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30/05/2024

Crítica do filme: 'Maestro (s)'


Filme francês que liga a música clássica a um problema de relação entre pai e filho? Vamos falar agora do ótimo Maestro (s). Adaptação do excelente filme israelense Footnote, o longa-metragem francês Maestro (s) traz para o público um duelo entre dois personagens, pai e filho, que tem o mesmo ofício e precisam aprender a lidar com angústias que leva seus destinos para um conflito familiar que se juntam à rugas do passado. Se escondendo do melodrama, tendo o contagiante universo da música clássica como palco, vemos as variações dos erros e acertos entre mestre e aprendiz, numa relação de indiferença onde o ego se projeta acima de tudo.

Na trama, conhecemos Denis (Yvan Attal) um maestro em total ascensão na carreira após vencer um cobiçado prêmio. Ele possui uma trajetória de repleta tensão com seu pai François (Pierre Arditi), esse também maestro. Um dia, após um bizarro erro de comunicação a partir um inesperado convite para assumir uma prestigiada orquestra na Itália, Denis precisará lidar com uma situação que logo se torna um problema de família.

Solos de violinos, o impacto na condução de sinfonias, o perfeccionismo, se juntam a uma narrativa onde a emoção transborda sem forçar, se escondendo do melodrama. A ótima direção conduz o público pelo transbordar de conflituosos sentimentos, onda a mágoa vira uma marca evidente. A busca pela aclamação mesmo que isso leve a muitos desgastes coloca no palco principal uma triste constatação de como o egocentrismo se torna uma barreira quase inabalável numa relação familiar. Com os dilemas se amontoando, unindo passado e presente, somos testemunhas de reflexões ao longo de cerca de 90 minutos de projeção.

Dirigido por Bruno Chiché, Maestro (s) não se esconde ao mostrar seus embates, algo que acontece muito por aí, traça seu norte indo de encontro ao que machuca, ao perdão. Falar sobre pais e filhos é sempre uma jornada emocionante, o desfecho desse filme comprova isso.


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02/04/2024

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Crítica do filme: 'Cinema é uma Droga Pesada'


Um divertido e com profundos dizeres sobre uma produção cinematográfica. Exibido no Festival Varilux de Cinema Francês do passado, o longa-metragem Cinema é uma Droga Pesada expõe o processo criativo e joga uma luz nas produções audiovisuais com uma metalinguagem que se amplifica dentro de uma narrativa inteligente apresentando vários olhares dentro de uma mesma situação que se torna ampla, seguindo na lógica convincente de um filme dentro de outro. Dirigido pelo experiente cineasta francês Cédric Kahn, o projeto, que possui um título certeiro, traz reflexões encantadoras e gera boas risadas.

Na trama, somos apresentados a uma nova produção do cinema francês, um filme que aborda uma relação conflituosa entre a classe operária e seus patrões. Assim, atrás das câmeras vemos os bastidores com a visão de Simon (Denis Podalydès), um cineasta que chegou aos limites em muitos pontos de sua vida, inclusive com problemas no relacionamento familiar consumido por sua dedicação intensa ao seu ofício, que percebe aos poucos perder o controle sobre seu novo trabalho. Outras histórias vistas nesses bastidores acabam se juntando aos poucos.

As variáveis humanas dentro de um indústria que preza pelo capital. Triturando as camadas do audiovisual, e toda a concepção de uma série de dias de filmagens, Cinema é uma Droga caminha, através de ótimos personagens, pelo processo criativo de transformar em imagens e movimento as linhas de um roteiro. Mas isso seria muito trivial se estacionasse na superfície, o que não é o caso. Os cortes no orçamento, as variáveis incontroláveis, as relações interpessoais, os longos embates sobre os rumos do processo final, a visão macro da direção e artistas são destrinchadas em ótimos diálogos.

Há um interessante elo, talvez visto por alguns como uma crítica social, sobre o tema do filme que estão gravando e a situação que passa a produção. A classe operária e embates com os patrões e os tais vários olhares dentro de uma mesma situação, antes de mais nada, reflete da ficção à realidade. Dessa forma construtiva, a metalinguagem escancarada se torna um alicerce de conclusões diversas, um ponto importante para fazer sentido tudo que quer ser transmitido.

Outro elemento importante e muito bem conduzido pela ótima direção de Kahn, são as subtramas se encaixando de forma atinada, virando um trunfo de um roteiro que consegue se moldar tendo como ponto em comum o alvo do discurso. O elenco é fantástico, encabeçado pelos ótimos Denis Podalydès e Emmanuelle Bercot ajudam a traduzir os conflitos que passam seus personagens, transformando o caos emocional em carismáticos retratos de almas em eternos embates existenciais.

Cinema é uma Droga Pesada foi um dos destaques da ótima seleção do Festival Varilux de Cinema Francês 2023. Um filme cheio de verdades que os estudantes de cinema precisam olhar com atenção.

 

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16/03/2024

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Crítica do filme: 'O Livro da Discórdia'


O sexo e a punição. Exibido no Festival Varilux de Cinema Francês do ano passado a comédia O Livro da Discórdia apresenta reflexões sobre uma geração de imigrantes no choque entre as memórias do passado e o presente na visão de um escritor de meia idade, descendente de argelinos. Dirigido pela atriz e cineasta francesa Baya Kasmi, em seu segundo longa-metragem de ficção, o projeto abre também espaço para mercado editorial dos livros e seu circuito de interesses. Tudo funciona de forma equilibrada em um roteiro que preza pelo humor na medida certa.

Na trama, acompanhamos a trajetória de Youssef (Ramzy Bedia), um homem de 45 anos, que mora em Paris e busca seu primeiro grande sucesso como escritor. Quando seu novo livro, que relata experiências vividas na sua adolescência na cidade de Marselha, vira um fenômeno de vendas Youssef fica preocupado de falar com os pais sobre a obra que apresenta questões que vão longe do encontro de tudo que sua família acredita. 

Abrindo espaço para o enigmático mercado editorial e seus vícios em busca do sucesso, o filme usa do flashback para entendermos sentimentos do passado e os dilemas que se seguem no presente em uma França recheada de questões sobre imigrações, algo corriqueiro numa Europa dos nossos tempos. A forma como se apresenta os temas polêmicos ligados à religião e os costumes também geram ótimos debates, aqui acoplados na visão de uma família que flerta com o tradicional, por conta de suas raízes, mas que faz muito tempo vive num mundo atual onde as aparências se tornaram ferramentas de não enfrentamento de possíveis embates. 

Inteligente sem perder o humor. A causa e o efeito ganham sentido quando entendemos que as autocríticas chegam por meio de terceiros, pelos mais próximos do protagonista. Seu conflito, segue durante toda narrativa com a exposições de situações se tornando um elemento importante sem fugir do discurso do roteiro. O desenho de sua estrutura familiar é apresentado de forma bem humorada com Youssef preso na premissa de que a realidade sempre vai além da ficção.

 

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06/03/2021

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Crítica do filme: 'Feliz Aniversário'

Quando a falta de explicações em uma trama apenas superficial deixa tudo muito confuso aos olhos do espectador. Escrito e dirigido pelo cineasta francês Cédric Kahn (que inclusive atua no filme), Feliz Aniversário é um drama que fala sobre problemas em relacionamentos usando a comédia dentro de um contraponto maçante, deixando muitas cenas em total descontrole e completamente sem elos com que nos apresentam sobre os personagens. Não adianta ter Catherine Deneuve, Emmanuelle Bercot no elenco se o roteiro é um embaralhado de situações que não nos comovem, nos fazem refletir ou melhor que isso tudo: nos fazem chegar a alguma direção de compreensão.


Na trama, conhecemos Andréa (Catherine Deneuve) e sua família formado por netos, amigos e seus filhos Romain (Vincent Macaigne), Vincent (Cédric Kahn) que se reúnem para o seu aniversário na aconchegante casa da família na França. A surpresa de todos para a mãe, a presença da filha que morava fora do país Claire (Emmanuelle Bercot), aos poucos vai deixando essa comemoração com tons dramáticos.


Decepcionante é uma boa palavra para definir esse projeto. Subtramas confusas, distância entre os personagens, roteiro com arcos que não explicam (apenas mostram). Nos fazem sentir vontade de olhar o relógio a todo instante para saber se está perto de acabar o nosso sofrimento. O ponto chave para tudo ter sentido, Claire, é apresentada cheia de cartas na manga mas que nunca são mostradas, principalmente sobre um passado confuso que tem a ver com investimentos, dinheiro e um imóvel da família. O roteiro parece focar em relacionamentos sem se aprofundar, deixando tudo na superfície, principalmente nosso tédio.

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23/01/2021

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Crítica do filme: 'Felicità'


Quantas variáveis existem na relação entre pais e filhos? Um dos filmes disponíveis no ótimo festival online e gratuito My French Film Festival desse ano, Felicità, é um road movie descontraído que nos conta a saga de uma família de três integrantes, meio nômades, que se mete em diversas confusões antes do início das aulas da jovem filha do casal. Parece simples e sem muitas saídas para reflexões mas o projeto consegue avançar a superfície principalmente quando analisamos o que assistimos pela ótica de Tommy, a jovem filha. Um trabalho interessante escrito e dirigido por Bruno Merle.


Na trama, conhecemos o ex-presidiário Tim (Pio Marmaï) e Chloé (Camille Rutherford), dois jovens sem muitas projeções na vida que vivem do dinheiro que a segunda recebe trabalhando na limpeza de casas para uma empresa. Eles tem uma filha, Tommy (Rita Merle), que acaba embarcando sempre nas loucas aventuras que os pais se metem ao longo dos dias que antecedem o início das aulas.


Os absurdos e as peculiaridades que navegam pela história não deixam de serem ingredientes interessantes para conseguirmos enxergarmos conflitos emocionais profundos. Um bom exemplo é a curiosidade da filha, e tudo o que sente quando percebe que seu pai repete os mesmos erros que o levaram para a prisão. As questões de dúvidas de Chloe quanto ao futuro da família e atabalhoadas tentativas de viverem uma vida repleta de amor mas longe de um ‘normal’. Tim é quem possui mais dificuldade em nos fazer refletir sobre suas construções emocionais, não há exatamente uma desconstrução mas algo é buscado para que tudo saia como melhor que ontem, mesmo que as velhas inconsequências não consigam estarem longe de suas ações.


Felicità é um recorte de uma família que se ama muito mas sempre fica distante de uma estabilidade.  Sempre bom assistir a filmes que possuam um bom desenvolvimento na temática muitas vezes vistas na telona que é a relação entre pais e filhos.

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17/01/2021

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Crítica do filme: 'O Porco Espinho'


Toda família feliz é igual mas toda família infeliz é única. Escrito e dirigido pela cineasta francesa Mona Achache, com roteiro baseado na obra A Elegância do Ouriço de Muriel Barbery, O Porco Espinho, lançado no ano de 2009, é um belíssimo filme que usa de diversos contrapontos para nos fazer enxergar todo um contexto sob a ótica de duas solitárias (cada uma à sua maneira): uma jovem super esperta que está decidida a se matar e uma solitária zeladora leitora assídua. Diálogos sobre livros, questões existenciais, cotidiano estressante, impossível não abrir um sorriso e também não ficar com o coração apertado após assistir a esse belo trabalho que diz muito sobre amizade e esperança.


Na trama, conhecemos Paloma (Garance Le Guillermic), uma jovem inteligente, muito à frente do seu tempo, que está decidida a se matar por não mais conseguir aturar sua vida e se sentir deslocada em uma família egoísta, rica e distantes entre si. Mas no prédio que ela mora, não é a única que se sente solitária. Reneé (Josiane Balasko) é a zeladora do prédio e precisa aturar todo tipo de situação no seu dia a dia. Amante dos livros, conversa com os poucos amigos que tem. A chegada de um novo vizinho, Sr. Ozu (Togo Igawa), acaba mexendo com a vida não só de Paloma mas também com a de Reneé, criando inclusive uma amizade entre as duas.


Uma rigidez no pensar e a infelicidade no contraponto. Há duas protagonistas nessa história, o que torna essa jornada ainda mais interessante. Paloma é inteligente, estuda japonês e ama cinema. Com sua câmera portátil, filme situações ao seu redor e toda sua família, além dos moradores do prédio onde mora. Está envolvida de alguma forma no pensar da parábola do aquário, onde se sente limitada, sem saída em muitos momentos. Os desabafos dela são feitos virados para sua câmera, uma espécie de consulta a um psicólogo. Já Reneé impõe no seu lindo pensar limitações por conta de sua classe social e medos, principalmente com a chegada do novo vizinho que mexe muito com sua vida. Quando Paloma e Reneé se aproximam, conseguimos sentir a força da solidão das duas mas também que quando estão conversando a alegria e riso fácil as acompanham. Uma faz a outra ver algum lado bom da vida.


A vida e a morte, a eterna desconfiança sobre o destino. Há uma solidão evidente por trás do conhecimento mas quando esses se aproximam, tudo começa a fazer mais sentido. O Porco Espinho, filme que deveria ser visto por psicólogos e estudantes, é um fábula urbana muito interessante sobre a roda gigante de emoções que é viver.

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