao militarismo e as pretensões das grandes potências em transformar soldados em seres imbatíveis. Muito longe da realidade? Talvez! Mas as brechas para as reflexões são inúmeras, principalmente se o espectador conseguir ter um olhar atento em meio a bombas, tiros e pancadarias.


Dirigido pelo cineasta alemão Roland Emmerich, sua primeira assinatura da direção de um filme norte-americano, o longa-metragem conta a história de Luc (Jean-Claude Van Damme), um soldado enviado ao Vietnã no final da década de 60 que após estar entre a vida e a morte, ganha nova chance de vida, mesmo que forçadamente, agora na pele de super soldado, fruto de uma experiência militar. Buscando entender o mundo décadas depois de quase morrer na guerra, Luc é perseguido por Andrew (Dolph Lundgren), um soldado sanguinário que conhece de outros tempos.


Misturando a ficção científica e a ação, a narrativa pratica um exercício de imaginar um mundo com soldados imbatíveis, algo que por si só levaria a vantagens impensáveis em futuras guerras. Essa costura é interessante pois os paralelos que surgem podem também ser vistos como críticas sociais aliadas a um avanço tecnológico. Mas será a força e brutalidade os caminhos para a paz?


As passagens de tempo, começando no fracasso do avanço norte-americano no Vietnã, são importantes para vários recortes que são mostrados. Esse contexto de um período turbulento da história, não só a norte-americana, o antes e depois dentro dessa linha temporal, de duas décadas e meia, faz com que a narrativa caia nas armadilhas dos clichês mas sempre resgatado por possíveis espelhos em relação ao avanço da sociedade e principalmente ao senso crítico que caminha em forte crescente.


Com um orçamento perto dos 20 milhões de dólares e uma receita que superou a casa dos 100 milhões somente em bilheteria em todo o mundo (na primeira semana faturou logo 10 milhões estando presente em quase 2.000 salas), Soldado Universal logo se tornou um enorme sucesso na carreira do astro belga Jean-Claude Van Damme. Inclusive Van Damme e Lundgren estiveram presentes na mega divulgação do filme no Festival de Cannes no início dos anos 1990, fato que ajudou o marketing da produção em uma era onde a internet ainda estava pra nascer.


O projeto logo virou uma franquia, com seis filmes ao todo e não necessariamente com todos os atores principais voltando para seus personagens, aproveitando a enxurrada de filmes de ação que ganhavam a atenção dos espectadores a partir da década de 90. O filme também ganhou uma minissérie de três episódios em forma de quadrinhos escrita por Clint McElroy.


Para quem se interessar em conferir a esse trabalho, o filme está disponível no catálogo da Prime Video.



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Crítica do filme: 'Touro Indomável'


Os paralelos entre a vida e os tempos de lutador. Um dos maiores clássicos da carreira do mestre Martin Scorsese, Touro Indomável, lançado 43 anos atrás, nos leva para os conflituosos dias de fúria e destruição de um pugilista norte-americano de sucesso que aliado à uma fúria inconsequente conseguir destruir também o mundo de quem estava próximo. Baseado na obra Raging Bull: My Story, escrito por Joseph Carter e Peter Savage, a brilhante narrativa, dirigida de forma impecável por Scorsese, traça incríveis paralelos entre o ringue e os conflitos emocionais.


Na trama, acompanhamos os dias de glória e os dias de fúria de Jake LaMotta (Robert de Niro), nascido no bairro do Bronx, em Nova Iorque, filho de imigrante italianos que desde cedo iniciou uma carreira no boxe profissional conhecido por uma fúria implacável em lutas memoráveis. A questão é que fora dos ringues ele agia da mesma forma. Machista, ciumento, paranoico, até mesmo inescrupuloso, conseguiu destruir os laços familiares que o cercava sempre demonstrando uma violência desmedida. Quem mais sofreu com isso foi sua esposa Vickie (Cathy Moriarty) e seu irmão Joey (Joe Pesci).


A forma como o projeto é filmado é digno de aplausos. Todo em preto e branco, tudo tem relação com os altos graus de fúria encontradas em uma personalidade conturbada. As coreografia das cenas de luta filmadas com apenas uma câmera se juntam a esses espelhos das emoções com a vida cotidiana transformando esse filme em uma pulsante alegoria da inconsequência, sem esquecer do contexto da época com a máfia dominando as esquinas de uma Nova Iorque à beira do caos e descontrole.


A análise profunda sobre o protagonista é repleta de detalhes. Um olhar fixo para as relações com os próximos, entrando nas complexidades das paranoias, as intensas crises de ciúmes, geram cenas inesquecíveis onde realmente sentimos raiva do personagem. Tudo isso em conjunto com uma trilha sonora que foi selecionada pro filme a partir da obra de um compositor italiano chamado Pietro Mascagni, falecido em Roma na década de 40.


O caos também de uma mente brilhante. A carreira de Scorsese ao final da década de 70 estava marcada por um recente fracasso de bilheteria, o musical New York, New York, além de um intenso tour pelo destrutivo universo das drogas que quase levaram o famoso diretor a uma overdose. A luz do fim do túnel seria exatamente essa profunda história de um controverso personagem de um dos mais lucrativos esportes norte-americanos que logo estaria na prateleira dos maiores filmes dos últimos 50 anos. Um detalhe importante e também demonstrando o comprometimento de Scorsese com sua obra, o filme foi editado no seu próprio apartamento em Nova York todas as noites após o término das filmagens do dia.


Indicado para oito Oscars, vencendo nas categorias Melhor Ator (Robert de Niro) e Melhor Edição (Thelma Schoonmaker), Touro Indomável pode ter sido o trabalho que salvou a carreira de Scorsese. E que bom! Ganhamos uma obra-prima para relembrarmos sempre e passarmos para as próximas gerações. Pra quem se interessar, o filme está disponível no catálogo da Prime Video.



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Crítica do filme: 'Morte no Nilo' (1978)


O poder e o amor. Em uma das primeiras adaptações para as telonas de um dos maiores clássicos de Agatha Christie tendo o brilhante detetive belga Hercule Poirot como protagonista, Morte no Nilo lançado em 1978 é um daqueles mistérios mirabolantes que são difíceis de saírem de nossas memórias. Navegando na águas conturbadas entre o poder e o amor, em uma análise fria e objetiva do ser humano e seu egoísmo descarado, vamos acompanhando intrigantes personagens e seus atos inconsequentes. Na pele do protagonista, o Cavaleiro da Ordem do Império Britânico Peter Ustinov.


Na trama, encontramos Hercule Poirot (Peter Ustinov), lendário detetive, que curte suas férias no Egito mas logo se vê envolvido em um caso misterioso. Durante um passeio de barco pelo rio Nilo, uma milionária chamada Linnet Ridgeway (Lois Chiles), odiada por muitos presentes nesse local, é assassinada a sangue frio enquanto dormia. Com muitos suspeitos e subtramas ligadas a ganância e amores perdidos, Poirot enfrentará um verdadeiro quebra-cabeça para resolver o caso.


Primeira aparição como Hercule Poirot do ator britânico Peter Ustinov, que voltou a representar esse glorioso papel mais cinco vezes, três em filmes lançados nos cinemas, outros três em filmes lançados diretamente para televisão, Morte no Nilo e suas intensas duas horas e dez de projeção consegue ambientar o espectador ao universo das emoções em conflitos, beirando à inconsequência.


A ganância é um dos pilares da história. O assassinato de uma herdeira, odiada, que roubou o namorado da melhor amiga, prejudicou uma de suas empregadas e se viu envolvida por atos duvidosos de seus familiares ao longo do tempo viram munição para uma narrativa que busca a aflição, o passo em falso, onde o detalhe captado em uma cena será de grande valor nas revelações finais.


O diretor do filme, o britânico John Guillermin, consegue colocar o espectador como uma espécie de mais um personagem. O clima de tensão é constante, é o tipo de filme onde o espectador também consegue brincar de detetive, tentando montar as peças desse tabuleiro tenebroso onde um assassino está presente. Quem já leu o livro vai logo se identificar com a riqueza que é vista nos detalhes, inclusive a direção de arte é impecável.


O elenco é poderoso! Jane Birkin, Lois Chiles, Bette Davis, Mia Farrow, Angela Lansbury, David Niven, Maggie Smith e Jack Warden brindam o público com ótimas atuações. O somatório de indicações ao Oscar dos artistas (por outros trabalhos) é 28, com oito vitórias! E essas filmagens foram realizadas no Egito, em meio a um sol escaldante com temperaturas na casa dos 50 graus celsius!


Lançado 41 anos após a primeira edição do livro de Agatha Christie e vencedor do Oscar de Melhor Figurino, o filme tem uma curiosidade bem legal: algumas cenas foram filmadas no Old Cataract Hotel, em Assuã, no Egito, onde Agatha Christie se inspirou para escrever essa história, durante férias que tirou no final da década de 30.


Para quem quiser conferir, o filme está disponível no catálogo da Prime Video.



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Crítica do filme: 'Jerry Maguire - A Grande Virada'


O amor e o poder na era da ganância. O concorrido, midiático e rentável universo dos esportes americanos vira pano de fundo para uma história de amor e dedicação aos olhos de um workholic que precisa redesenhar seus objetivos passando por aprender a dar valor aos que o cercam na vida pessoal. Assim, podemos rapidamente definir Jerry Maguire - A Grande Virada, um dos melhores filmes dos anos 90 escrito e dirigido pelo cineasta californiano Cameron Crowe, inspirado na vida do agente esportivo Leigh Steinberg.


Na trama, conhecemos Jerry Maguire (Tom Cruise), um badalado empresário de esportistas que vai do céu ao inferno quando, no auge da carreira, é demitido da empresa onde trabalha. Buscando um recomeço no mercado competitivo que está, vai em busca de firmar parceria com um jogador de futebol americano chamado Rod (Cuba Gooding Jr.) que é puro coração. Nessa jornada, Jerry contará com a ajuda da ex-secretária Dorothy (Renée Zellweger) com quem viverá um grande amor.


Quinto filme consecutivo de Tom Cruise com mais de 100 milhões de dólares em faturamento de bilheteria (algo que se repetiria mais pra frente na sua vitoriosa carreira), Jerry Maguire navega pelo olhar crítico ao capitalismo, onde o dinheiro e o poder se tornam obsessão de muitos deixando para trás laços importantes. As redescobertas do protagonista, numa óbvia relação a uma jornada de redenção se mesclam com uma história de amor água com açúcar mas mesmo assim carismática. Nessa última parte vale o destaque para a atriz Renée Zellweger que na época estava em baixa na carreira.


A narrativa percorre conflitos emocionais ligados a uma era de obsessões, uma frenética corrida por posição social. As linhas do roteiro surgem cheias de críticas sociais, uma forma bastante madura de refletir um eterno estado de aflição. O panorama midiático é muito bem estabelecido pelas lentes do ex-repórter da Revista Rolling Stones Cameron Crowe, um cineasta brilhante, com um olhar cirúrgico para os epicentros de um discurso.


Na trilha sonora, outra área que Crowe conhece como poucos, a produção teve permissão de ninguém mais ninguém menos que Paul McCartney para usar duas partes instrumentais das canções ‘Singalong Junk’ e ‘Momma Miss America’ que estiveram no álbum McCartney lançado pelo eterno beatle no início da década de 70.


Indicado para cinco Oscar, venceu na categoria Melhor Ator Coadjuvante (Cuba Gooding Jr.), e com um orçamento na casa dos 50 milhões de dólares, o filme faturou quase 300 milhões em bilheterias em todo o mundo, se tornando um enorme sucesso. Pra quem se interessar, o filme está disponível na Paramount Plus, Prime Video e HBO Max.



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Crítica do filme: 'Asas do Desejo'


A mais bela poesia sobre a existência. Lançado no final da década de 80 e ainda ambientado em uma Berlim dividida pelo famoso muro que consta em todos os livros de história, a obra-prima do cineasta alemão Wim Wenders, Asas do Desejo, nos leva para uma série de reflexões sobre a existência entre anjos querendo o viver e almas perdidas quase sempre em desespero. Indicado para a Palma de Ouro em Cannes no ano de 1987 e vencedor do prêmio de melhor diretor no mesmo festival, esse filme consta na lista de muitos como um dos melhores da história do cinema.


Na trama, conhecemos um anjo chamado Damiel (Bruno Ganz) e outro chamado Cassiel (Otto Sander) que passeiam por uma Berlim do lado ocidental, friorenta, ao lado de outros iguais, observando o cotidiano dos mortais que não podem lhe enxergar. Damiel está no limite, de saco cheio da vida eterna. Seu maior desejo é se tornar um humano mortal algo que só cresce quando se apaixona por uma trapezista de circo chamada Marion (Solveig Dommartin).


A narrativa, a maneira como é contada essa história, é repleta de metáforas com teor filosófico, numa afiada linha contemplativa, que nos fazem refletir sobre algumas questões da mortalidade dentro de um conjunto de ações que andam de mãos dadas com a evolução de uma sociedade que erra e acerta na mesma proporção. A visão de fora, no caso de um anjo, acaba sendo a cereja do bolo. Mesmo sabendo de todos os problemas que abalam os corações aflitos, quem está na eternidade quer se jogar na mortalidade. Essa distância entre dois pontos antagônicos, o mortal e o imortal, ganham novos olhares.


Esse transporte das emoções para a tela é sempre um caminho complexo. Mas por aqui tudo é feito com uma simplicidade aliada a uma inteligente emocional que fazem um tour de 360 graus quando pensamos em conflitos e o espaço/tempo. As interpretações serão diversas, cada um vai sentir esse filme de uma forma de diferente de acordo como seu modo de enxergar o mundo.


O filme termina dizendo que sua história continua. É verdade. Uma continuação lançada cinco anos depois, Tão Longe, Tão Perto, complementa a fantasia e as reflexões propostas nos mostrando o desenvolver dos principais personagens que vemos por aqui. Foi também uma inspiração para uma outra obra, dessa vez hollywoodiana, protagonizada por Meg Ryan e Nicolas Cage lançada 25 anos atrás, Cidade dos Anjos.


Wenders, hoje perto dos 80 anos, deve aparecer em muitas listas nesse ano com o também belíssimo Perfect Days que tem muitos paralelos com essa obra aqui. Ele é um eterno seguidor de outros monstros sagrados da cinematografia mundial, inclusive essa obra-prima é dedicada a alguns dos seus maiores ídolos: o japonês Yasujirô Ozu, o francês François Truffaut e o russo Andrei Tarkovsky. Esses dois últimos falecidos anos antes do lançamento de Asas do Desejo.


Para quem se interessar, o filme está disponível no catálogo da Prime Video e também do Telecine. Vejam que não vão se arrepender!

 


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29/10/2023

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Crítica do filme: 'O Senhor das Armas'


Escrito e dirigido pelo cineasta neozelandês Andrew Niccol, com um orçamento de cerca de 40 milhões de dólares, conseguindo quase dobrar esse número somente em bilheteria, O Senhor das Armas é um verdadeiro soco no estômago que já começa mostrar a que veio na sua abertura, uma das mais chocantes das últimas décadas, nos levando para o assustador mundo, infelizmente o mesmo em que vivemos, que tem uma arma para cada doze pessoas no planeta. Seguindo os passos de um traficante de armas, personagem esse baseado em partes na vida do comerciante russo de armas Viktor Bout, desde os anos 80 até os dias atuais, O Senhor das Armas é uma chocante e muito bem construída crítica à indústria bélica.


Na trama, conhecemos Yuri Orlov (Nicolas Cage), um descendente de ucranianos que chegou na América com a família se passando por judeus e criado no Brooklyn. Durante um momento de sua vida percebe uma oportunidade em um universo que não conhecia, o de traficar armas e logo se torna um alguém influente nesse meio. Correndo para o encontro com a violência, levando seu irmão Vitaly (Jared Leto) para os negócios e sem um pingo de dó na consciência ao longo de tempo ele começa a ser perseguido pela interpool aqui centralizado na figura do agente Valentine (Ethan Hawke).


Qual é a sua guerra? Por meio de um protagonista narrador, um recurso muito interessante que segue a narrativa, vamos sendo guiados para os bastidores de uma poderosa indústria, repleta de vilões, pessoas insensíveis. Sem passar a mão nem humanizar seu inconsequente e sem coração personagem principal o projeto caminha a passos detalhados onde joga o público de frente para a reflexão. A direção de Niccol é fascinante, apresenta por meio do chocar os conflitos e até mesmo dilemas que se seguem na vida de Yuri. Esse último, um intrigante personagem, que blindado por seu egocentrismo não consegue chegar nem perto de alguma dor na consciência. Um brilhante trabalho de Nicolas Cage.


Com armas espalhadas em diversas zonas de guerra, passando por momentos marcantes que remodelaram a geopolítica mundial, como o fim da União Soviética, e também a ascensão de ditadores impiedosos na África, Yuri parece, a cada novo lugar que vai, nos levar para verdades escondidas, momentos que precisamos refletir pois o espelho de muito do que vemos ao longo de quase duas horas de projeção não é muito diferente do que acontece em diversos lugares do mundo nesse mesmo instante.


Esse ano, foi confirmada uma continuação, com Nicolas Cage reprisando seu emblemático personagem quase duas décadas após o primeiro filme. Pra quem quer assistir o primeiro filme, está disponível no catálogo da Prime Video.


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28/09/2023

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Crítica do filme: 'O Grande Dragão Branco' * Revisão*


Os caminhos para a inspiração de vencedor. Inspirado na vida de um famoso lutador de artes marciais chamado Frank Dux, O Grande Dragão Branco é o longa-metragem de ação responsável por alavancar a carreira do até então quase desconhecido ator belga Jean-Claude Van Damme. O desejo de vencer uma competição secreta em Hong Kong, no melhor estilo luta livre, com três dias de lutas eliminatórias é a linha de partida de um roteiro que vai em direção ao confronto final numa clara referência ao antagonismo evidente entre o herói e o vilão.


Na trama, conhecemos Frank Dux (Jean-Claude Van Damme) um capitão do exército norte-americano que resolve abandonar seu posto e se inscrever num torneio secreto e sangrento de luta livre em Hong Kong que reúne especialistas em várias modalidades. Assim, aos poucos, conhecemos melhor o passado do protagonista e seus ensinamentos na arte do Ninjutsu por um mestre japonês. Isso nos leva ao confronto final de Frank Dux contra um lutador que nunca perdera uma luta.


Antes de mais nada, é importante sabermos quem foi o verdadeiro Frank Dux. Referência nas artes marciais, principalmente o Ninjitsu Americano, entre 1975 e 1980 fez mais de 300 lutas e com um incrível placar de 300 vitórias! Sim! Ele nunca perdeu! Desenhado para ser um paralelo com esse fera das lutas, o Frank Dux da ficção não poderia ter tido um intérprete melhor: o campeão de kickboxer e na época aspirante a ator Jean-Claude Van Damme. Desse casamento os cinéfilos amantes dos filmes de ação ganharam uma referência que percorreu por décadas grande filmes do gênero.


Mas voltando para o filme... O Grande Dragão Branco tem o passo a passo da simplicidade quando pensamos em estrutura narrativa, com todas as peças bem definidas, e um objetivo evidente de chegar até o clímax do antagonismo, a batalha entre herói e vilão. Tudo gira em torno das batalhas em Hong Kong e pinceladas de como Frank chegou até ali. Muitas vezes parece que estamos vendo um video-game onde selecionamos os personagens e colocamos eles para lutarem. E não fiquem pasmos se acharem que esse ou outros filmes de ação foram grande referências para famosos jogos de diversos consoles ao longo de várias gerações.


Com direito a participação especial do vencedor do Oscar Forest Whitaker, e dirigido por Newt Arnold, para quem se interessar, O Grande Dragão Branco está disponível no catálogo da Prime Video.



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25/09/2023

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Crítica do filme: 'Falcão - O Campeão dos Campeões' * Revisão *


Quando acreditamos em segundas chances. Longe de ser um dos mais elogiados filmes da carreira de Sylvester Stallone, inclusive indicado ao Framboesa de Ouro em algumas categorias, Falcão – O Campeão dos Campeões se tornou um dos mais emblemáticos filmes com o ator que foram exibidos na saudosa Sessão da Tarde. Trazendo para o público uma história girando em torno de uma turbulenta relação entre um pai e seu único filho, o projeto dirigido pelo israelense Menahem Golan busca trazer reflexões sobre erros e segundas chances.


Na trama, conhecemos Lincoln (Sylvester Stallone), um solitário caminhoneiro que após a ex-esposa Christina (Susan Blakely) adoecer de uma grave doença vai de encontro ao único filho do casal, Michael (David Mendenhall), um garoto mimado pelo avô Jason (Robert Loggia), com quem deverá passar alguns dias. Buscando recuperar mais de uma década em apenas alguns dias, Lincoln embarca em uma jornada tumultuada onde precisa assumir seus erros em troca de uma segunda chance. Ao mesmo tempo em que busca ter uma melhor relação com o filho, percorrendo quilômetros pelas estradas norte-americanas, o protagonista tem o sonho de vencer o principal torneio de queda de braço do país.


Sem pretensão de ser um filme com inúmeras lições sobre a relação entre pais e filhos, mas com a necessidade de impor grandiosidade demasiada em um duelo entre o herói e o vilão, o longa-metragem até consegue ser profundo em seu refletir. O drama se torna um elemento de importância que circula o desenvolvimento dos personagens. Assim chegamos até alguns dos conflitos: uma doença terminal que acaba tendo que unir dois parentes com um enorme hiato no convívio, as desilusões de um homem que abandonou a esposa e o filho pequeno por não se sentir apto a dar uma vida confortável a eles, um egoísmo de um avô influente pelo poder que tem mas sem sensibilidade para entender o momento. A narrativa se desenvolve em bom ritmo por essas estradas da vida.


Exageradamente indicado ao Framboesa de Ouro, Falcão - O Campeão dos Campeões não é nem de longe um filme ruim. Tem muitos paralelos com a realidade de muitos, seja nas relações conflituosas que são apresentadas, seja na questão dos sonhos que precisam ser regados com a força de vontade e muitas vezes sozinho. Pra quem se interessar, o filme está disponível no catálogo do Telecine e da Prime Video. 



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23/09/2023

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Crítica do filme: 'Cassandro'


Quando o seu sonho se torna o reflexo de tantos outros. Lançado mundialmente no Festival de Sundance desse ano, Cassandro caminha sobre as empolgantes mentirinhas dos ringues de luta livre que escondem as verdades dos dramas da vida real. Com um olhar profundo para a sexualidade e os conflitos familiares, o longa-metragem escrito e dirigido pelo cineasta norte-americano Roger Ross Williams busca alcançar a melancolia as vezes se perdendo no desenvolvimento lento de sua narrativa mas nada que atrapalhe as lindas mensagens que o projeto transmite.


Na trama, conhecemos Saúl (Gael García Bernal), um jovem nascido em El Paso (Texas) que tem o sonho de ser lutador profissional de luta livre e mora com a mãe Yocasta (Perla De La Rosa) no lado mexicano da fronteira com os Estados Unidos. Ele é gay e está em um relacionamento escondido com um homem casado. Enfrentando o preconceito em um esporte machista, quando começa a se destacar, resolve adotar o nome de ‘Cassandro’ virando uma referência para milhares de amantes desse esporte.


Ambientado no final da década de 80, início dos anos 90, Cassandro navega em um olhar profundo para família. Somente tendo proximidade com a mãe, já que o pai os abandonara de vez por conta da sexualidade do filho, Saúl parece viver seus sonhos em segredos, seja o de ser um grande lutador, querido pelo público, ou mesmo ter uma relação amorosa onde não precise esconder quem ele é. Há um conflito doloroso com o pai, figura que lhe fez amar o esporte que viraria sua profissão. A força da amizade e os encontros pelo caminho acabam construindo novas maneiras de enxergar o mundo que vive. Gael García Bernal está brilhante no papel principal.


O filme não tem um grande clímax, o que poderia ser um problema, mas um ótimo desfecho completa qualquer lacuna que pode ter ficado pelo caminho. No desenvolvimento, a narrativa se perde ao alcançar a melancolia, estaciona em um ritmo lento, mas nada que atrapalhe as mensagens que o filme carrega em suas linhas do roteiro que conseguem serem transmitidas de forma objetiva e com altas cargas de emoção.



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Crítica do filme: 'Antes de Partir'


Faça o que ama enquanto puder. Buscando traçar muitas reflexões em uma conflituosa relação entre um pai e seu único filho, Antes de Partir nos leva para uma profunda jornada dramática na visão de um senhor na fase final de vida que, sem planejar, encontra o amor de diversas formas, um sentimento congelado ao longo do tempo que se acomodou nos pesares, nas tragédias, na distância. O simbolismo e a importância de uma das mais fortes relação humanas são os elementos contundentes para entendermos esse longa-metragem, dirigido pela dupla Oded Binnun e Mihal Brezis, com roteiro baseado no livro The Etruscan Smile do escritor espanhol José Luis Sampedro.

Na trama, conhecemos Rory MacNeil (Brian Cox) um emburrado senhor que vive seus dias isolado na distante Vallasay, uma ilha na Escócia. Quando precisa de um atendimento médico que não tem por aquelas terras, arruma um pretexto para se consultar de emergência e vai para São Francisco nos Estados Unidos visitar o filho Ian (JJ Feild), um especialista em gastronomia molecular, que não vê faz uma década e meia. Ao longo do tempo que passam juntos, entre encontros e desencontros, uma aproximação acontece, principalmente por Rory enfim conhecer pessoalmente seu neto que o faz encontrar novos rumos para sua fase final da vida.


Filhos como reflexões de seus pais. A jornada por aqui, centralizada no protagonista, acaba abrindo margens para entendermos a visão de terceiros sobre a figura rabugenta, que volta e meia esbraveja em gaélico (língua essa que chegou pela Escócia no século V). Chega a ser um conflito sobre a imaturidade contra o que o destino traz de renovador no momento. Um senhor de idade que sabe estar no últimos dias e as formas que a vida lhe entrega situações, até mesmo uma grande paixão. As surpresas pelo caminho são elementos que reforçam os conflitos que vive o personagem.


A narrativa contorna o complexo universo do abstrato. O amor, o perdão ganham novas formas de serem demonstrados através de uma pulga atrás da orelha que é o arrependimento. O que você faria se tivesse poucos dias de vida? Essa pergunta segue com Rory sem deixar de traçar paralelos com histórias e mais histórias do lado de cá da telona.  Antes de Partir pode ser definido como uma inesperada jornada de autoconhecimento onde o inesperado se une aos dilemas de toda uma vida.



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22/09/2023

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Crítica do filme: 'Aparências'


As pessoas são capazes de tudo para sustentar um iminente declínio de seus casamentos? O prestígio, a posição social aqui se misturam com a desconfiança, a problemática de um inconsequente relacionamento com um stalker, a infidelidade, mentiras e mais mentiras. Aparências, lançado em 2020 nos cinemas franceses e dirigido pelo cineasta Marc Fitoussi nos leva até as peças de um declínio em um casamento que parecia perfeito. Entre ataques e contra-ataques vamos rumando para um inacreditável desfecho onde percebemos as verdades de dois cúmplices de suas ações através da impulsividade e do complicado jogo das aparências. O projeto conta com uma destacada atuação da maravilhosa atriz francesas Karin Viard.


Na trama, conhecemos Eve (Karin Viard) e Henri (Benjamin Biolay), um casal francês de classe alta que moram faz anos na Suíça. Ela uma competente gerente de uma biblioteca, ele um maestro rumo aos mais altos cargos de sua prestigiada profissão. Vivendo sob os holofotes da posição social que conquistaram, esse casamento se encontra em um presente frio. Quando Eve descobre a traição do marido com uma professora que dá aula ao único filho do casal, a protagonista se joga em uma noite de inconsequências se relacionando com o problemático Jonas (Lucas Englander). Quando um passa a descobrir a traição do outro, a trama vai se desenvolvendo rumo ao imprevisível.


A impulsividade é algo relevante nessa reflexão matrimonial. No radar de um cotidiano que parecia perfeito, como peças de um dominó posicionadas para uma enorme queda, somos guiados para a construção de uma narrativa brilhante, onde as reviravoltas são encontradas através do descontrole, em ações inconsequentes de uma guerra não declarada que acaba sendo imposta. Assim, acompanhamos os obstáculos que se amontoam na vida do casal muito pela visão da esposa em intensos 110 minutos de projeção.


O título não poderia ser mais certeiro, Aparências! O medo de perder a posição social que foi construída ao longo de anos de uma relação se torna peça chave para o entendimento de alguns porquês ao longo dos labirintos que se metem esse casal em total desencontro. De drama, o filme vira um suspense daqueles que não conseguimos tirar os olhos da tela nos levando ao imprevisível dentro de um desfecho avassalador.


Pra quem se interessar, o filme está disponível no catálogo da Prime Video!



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04/09/2023

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Crítica do filme: 'Rambo - Programado Para Matar'


Antes de embarcar na terceira aventura do pugilista mais famoso do planeta cinema, Rocky Balboa, Sylvester Stallone foi chamado para interpretar um outro personagem que seria ao lado do garanhão italiano um dos mais emblemáticos de sua carreira. Rambo - Programado Para Matar, baseado na obra homônima do escritor canadense David Morrell, é um filme de ação que explora o conflito pós-traumático ao lado de uma crítica social profunda em um Estados Unidos pós Guerra do Vietnã.   


Na trama, ambientada na fictícia cidade de Hope, em Washington, conhecemos John Rambo (Sylvester Stallone), um ex-membro de uma das principais forças especiais do exército norte-americano, os boinas verdes, que sobreviveu aos horrores do Vietnã e volta para casa após cumprir seus deveres militares. Ele resolve ir até a cidade onde um amigo do seu pelotão de elite reside, mas acaba sendo perseguido e preso, praticamente sem motivos, por um carrancudo xerife local chamado Will Teasle (Brian Dennehy) e acaba se refugiando em uma área florestal onde é caçado. Só que seus inimigos não esperavam que ele se sente melhor nessas condições do que em qualquer outras.


Lançado no início da década de 80 e dirigido por Ted Kotcheff, o projeto nos leva para dentro da mente de um homem treinado para matar, completamente sem família, um nômade que só sabe uma direção. A narrativa em seu desenvolvimento explora com eficácia um fator importante por aqui, o trauma. Os abalos emocionais mostrados, os gatilhos provocados, por meio de lampejos em forma de flashbacks vamos tendo uma ideia do complicado cenário emocional que estamos sendo testemunhas. Aliás, esse filme é um prato cheio para psicólogos!


Dentro do fator da Guerra do Vietnã, nesse pós-conflito, Rambo simboliza milhares de soldados que voltaram para casa e foram destroçados pela opinião pública, alguns até sem conseguir um simples emprego qualquer. A crítica social aqui se expande para a política de armas dos Estados Unidos. 

    

Rambo - Programado Para Matar é longe de ser uma obra-prima mas é muito mais que um filme de ação qualquer pois consegue gerar o refletir sobre assuntos que viriam a se tornar atemporais.




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03/09/2023

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Crítica do filme: 'Click'


Quem não gostaria de controlar o tempo? Chegou aos cinemas no ano de 2006 um longa-metragem onde a crise existencial corre em paralelo com a comédia tendo o tempo como elemento vital na narrativa. Click, dirigido pelo cineasta nova iorquino Frank Coraci e protagonizado por Adam Sandler, bate na tecla do desperdício da vida aos olhos de um workholic que navega nas desilusões de seus próprios atos. O projeto é muito mais profundo do que aparenta, principalmente se alcançarmos reflexões jogadas nas entrelinhas.


Na trama, conhecemos Michael (Adam Sandler) um arquiteto preocupado em crescer na empresa em que trabalha, por vezes estressado que joga todo o foco de seu presente na dedicação incansável a seu trabalho por vezes tentando agradar o seu chefe Ammer (David Hasselhoff). Sem tempo para a família, perdendo momentos importantes na criação dos dois filhos pequenos, e se distanciando cada vez mais da esposa Donna (Kate Beckinsale), certo dia após mais uma crise de irritação por coisas banais, vai até uma enorme loja e lá, num escritório escondido que fica no estoque, acaba encontrando um homem misterioso chamado Morty (Christopher Walken) que lhe oferece um controle remoto mágico com o poder de avançar ou voltar no tempo. O uso descontrolado do objeto vai levar Michael a diversos conflitos e ele começa a rever algumas escolhas.


Indicado para o Oscar de Melhor Maquiagem, Click tem um ar filosófico que avança nas reflexões sobre o desperdício da vida, questão que muitos enfrentam num cotidiano profissional cada vez mais acirrado, competitivo, deixando muitas vezes confuso o lado pessoal. Aqui o roteiro encontra a atemporalidade. A narrativa consegue chegar em um ótimo ritmo na mistura da melancolia com a diversão, com a crise existencial correndo em paralelo com a comédia. Isso é um grande feito já que para onde o olhar do espectador passa há caminhos para reflexões.


Outro ponto importante é sobre a seguinte questão: Qual o sentido da vida? Revisitando partes dela, para frente ou para trás, já que avança o que não quer, muta o que não quer ouvir, vemos Michael e seus conflitos bem definidos, seja no seu trabalho ou em casa com sua família. Nesse último ponto, mesmo que não aparecendo muito, vemos uma confusa e insatisfeita esposa que começa a se distanciar, algo que fica nítido nas entrelinhas e conforme o tempo avança fica óbvio que as escolhas do presente que se encontra acaba levando o protagonista a um futuro triste, solitário. Será que era assim que ele queria que terminasse sua história?


Click se disfarça nas cenas que fazem rir sempre com um elementos que podemos pensar sobre nossas próprias vidas. De bobo não tem nada essa obra! 



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01/09/2023

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Crítica do filme: 'Efeito Borboleta'


Você mudaria seu passado se pudesse? Buscando refletir sobre essa intrigante pergunta, o excelente Efeito Borboleta, um dos grandes filmes de ficção científica dos anos 2000 nos guia através de um roteiro inteligente, dinâmico, para uma curiosa trajetória de conflitos de um jovem que por uma inusitada circunstância do destino consegue voltar no tempo e reviver situações emblemáticas de sua vida. Escrito e dirigido pela dupla Eric Bress e J. Mackye Gruber, o projeto bate na tecla das incontroláveis variáveis de um olhar para a teoria do caos, percorrendo as alterações de eventos e os desdobramentos imprevisíveis. Um prato cheio pra quem curte narrativas que navegam na ficção científica e principalmente viagens no tempo.


Na trama, conhecemos Evan (Ashton Kutcher), um jovem já perto da fase adulta que ao longo de sua vida manifesta falhas de memórias sempre em momentos de alto estresse. Certo dia, por meio de diários que escrevia, consegue voltar no tempo para momentos em que nunca pensara mais encontrar. Buscando consertar determinadas situações traumáticas no passado, acaba criando novas variáveis tão ou mais complicadoras, muitas dessas que envolvem a vida de seu grande amor Kayleigh (Amy Smart).


Em um universo infinito de variáveis, em qual delas você se sente mais confortável de que é a linha correta a seguir? Essa é uma questão importante, algo que corre em paralelo as alucinantes situações que vive o protagonista. A narrativa liga o turbo na não linearidade, algo que faz com que o espectador precise ter atenção já que praticamente uma sequência influencia a outra. Essa construção é feita de maneira brilhante tendo como norte as incontroláveis variáveis de um olhar composto por linhas temporais, física e toda a problemática que gira em torno. Parece que estamos montando um quebra-cabeça onde peças novas entram e desmontam as já montadas.


O universo também incontrolável do abstrato recorte do sentimento também é uma mola propulsora da narrativa. Há espaço para a importância da amizade, dos sonhos, do amor, esse último talvez o ponto fixo e estopim de mudanças quando o protagonista se distancia do ‘eu quero’ e começa a tomar atitudes sobre ‘o que fica melhor para eles’. Algo que não deixa de ser um lopping reflexiva sobre crise existencial.


Passam-se gerações e Efeito Borboleta continua sendo pauta de conversas, indicações. É um filme que depois de assistido faz o espectador pensar sobre muitas coisas e o que talvez poderia se mudar havendo possibilidade. Pra quem se interessar, o filme está disponível no catálogo da Prime Video e da HBO Max.



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