26/09/2024

Crítica do filme: 'A Mulher Selvagem' [CINEBH 2024]


A realidade caótica que lida com o julgamento dos outros. Abordando muitas questões sociais, tendo como cenário alguns lados de uma Havana do tempo presente, esse interessante projeto cubano com sua construção e condução muito bem equilibradas parte de um despertar que encosta nas inconsequências. Compondo a ótima seleção da Mostra Continente do CineBH 2024, A Mulher Selvagem tem como um dos seus inúmeros méritos o preciso olhar ao detalhar um forçado recomeço, um passo anterior a uma provável segunda chance.

Na trama, conhecemos Yolanda (Lola Amores), uma mulher amargurada e com muitos dilemas que se vê presa em um enorme conflito quando uma sangrenta briga entre o amante e seu companheiro expõe toda sua intimidade aos olhos dos outros. Tendo que agir rápido para proteger o único filho - que mora com a avó – parte em busca de uma fuga mas sem antes passar pelo sofrimento da exposição por conta de um vídeo que se tornou viral.

Em seu primeiro longa-metragem como diretor, o cineasta cubano Alán González vai a fundo num recorte que preenche questões vivas na sociedade como o cancelamento e a traição, ligados pelos pontos de rupturas de uma família repleta de rachaduras em seus elos. Por aqui a felicidade chega somente por lapsos, somos imersos a um estado emocional de desequilíbrio que é refletido em um cenário frio, cinzento, porém real.

Passando por alguns bairros pobres de Havana, a contextualização do espaço se soma ao abstrato dos sentimentos. Dessa forma, a narrativa dentro de uma linearidade acelera para encontrar as reflexões, muitas vezes parece que estamos em um suspense onde vamos resgatando peças que compõe uma personalidade forte e com um lado de desespero que grita frequentemente. A rejeição, as tentativas quase frustradas de afeto, a culpa, se agrupam rumo a um intrigante recorte sobre os sentimentos mais íntimos de uma protagonista brilhantemente interpretada pela atriz Lola Amores.

Exibido em diversos festivais, A Mulher Selvagem é um filme marcante, que pulsa o desespero ao mesmo tempo que abre olhares para uma Havana atual. Esse é um daqueles projetos que ficarão em nossas memórias por um bom tempo. Tomara que tenha a chance de ser exibido no circuito exibidor brasileiro, provavelmente será um dos filmes mais lembrados da 18ª Edição do CineBH.

 

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'A Mulher Selvagem' [CINEBH 2024]

Crítica do filme: 'O Clube das Mulheres de Negócios' [CINEBH 2024]


As personificações para um chocar. Vencedor do Prêmio Especial do Júri no último Festival de Gramado e selecionado para o CineBH 2024, O Clube das Mulheres de Negócios propõe ao espectador um exercício provocativo onde de várias formas podemos enxergar o comportamento através de um uso ácido e debochado do arquétipo associado a personagens da nossa realidade. Suas possíveis várias leituras possibilitam ir do fato concreto ao imaginário. Não é um filme só de comédia, nem de suspense ou terror. É um liquidificador de emoções com tudo isso.

Na trama - que é bem difícil de definir uma sinopse simples e objetiva - conhecemos personagens que entram em total conflito, quando dois jornalistas resolvem entrevistar algumas poderosas mulheres envolvidas nas mais polêmicas situações. Para agravar as tensões que surgem, a fuga de um animal perigoso leva terror e medo a todos no lugar.

Ao buscar soluções para refletir sobre os absurdos, a narrativa encontra dificuldades de se manter firme no forte discurso deixando uma potencial premissa se perder. O exercício provocativo que o filme apresenta funciona numa primeira parte, com mensagens óbvias de paralelos estereotipados de figuras do mundo real. Nesse ponto, abre-se um leque de reflexões possíveis que vão desde as divisões de gênero, de classes, até a corrupção e o machismo.

Num segundo momento, numa grande virada do roteiro, com a chegada do abstrato e os delírios, o objetivo de apontar o olhar do espectador para algum lugar transforma o filme em uma grande viagem sem rumo e redundante. A partir desse ponto, as inspirações bem presentes dos recortes da política brasileira dos últimos anos costurados na primeira parte são esquecidas virando um show de desencontros do próprio discurso.  

Com inúmeras críticas sociais envolvidas entre o riso e a tensão, o projeto escrito e dirigido por Anna Muylaert vai dar o que falar pelas salas de cinema de todo o país a partir do dia 28 de novembro, quando estreia nos cinemas. É um daqueles filmes que você ama ou odeia.

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'O Clube das Mulheres de Negócios' [CINEBH 2024]
,

Critica do filme: 'Má Reputação' [CINEBH 2024]


As dificuldades de uma perseguição social e moral. Trazendo aos olhos do público um recorte intimista através de uma carismática protagonista e seus desabafos, o documentário uruguaio Má Reputação estaciona nas possibilidades, focado na sua figura central, sem deixar de deixar a sugestão de bons debates. Ao longo de 78 minutos de projeção, o tema da prostituição, do ativismo e dos direitos trabalhistas se mostram presentes.

Começamos essa caminhada através da rotina de Karina, uma profissional no sexo de quarenta e poucos anos que se joga dia após dia em uma estrada para oferecer seus serviços. Com a experiência de um profissão tratada sem respeito por grande parte da sociedade, certo dia ela resolve buscar a união para buscar direitos que logo se transforma numa luta com uma forte representatividade, através de uma associação para trabalhadoras do sexo – a Otras, Organización de Trabajadoras Sexuales. Além disso, Karina se joga em uma jornada para talvez enxergar novas possibilidades fora desse ramo.

Mostrando seu passo a passo até ali, seu relacionamento com as pessoas mais próximas do seu cotidiano, além da visão de outras mulheres que oferecem os mesmos serviços, vamos aos poucos entendendo as aflições da personagem principal em relação a todo um amplo contexto social e a posição marginalizada aos olhos de muitos. Há depoimentos de experiências passadas no seu tempo de estrada na profissão que ganham fôlego para reflexões através do olhar objetivo do que pode vir pela frente.

Dirigido por Marta García e Sol Infante, a primeira com vasta experiência no mercado de distribuição e a segunda como diretora de fotografia de vários projetos – uma junção que dá super certo com um olhar inteligente aos pontos que podem trazem reflexões – esse projeto não perde a chance de ser objetivo em nenhum momento. É uma história que vemos em nossa sociedade. Assim, Má Reputação adota uma narrativa que busca envolver através de uma imersão às emoções que culminam nas ações de luta de um presente repleto de desafios.  

 

Continue lendo... Critica do filme: 'Má Reputação' [CINEBH 2024]

21/09/2024

Crítica do filme: 'As Três Filhas'


A solidão ligada na ausência. Num pequeno apartamento numa grande cidade norte-americana conhecemos uma história que se joga com força na melancolia e num preparo para o iminente luto tendo como protagonistas três personagens em um clima constante de atenção. Escrito e dirigido pelo cineasta nova iorquino Azazel Jacobs, As Três Filhas se lança à melancolia, passando por desavenças e desabafos para criar um retrato profundo e por vezes emocionante de integrantes de uma família que tem muito a dizer uns para os outros o que transforma o que vemos numa grande sessão de terapia. É preciso paciência do público, rumando para o desfecho, o filme desabrocha deixando muitas lições.

Na trama, conhecemos três irmãs, Katie (Carrie Coon), Christina (Elizabeth Olsen) e Rachel (Natasha Lyonne), que se reúnem para estar nos momentos finais do pai, com câncer em estágio avançado, no lugar onde foram criadas. Completamente diferentes na maneira de pensar a vida e visões nesse momento complicado, entre implicâncias e sermões entram numa estrada para entenderem melhor uma a outra.

A narrativa opta pelo acompanhamento próximo dos embates, construídos a partir de um roteiro com expressões de sentimentos afundados em insatisfações e outros adormecidos que encontra a melancolia ligada num momento de ebulições emocionais. Assim, aos poucos vamos entendendo alguns porquês, sempre girando em torno da figura paterna. Com o despertar do passado surgindo, mágoas reveladas, tudo que as cerca parece ganhar novos sentidos.

Muitas vezes parece que o filme não sai do lugar comum que são os confrontos estabelecidos. Essa amargura dos personagens é sentida nas escolhas que viram reflexões, a construção disso é lenta, é preciso paciência. Esses dilemas, como: reanimar ou não o próprio pai, se tornam reflexões sociais e o projeto vai ganhando formas e movimentos interessantes. Soma-se positivamente a isso, um desfecho que surpreende, nas linhas interpretativas, mas que apresentando desfechos convincentes e com várias mensagens. Vale também o destaque para as três atrizes, atuações maravilhosas de todas elas.


Continue lendo... Crítica do filme: 'As Três Filhas'

20/09/2024

Crítica do filme: 'Caminhos Cruzados'


Momentos que fazem sentido no viver. Colocando na mesma balança o acaso e o destino, o longa-metragem europeu Caminhos Cruzados apresenta através de uma forte protagonista um novo olhar para o mundo e as renovações de felicidade que a vida pode nos trazer quando menos esperamos. Escrito e dirigido pelo cineasta sueco Levan Akin, o projeto parte do sofrimento de uma busca, por onde segue todo o discurso, sem deixar de preencher outros tantos.

Na trama, conhecemos Lia (Mzia Arabuli), uma professora de história aposentada moradora da cidade de Batumi, localizada no Mar Negro, na Geórgia, que está em busca da sobrinha, sua única família. Ela acaba se juntando a Achi (Lucas Kankava) um jovem perdido com o que fazer com sua vida, que sabe seu paradeiro. Assim, ambos atravessam a fronteira do sudeste do país, com a Turquia, que na visão de alguns é uma terra de oportunidades. Chegando lá, terão muitas descobertas.

Nessa belíssima viagem pelos contrastes nas formas de viver e até mesmo entender as próprias trajetórias, partimos de uma realidade local – e muito distante de nós – um lugar onde a esperança está pelas suas fronteiras. Nesse ponto, - já com nossa atenção voltada pra tela - somos convidados a conhecer histórias através de dois personagens com faixa etárias diferentes, visões de mundo infinitamente não semelhantes, que precisam unir forças por um objetivo. A narrativa brilhantemente então nos guia, até o nascimento de uma amizade improvável, onde o sentido de família e suas interpretações ganham fôlego.

O amplo contexto social e cultural que o filme propõe se torna um dos grandes méritos, muitos desenrolares se aprofundam tendo essa referência. A partir do já mencionado sofrimento de uma partida, a protagonista se choca com um novo olhar para o que esteve sempre por ali, por perto. Mas essa mudança não se restringe só a ela, para Achi também. Belíssimos diálogos e cenas marcantes validam toda essa transformação dos dois personagens.

Caminhos Cruzados, esse poderoso retrato cultural, movido à choques de vivências, onde a inconsequência reina por um instante, carrega o público para um tour de emoções escondidas, pelo iminente compreender, pelas verdades que se mostram presentes quando as possibilidades de felicidade surpreendem trajetórias.  


Continue lendo... Crítica do filme: 'Caminhos Cruzados'

Crítica do filme: 'Un Actor Malo'


Pesquisando um filme pra ver na Prime Video não poderia ter sido mais certeiro! Escrito e dirigido por Jorge Cuchi, Un Actor Malo joga uma luz importante para denúncias de assédios num set de filmagens. Pelo olhar da vítima e do agressor vamos compreendendo melhor essa história repleta de tensão que transforma a gravação de um filme em um verdadeiro tribunal moral. Um dos inúmeros méritos, são as atuações de Alfonso Dosal, e principalmente Fiona Palomo, que contemplam o público com atuações viscerais, hipnotizantes.

Na trama, durante um dia cheio de reviravoltas, conhecemos Daniel (Alfonso Dosal) e Sandra (Fiona Palomo), dois artistas com bom relacionamento fora das câmeras que estão rodando um filme. Numa das cenas, Sandra acusa Daniel de má conduta, desencadeando uma série de situações. Ela vai em busca de apoio jurídico para uma denúncia, enquanto a produção do filme tenta contornar a situação. Ao longo dessa jornada, as consequências são mostradas de várias formas, chegando até mesmo ao circo midiático que logo se mostra presente.

O clima de tensão permanece constante, fato esse que leva a narrativa para os caminhos da angústia e apreensão ao longo de toda a projeção. O cenário claustrofóbico se complementa com os fortes sentimentos que passa a protagonista dando mais força de impacto para a mensagem forte embutida em cada cena de violência. Basicamente mostrando um dia e todo seus contratastes nas emoções, somos jogados para um caldeirão de situações que refletem sobre pontos importantes da sociedade.

Há reflexões em todos os cantos, fatos contundentes vão se acumulando até um final impactante. Temos os pontos de vistas de advogados de defesa e de acusação, o olhar das outras mulheres da equipe do filme que ajudam a vítima nesse momento horripilante que passa, a produção do filme e sua preocupação com o projeto que parece se distanciar da sensibilidade com a vítima, e as colocações da mídia sensacionalista que se perde na apuração dos fatos levando uma exposição ainda maior da vítima. O roteiro busca pelas ações e reações de seus personagens, de forma dura, todos os olhares em torno de uma série de acontecimentos violentos.

Desde sua premissa, imersa numa metalinguagem, seguindo para um desenvolvimento de embates e dilemas essa é uma daquelas obras que dificilmente esqueceremos, principalmente pelo seu desfecho emblemático que nos leva a mais reflexões.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Un Actor Malo'

18/09/2024

Crítica do filme: 'Um Silêncio'


A devastação de uma família através do olhar de cúmplice. Chegou aos cinemas brasileiros um projeto que aborda um tema sensível, um caso real de grande repercussão que ocorreu na Bélgica. Buscando a angústia através de um embaralhar de cartas desordenado, Um Silêncio tem como força as grandes atuações de Emmanuelle Devos e Daniel Auteuil, imersos em uma narrativa lenta que busca apresentar respostas mas sem revelar num primeiro momento quais são as perguntas.  

Na trama, conhecemos Astrid (Emmanuelle Devos) esposa do advogado François Schaar (Daniel Auteuil), esse último trabalhando em um caso midiático onde defende parentes que tiveram os filhos sequestrados. Quando um segredo de décadas da família é aberto, os olhos da justiça se voltam por completo para essa família deixando Astrid em dúvidas sobre o que fazer.

Indicado ao prêmio de Melhor Filme do Festival de San Sebastian do ano passado, o longa-metragem escrito e dirigido por Joachim Lafosse apresenta os fatos através do olhar de Astrid. Cúmplice durante anos dos absurdos concretizados pelo marido e com eternos dilemas que a dominam, parece estalar para a realidade quando o filho adotivo do casal se torna o estopim de alguns acontecimentos paralelos ao grande segredo que ela e o marido mantém. A narrativa busca, e fica girando em torno, através de cenas com diversas interpretações, mostrar a ‘dúvida do que fazer’ como elemento de ações e consequências. Pouco pra prender a atenção do espectador.

As peças desse quebra-cabeça se embaralham a todo instante, é o tipo de filme que tem a história mal contada, que gera confusão. É difícil compreender sobre o que estamos assistindo, principalmente por subtramas mal desenvolvidas, praticamente jogadas ao longo dos pouco mais de 90 minutos de projeção. Inspirada em uma história real, Um Silêncio busca se sustentar nas ótimas atuações de Emmanuelle Devos e Daniel Auteuil.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Um Silêncio'

Crítica do filme: 'A Última Viagem'


O vai e vem de revelações inesperadas. Apresentando muitas surpresas pelo caminho, A Última Viagem, filme irlandês escondidinho lá no catálogo da Prime Video, usa o clima fúnebre e o flerte com a tragédia para contornar as linhas melancólicas de um roteiro que apresenta reviravoltas importantes mudando o sentido da trama. Esse é um filme sobre pais e filhos, relacionamentos, novas chances, recheado de personagens carismáticos.

Na trama, conhecemos Daniel (Michiel Huisman), um advogado tributário em ascensão na carreira morando na cidade de Nova Iorque, que está indo para a Irlanda após a morte de sua mãe. Durante o voo um senhor de idade ao lado da sua poltrona morre e de uma forma bem inusitada Daniel fica responsável por levar o corpo dele para ser enterrado ao lado de um parente na Irlanda do Norte. Durante essa jornada, o protagonista busca se reconectar com o irmão autista Louis (Samuel Bottomley) e acaba conhecendo melhor uma funcionária da funerária, a carismática Mary (Niamh Algar).

Dirigido pela cineasta Aoife Crehan, essa mirabolante jornada a princípio parece ter muitas questões soltas em subtramas que vão ganhando camadas emocionantes ao longo da projeção, nos levando até pontos familiares que usam os dilemas de outrora para trazer entendimento sobre atitudes do presente. Sem adotar flashbacks a narrativa mergulha nos desabafos e memórias de um protagonista que amadureceu forçadamente protegido pela família. Há um enorme spoiler que vira o roteiro de ponta a cabeça (e pra não estragar, sem menções por aqui). Essa carta na manga, que realmente surpreende, dá um novo sentido para tudo que acompanhamos.

A composição dos personagens é muito bem feita. Mesmo de forma bem objetiva, ultrapassando um pouco a superfície, entendemos o que precisamos para juntar as peças de um momento cheio de turbulências em diversas áreas para todos eles. Esse fato aproxima o público. Há clichês? Há. Mas nada que nos distancie, pelo contrário nos leva até reflexões profundas. Grata surpresa!


Continue lendo... Crítica do filme: 'A Última Viagem'

16/09/2024

Crítica do filme: 'Beyond The Mountain (Detrás De La Montaña)'


O ódio que cega. Caminhando pelos capítulos na vida de um protagonista em total desespero para acabar com uma de suas maiores dores, Beyond The Mountain costura a tensão emocional e a tragédia em uma narrativa que coloca o espectador como testemunha da inconsequência de um solitário protagonista. Escrito e dirigido por David R. Romay, Beyond The Mountain utiliza de forma inteligente o antagonismo do abstrato, o ódio batendo de frente com o amor, a desilusão sendo surpreendida por uma luz de felicidade. Elementos que rumam para o imprevisível.

Na trama, conhecemos Miguel (Benny Emanuel), um responsável jovem, abandonado pelo pai no nascimento, que trabalha como datilógrafo em um escritório público na Cidade do México. Sua vida é simples, vive com sua mãe – que sofre até o presente pelo abandono do marido - em um humilde apartamento e tem o sonho de chamar Carmela (Renée Sabina), uma cliente regular do seu trabalho, para um encontro. Após uma tragédia, dominado por sentimentos conflitantes nos quais se vê amplamente perdido, resolve ir atrás do pai para dar um ponto final na história dele.

Em menos de 15 minutos somos convencidos que essa é uma história que precisamos assistir. Com um discurso que parecia seguir uma longa jornada para o perdão, percebemos aos poucos que o lidar com a perda proposto acaba abrindo novas janelas de oportunidades. Esse longa-metragem mexicano é um forte drama com suas camadas de suspense, muito também por seu ótimo protagonista que mistura sentimentos em tela e os torna uma progressão rumo ao trágico. A saudade logo vira raiva. Mesmo o amor aparecendo, a dor ainda é mais forte.

Rodado em Chihuahua, no México, essa pérola escondida no catálogo da Prime Video, se fortalece nessa tensão emocional. É frio, objetivo, faz o espectador imaginar possibilidades de desfechos, sempre tendo as consequências da imensurável sensação da perda sendo o maior dos seus alicerces.

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Beyond The Mountain (Detrás De La Montaña)'

Crítica do filme: 'Garra de Ferro'


Profundo, forte, com amargura pra todos os lados. Apresentando aos espectadores os traumas de uma família vitoriosa no mundo da Luta Livre, aquelas lutas de mentirinha que são um enorme sucesso nos Estados Unidos até hoje, Garra de Ferro nos leva até profundas camadas emocionais onde há reflexões sobre os desenrolares psicológicos de irmãos com uma exigência forçada, na corda bamba de cargas desproporcionais aos seus reais sonhos. A culpa é um elemento importante que aparece em total construção ao longo das pouco mais de duas horas de projeção.

Na trama, ambientada pelas décadas de 70 e 80, conhecemos quatro dos irmãos Von Erich, uma família de lutadores que foi criada por um pai exigente e uma mãe permissiva. Ao longo do tempo vamos percebendo como essa criação voltada para um único objetivo, o de fazer campeões, acaba afetando todos esses irmãos que logo precisam conviver com tragédias sem fim.

Escrito e dirigido pelo ótimo cineasta Sean Durkin, esse é um daqueles filmes que emocionam e não deixam as reflexões escaparem um segundo sequer. Com um ritmo cadenciado explorando os detalhes de um sofrimento crescente que traz reflexos no presente dos personagens, a narrativa preenche as lacunas do passado em uma investigação sobre alguns porquês que se amontoam em destino longe da felicidade.

Nossos olhos são os embates ao longo do tempo entre Kevin (Zac Efron) e Fritz (Holt McCallany), pai e filho mais velho. A partir desses conflitos chegamos nas questões que exemplificam o caos dessa família disfuncional. Além dos absurdos feitos pelo pai, a passividade da mãe Doris (Maura Tierney), o público vai traçando suas próprias opiniões sobre qual o custo para se chegar ao sucesso.

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Garra de Ferro'