02/06/2024

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Crítica do filme: 'Fundo do Poço'


Uma jornada fúnebre e sangrenta. Disponível na MAX, Fundo do Poço nos mostra a trajetória de um homem bem sucedido, prestes a morrer, e seus enfrentamentos aos últimos dilemas que percorreram toda sua vida. Ao longo de 90 minutos de projeção, entre tragédias na iminência, vamos caminhando para reflexões num retrato de um leve despertar da solidão. Dirigido por Rightor Doyle, o filme bate na tecla da sexualidade, assunto que contorna os desenrolares de um roteiro que se desenvolve na harmonia entre uma bolha melancólica e um humor afiado.

Na trama, conhecemos Gary (Zachary Quinto), um homem em busca de realizar os últimos desejos já que tem um câncer inoperável no cérebro. Completamente sozinho em uma enorme mansão, já que sua família o abandonou quando contou que era gay, um dia ele resolve contratar Cameron (Lukas Gage), um massagista com fins sexuais. Quando uma série de situações acontecem nesse dia, passando por encruzilhadas, dilemas, arrependimentos e descobertas de instantes de felicidade, essa dupla de desconhecidos precisará vencer alguns obstáculos.

Um dia caótico, regado à sangue, inusitados momentos e a necessidade de enfrentar as consequências. Através do despertar de um personagem reprimido que buscou durante toda sua vida ser um exemplo da hipócrita imposição da sociedade dentro do conceito da moral e bons costumes chegamos em uma série de situações que conseguem em ótimos diálogos nos levar para várias reflexões. A narrativa se impõe com dinamismo, com o uso de um ritmo frenético onde a intensidade das emoções afloram e são vistos em cena através de uma direção de arte que diz muito pelas entrelinhas.

Tendo a sexualidade como epicentro dos conflitos que se seguem, o roteiro encontra um caminho interessante para desenvolver um alguém que está preso em uma melancolia e enxerga de forma abrupta seu despertar através do olhar de um outro personagem que também passou por dramas parecidos. É uma dupla que funciona em cena. Junto a isso, outros personagens aparecem nesse liquidificador que encosta no caos, nas despedidas, mas tendo as ironias do destino a seu favor.


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Crítica do filme: 'O Alfaiate'


O plano perfeito não existe. Chegou recentemente ao catálogo da Prime Video um intrigante longa-metragem que nos mostra ao longo de uma noite, reviravoltas e surpresas em meio a um banho de sangue, numa busca da descoberta de quem é a pessoa mais esperta daquele lugar. Escrito e dirigido pelo roteirista vencedor do Oscar Graham Moore, e ambientado numa época de forte predomínio das máfias nos Estados Unidos, seguimos os passos de um intrigante personagem e sua aparente fuga da violência mas que esconde segredos conforme vamos entendendo melhor essa história.

Na trama, conhecemos o britânico Leonard (Mark Rylance), um experiente alfaiate que após uma tragédia se mudou para Chicago em meados da década de 1950. Nesse novo lugar, acabou se envolvendo, mesmo que de forma indireta, com a máfia, inclusive um dos chefões da região é o seu principal cliente. Quando em uma noite, uma série de acasos acontecem, o alfaiate precisará de muita habilidade para se livrar de uma peculiar situação.

Dilemas, suspense, num cenário com atuações excelentes. O brilhantismo do roteiro caminhando nas ações e consequências se torna um parceiro perfeito de uma narrativa com ar sombrio, que respinga violência, onde o inesperado é ansiosamente aguardado na próxima cena. Tendo esse plano de fundo instaurado, personagens se revezam na entrega de peças de um mosaico ligado a crimes, traições, ego, onde emoções entram em conflitos culminando numa série de ações inconsequentes.

A delicadeza de uma profissão, hoje quase esquecida pelo desenvolvimento da tecnologia, ganha uma luz intensa na composição de um protagonista marcante. Seu intérprete, o ganhador do Oscar Mark Rylance está fabuloso em um papel que poderia lhe render outros prêmios. Leonard e seu campo de percepção apurado vai se revelando aos poucos o ponto de interseção de subtramas, sempre muito bem conduzido por uma direção detalhista que busca encontrar a pulga atrás da orelha do lado de cá da telona.


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01/06/2024

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Pausa para uma série: 'Eric'


É possível mudar o mundo antes de si mesmo? Chegou na Netflix uma interessante minissérie de apenas seis episódios que caminha pela esperança desencontrada abrindo um leque de profundas reflexões a partir de uma busca de um refúgio para intensas aflições. Eric, apresenta pelo olhar indefeso do mundo, um casamento em ruínas, a política, a corrupção, a polícia, o preconceito, os abandonos de relações entre pais e filhos. Criado pela dramaturga britânica Abi Morgan, e com todos os episódios dirigidos pela cineasta Lucy Forbes, tem como maior trunfo as lições que transmite através da personificação dos sentimentos centralizados na figura de um boneco criado por um desenho que atrás de seu ar monstrengo nos leva até medos, inseguranças.

Na trama, ambientada numa Nova Iorque em meados da década de 80, conhecemos o jovem Edgar (Ivan Morris Howe), um garoto que sofre com o ponto em que se chegou o casamento dos pais, a professora Cassie (Gaby Hoffmann) e o criador de um programa de bonecos bem famoso, Vincent (Benedict Cumberbatch). Um dia, Edgar some. Acionando logo a polícia, o caso cai na responsabilidade de Michael (McKinley Belcher III), um policial gay que sofre com diversos preconceitos e que fará de tudo para resolver o mistério desse sumiço.

Não é porque você não enxerga que não existe. O roteiro, longe de ser rasteiro, navega por histórias que se cruzam através de uma decisão. As subtramas são todas muito bem desenvolvidas e ganham seus convincentes desfechos. Um casamento em ruínas, com vícios e traições é exposto, as relações entre influentes da cidade e a polícia também. Os segredos, o descaso, a fuga da culpa vão expondo os lados de um poder que não se vê mas sabemos que existe. Um homem da lei e seu silêncio sobre a vida pessoal com uma iminente perda é uma subtrama profunda que parece andar em paralelo à investigação do sumiço do jovem. Em algum ponto nos perguntamos: onde está a esperança para algumas dores do mundo? Enxergamos críticas sociais contundentes por todos os lados.

O protagonista parece ser mesmo Vincent e sua jornada pelas dores emocionais, nunca tratadas, até mesmo prolongadas, que no fim do seu túnel nunca enxerga a luz de reconexões. Totalmente desequilibrado, com muitos vícios, e os traumas na relação com o pai, levaram esse ator bonequeiro a um reflexo do que viveu na relação fria com o próprio filho. Mas como o espectador entende tudo isso? Aí que vem a grande sacada, um boneco que aparenta o deixar com medo mas que na verdade é um espelho das emoções que misturam a loucura, a culpa, o medo.

Nesse forte drama, entre desconfianças para todos os lados, as indefesas do mundo são quase um personagem. É também sobre pais e filhos, sobre as consequências das relações tóxicas mas também sobre reconexões. Assim, seguimos nos perguntamos até o minuto final: É possível mudar o mundo antes de si mesmo?


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30/05/2024

Crítica do filme: 'Biônicos'


Por si, pelos outros, até o fim. O novo longa-metragem brasileiro produzido pela Netflix, Biônicos, nos leva até uma distopia, mais precisamente ambientada no ano de 2035 onde próteses biônicas revolucionam os esportes. Tendo o poderoso trunfo dessa premissa instigante, que bate na tecla de muitas questões, inclusive de que a auto mutilação é o novo doping, o ótimo cineasta Afonso Poyart nos leva até uma narrativa que embarca no arriscar, onde se cruzam uma rivalidade entre irmãs e um curioso olhar para a tecnologia que influencia os esportes de alto rendimento.

Na trama, conhecemos Maria (Jéssica Cores), uma atleta do salto em distância, filha de uma famosa esportista, que vê suas chances de sucesso no esporte serem afetadas drasticamente com a chegada de próteses tecnológicas que transformam a vida de outro atletas. Ao mesmo tempo, sua irmã Gabi (Gabz), amputada desde a infância por conta de um tumor, chega ao estrelato da mesma modalidade se tornando uma referência dessa nova realidade do esporte que pratica. Sua vida começa a dar novos passos quando conhece o misterioso Heitor (Bruno Gagliasso) o líder de um grupo revolucionário de apoio a atletas comuns que tem um plano mirabolante. Assim, nos dilemas entre o certo e o errado, Maria embarca em uma jornada que mudará seu destino e o de muitos ao seu redor.

Uma distopia futurística. Poucas vezes você viu no cinema brasileiro. Esse é o maior dos méritos dessa nova produção da Netflix. Estiloso visualmente, tendo a cidade de São Paulo com ares futurísticos, Biônicos estaciona sua criatividade narrativa no drama comum sobre relacionamentos entre irmãos. Com uma protagonista também narradora, passamos pelo  preço para se chegar ao sucesso, o arriscar, o relacionamento familiar conturbado, esses pontos ganham boas reflexões.

Pena que o roteiro tem alguns deslizes, se torna didático demais batendo de frente no desenvolvimento dos personagens, além de cair na previsibilidade dos clichês, mas nada que atrapalhe muito o contundente discurso. A jornada da heroína é cumprida passando pelas ações e consequências, e ao mostrar esse segundo ponto a produção ganha contornos que se aproximam da realidade, algo que podemos traçar paralelos com o mundo atual.

Poyart é um ótimo diretor e isso fica óbvio ao assistirmos ao filme. O cineasta santista, que já dirigiu Anthony Hopkins em Presságios de um Crime, além do espetacular longa-metragem Dois Coelhos, une conceitos como inovações para desenvolvimento do córtex motor, chip de última geração em uma prótese, referências criativas adaptadas para um futuro incerto, transformando sua narrativa em algo único e ganhando muito no conceito visual. É louvável a ideia de realizar uma produção de ficção científica em nosso país, nosso cinema estava precisando desses novos olhares.


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Crítica do filme: 'Long Shot'


A perspectiva do ‘E Se?’. Não é costume de boa parte do público parar e assistir a um projeto audiovisual que não seja um longa-metragem. Se você é um desses, acho que depois de conferir esse filme, seu pensamento pode mudar. Em agosto de 2003 um pai de família, em um relacionamento saudável com sua companheira, é abruptamente cercado por agentes da polícia de Los Angeles e logo acusado de um crime que não cometeu. Somado a esse caótico absurdo, uma variável quase inacreditável se torna a única esperança de Juan Catalan, um homem inocente: a filmagem de um seriado de sucesso da HBO. Long Shot, média-metragem premiado em alguns festivais, é uma viagem para o campo das reflexões sociais e o papel do destino na trajetória de uma vida.  

Em 2003, a polícia de Los Angeles investiga o violento assassinato de uma jovem na porta de casa. Por meio de um retrato falado, chega ao nome de um suspeito. Assim começa essa história dirigida por Jacob La Mendola que mais parece um roteiro feito por Hollywood. Você vai entender o porquê. Por meio de uma prisão injusta baseada em interrogatórios com mentiras deslavadas e muitos achismos das forças policiais, a única chance de Juan Catalan chega através de um obstinado advogado de defesa, um jogo do Los Angeles Dodgers e da produção do sétimo episódio da quarta temporada de um dos grandes sucessos da HBO, Curb Your Enthusiasm, série estrelada por Larry David. A narrativa tendo esses elementos para contar, transforma esse projeto em algo onde não conseguimos desgrudar nossos olhos dos acontecimentos que se seguem.

Percorrendo por partes importantes da investigação policial, principalmente como conseguiram chegar até um nome como principal suspeito, o projeto nos leva para os contextos de uma operação que coloca em xeque os métodos de interrogatórios, os modos de operação, na busca por resolução de fatos. Um problemática que abre margens para reflexões sobre preconceitos e as absurdas falhas que podem levar pessoas inocentes até mesmo à pena de morte. Contra uma promotora dura, implacável, que nunca tinha perdido um caso na carreira, um jovem advogado persistente em provar a inocência de seu cliente se torna um grande herói de uma história da vida real que tinha tudo pra dar errado.

O drama que se segue encosta na agonia sentida por Juan e sua família. E se, ele não tivesse ido a um jogo do time do coração? E se, seu advogado não acreditasse nele e não se dedicasse ao caso? E se, as filmagens de uma famosa produção audiovisual em um estádio para dezenas de milhares de pessoas não tivessem ocorridas exatamente no lugar onde estava marcado seu lugar? Pegue 40 minutos do seu precioso tempo e vá correndo assistir. Não vai se arrepender.


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Crítica do filme: 'Maestro (s)'


Filme francês que liga a música clássica a um problema de relação entre pai e filho? Vamos falar agora do ótimo Maestro (s). Adaptação do excelente filme israelense Footnote, o longa-metragem francês Maestro (s) traz para o público um duelo entre dois personagens, pai e filho, que tem o mesmo ofício e precisam aprender a lidar com angústias que leva seus destinos para um conflito familiar que se juntam à rugas do passado. Se escondendo do melodrama, tendo o contagiante universo da música clássica como palco, vemos as variações dos erros e acertos entre mestre e aprendiz, numa relação de indiferença onde o ego se projeta acima de tudo.

Na trama, conhecemos Denis (Yvan Attal) um maestro em total ascensão na carreira após vencer um cobiçado prêmio. Ele possui uma trajetória de repleta tensão com seu pai François (Pierre Arditi), esse também maestro. Um dia, após um bizarro erro de comunicação a partir um inesperado convite para assumir uma prestigiada orquestra na Itália, Denis precisará lidar com uma situação que logo se torna um problema de família.

Solos de violinos, o impacto na condução de sinfonias, o perfeccionismo, se juntam a uma narrativa onde a emoção transborda sem forçar, se escondendo do melodrama. A ótima direção conduz o público pelo transbordar de conflituosos sentimentos, onda a mágoa vira uma marca evidente. A busca pela aclamação mesmo que isso leve a muitos desgastes coloca no palco principal uma triste constatação de como o egocentrismo se torna uma barreira quase inabalável numa relação familiar. Com os dilemas se amontoando, unindo passado e presente, somos testemunhas de reflexões ao longo de cerca de 90 minutos de projeção.

Dirigido por Bruno Chiché, Maestro (s) não se esconde ao mostrar seus embates, algo que acontece muito por aí, traça seu norte indo de encontro ao que machuca, ao perdão. Falar sobre pais e filhos é sempre uma jornada emocionante, o desfecho desse filme comprova isso.


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29/05/2024

Crítica do filme: 'Back to Black'


Um filme que não faz jus a um fenômeno. A inesquecível cantora Amy Winehouse ganhou uma cinebiografia e fomos lá conferir, vamos falar agora sobre Back to Black. Estacionando em momentos de sua vida desde a ascensão na indústria fonográfica até suas derrotas emocionais que levaram a cantora rumo a um triste fim aos 27 anos, Back to Black tem um roteiro que caminha pelas histórias das canções mas não consegue fugir do convencional, busca contornar a narrativa pelos momentos inspirados de Marisa Abela, espetacular no papel de Amy.

Na trama, conhecemos Amy Jade Winehouse (Marisa Abela) uma jovem e talentosa cantora do norte de Londres que chega ao estrelato de forma meteórica. Ao mesmo tempo que lida com os avanços da carreira, precisa enfrentar um relacionamento conturbado com o namorado Blake (Jack O'Connell) e os vícios que a dominavam.

O amor é um jogo perdido? Dona de um gosto musical maravilhoso, amante do Jazz e um alguém que precisava viver suas canções, Amy encarava o amor com sua impulsividade chegando de diversas formas nas decepções. O contorno disso como narrativa, um foco desse projeto, acaba frustrando por conta do potencial artístico de uma das maiores cantoras das últimas décadas que poderia ser melhor explorado. Saímos da sala de cinema e um pensamento logo vem: Não é certeza que o filme vai empolgar os fãs da cantora.

O fiasco só não chega com força por conta de uma atuação que busca levar o filme nas costas. Marisa Abela é de longe a melhor coisa nessa produção. Atriz não é muito parecida mas se joga de corpo e alma nessa difícil personagem, um ícone de uma geração.

Do processo criativo às decepções amorosas e a chegada de toda problemática do circo midiático, o olhar para a célebre cantora é rasteiro, vazio, superficial. Dirigido por Sam Taylor-Johnson, o projeto se sufoca na melancolia dando poucos sentidos aos vazios existenciais, resumindo uma icônica personagem a um alguém que tropeça nas próprias fragilidades. Amy merecia mais né? De qualquer forma, vá aos cinemas, veja e tire suas próprias conclusões! Ah, e prepare-se para ficar com as canções de Amy na cabeça durante semanas!


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Pausa para uma série: 'Ashley Madison: Sexo, Mentiras e Escândalo'


Umas das minisséries documentais mais chocantes e com reviravoltas acaba de estrear na Netflix. Vamos falar agora sobre Ashley Madison: Sexo, Mentiras e Escândalo. Um pioneirismo na internet, no início dos anos 2000, no boom dos namoros Online, um site para casos extraconjugais é lançado gerando enormes polêmicas. A pessoa se cadastrava e era prometido sigilo e descrição. Certo dia, um ataque hacker aos servidores do site leva até o maior caso de divulgação de dados da história, modificando vidas para sempre.

Com depoimentos de ex-funcionários e usuários que tiveram suas vidas completamente afetadas pelas consequências dessa situação, essa série documental de três episódios disponível na Netflix joga ao espectador questões sobre a moral e os lados escondidos de relacionamentos. Percorrendo histórias de alguns lugares entre os EUA e o Canadá vamos entendendo os dramas a quatro paredes, que passam pela vergonha e constrangimento.

Batendo na tecla da pergunta: Qual o preço de se viver numa mentira? Vamos entendendo as motivações de todos os lados. O prazer, os segredos, entre outros, se tornam elementos de uma narrativa que busca nas surpresas seu dinamismo. A mente humana e suas complicadas certezas ampliam o contexto de reflexão chegando até as críticas sociais, essas na linha tênue da moral aqui personificado na figura de uma empresa que ganha com a traição dos outros.

Nesse ponto da minissérie, quando se traça um raio-x da empresa Ashley Madison e também de sua figura mais marcante, um CEO arrojado que teve e-mails polêmicos divulgados, chegamos até os deslizes do bom senso. Seria tudo um golpe de marketing? Essa pergunta logo se desfaz quando entendemos a investigação por trás dos vazamentos. E em relação a isso, até hoje algumas dúvidas no ar.

Ashley Madison – Sexo, Mentiras e Escândalo é um exercício sobre o pensar a sociedade e o consumismo, além de mostrar na cara dura as hipocrisias de pessoas que juram sempre se comportar.

 

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28/05/2024

Crítica do filme: 'Bayoneta'


Quando o trauma paralisa. Sendo duro e cru na maneira como demonstra um estado de arranhados conflitos emocionais que se somam com o tempo, aos olhos de um protagonista, que nada de braçadas na solidão, já no ponto de um despertar, essa co-produção México/Finlândia, Bayoneta caminha pelo recomeçar. Dirigido pelo cineasta queniano Kyzza Terrazas, através de uma composição quase sensorial de um personagem perdido em um impactante trauma, esse projeto nos apresenta os dramas de uma vida e o desabar de uma carreira. Destaque para a excelente atuação do ator Luis Gerardo Méndez.

Na trama, conhecemos o boxeador e medalhista olímpico mexicano Miguel 'Bayoneta' (Luis Gerardo Méndez) que após um trágico final de sua última luta, quando era visto como uma estrela em ascensão no esporte que escolheu, resolve se mudar para a Finlândia se distanciando de amigos e família. Nesse lugar, busca se reestabelecer emocionalmente quando uma nova oportunidade chega até ele.

Se distanciando de outros filmes sobre esportes, nesse projeto, rodado na cidade de Turku, na Finlândia, nos encontramos com o drama de um homem que após anos de dedicação para ser o melhor no que faz entra em choque com as desilusões, fato esse que o deixa em estado de total confusão, como se deixasse nas mãos do destino alguma indicação de novos caminhos. O lado psicológico do personagem é muito bem explorado, com seus altos e baixos constantes e a aflição de não conseguir se desprender do grande trauma de sua vida. O roteiro busca o dinamismo nessas mudanças abruptas do personagem, não conseguindo alcançar um clímax mas sendo linear no seu discurso.

Na busca de encontrar novos sentidos para sua ligação com seu ofício, num país completamente diferente do seu, embarca em busca do congelamento das próprias emoções mas a vida não percorre pelos passos simplistas, como demonstra muitas vezes a realidade. Nesse ponto a narrativa ganha destaque, aliada a uma direção competente, transforma a emoção em imagens e movimentos que impactam como se fosse um espelho do complicado abstrato dos sentimentos.


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27/05/2024

Crítica do filme: 'Monster' (2024)


O naufrágio na busca pela originalidade. Um filme sem diálogos que aposta na tensão máxima de uma luta pela sobrevivência. Vamos falar agora sobre o terror indonésio Monster. Remake de um longa-metragem norte-americano chamado O Menino Atrás da Porta, esse projeto caminha na receita de bolo de outras produções que buscam no susto elevar os momentos de aflição. Pena que o roteiro cai na armadilha da previsibilidade, nos levando para uma série de clichês.

Na trama, conhecemos dois jovens amigos que são raptados por um homem misterioso e levados até uma casa em uma região afastada da cidade. Lá, vivendo um verdadeiro pesadelo, um deles consegue se libertar e resolve voltar para ajuda o amigo embarcando em uma série de situações aterrorizantes com surpresas pelo caminho.

A amizade é um elemento importante por aqui. Num dos dilemas no epicentro da ações da protagonista, uma escolha é feita. A ida ao confronto com o ‘Monstro’ em questão nos leva para as reflexões sobre o lidar com o medo e as reações num momento de luta pela sobrevivência. É quase uma parábola sobre um dos sentimentos mais intensos da humanidade. Pena que a narrativa foca em conseguir ritmo através da tensão esquecendo de desenvolver o roteiro.

Monster até cumpre seu papel de chegar na tensão e fazer refletir sobre alguns temas ligados a psicopatia e os absurdos de mentes perturbadas. Mas como obra cinematográfica adota algo parecido com um Ctrl C – Ctrl V que já vimos por aí.


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