27/05/2024

,

Crítica do filme: 'Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos'


O que é que o baiano tem? Chegou aos cinemas um documentário super interessante que contorna a poesia de um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira. Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos nos apresenta um grande contador de histórias, um artista que aprendeu a gostar de si, pelos outros. Escrito, dirigido e produzido por Daniela Broitman, com um rico material, muito bem aproveitado, ao longo de 90 minutos passeamos por meio de memórias do seu passado e as inspirações que moldaram sua vida e suas canções.

Na casa de amigos, já pelos oitenta anos e com depoimentos de Caetano Veloso, Gilberto Gil e de seus filhos, o projeto apresenta imagens que conversam com as suas letras. Uma história contada por ele mesmo e por muitos que o cercavam. O mar e o cotidiano, a Bahia, a fase romântica pelo Rio de Janeiro, histórias sobre a composição de uma das mais conhecidas músicas na voz de Carmen Miranda, sua ligação com o candomblé. Repleta de contextos que encostam na história de artistas de uma outra época, esse documentário reproduz décadas de amor pela arte.

Os tempos no Rio de Janeiro, as histórias por Copacabana, ganham boa parte do filme com momentos engraçados, além de prováveis inspirações por paixões relâmpagos que se tornaram eternas em algumas de suas letras, algumas bem famosas. O reconhecimento como artista, o lado mulherengo, nada é colocado de lado em papos francos, abertos, onde tudo se torna uma grande celebração.

Em sua imaginária jangada que saiu pro mar, aqui no caso, da Bahia para o mundo, Dorival Caymmi marcou seu nome na história da nossa cultura, um nome que merece sempre ser relembrado e descoberto pelas futuras gerações.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos'

Crítica do filme: ' Nahir – Entre a Paixão e as Grades'


As páginas de uma tragédia. O pivô de um crime que chocou a Argentina, culminando na pessoa mais jovem a ser condenada à prisão perpétua no país hermano. Você já ouviu falar de Nahir Galarza? Buscando seu dinamismo através de um vai e vem na linha temporal onde peças de um quebra-cabeça emocional vão aparecendo aos poucos, o novo filme da Prime Video Nahir – Entre a Paixão e as Grades busca traçar o perfil psicológico e uma cronologia de fatos que ganharam as páginas da imprensa mundial sobre um fato que até hoje tem algumas interrogações.

Na trama, conhecemos a introspectiva Nahir (Valentina Zenere), uma jovem iniciando a fase adulta que está em um relacionamento repleto de idas e voltas com o jovem Fernando (Simon Hemp). Numa madrugada, após uma discussão, ao pegar sua moto voltando pra casa é assassinado. No dia seguinte Nahir assume o crime. Mas será essa toda a verdade do caso?

A narrativa se joga no antes e o depois do crime e algumas versões que se chegam no arco conclusivo. A crueldade que choca está embutida no contraste das cores em cena, principalmente no figurino da protagonista, que expõe a composição de uma personagem enigmática, que caminha na falta de compaixão, a falta da culpa, um alguém definido com o desejo de ser o centro das atenções. Valentina Zenere está muito bem no difícil papel, buscando algo enigmático no olhar.

A visão dos pais que tem suas vidas completamente afetadas pelo ocorrido também ganham seus contornos, principalmente quando o foco se vira nos desenrolares no tribunal, numa audiência que ganhou a atenção de muitos por conta de todo o circo midiático. Aqui nesse ponto, uma importante reviravolta acontece rumando para as estradas de versões de um mesmo crime.

A cidade de Gualeguaychú, província de Entre Rios, ficou pra sempre marcada na história policial argentina por essa história. O filme, de forma objetiva, traz aos holofotes detalhes desse caso aterrorizante que escancara os deslizes emocionais e deixa margens para algumas interpretações.


Continue lendo... Crítica do filme: ' Nahir – Entre a Paixão e as Grades'

26/05/2024

Crítica do filme: 'Atlas'


O luto que se mostra culpa. O descontrole no uso e medidas de segurança com o desenvolvimento da inteligência artificial leva à uma guerra dos humanos com as máquinas. Algo já muito visto? Sim! Mas em Atlas, novo filme da Netflix, protagonizado pela Jennifer Lopez, o olhar para o trauma, no luto que se mostra culpa parece ser um caminho certeiro que jogado em uma narrativa dinâmica e envolvente encontra um encaixe honesto, com um discurso bem construído. A direção é de Brad Peyton.

Na trama, ambientada em um planeta Terra 28 anos depois do primeiro terrorista ligado à Inteligência Artificial fugir do planeta, conhecemos a analista em contraterrorismo Atlas (Jennifer Lopez) uma mulher de poucos amigos, adoradora de café e xadrez, que recebe a missão de ajudar na busca e captura de Harlan (Simu Liu), o tal robô que virou vilão ao mudar seus códigos e logo se tornou um genocida.

Com um rápido contexto, logo somos imersos a uma distopia onde o medo e a insegurança tomaram conta da população mundial a partir de um descontrole das tecnologias robóticas produzias pelo próprio homem. Esse ponto é importante, com menos de 15 minutos entendemos perfeitamente as regras desse tabuleiro imposto, onde o espectador navega pelo olhar de uma heroína com muitos problemas no campo emocional. Essa fraqueza da personagem traz uma carga poderosa de emoção para algumas cenas, nos epicentros dos conflitos que se encontram em seu destino.

Bombas de íons, link neural, tempestades atmosféricas, robôs domésticos, a junção do contraste entre o futuro e a tecnologia traça um raio-x com críticas construídas para paralelos serem traçados na realidade de hoje. Ampliando os campos de reflexões, as problemáticas do artificial está no centro de tudo, desde os desafios para uma caminhada lado a lado com a humanidade, até a junção, aqui exemplificado por uma mente analítica e o choque com a habilidade de combate e a busca instantânea por dados.

O lado emocional de Atlas, e o grande segredo que esconde de todos, acaba ganhando muito sentido quando analisamos suas escolhas e o fator família associado. O papel crucial da criação de sua mãe, até as escolhas que mudaram trajetórias, ruma esse projeto para uma imprevisibilidade onde existe várias formas de se auto perdoar. O filme também pode ser considerado, curiosamente, um filme sobre irmãos, mesmo que essa questão seja pouco explorada, aí talvez o calcanhar de aquiles de um roteiro eficiente em boa parte.

Com uma acertada mistura de reflexões mundanas com um dinamismo muito encontrado em saga dos heróis nos video games, chegamos em cenas de ação bem construídas, com bom uso dos efeitos. Atlas é empolgante em alguns momentos. Um dos melhores trabalhos de Jennifer Lopez na última década.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Atlas'

30/04/2024

Crítica do filme: 'E a Festa Continua!'


Tudo que importa é viver! Trazendo um recorte sobre uma família e encostando nas paredes da realidade social de uma região, desabrochares de pensamentos vão conduzindo uma narrativa leve, agradável, sem deixar de tocar em pontos importantes para reflexões. E a Festa Continua! dirigido por Robert Guédiguian, caminha por encontros: a política se mistura às portas que se abrem para uma nova avaliação sobre a solitude, ideologias se convergem com dramas pessoais.

Na trama, acompanhamos Rosa (Ariane Ascaride) uma enfermeira, ativista, viúva cedo, que aceitou a solidão como uma companheira de sua trajetória de luta na criação dos filhos. No seu presente se embaralha para se dedicar à família, suas possibilidades na política e a chegada de um novo amor. Assim, conhecemos seu cotidiano e de alguns que a cercam.

O começo não pode ser um fim. A partir de uma família, olhares miram um contexto amplo que vão de dilemas, passam por amores inesperados e causas sociais. A arte do recomeçar é algo presente, representada por simbolismos delicados que envolvem diversos sentimentos. Assim conhecemos algumas subtramas envolventes: um pai buscando se aproximar da filha, um homem apaixonado tendo que lidar com uma situação envolvendo uma condição médica de seu grande amor, uma mulher que está em conflito com suas ambições como ativista e a chegada de um novo amor.

O mar sempre acaba se acalmando. Tendo a cidade de Marselha no coração da história, um franco recorte do contemporâneo é visto, exemplificado pelo fato histórico ligado à praça 5 de Novembro e a tragédia provocada pelo descaso. De uma delicadeza louvável, inspiradora, esse filme francês mira muitos olhares onde as direções se tornam ferramentas para reflexões sociais.


Continue lendo... Crítica do filme: 'E a Festa Continua!'
,

Crítica do filme: 'Rivais'


Nas batidas de tudo que é abstrato. Chegou aos cinemas nos últimos dias uma obra que abraçada com seu ritmo pulsante, mostra um intenso triângulo amoroso que percorre anos, com personalidades conflitantes no centro desse tabuleiro muitas vezes parecendo um vulcão, prestes a entrar em erupção. Sensual, inteligente, reflexivo, Rivais, dirigido pelo cineasta italiano Luca Guadagnino escancara o abstrato, dá um tapa na caretice e mostra uma história com mil e uma possibilidades.

Na trama, conhecemos os inseparáveis amigos Patrick (Josh O'Connor) e Art (Mike Faist) que tem como elo uma paixão pelo esporte favorito, o tênis. Disputando alguns torneios ainda adolescentes, um dia conhecem pessoalmente Tashi (Zendaya), uma jovem promissora nesse esporte. Após algumas idas e vindas, um triângulo amoroso acaba sendo instaurado sem possibilidades de se prever o que aguardaria seus destinos.

Com direito a uma interpretação musical do nosso Caetano Veloso, o filme busca contornar o conflito encostando aos poucos nos dilemas. Há uma opção de ir além da superfície quando o assunto é o sentimento borbulhante do amar, a partir disso chegamos em traições, ambições que nos fazem refletir sobre os valores morais e as imposições de sonhos custe o que custar.

O produzir verdades do que pode acontecer em alguma realidade, as falhas de caráter ligadas à imaturidade, os erros e acertos, a busca por aceitação, são colocados num mesmo pote para se adaptar fortes sentimentos em imagens se juntando assim às infinidades da linguagem cinematográfica. Esses fatores transformam Rivais em um filme fora da caixa, se aproximando de algo original, longe de qualquer taxação de convencional, mais um trabalho deveras interessante de Luca Guadagnino.

O ritmo é intenso, tudo que assistimos tem suas origens mostradas, a narrativa percorre uma extensa faixa de tempo com flashbacks de apoio como se fossem peças de um quebra-cabeça emocional. Com sequências de tirar o fôlego, traçando paralelos entre a vontade de vencer no jogo profissional e no da vida, somos logo jogados a imersão de uma história onde o ponto final pode ser apenas o início de um recomeçar.   


Continue lendo... Crítica do filme: 'Rivais'

28/04/2024

,

Crítica do filme: 'Verissimo'


O Luis Fernando do Verissimo. Partindo 15 dias antes do aniversário de 80 anos de uma das lendas da literatura brasileira, o documentário Verissimo, busca um recorte do dia a dia de um dos maiores cronistas do cotidiano. Com um acertado tom intimista, a narrativa, de alguma forma, simplifica a personificação de um homem pacato que adora criar laços com as palavras através de seu próprio universo. Dirigido por Angelo Defanti, o projeto foi um dos destaques do Festival É Tudo Verdade desse ano.

Ao longo de uma hora e meia de projeção, da simplicidade ao brilhantismo, caminhamos pelas reflexões não expostas, nos momentos de relaxamento, na rotina, algo que cobre e desvenda um pouco de uma personalidade que vê os holofotes como uma consequência de seu brilhante trabalho que segue constante mesmo aos 80.

O estático que não quer dizer parado. Ouvindo músicas do musical Hamilton, leituras de jornais, brincando com os netos, batendo seu pensar criativo nas teclas do seu computador, acompanhamos um introvertido Luis Fernando, não adepto do celular, que já jogou ao mundo os mais variados assuntos e insiste em nunca parar. Ao mesmo tempo, um pouco do seu processo criativo, um contemplar único com ideias reunidas pelo humor peculiar acaba ganhando formas.

A sacada de apresentar um novo olhar em meio a tanto que já foi falado e filmado sobre o escritor é o maior mérito. O emblema do seu clube de futebol do coração, o Internacional de Porto Alegre, fixo na altura da distante na fileira de uma coleção de Fernando Sabino, sua relação carinhosa com seus parentes, as inúmeras idas à eventos, seus momentos de pausa e pensativo, sua dedicação memorável ao ofício que lhe deu projeção internacional. Em sua residência na cidade de Porto Alegre, acompanhamos o Luis Fernando do próprio veríssimo.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Verissimo'
,

Pausa para uma série: 'Noite de Verão'


Uma reunião familiar. Um segredo a contar. Partindo dessas duas variáveis a minissérie norueguesa Noite de Verão nos leva até ultrapassagens do limite moral, histórias se entrelaçando num presente momento. Nesse engenhoso e surpreendente roteiro criado por Per-Olav Sørensen, com cinco episódios de 30 minutos, a brilhante minissérie contorna crises existenciais que logo se mostram grandes aprendizados. Inveja, egoísmo, imaturidade, desabafos, dilemas encontram caminhos para serem demonstrados guiados por um elenco impecável. Já podemos colocar esse projeto como um dos maiores acertos da Netflix nesse ano de 2024.

Na trama, conhecemos o casal Carina (Pernilla August) e Johannes (Dennis Storhøi), que vivem juntos faz 30 anos e resolvem reunir a família e amigos próximos para uma revelação surpreendente. A questão é que os convidados vivem seus próprios dilemas com estopins que afloram nesse mesmo lugar. A cada episódio, um melhor que o outro, conhecemos as verdades dos personagens e seus conflitos.

O olhar diferente sobre uma mesma ação deixa a narrativa envolvente, pulsante, com flashbacks nos ajudando a entender outros sentimentos, outros segredos dos presentes do que era para ser mais uma reunião familiar. Com a cronologia guiada por uma linha temporal de algumas horas, enxergamos dilemas que logo se tornam conflitos expostos. A partir de uma notícia para entregar, vai de encontro à mágoas com ex, caminhos com diferentes visões numa fase da vida onde a acomodação tomou conta de uma relação, divórcio, rivalidades, traição, amores nunca revelados.

A linha de interseção que acaba sendo o alicerce da premissa se joga em cima da verdade de que uma relação precisa de duas pessoas. É possível enxergar essa reunião familiar como uma enorme sessão de terapia onde o próximo passo ganha forças a partir do aparecimento do problemas dos outros. Quando a ficha cai, esse dia de revelações se torna um caldeirão emocional que desentopem o rompimento com os medos e aflições. Tudo isso gera reflexões aos montes.



Continue lendo... Pausa para uma série: 'Noite de Verão'

27/04/2024

,

Crítica do filme: 'Aumenta que é Rock'n'Roll'


Rock and roll e cinema, tudo isso junto e misturado? Vamos falar agora sobre Aumenta que é Rock'n'Roll. Chegou aos cinemas nesse final e abril de 2024 um longa-metragem brasileiro que usa a nostalgia à seu favor para contar uma história que envolve sonhos, amores, política e muito rock and roll. Baseado no livro autobiográfico "A Onda Maldita", de Luiz Antonio Mello, Aumenta que é Rock'n'Roll navega pelas ambições e desejos de uma juventude fervilhando por liberdade e desejos em meio ao processo de restauração da democracia.

Na trama, ambientada no início dos anos 80, conhecemos Luiz Antonio (Johnny Massaro), um jovem jornalista que desde os tempos de colégio, ao lado do amigo Samuca (George Sauma), sonha em trilhar carreira pelas ondas do rádio. Luiz consegue a grande oportunidade da vida ao ser colocado de frente de um novo projeto e assim criar a Fluminense Fm, mais conhecida como ‘A Maldita’, que logo se torna uma das estações mais ouvidas, lançando grandes nomes do rock nacional. Em meio ao caos de tentar manter seu sonho, com desafios atrás de desafios, ele começa a se aproximar de uma das locutoras do lugar, Alice.

Um tempo que não volta mais. Através dos sonhos de um protagonista obstinado, contornamos um contexto borbulhante de um país, uma ligação entre a cultura e as formas de expressão. A rádio é um dos meios de comunicação que mais vem ficando para trás após a chegada da internet, por isso histórias assim, de idealizações de sucesso de outros tempos são importantes para mantermos a preservação da memória ativa. E não pensem que só quem viveu esses tempos mostrados vai se interessar por esse filme, o leque é bem aberto.

Sob o foco de um protagonista, muito bem interpretado por Johnny Massaro, chegamos aos dilemas que vão desde a estrutura de uma oportunidade até sonolentos pontos românticos. Aliás, esse último ponto é encaixado de forma um pouco forçada dentro de uma narrativa que se apoiam no carisma de ótimos personagens. Ao longo de quase duas horas de projeção, mesmo com algumas derrapadas, indo de encontro à clichês, a narrativa busca ser pulsante, embalada por uma trilha sonora com canções conhecidas, se construindo a partir de uma realização pessoal buscando assim alcançar reflexões mais amplas que ligam a política ao espírito de uma geração marcada pela redemocratização. 

Aumenta que é Rock'n'Roll cumpre seu objetivo, com a sacada de ter a nostalgia como base do entretenimento, revive o espírito sonhador que está em todos nós. Não deixem de conferir, em cartaz nos cinemas! Viva o cinema brasileiro!

 

 

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Aumenta que é Rock'n'Roll'

Critica do filme: 'Confissões'


Vou te contar agora sobre um filme muito, muito tenso que está disponível na MAX. Uma família rica. Um sequestro. Uma noite de revelações surpreendentes. Remake de um filme espanhol lançado em 2017, o longa-metragem mexicano Confissões é tenso, aterrorizante, que através de declarações inesperadas expõe na tela as dores, a vingança e o absurdo de ações feitas no passado. Dirigido por Carlos Carreira, esse é um filme que vai te surpreender principalmente pelo seu final impactante.

Na trama, conhecemos uma família rica que fica completamente abalada com o sequestro da filha mais nova. Quando os sequestradores entram em contato, eles são surpreendidos pois os criminosos não querem dinheiro, mas se encontrar com eles, pois, alguém naquela casa, esconde um segredo sobre um ato terrível. Assim, ao longo de uma madrugada, verdades começam a aparecer.

Um dos méritos do roteiro é conseguir manter o clima de tensão lá no alto através de uma narrativa introspectiva onde o espectador se pergunta em determinado momento quem é o real culpado ali. A construção dessa narrativa se joga em apenas um cenário, o contraste das aparências de uma família rica, vista como perfeita, que esconde detalhes um do outro. Assim, constrangimentos logo se tornam ferramentas dos impulsos de uma vingança, um caminho ardiloso para chegar em revelações nunca ditas.

Quando entendemos melhor essa história, tudo começa a fazer mais sentido. Há uma ampla desconstrução de personagens que consumidos pela vida agitada nunca pararam para olhar um para o outro com devida atenção. A relação pais e filhos é jogada na tela sob muitas perspectivas, um ponto em comum entre todos que aparecem em cena. O bico na impunidade logo se torna um elemento importante que aos poucos vai ganhando espaço nesse ótimo suspense com traços de terror que mostra a quebra de valores morais.


Continue lendo... Critica do filme: 'Confissões'
,

Pausa para uma série: 'Bebê Rena'


Desbravando o sempre complexo labirinto dos traumas, da pena ao abalo emocional que traça retratos com linhas que se cruzam, Bebê Rena, com apenas sete episódios, consegue prender a atenção do público com uma desconstrução de um impactante personagem, após uma leitura parcial, nos levando para as estradas da vulnerabilidade, indo do sonho passando da insegurança ao medo. Essa minissérie tem tudo para estar em listas das melhores do ano de 2024.

Na trama, ambientada em uma Londres de anos atrás, conhecemos Donny (Richard Gadd), um artista com o sonho de ser comediante que um dia começa a se vê perseguido por Marta (Jéssica Gunning), uma solitária mulher que não larga do seu pé. Buscando encontrar soluções para fugir dessa stalker, acaba indo de encontro à um trauma de seu passado, fato que mudou sua vida por completo.

Ao optar por uma narração em off do próprio protagonista, a narrativa ganha dinamismo, aprofunda os horizontes de possibilidades além de complementar lacunas de emoções e inconsciente, algo que é sempre difícil de ser mostrado em uma obra audiovisual. Do sonho ao medo, o caminho do personagem encontra a obsessão, um mar de perguntas sem respostas, onde os achismos encontram buracos sem fundo. A direção de arte é impecável, cores e movimentos nos levam para um ritmo alucinante como se o reflexo do abstrato dos pensamentos ganhassem personificações em ações.

A grande virada da trama nos leva a um drama pessoal, um abuso sofrido que muda completamente a rota de um artista com um necessidade de ser ouvido. De aspirante à comediante, Donny se vê cercado pelo caos, dezenas de e-mails diários se tornam gatilhos para suas próprias experiências, segredos guardados a sete chaves que parecem encontrar uma direção através de um desabafo viral. Aos poucos, Bebê Rena vai se tornando uma obra denúncia, uma enorme crítica social.

Baseado em fatos reais, escrito e protagonizado pelo artista britânico Richard Gadd, o seriado tem uma reviravolta inesperada no seu quarto episódio, deixando o espectador com os olhos arregalados com tudo que é mostrado. Não deixe para depois, vá conferir: Bebê Rena na Netflix.


Continue lendo... Pausa para uma série: 'Bebê Rena'