17/05/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #418 - Nanna de Castro


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de São Paulo. Nanna de Castro tem 54 anos, é escritora, roteirista de cinema, TV e autora teatral. Atua em Comunicação corporativa desde 1990 tendo como clientes grandes marcas e empresas do país. Em cinema ganhou o Kikito de melhor roteiro em Gramado, além dos prêmios de melhor roteiro na Jornada Internacional de Cinema da Bahia e no Festival de Curtas de Santos. Seu primeiro longa-metragem, O Novelo, dirigido por Cláudia Pinheiro, está em fase de finalização. Em TV foi selecionada para a Oficina de Roteiristas da Globo em 2010. Atuou também na TV Cultura com Anna Muylaert e na RTP Portugal. Suas peças teatrais foram montadas em várias cidades brasileiras e também em Portugal. É autora dos livros “Só as Magras e Jovens São Felizes – Reflexões de Uma Mulher de 40 Sobre Um Mundo Nada Fácil” da editora Paulinas e “O Céu Não é Um Lugar” da editora Chiado.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Reserva Cultural na avenida Paulista. É onde podemos ver filmes mais alternativos de diversos países. Filmes de alta qualidade.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O Enigma de Kaspar Hauser, do Werner Herzog, minha irmã me levou, eu tinha uns 12 anos só, a força das imagens e das interpretações me deixou impressionada por semanas.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Não tenho um diretor favorito mas gosto muito do cinema argentino. O Segredo dos Seus Olhos é um dos filmes que mais gosto.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Reflexões de um liquidificador do André Klotzel. O roteiro do José Antônio de Souza é maravilhoso, ousado, divertido, filosófico, mórbido e sádico, tudo ao mesmo tempo. Os atores estão impecáveis. Ana Lucia Torre e sua relação com o eletrodoméstico traz um universo de nuances sobre os seres humanos pra quem olha com profundidade. Ao mesmo tempo pode ser visto como puro entretenimento. Selton Mello interpretando o liquidificador faz a gente se identificar e se apaixonar por aquele pedaço de plástico e vidro. Genial.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Acho que o termo é confundido com “ter uma bagagem superior, assistir filmes complexos”. No meu caso é adorar o cinema, ser um consumidor pesado da sétima arte, assistir uma ampla gama de propostas diferentes, sentir aquele prazer no fundo da alma quando as luzes se apagam e o projetor se acende.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Creio que em todo campo da arte existem espaços mais voltados ao potencial comercial das obras. Um programador de um espaço comercial pode até entender de cinema, ser um cinéfilo, mas terá que se pautar pelo perfil do proprietário da sala.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não creio. Como disse, a sensação física de estar na sala de cinema traz um prazer único. A dimensão da tela que coloca a gente dentro do filme é insubstituível.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Tenho visto muita coisa bacana no site do SESC DIGITAL. Super recomento assistir Maria Luiza do Marcelo Diaz, um documentário sobre o primeiro transexual nas forças armadas brasileiras. Impossível não se envolver com a riqueza e a coragem desta mulher.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não. Infelizmente nós artistas, falo como autora e roteirista, vamos demorar mais do que a maioria para voltar para os espaços culturais, mas, num país onde falta tanto exemplo de bom senso, acho importante aguardar a evolução da vacinação.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Apesar de estarmos vivendo momentos muito difíceis para a produção nacional em relação às políticas de fomento, é visível a evolução da nossa indústria em qualidade e número de produções. Sinto falta de termos uma distribuição mais robusta que abra mais espaço para nossos filmes. Mas a qualidade existe e as narrativas brasileiras estão cada vez mais fortalecidas no âmbito mundial.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Fernanda Montenegro.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Pausa vital na realidade.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

 

Eu tenho problema com gente que conversa durante o filme, uma vez fiquei de pé na frente de uma turma que conversava o tempo todo atrás de mim e foi aquela chiadeira: Senta! Senta! Falei: sento se vocês calarem a boca. E entramos num acordo.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Não tenho como opinar, não assisti. Mas acho que toda forma de cinema vale a pena e ninguém é obrigado a assistir o que não gosta.

 

15) Muitos diretores de cinema  não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Pra dirigir um filme só precisa querer dirigir um filme.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

O que menos gostei foi Mater Dei do Vinícius/Diogo Mainardi. Achei hermético, confuso, sem ritmo, não consegui ir até o fim.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Estamira dirigido por Marcos Prado e produzido por José Padilha sobre uma mulher que vivia e trabalhava num aterro sanitário enorme no Rio de Janeiro.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Já, mas minha memória está péssima e não lembro o nome.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Não sigo sites especializados.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Netflix.

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Crítica em vídeo: 'Alvorada', documentário brasileiro


Nesse vídeo, Raphael Camacho analisa objetivamente o filme Alvorada, documentário brasileiro.

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A crítica completa do filme, em forma de texto, está em nosso blog.
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16/05/2021

8 e meio em 20 - Bate-Papo #7 - Malu de Martino


Esse é o '8 e 1/2 em 20', programa de entrevistas feitas por lives no Instagram do @guiadocinefilo, toda 4a, às
19:30​ hrs, com cinéfilos e profissionais que de alguma forma contribuem para o audiovisual.

Nesse episódio, recebemos a cineasta e cinéfila Malu de Martino. Não esqueçam de deixar um like nesse vídeo. :) Não esqueçam de se inscreverem nesse canal. :) Visitem também: Instagram: @guiadocinefilo Viva o cinema!
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Crítica em vídeo: 'Amor, Casamentos & outros desastres'


Nesse vídeo, Raphael Camacho analisa objetivamente a comédia Amor, Casamentos & outros desastres. 


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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #417 - David dos Santos


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, do Rio de Janeiro. David dos Santos é um artista de 25 anos. Graduado em Licenciatura em Educação Artística na Universidade Federal do Rio de Janeiro, esbarrou na arte da animação e não soltou mais. Embora "Nós" (2021) seja seu primeiro curta animado autoral; também participou como assistente da supervisora de animação dos curtas "Enterrada Fatal" (2021) e "Jurassic Palco" (2021); como cenarista do curta “Menino Incrível” (em produção); como cenarista e animador do curta "Filé Miau" (2019); como character designer e animador dos curtas "Iniciação" (2018) e "Revoluções" (2018). A vida ainda o puxa para o mundo da animação, ele pesquisa sobre análise de design dos personagens em "Irmão do Jorel" e composição de layout em filmes de animação 2D."

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Na minha cidade natal, Arraial do Cabo (RJ) não há cinema, acredita?! Na capital, onde atualmente moro, eu prefiro as sessões de comédia. É muito gostoso rir junto!

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Foi Madagascar, lá em 2005 ou 2006! Eu estava no ensino fundamental e aquilo de ver animação em um espaço gigante foi tudo de bom.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Ele é polêmico mas adoro os filmes dele... é o Lars Von Trier com o filme Ninfomaníaca: volume I e II (2013) [mas o Wes Anderson tem meu coração também!].

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Hmn.. O Auto da Compadecida é sensacional! Trata do humor e cultura brasileira de forma bem integrada.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Até receber esse convite, eu pensava que era uma pessoa totalmente mergulhada e entendida sobre a Arte dos cinemas, um intelectual da área, mas então acredito que é prestigiar e viver (n)os cinemas.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Agora não mais. Eu tenho entrado em contato com festivais e mostras de filmes e tenho visto muito trabalho legal desde amadores à profissionais da área, tanto de conteúdo, quanto de curadoria.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito que não. Mesmo o sistema stream vindo com tudo nessa terrível época pandêmica, a experiência de uma sala de cinema é insubstituível.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Há um tempo atrás eu diria The Lobster, ninguém via porque o trailer é terrivelmente ruim, haha. Mas depois que entrou no catálogo da Netflix muita gente tem visto - e que bom!

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não mesmo! Já é difícil fazer pessoas da sua própria casa tomarem as medidas de proteção contra o coronavírus, quem dirá o estranho -infelizmente.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

De qualidade e competência incrível, mas que ainda falta investimento e estímulo de forças públicas.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Lázaro Ramos é sensacional, ne?!

 

12) Defina cinema com uma frase:

Viver o que não pode, sentir o que não sentia.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Não é tão inusitada assim, mas já dei um beijo no momento do beijo do filme: pelo clima e pra nao perder o filme, hahahaha.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

"Então, né..." hahahahha

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente. Mas para que o produto não caia em plágio ou tenha boas soluções, é essencial que se conheça os cinemas já feitos. Cria repertório.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

A minha memória apaga essas coisas, hahaha. Sistema de contenção de danos. Mas tem um trash que eu acho suberbo, é o O ataque dos Tomates Assassinos.

 

17) Qual seu documentário preferido?

A Vida em um Dia (2011).

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Já, mas confesso que pode ter sido efeito do coletivo haha. Em contrapartida, teve momentos em que eu bateria mas não o fiz pelo mesmo motivo inverso.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

O Senhor das Armas talvez? Não o assisto muito.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Ultimamente tenho acompanhado mais a ABC e The Concept Art Blog.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Acredito que seja o Netflix, mas sou mais fã do torrent. Cinema bom é cinema acessível.

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15/05/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #416 - Marina Carneiro



O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, do Rio de Janeiro. Marina Carneiro tem 28 anos, é produtora audiovisual há quatro anos e trabalha com conteúdo pra internet, mas também já produziu documentários e alguns institucionais. Ela é formada em serviço social e por isso mesmo ama o debate de gênero e igualdade entre mulheres e homens. Foi dessa união de interesses que surgiu o instagram Tela Feminista (@tela.feminista), um espaço de divulgação de trabalhos de mulheres, personagens femininos e debate acerca desses assuntos.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Morando no Rio eu descobri o prazer de um cinema na rua, assim, ao lado dos comércios e não somente dentro de shopping. Perto de onde eu moro hoje tem um Kinoplex na Galeria São Luiz que é mais do que o suficiente para ir assistir os blockbusters do momento, mas tenho um carinho pela Estação NET em Botafogo, com seu ar antigo e filmes cult.

 

2) Qual o primeiro filme que você se lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Ir ao cinema sempre foi interessante pra mim, mas não me lembro desde quando. Minha prima sempre me levava para assistir os desenhos, depois virou um programa com os amigos e hoje assistir um filme na telona é uma das coisas que mais sinto falta devido as restrições da pandemia.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Sou péssima para definir “coisas favoritas”, mas a Nora Ephron tem filmes lindos. Mensagem pra Você foi um dos primeiros filmes que me surpreenderam com uma narrativa diferente e Julie e Julia tem meu coração.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Que Horas Ela Volta da Anna Muylaert é um filme que me encantou profundamente. É um filme nacional impecável, que conta uma história nacional, de um dilema nacional, com nuances e pequenos detalhes que só nós iremos compreender o real sentido. Não é um drama exagerado nem uma comédia escrachada.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É gostar de filmes e de saber como eles são feitos, é estar afim de descobrir os bastidores, mas também saber aproveitar uma pipoca assistindo aquele filme favorito pela centésima vez.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não, os cinemas passam filmes e somente. Se você gosta de filmes, o cinema é seu lugar, mas se você quer entender, aprender e debater, precisa descobrir outros ambientes pra isso.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito que não, a experiência de ver um filme em casa e no cinema são incomparáveis. O streaming nos possibilitou ter mais acesso e talvez, por isso, assistir mais filmes e séries que jamais veríamos, mas a gente sempre tem um filme que vale a pena pagar aquele ingresso absurdo pra vê-lo na telona.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Nada a Esconder do Fred Cavayé, disponível na Netflix é bem divertido e interessante. Adorei.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não. É um serviço não essencial e extremamente caro, que apenas divide mais ainda a nossa população e ainda passa a sensação de que está tudo bem, quando não está.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

A qualidade? Ótima, realmente tiramos leite de pedra. Há sempre filmes que a gente gosta mais ou menos... normal. Só acho que deveriam ter mais e mais filmes nacionais, mais incentivo, mais verba, mais projetos, etc.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Fernanda Montenegro.

 

12) Defina cinema com uma frase:

O cinema é um dos melhores trabalhos e passatempos que alguém pode ter.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Uma vez eu mesma entrei na sala errada, quando fui sair, tropecei no degrau e foi pipoca e coca-cola pra todo lado.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Nunca vi.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Eu acho que ajuda, mas não precisa. A pessoa pode ter inspirações de outras fontes e pode ser bem interessante ver algo feito por alguém fora da caixinha.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Pensando agora, me lembrei de Lucy do Luc Besson. Aquela que a Scarlett Johansson vira um pendrive. Achei uma bagunça e sai do cinema sentindo que tinha perdido tempo e dinheiro.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Gosto muito de documentários, mesmo, principalmente depois que produzi alguns. Acho que Waiting for B é lindo, espontâneo e autentico; e Torre das Donzelas me emocionou muito. Mas tenho que citar também Elena da Petra Costa, que foi o filme que me mostrou as potencialidades que o documentário tem.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Acho que já, deve ter sido alguma estreia de Harry Potter, na adolescência.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Um Homem de Família mas pode ser simplesmente porque amo filmes de Natal.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Acabo lendo vários porque estou sempre pesquisando, mas alguns que aparecem mais nas minhas leituras são: mulhernocinema.com e bfi.org.uk

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Telecine e Netflix

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Crítica do filme: 'Um Divã na Tunísia'


As quebras de paradigma e as aberturas para reflexões através de conversas. Dirigido pela cineasta francesa Manele Labidi, em seu primeiro longa-metragem, Um Divã na Tunísia nos mostra a saga de uma mulher forte, destemida, corajosa e deveras solitária. O roteiro mantém-se em tom reflexivo, o riso chega mais para os que alcançam as entrelinhas dentro de um contexto sobre problemas, feridas emocionais e razões/emoções sobre a indefinição do destino. A trilha sonora assinada pelo dinamarquês Flemming Nordkrog dita o ritmo desse recorte cultural com tons em vertente da psicologia.


Na trama, conhecemos Selma (Golshifteh Farahani) uma jovem e solitária psicanalista que chega na Tunísia, mais precisamente em sua terra natal Túnis, que não visita desde os 10 anos, para abrir um consultório e atender pacientes no terraço de uma casa. Buscando mudar a natureza dos problemas das pessoas, trazendo uma nova perspectiva, logo faz bastante sucesso com a vizinhança mas a burocracia quase de fachada do enrolado serviço público local a pressiona para uma licença que nunca chega.


A protagonista enche a tela com assuntos importantes para refletirmos sobre (mesmo aqueles que não conhecem muito a região). Navegamos pela cultura de um país com tradições árabes mas que cada vez mais tende ao ocidente. Assim, de maneira quase inusitada, vamos aprender um pouco sobre através dos pacientes que veem na personagem principal uma intelectual parisiense. Tem paranoicos que sonham com ditadores e outras questões, um parente com problemas com bebida, alguns com problemas na interpretação de sua fé, problemas na família e tantos outros.


Os caricatos personagens do serviço público tunisiano fazem muito sentido dentro da crítica social que o filme toca, além de darem um ótimo tom cômico à trajetória da personagem. Dos que mais chamam a atenção: a secretária do ministério da saúde que sempre arranja um tempinho para vender suas muambas e uma dupla de policiais que não sabem de nada aliados a um chefe de polícia que está confuso sobre seus sentimentos para com a protagonista.


Um fato curioso chega no arco final, quase uma consulta com Freud, em tom de desabafo conhecemos as angústias escondidas da profissional de saúde que guarda muitas coisas dentro de si. Um belo desfecho que acaba fechando um ciclo recortado dentro de um novo contexto social e político de uma região que está ainda se abrindo para novos costumes e para o mundo.

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14/05/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #415 - Luíza Alvim


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, do Rio de Janeiro. Luíza Alvim tem 50 anos, é pesquisadora de cinema. Doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ, cuja tese deu origem ao livro "A música no cinema de Robert Bresson". É graduada em Cinema pela UFF. Foi professora-substituta de História do Cinema Mundial na UFF. Tem vários artigos acadêmicos sobre cinema e escreve o blog cineviagens.blogspot.com .

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Minha sala preferida é o Espaço Itaú de Cinema, pois além de contar com boa programação, tem instalações adequadas, diferentemente do que acabou acontecendo com o Espaço Net Rio depois da divisão das salas superiores em duas, nas quais o som vaza de uma para outra. A proposta do Espaço Itaú é ter uma programação que inclua tanto os blockbusters quanto "filmes autorais" e de pequeno orçamento, incluindo muitos documentários brasileiros. Como são 6 salas, dá conta razoavelmente dessa proposta.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Não sei, mas talvez Marcelino pão e vinho.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Não tenho diretor favorito nem filme favorito. Mas tenho diretores e filmes/épocas de que gosto muito, como os filmes do Neo-realismo italiano, filmes do Éric Rohmer (não teria como dizer um favorito, mas o primeiro que vi deve ter sido "Noites de lua cheia" e foi paixão), Ken Loach e outros diretores que fazem um "cinema social", tenho gostado muito do cinema asiático contemporâneo, principalmente de Hong Sang-Soo. Quanto aos filmes brasileiros, vou ficar com um do contemporâneo: Arábia de Affonso Uchôa e João Dumans.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Mesma coisa, não tenho como dizer isso. Escrevi na resposta anterior o Arábia, mas há outros filmes de que gosto muito: Limite", "Terra em transe" atualíssimo, A grande cidade (Cacá Diegues), documentários do Eduardo Coutinho.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É amar o cinema, tentar acompanhar os lançamentos (no meu caso, nas salas de cinema - sou uma grande defensora dessa experiência e por isso o streaming me irrita) e conhecer os filmes do passado longínquo e recente.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece  possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. São pessoas que entendem de dinheiro.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Espero que não. Tenho ido às salas que ora abrem e ora fecham em plena pandemia desde outubro de 2020.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Acho que muitos filmes brasileiros se encaixam aí. Por exemplo No coração do mundo, filme de 2019, foi bem menos badalado que outros e, na minha opinião, foi um dos melhores daquele ano.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Sim, inclusive, já frequento desde outubro de 2020. São bem mais seguras que supermercado ou restaurante.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acho uma qualidade muito boa, tanto na sua versão mainstream das comédias quanto nos filmes de festival, como alguns que citei aqui.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Com artistas brasileiros, não tenho uma relação de starsystem como em outras cinematografias, mas um ator bastante presente em nossa cinematografia recente e de que gosto bastante é o Irandhir Santos.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Ah, isso é muito difícil... Cinema é arte.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Na sessão de Hoje eu quero voltar sozinho, o público, majoritariamente homossexual masculino, vibrava intensamente com a deflagração da paixão homossexual dos personagens. Foi muito interessante.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Não vi, não tenho como definir.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente. Quando Agnès Varda dirigiu seu primeiro filme em 1954, não era cinéfila.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Não sei dizer, da mesma maneira que não saberia dizer o melhor. Mas acho pior quando a gente espera alguma coisa do filme e ele se mostra uma bomba, como o  Longe deste insensato mundo que só fui ver porque era dirigido pelo Thomas Vinterberg. Bomba total.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Difícil demais. Vários do Eduardo Coutinho, Chris Marker, Alain Resnais e tantos outros.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Sim, Z, de Costa Gavras, em sessão especial em plena ascensão do bolsonarismo.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Gostava dele nos filmes mais antigos, mas teria que rever. Gostei da atuação num filme mais recente (mas nem tanto), Senhor das Armas (2005).

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Antes da pandemia, o criticos.com.br. Agora, o blog do Carlos Alberto Mattos.

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Crítica do filme: 'Amor, Casamentos & Outros Desastres'


Quando um arquétipo de filme romântico naufraga em uma comédia de erros. Dirigido por Dennis Dugan (Gente Grande, Cada um tem a Gêmea que Merece), Amor, Casamentos & Outros Desastres apresenta ao espectador uma receita de bolo que já vimos antes. Uma sessão da tarde mal feita, com esteriótipos sonolentos, desinteressantes, que causam zero reflexão dentro de um roteiro repleto de recortes de algumas situações que fogem do verossímil sem buscar um pingo de profundidade. Narrativa acelerada, rasa, com clichês jogados aos montes dentro de um filme que sabemos 90% de como termina desde o início.

Na trama conhecemos uma série de personagens que se encontram em um ponto de interseção, um casamento. Um homem, que é irmão do futuro prefeito, dentro de um reality show que vale um milhão de dólares; uma organizadora de casamentos enrolada que teve um vídeo viralizado com seu ex-namorado famoso; um senhor solitário, ranzinza que trabalha com casamentos acaba conhecendo por meio de amigos uma mulher cega que mexe com suas emoções; um jovem guia turístico que à bordo do seu ônibus busca o seu grande amor que viu apenas uma vez vida; um músico com conflitos com seu melhor amigo encontra o amor em uma jovem atrapalhada. Assim, essas almas buscarão encontrar seus destinos que envolve amor e outros desastres.


Há uma tentativa de se fazer comédia refletindo sobre relacionamentos mas acaba sendo muitas informações jogadas com pouco desenvolvimento. Falta carisma, se atrapalham na desinteressante tentativa de criarem comédia com tudo que aparece pela frente chegando nas partes dramáticas sem força em cena. Impressionante como Jeremy Irons e Diane Keaton são muito mal aproveitados dentro de uma subtrama que merecia mais delicadeza no seu narrar.


A trilha sonora é aquela questão que você acerta quando erra a prova toda, consegue se safar mesmo que muito mal encaixada flutuando em formato de transição entre as cenas. Deixando um rastro de desinteresse pelo caminho nos perguntamos a todo instante: que horas vai acabar esse filme? Dia 20 de maio você poderá contar o tempo para acabar também já que estreará nos cinemas.  

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13/05/2021

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Crítica do filme: 'Alvorada'


A visão de um contexto que todos nós conhecemos. Exibido no Festival É Tudo Verdade de 2021, o documentário Alvorada, de Anna Muylaert e Lô Politi, apresenta em forma quase de memórias, registros, de uma situação poucas vezes vistas em nossa história. Golpe? Absurdo? Inconstitucional? Assistimos ao impeachment da presidente Dilma Rousseff visto pelo olhar dos que circulam por dentro da residência oficial dos presidentes brasileiros. Você leitor recebe mais alguns argumentos, mesmo que de forma nada explícita, na superfície, através da arte, do cinema, para chegar as suas próprias conclusões. As reflexões sobre a fragilidade da maldade chegam já no contexto final, talvez a parte mais profunda de um projeto que poderia contextualizar muito mais sobre a decisão de tirar da presidência a única mulher da história a chegar nesse posto.


Discutir sobre política no Brasil virou algo estressante e muitas vezes até perigoso, já tivemos mostra de alguns exemplos de radicalismo (de ambos os lados). Mesmo não mostrado nesse projeto, uma alta polarização é nítida desde lá até agora, dos bastidores da velha política os gritos a favor ou contra Dilma tomando conta das ruas. Em abril de 2016 se instaura por meio da câmara dos deputados do Brasil, o início do processo do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Logo após, em maio, ela é afastada, assim chegamos ao epicentro desse documentário, esse retrato, recorte, que busca os detalhes das últimas horas de esperança no veredito do senado. Dilma passa a maior parte desse tempo no palácio da Alvorada.


Entre assessores e políticos que passam pela Alvorada, vale a atenção do público para a aflição dos funcionários e de todos que são próximos dela mas não são políticos. Outro detalhe importante é que em meio a conturbados momentos nos discursos argumentativos, e, às vezes, técnicos sobre sua defesa, volta e meia a própria Dilma pede para não gravarem determinados diálogos. Sobre curiosidades, vemos diálogos da presidente sobre música, inclusive relembra uma passagem quando estava presa onde uma outra prisioneira a ensinou sobre o tango pois tinha toda a coleção de Gardel; também sobre literatura, história. Porém, acaba falando pouco sobre si mesma deixando apenas como foco principal o registro de uma página complicada e polêmica na história do Brasil.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #414 - Eduardo Chacon


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, do Rio de Janeiro. Eduardo Chacon tem 44 anos, é professor de História do Brasil República no Departamento de História do IFCH-UERJ e do Programa de Pós-Graduação em História da UERJ. Pesquisa as relações entre História e Cinema, com foco no cinema brasileiro. Escreve romances, contos, poemas e roteiros. É autor do romance A perna de Sarah Bernhardt, disponível em edição Kindle na Amazon, e do roteiro do curta Quero ser Jane Fonda (Simone Ordones, 2021), disponível no YouTube. Participa de dois podcasts sobre cinema: Cinematógrafo: a história nos filmes (sobre filmes históricos) e Cinemetílico (encontro de dois casais de amigos para beber e conversar sobre filmes, virtualmente).

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Entre as salas comerciais, gosto do Espaço Itaú de Cinema, em Botafogo, pela oferta diversificada, equilibrando-se entre blockbusters e filmes menos óbvios. Já entre as salas especializadas, não dispenso uma visita ao Centro Cultural Banco do Brasil e à Caixa Cultural, pelas mostras dedicadas a cinematografias alternativas ou obras de difícil acesso nos streamings. Lembro também com muito carinho da Sessão Cineclube que existiu nos anos 2000 no Cine Odeon, organizada pela revista Contracampo em parceria com o Grupo Estação. Foi uma oportunidade ímpar de aprendizagem, com debates ao fim das exibições e folhetos contendo comentários críticos (tenho vários arquivados, guardo com o maior carinho).

 

2) Qual o primeiro filme que você  lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Brasa Adormecida (Djalma Limongi Batista, 1987). Eu tinha 9 anos de idade e fui assistir, acompanhado de uma vizinha de 15, num dos cinemas da Cinelândia. É um filme com Maitê Proença e nós estávamos acompanhando com entusiasmo a novela Dona Beija, na TV Manchete. Nossos pais devem ter pensado que seria um filme inofensivo, como a novela, e autorizaram que fôssemos sozinhos. No entanto, a obra do Djalma é totalmente fora dos padrões, tanto em relação às novelas quanto aos filmes que eram exibidos na TV aberta na época – tem referências ao Humberto Mauro, diálogos com o surrealismo e umas boas doses de homoerotismo. Lembro bem de não ter entendido nada, mas de achar fascinante aquele universo. Intuí que deveria ter uma chave em algum lugar que me abriria as portas da compreensão daquele mistério. Essa foi uma experiência muito marcante! Tenho registros muitos vívidos das cenas, das reações, da inquietação. Quando revi o filme, já adulto e cinéfilo, fiquei encantado. O Djalma tem poucos filmes, mas são tão criativos e instigantes, que lhe garantem um lugar especial na história do cinema brasileiro.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Billy Wilder, pelo equilíbrio entre a autoria e a submissão aos padrões ditados pelos grandes estúdios. Ele seguia o caminho do meio, com uma capacidade ímpar de fazer filmes vendáveis, mas cheios de subtextos, filosofia, reflexões sobre o próprio ofício. Por esse motivo, adoro Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950) – é uma homenagem ao cinema e, ainda, um excelente noir. A cada vez que revejo, descubro um detalhe novo, uma minúcia do cenário, do elenco, do roteiro. Sou fascinado!

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Os Inconfidentes (Joaquim Pedro de Andrade, 1972). Considero genial o modo como Joaquim Pedro conduziu a mise-en-scène e a edição do filme. É um modo muito sofisticado de narrar a História no cinema, sem ceder aos apelos da grandiloquência do gênero épico. E ainda driblou a censura, abordando temas relacionados à ditadura. Gosto do modo como o filme consegue ser político por meio da experimentação de linguagem, mas ainda manter um nível pronunciado de comunicação, sem cair no hermetismo. E tem uma equipe maravilhosa, né? Eduardo Escorel no roteiro e na edição, Pedro de Moraes na fotografia, Anísio Medeiros na arte e no figurino, além de um elenco muito afiado, encabeçado por José Wilker.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É não conseguir passar um dia sem assistir a um filme ou ler, escrever, conversar sobre cinema. Também é um modo de compreender o mundo, de enquadrá-lo – pensar por meio de referências a filmes, cenas, cineastas, técnicas cinematográficas. E fazer cálculos de quantos DVDs consigo comprar com a grana que sobra no fim do mês... rs!

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. A maioria é feita por pessoas que entendem de mercado – o que não acho necessariamente ruim. Na lógica capitalista em que estamos inseridos, o cinema precisa se mostrar rentável para continuar a existir. E não acho que filmes com apelo de bilheteria sejam “menores” do ponto de vista artístico, intelectual, filosófico. Mas, como respondi lá na questão 1, conheço salas que são geridas por quem concebe o cinema de forma plural, garantindo espaço a obras que não atrairiam um público numeroso. E essa diversidade é fundamental – acredito que devam existir filmes (e espaços de exibição) para todos os públicos, com todos os formatos, temáticas e abordagens. Do blockbuster mais bombado ao curta experimental que só sete pessoas viram, tem que ter lugar para tudo.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Essa conversa já vem de longe, né? Desde meados do século XX que tem gente dizendo que vão acabar e elas seguem aí... não diria que estão firmes, mas seguem existindo. Agora, durante a Quarentena, não tenho ido às salas, mas é uma das coisas de que mais sinto falta – a experiência gregária, estar junto com pessoas que foram àquele lugar buscando o mesmo que eu, ter uma experiência compartilhada. Rir, chorar, levar susto junto. Ouvir as reações. Não há sofá em casa que substitua isso. Acredito que a capacidade de reinvenção do cinema é imensa e seu apelo também. Para não ser exagerado, dizendo que as salas nunca vão acabar, apostaria em mais 50 anos, no mínimo.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Imagine (Andrzej Jakimowski, 2012). Conta a história de um professor de uma escola de cegos que tenta revolucionar o ensino usando uma técnica semelhante ao do “radar” dos morcegos. A partir desse mote, a obra apresenta a paisagem sonora de Lisboa de modo muito poético. Um filme para ser

ouvido...

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não. Por mais que eu queira voltar a frequentar as salas, não considero uma atividade essencial. Claro que me preocupo e me solidarizo com as salas – e faço tudo que está ao meu alcance para ajudar a mantê-las durante a Quarentena –, mas acredito que a preocupação com saúde pública deva vir em primeiro lugar.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Apesar das dificuldades financeiras, está em um momento muito criativo. Tenho acompanhado entusiasmado o lançamento de filmes como Tatuagem (Hilton Lacerda, 2013), Sinfonia da Necrópole (Juliana Rojas, 2014), As Boas Maneiras (Marco Dutra e Juliana Rojas, 2017), Corpo Elétrico (Marcelo Caetano, 2017), Benzinho (Gustavo Pizzi, 2018), Temporada (André Novais Oliveira, 2018), M-8: quando a morte socorre a vida (Jeferson De, 2019), Vaga Carne (Grace Passô, 2019). São obras que mostram a força da produção brasileira atual, com enfoque em estilos, temas e personagens que precisam urgentemente figurar nas telas.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Lúcia Murat. Mesmo os filmes de que não gosto muito têm um lugar especial na estante de DVDs. Adoro o modo como ela pensa a História, tanto na ficção quanto nos documentários, e as obras que refletem sobre o Rio de Janeiro. Que bom te ver viva, Quase dois irmãos, A memória que me contam, Brava gente brasileira, Praça Paris, Ana. Sem título – gosto tanto deles, mexem comigo em diversos níveis, intelectual e emocionalmente.

 

12) Defina cinema com uma frase:

A possibilidade de compreender a si próprio e a outrem por meio de imagens e sons.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Em uma sessão no Festival do Rio, daquelas com legenda eletrônica sendo projetada ao vivo por alguém na sala, houve um problema com o dispositivo. E o filme, em mandarim, seguiu rolando... Quando consertaram o aparelho, já não havia como saber se a legenda estava correta, pois ninguém na sala falava mandarim. Ver na tela uma xícara de chá enquanto na legenda se lia “que vestido bonito você está usando hoje”, passou a ser uma situação comum durante a sessão. Foi uma experiência disruptiva (risos!).

 

14) Defina ‘Cinderela Baiana’ em poucas palavras...

Determina os limites da minha cinefilia...

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo? 

Não. Contudo, prefiro aqueles que são. Gosto de filmes que trazem alguma referência a outras obras. O cinema que pensa o cinema, sabe?

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Ele não está tão afim de você (Ken Kwapis, 2009) foi o único que me fez sair da sala antes do fim. 

 

17) Qual seu documentário preferido? 

Uma longa Viagem (Lúcia Murat, 2011). A mistura entre documentário e ficção, o diálogo com a arte performática - tudo me faz ter um carinho especial por ele. O tema também me atrai bastante. Gosto de pensar sobre o cotidiano nas ditaduras – quais os dilemas? Que saídas? Se puder acrescentar mais um, seria outro da Lúcia: Ana. Sem título. Mas sobre esse não vou dizer nada, porque acho que pode estragar a experiência. Só recomendaria enfaticamente!

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?   

Sim, para vários, sobretudo no Festival do Rio. Mas assisti a Metrópolis (Fritz Lang, 1927) no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em uma sessão com orquestra ao vivo que foi simplesmente memorável. Foram alguns minutos de aplausos. Momento lindo!

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu? 

Serve só a voz? (risos!). Homem Aranha no aranhaverso (Bob Persichetti e outros, 2018).

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Guia do Cinéfilo, claro!

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Netflix.

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12/05/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #413 - Manuela Matos


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de São Paulo. Manuela Matos tem 30 anos, é tradutora por profissão e cinéfila de coração, teve a oportunidade de escrever críticas por um tempo no Formiga Elétrica e hoje com o trabalho de tradutora crescendo muito ela divide seu tempo trabalhando e cuidando do site filmesp.com.br, que tem como objetivo de não deixar os paulistanos por fora de diversos eventos relacionados ao cinema na cidade de São Paulo e que muitas vezes não tem divulgação para o público geral, como eventos específicos em bibliotecas ou cineclubes. Desde 2016, o site é uma agenda cultural dos festivais e mostras de cinema da cidade de São Paulo e que, atualmente, está visando também os outros estados cujo os festivais entraram online.  

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

O cinema Belas Artes, sem sombra de dúvidas. A curadoria, tanto do cinema como do streaming, são ótimas, além disso, antes da pandemia tinham eventos únicos como o noitão onde entrávamos às 23h e só terminava às 7h e especiais de diretores x atores que aconteciam mensalmente.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Sinceramente? Foi bem recente… foi quando vi Dunkirk, eu pessoalmente não acredito que existam história novas sobre a guerra então quando vejo filmes desse tema eu presto mais atenção no desenvolvimento e técnica, e caramba, que filmaço na tela grande. Revi algumas vezes pela televisão e não é a mesma coisa, você perde muito da experiência.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Koreeda é de longe um dos meus favoritos, todos seus filmes retratam a humanidade como ela é, sem um inimigo ou uma ação aterrorizadora, suas histórias, mesmo fantasiosas como After Life são histórias comuns. Meu filme favorito dele é o Pais e Filhos onde ele retrata o ainda tabu do filho biológico e o de criação quando um pai descobre que seu filho foi trocado na maternidade, é lindo.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Cine Holliúdy, divertido, regional e com um incrível discurso sobre a potência e amor ao cinema. Um verdadeiro filme que representa nossa vontade de sempre ver filmes.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É entender que não importa o filme, seja um filme do Wong Kar-Wai com suas relações amorosas incompletas, ou um Velozes e Furiosos que foca na família em meio a carros explodindo, todos eles têm seu valor para alguém, todos tem uma história que merece ser contada.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Sim, busco frequentar cinemas que escutam seus frequentadores e prezam pela qualidade dos filmes acima da “pipoca”, diferente de cinemas onde vendem um pote de pipoca do R2-D2 pelo preço de um salário mínimo e permite que 80% de suas salas sejam do mesmo filme, isso é feito por quem entende só de vendas e não de filmes.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não, não vão. Da mesma forma que os teatros não acabaram com a chegada do cinema ou o rádio com a chegada da TV, existe público para tudo.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Kairós (2020) de Nicolás Buenaventura.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Melhor não, não podemos controlar as ações das pessoas, então, mesmo que o espectador siga as orientações de se manter afastado, usando máscara e álcool em gel, não podemos ter certeza que a pessoa que está junto no metrô ou ônibus ou passando ao lado na rua siga as orientações também. Se temos problemas de infrações dentro de condomínios residenciais não será dentro do cinema que estaremos seguros.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Tem muito filme bom e interessante sendo produzido, uma dica é ficar de olho nos festivais pequenos e aproveitar que os festivais regionais estão atendendo em todo território nacional com sessões online e muitas vezes gratuitas.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Qualquer filme feito pela Glenda Nicácio e Ary Rosa, ou que tenha Edmilson Filho ou Luciana Paes no elenco eu vejo!

 

12) Defina cinema com uma frase:

O cinema é nossa janela para o mundo exterior e interior, nossa forma de viver mil vidas em uma.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Olha, já vi muita coisa mas acho que a mais inusitada foi na saída de um filme durante a mostra de 2018 em que duas senhoras começaram a discutir falando que uma não entendeu o filme, a outra começou a falar mais alto que o filme não foi “tudo isso” e então começaram discutir mais alto cada uma dizendo onde fez mestrado na Europa (??) e que podia falar com propriedade e eu querendo entrar na sala para ver o filme que ia começar, mas elas estavam brigando na porta dessa sala, depois de um tempo consegui entrar. Quando acabou o filme e fui passar na cafeteria estavam lá as duas tomando café e conversando normalmente…. hahahaha

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras…

Puro suco dos anos 90.

 

15) Muitos diretores de cinema  não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho que não, basta ter uma história que precisa contar.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Mate-o e sai desta cidade (2020) de Mariusz Wilczyński.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Helvetica (2007) de Gary Hustwit, sobre a criação da fonte.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Sim, para o Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2, eu estava com muito hype na época, quem nunca? hahahah

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Kick-Ass mas ainda não consegui ver os filmes novos a partir do Mandy...

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Cinemação e o Formiga Elétrica.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Belas Artes À La Carte e Amazon Prime.

 

 

 

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