05/09/2022

Crítica do filme: 'Amira'


Seu pai é quem te criou mas será que um recorte geográfico envolto a um conflito é capaz de entender isso? Uma situação que se chega a um dilema, o começo, meio e fim de um recorte sobre um profundo drama familiar é o alicerce de Amira, filme que causou muitas polêmicas logo após seu lançamento pelo mundo, nas suas primeiras exibições em festivais de cinema. O conflito entre Israel e Palestina está contido nessa erupção dentro de uma família palestina, uma situação que leva a todos ao limite emocional muito por se sentirem perdidos em como lidar com a situação. Escrito e dirigido pelo cineasta egípcio Mohamed Diab, o filme nos leva a refletir sobre várias questões que vão desde uma complicada inseminação artificial até a força dos laços entre pais e filhos.

Na trama, conhecemos Amira (Tara Abboud), uma jovem adolescente palestina que vive com sua mãe Warda (Saba Mubarak) e outra parte de sua grande família em um apartamento simples mas onde nada falta. Seu pai Nuwar (Ali Suliman), é considerado um herói local e atualmente está preso em uma prisão israelense. Com o desejo desse último de ter mais um filho, ele resolve enviar seu esperma por meio clandestino (da prisão até o médico) para inseminar a esposa. A questão é que nos exames feitos antes da inseminação, apontam que Nuwar é estéril. Fato que causa muita estranheza já que Amira nasceu exatamente do mesmo processo, só que em uma época onde não tinha exame de DNA. Será que a esposa traiu o marido? Senão, de quem é o esperma que foi usado na inseminação? Uma erupção na família é vista, uma situação que leva a todos ao limite emocional muitos por se sentirem perdidos em como lidar com a situação.


Partimos do princípio que esse projeto é mais um filme que tem o contexto inserido na relação tumultuada entre Palestina e Israel. A partir daí, um gigante conflito se estabelece com uma surpreendente revelação médica. O procedimento médico, a inseminação artificial, ganha holofotes aqui. Acompanhamos a complicada estrada para essa gravidez que vai desde um sexo virtual, ao envio clandestino do esperma do pai até os médicos que farão a inseminação artificial. Mas por esse caminho complicado algo pode acontecer. Esse momento chave na trama, é a grande polêmica do filme principalmente sob a visão dos palestinos, fato que acabou retirando as chances de indicações ao Oscar do filme. Inclusive, a nota baixa do IMDb só tende a se justificar por conta de quem achou o filme um insulto.


Há uma visão de todos que giram ao redor da família sobre a questão chave do filme, o maior confronto acaba sendo entre a própria mãe e a filha. A primeira, que entendeu a verdade mais rápido que os outros busca a todo modo proteger sua filha. A segunda, parece estar sempre de acordo com o que o pai quer dentro de uma visão imatura sobre relacionamentos mas que acaba sendo exposta em uma situação que beira ao inacreditável mudando sua vida para sempre. O dilema aqui é: será a comunidade que ela vive, seus amigos, sua família, a tratarão da mesma forma se ela for filha de um Israelense e uma palestina? O amor de uma mãe é algo grandioso e ao longo dos conflitos vamos enxergando melhor essa relação tão profunda.


Há muitas outras reflexões que conseguimos enxergar no filme, e cada um pode ter a sua opinião. Um filme que mexe assim com nosso refletir se torna um que merece estar em uma prateleira de destaque. Amira, chega aos cinemas brasileiros na quinta-feira (08). Imperdível!


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04/09/2022

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Crítica do filme: 'O Amante Duplo'


Os nós que a mente nos prega. Baseado no livro de Joyce Carol Oates intitulado Lives of the Twins (lançado no final da década de 80), O Amante Duplo, trabalho do sempre surpreendente cineasta francês François Ozon, nos leva para a gangorra dos sentimentos, dos traumas, do medo, também dos desejos, tendo como alicerce uma protagonista que parece estar em um enorme quebra-cabeça emocional. Você não consegue desgrudar os olhos do filme, é envolvente. Um drama disfarçado de thriller, que nos leva para uma análise de uma protagonista e suas emoções mais profundas.


O filme, que concorreu à Palma de Ouro em Cannes, nos mostra a história de uma mulher que trabalha em um museu chamada Chloé (Marine Vacth) que após uma consulta para saber sobre um desconforto na região da barriga acaba sendo orientada a procurar um terapeuta. Assim, ela chega em Paul (Jérémie Renier), com quem logo se envolve. A questão que após um tempo, ele descobre um segredo de seu novo par romântico: ele tem um irmão gêmeo que também é terapeuta. Assim acaba se envolvendo com esses dois homens e acaba descobrindo muitas surpresas nesse caminho.


Falar sobre a mente humana e ainda inserir a questão dos desejos é uma engenharia cinematográfica complicada. Aqui, fugindo das metáforas o máximo possível mesmo tendo implícitas algumas, vamos enxergando uma reta de surpreendentes revelações que ao final percebemos que há questões em paralelos que completam essa curiosa trama. A protagonista é um enorme enigma pois a princípio não sabemos direito um detalhe fundamental de seu passado, aquela peça que falta na engrenagem mas que torna tudo mais explicativo. Ozon usa de sua maestria para nos guiar nessa jornada que tem um grande fundamento no medo, no trauma, na manipulação, que por conta das razões humanas acaba encostando no desejo.



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Crítica do filme: 'Marcas da Violência'


As verdades de um desconstrução. Baseado em uma história em quadrinhos homônima da DC Comics, assinada pela dupla John Wagner e Vince Locke, Marcas da Violência explora vários sentidos para o que podemos entender como violência. Na figura de um pai de família, super querido pela comunidade onde mora, o roteiro nos leva em direção a uma desconstrução, um lado sombrio que a mente humana é capaz de esconder. Dirigido pelo experiente cineasta canadense David Cronenberg, o filme esteve na competição pela Palma de Ouro no ano de seu lançamento mundial.


Na trama, conhecemos Tom (Viggo Mortensen), um pacato dono de uma cafeteria que vive feliz com sua esposa Edie (Maria Bello) e seus dois filhos em uma cidadezinha no interior dos Estados Unidos. Um dia, uma dupla de criminosos resolvem entrar na cafeteria de Tom nas últimas horas de uma noite, gerando o caos no lugar e Tom acaba, de forma surpreendente para todos no local, matando os criminosos. Ele logo vira celebridade na cidade, aparece na televisão, e tem a vida completamente mudada quando dias depois chega na cidade um homem dizendo que Tom na verdade é um violento membro de uma organização criminosa. Assim, aos poucos vamos entendendo melhor as lacunas dessa surpreendente história.


Aqui o foco é a mente humana. Explorando os caminhos que a vida nos leva para nos descontruirmos de uma identidade violenta mas que sempre deixa vestígios de um passado intenso o filme detalhadamente nos leva para a dúvida: será que Tom é uma outra pessoa e não aquele pacato homem dono de uma cafeteria? Mas e se ele for uma outra pessoa, ele realmente passou por uma mudança e virou um homem de bem?  Para responder a essas respostas, passamos pelas dores e caos que vira a vida dos integrantes de sua família, dentro disso os enormes conflitos com sua esposa Edie que parece perder seu marido a cada nova revelação. Nesse momento brilham os atores Viggo Mortensen e Maria Bello, baita atuação dos dois.


O refletir sobre a violência aqui chega perto da revelação chave dessa história, mesmo reunindo porquês não tão explicativos, o roteiro passa por cima de detalhes e sendo bem objetivo explora o depois para mostrar o antes, de forma bastante inteligente com uma total desconstrução de um personagem protagonista que nas mãos de Cronenberg vira brilhante.



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27/08/2022

Crítica do filme: 'A Cor do Dinheiro'


A sorte em si é uma arte. Um clássico da década de 80, A Cor do Dinheiro nos mostra um duelo de personalidades entre um experiente jogador de sinuca e um jovem brilhante do mesmo esporte que resolvem fazer uma road trip caçando disputas. Protagonizado por Paul Newman e Tom Cruise, o filme nos leva ao mundo das apostas, dos jogos, onde a malandragem rola solta em busca de alguma vantagem. O projeto é baseado no livro de Walter Tevis chamado The Hustler. A Cor do Dinheiro é uma continuação da saga do personagem interpretado em 1961 (no filme Desafio à Corrupção) por Paul Newman que volta nesse filme dirigido por Martin Scorsese. Inclusive Newman venceu o Oscar de melhor ator em 1987 por esse papel.


Na trama, voltamos a encontrar o mestre da sinuca Eddie (Paul Newman) que agora está aposentado das mesas e possui um empreendimento, vivendo sua vida sem a adrenalina das apostas pelos Estados Unidos. Tudo muda quando ele conhece o abusado e metido Vincent (Tom Cruise), um tremendo jogador, ainda muito jovem, arrogante, que leva Eddie a imaginar novos rumos para seu pacato presente. Ao lado da namorada de Vincent, Carmen (Mary Elizabeth Mastrantonio), resolvem fazer uma road trip em busca de apostas em mesas de sinuca de diversas cidades onde um vai conhecendo melhor o outro e onde um ponto de ruptura chega quando as ambições saem do equilíbrio.


Nesse projeto que é sempre um dos mais lembrados filmes quando pensamos no universo das apostas e no conflito entre mestre e aprendiz, temos duas óticas a seguir, a do jovem e nada amadurecido Vincent que embarca na sua arrogância por seu um exímio jogador de sinuca encontrando em Eddie uma porta de ensinamentos para futuros golpes. Temos também a de Eddie que busca um retorno aos grandes jogos, um vício que nunca saiu do seu pensar mas precisava de uma boa história para embarcar de volta ao jogo sem pensar duas vezes. O conflito entre essas duas gerações de jogadores fica evidente do primeiro ao último minuto de fita, bem distante de um duelo convencional entre mestre e aprendiz aqui os ensinamentos são com os inúmeros conflitos que eles encontram pelo caminho.



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Crítica do filme: 'Apostando Tudo'


As desilusões do vício. Disponível no catálogo da Netflix, Apostando Tudo nos mostra as profundezas de um homem viciado em jogos de azar que leva sua vida na inconsequência do dia a dia como se estivesse em uma linha infinita da qual não consegue ter controle. Dirigido pelo cineasta Joe Swanberg, o projeto nos leva a um profundo retrato na vida de um homem que não consegue encontrar o seu equilíbrio sem antes sofrer as consequências de uma vida sem pretensões.

Na trama, conhecemos Eddie (Jake Johnson), um homem perto dos 40 anos, sem emprego fixo, que vive de trocos trabalhando em um estacionamento de um estádio de baseball e gastando tudo que possui em apostas nas mesas de carteado clandestinas na cidade. Certo dia, um amigo pede para ele guardar uma bolsa com dinheiro pois irá passar um tempo na prisão. Eddie, em mais um daqueles dias alucinantes, trocando o dia pela noite, de maneira impulsiva gasta parte do dinheiro do amigo ficando com uma dívida que não sabe como pagar. Buscando alguma segunda chance na vida, o protagonista consegue um emprego fixo, conhece uma enfermeira mexicana super legal chamada Eva (Aislinn Derbez) e tenta dar a volta por cima na vida mesmo que seu vício o coloque sempre próximo de conflitos e confusões.


Largar de um vício nunca é fácil, seja ele qual for. A estrada do protagonista aqui nos leva a pensar sobre as contramãos de uma estrada repleta de comodismo sem inspirações de mudanças, fugindo de se espelhar em palavras amigas (o irmão por exemplo) consumido pelos impulsos de um mar de emoções confusas transformando o cotidiano em um verdadeiro caos. O divisor de águas para Eddie vem a partir do cumprimento da consequência que o leva a uma reconstrução não antes vivida, em novas maneiras de viver o mesmo cotidiano só que agora sob uma outra ótica. O filme se aproxima da realidade quando pensamos em tantos casos parecidos devem ter em tantas esquinas por aí.


A variável abstrata do amor chega como uma segunda chance, talvez um impulso positivo de tentar tomar um rumo em sua vida. Não há resoluções simplistas, o roteiro se mantém em uma profunda análise de um homem buscando seu recomeço tardio mas provando que sempre é possível embarcar na nave da mudança quando percebe que dar passos à frente é melhor que passos para trás.



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26/08/2022

Crítica do filme: 'Entre Rosas'


O que é a vida sem beleza? Exibido no Festival Varilux de Cinema Francês 2022 e dirigido pelo cineasta francês Pierre Pinaud, Entre Rosas é um longa-metragem com conclusões simples, que busca o duelo entre o pequeno produtor e as grandes corporações para trazer reflexões sobre fases da vida. A delicadeza do processo criativo no cultivo das flores é algo mostrado de forma detalhista, quase uma poesia em uma trama que muitas vezes fica presa aos conflitos de sua personagem principal sem conseguir alcançar grandes momentos. Mesmo assim, consegue ser emocionante principalmente em seu desfecho.


Na trama, conhecemos Eve (Catherine Frot) uma criadora de rosas que está em péssimos lençóis com seu empreendimento de toda uma vida. Repleta de dívidas e sem encontrar muitas saídas para reviver seu negócio, acaba topando a ideia de ter novos funcionários sem custos, pois eles estão em um projeto de ressocialização após serem presos. Assim, a mulher, que demonstra ser muito sozinha na vida, terá que passar lições para essas novas pessoas que podem ajudá-la a reerguer seu empreendimento.


A falência e a concorrência. Um dos primeiros pontos a se observar é exploração a inconsequência dentro de uma disputa capitalista. Beirando à superfície e abordando o empreendedorismo, o filme busca seu alicerce no conflito da protagonista em encontrar soluções para um negócio mal gerenciado, dentro de um egocentrismo evidente que atrapalha o desenvolvimento do lugar. O mercado competitivo das flores é o ponto inicial, assim vemos a empreendedora e também a principal funcionária (muitas vezes a única) de uma pequena empresa que está à beira de sumir do mercado, engolida pela modernização de outras pares do ramo.


Há o paralelo entre o processo de cultivo de uma flor e as fases, ou mesmo fragmentos, de uma vida. O plantar para nascer, o cuidado, o florescer. Nesse ponto somamos à chegada dos novos personagens, três pessoas que foram presas e buscam novos caminhos. Um deles, Fred (Manel Foulgoc) é o que tem a história mais desenvolvida, abandonado pelos pais encontra nesse novo e impensável trabalho uma porta a se abrir de forma positiva após anos solto em uma linha reta de destruição de qualquer sonho. Ainda nesse paralelo da vida e as flores, também se encaixa a protagonista, quase um renascer de seus negócios quando se abre a compartilha experiências com outros.


De qualquer forma que você enxergar essa trajetória, você alcança o refletir, seja sobre a vida e as dificuldades que temos pelo caminho de nossa existência até mesmo sobre o simples ato de contemplar as belezas que estão ao nosso redor e muitas vezes não conseguimos enxergar.



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24/08/2022

Crítica do filme: 'Crupiê - A Vida em Jogo'


Os acasos da roleta, o movimento das cartas. Lançado no final da década de 90, o longa-metragem O Crupiê nos leva até a jornada de um introspectivo escritor que enxerga em uma oportunidade de trabalho observar e preencher as páginas de seus livros com histórias que giram em torno de um cassino. Dirigido pelo cineasta britânico Mike Hodges e com roteiro assinado por Paul Mayersberg o filme é um drama existencial que impacta o espectador com os caminhos que percorre o galanteador protagonista.


Na trama, conhecemos Jack Manfred (Clive Owen), um homem que tenta conseguir um grande chance em uma editora no sonho de escrever um best-seller. Com muito tempo para escrever mas com a grana curta, devendo inclusive o aluguel para a namorada Marion (Gina McKee) que mora com ele, recebe uma ligação certo dia de seu pai, um malandro que mora na África do Sul que conseguiu para Jack um emprego como crupiê em um cassino em Londres. Jack aceita o serviço e começa a trabalhar no lugar. Lá conhece os funcionários, os jogadores e conforme vai gostando da nova profissão acaba atraindo conflitos para seu presente mas que podem servir como variáveis importantes para seu próximo livro.


O enigmático personagem principal, brilhantemente interpretado por Owen, abre as portas do seu pensar deixando o espectador imerso em sua história. O uso da narração em off nos acopla em uma espécie de metalinguagem onde parece que estamos folheando uma obra em constante construção. O campo de interesse de Jack vai do relacionamento morno e inconstante com a namorada, até o seu tom observador em relação aos jogadores que passam diariamente por seus olhos e suas mesas. Os conflitos vão se acumulando, fato que o lado escritor adora parece muitas vezes se jogar em situações que simplesmente poderia descartar.


O ambiente do Cassino, das apostas, das superstições, ganham espaço a todo instante. O roteiro é detalhista nos leva para uma jornada na vida desse homem, que parece muitas vezes confiante demais nas oportunidades que lhe aparecem e que enxerga no dom que possui, o de observar, uma razão de existência. Intrigante esse personagem.



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Crítica do filme: 'Cartas na Mesa'


As volta que o destino nos dá para voltarmos de onde não conseguimos sair. Dirigido pelo cineasta norte-americano John Dahl, Rounders, no original, é um filme que nos mostra os conflitos constantes de um jovem que busca de todas as formas se livrar do seu caminho viciante no universo das apostas de carteado. O projeto debate também, com ótimos diálogos, sobre o real sentido da vida. O elenco é ótimo: Matt Damon, Gretchen Mol, Edward Norton, John Malkovich, John Turturro são alguns dos excelentes nomes que navegam nessa história.


Na trama, conhecemos Mike (Matt Damon), um jovem estudante de direito que passou anos de sua vida rapelando mesas de pôquer pela cidade acumulando um bom dinheiro. Seguindo no seu vício, durante uma noite acaba perdendo tudo que conquistou em um jogo cruel contra o russo Teddy (John Malkovich). A partir desse dia ele resolve nunca mais voltar aos jogos de cartas com apostas. Nove meses passam, ele está mais firme no relacionamento com a namorada Jo (Gretchen Mol), trabalhando dirigido um caminhão de entregas e estudando no resto do dia. Mas essa rotina de paz muda quando seu antigo amigo Worm (Edward Norton) sai da prisão e essa péssima amizade começa a chamar Mike de volta ao universo dos jogos clandestinos de pôquer, fato que o leva a mais conflitos com todos ao seu redor.


Para refletirmos sobre tudo que o longa-metragem nos mostra podemos traçar uma linha na vida de Mike. Completamente imerso no universo do pôquer, onde sabe que é um jovem prodígio, durante anos lutou contra esse vício e para também melhorar a forma como terceiros que não são do meio o olham. O trauma chega, perde-se tudo de uma vez só. O recomeço é voltar para a outra vida que possui, mais convencional, ligada a estudos que poderão lidar algum outro futuro, um relacionamento estável, tudo conforme a sociedade aprova. Esses paralelos que não se convergem acabam ditando o ritmo das suas ações, deixando o filme cheio de portas para se abrirem.


A partir dos conflitos, soluções. O filme aborda as más companhias como uma maneira de nos tirarmos do equilíbrio mas sem deixar de ter sua parcela de culpa. O diálogo chave aqui para entendermos o real sentido das ações de Mike chega com seu professor de direito, um juiz que joga pôquer com amigos de forma amistosa que mostra por meio de sua própria história que nenhuma escolha deve ser feita atravessando o sonhar.



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Crítica do filme: 'Jogada de Risco'


Os truques para suportar os conflitos que a vida coloca no caminho. Primeiro longa-metragem da carreira do aclamado cineasta norte-americano Paul Thomas Anderson, Jogada de Risco nos leva para o universo dos jogos e da malandragem num ping pong de emoções onde estão no meio do conflito o portador do conhecimento e o seu aprendiz. A forma como chegamos nas verdades desses personagens é interessantíssimo, o projeto tem um importante reviravolta que acaba fazendo muito sentido em tudo que acompanhamos nos 102 minutos de projeção. Destaque também para o baita elenco encabeçado pelo experiente Philip Baker Hall (que nos deixou em junho desse ano).


Na trama, conhecemos um misterioso chamado Sydney (Philip Baker Hall) que encontra um homem chamado John (John C. Reilly) jogado na porta de uma lanchonete e oferece um acordo para ensiná-lo a ganhar dinheiro com jogos de azar. O tempo passa, e a dupla vai fazendo dinheiro juntos até que John se envolve em uma enorme confusão ao lado do seu  grande amor, a complicada Clementine (Gwyneth Paltrow). Mas surpresas chegarão ao caminho dos personagens, principalmente quando descobrimos algumas questões do passado de Sydney.


As intenções do fazer o bem ou apenas uma forma de buscar redenção. O ambíguo personagem interpretado por Baker Hall, uma extensão do personagem que vemos em Cigarettes & Coffee (um curta-metragem de Paul Thomas Anderson) é o grande alicerce do projeto que nos explica alguns tortos caminhos das segundas chances e como as oportunidades muitas vezes quase são desperdiçadas. Completamente viciado na sua bolha de apostas, Sydney parece querer passar o bastão, como se fosse uma forma de tentar enxergar o fim do longo túnel que está faz muito tempo. Mas quais as reais intenções? É preciso um plot twist, daqueles que realmente surpreendem, para entendermos partes desse enigmático personagem que caminha em passos largos numa espécie de redenção após escolhas de um passado barulhento.


Os coadjuvantes trazem os fortes conflitos para o protagonista, que precisa escapar da sua atual comodidade de ganhar a vida e voltar a ações e emoções ligadas à resoluções de uma via, violentas, algo que talvez estava adormecido. O duelo entre Mestre e Aprendiz nunca acontece, como dito acima Jogada de Risco não é sobre isso, é sobre como podemos consertar o que não dá pra ser consertado.  



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Crítica do filme: 'Má Sorte' (The Cooler)


As segundas chances de um paradoxo existencial. E se você tivesse uma Má Sorte? O que você faria com essa estranha condição? Lançado já no longínquo ano de 2003, Má Sorte nos leva para um recorte emocional na vida de um homem que se encontrou diversas vezes com a derrota. Dirigido pelo cineasta sul-africano Wayne Kramer o longa-metragem protagonizado pelo ótimo William H. Macy também explora os bastidores de um lugar também conhecido como ser o grande ponto de encontro dos jogos de azar. O ótimo roteiro se apega nas superstições para contar uma história sobre recomeços.


Na trama, conhecemos Bernie (William H. Macy) um homem já rumando para fase final de sua vida que após anos lutando contra um vício em apostas acaba indo para em um famoso Cassino tendo que pagar durante seis anos uma dívida de jogo com o proprietário do lugar o indecifrável Shelly (Alec Baldwin). O curioso é que Bernie tem uma função como poucas outras, ele é o chamado ‘Má Sorte’, uma pessoa que acaba repassando essa estranha condição em mesas onde clientes estão ganhando muito dinheiro. Perto de enfim conseguir sua liberdade, faltando poucos dia para sua liberdade acaba se envolvendo em um intenso romance com Natalie (Maria Bello) uma funcionária do lugar além de um reencontro que lhe trará diversos problemas.


Se imagine em um lugar onde você não vê o tempo passar, consumido por viciantes impulsos que o leva a jogar e a jogar. Alegrias para alguns comemorando alguma data especial, eterno túnel inacabável para outros. Nesse último é onde se encontra o carismático personagem principal de The Cooler, nome do filme no original. Um homem introspectivo que vamos entendendo aos poucos, principalmente como lida com sua atual profissão assumindo ser um azarado por completo. Sua vida é cheia de reviravoltas, conflitos, dramas, abandonos, algo que acaba refletindo na falta de força de seguir rumo a um destino de felicidade, pegando muitas vezes a reta para uma eterna solidão. Impossível não se apaixonar pelo personagem brilhantemente interpretado por William H. Macy.


Em paralelo a essa trajetória rumo a um novo destino, encontramos Shelly e suas dificuldades em modernizar seu empreendimento, algo que trata como sendo sua única casa, onde possui o controle de tudo, onde não precisa dar satisfações a ninguém. Esse marcos de transitivos em negócios já foram abordados em outros filmes mas aqui ganham tons de violência, como se o medo da mudança ganhasse mais força que qualquer outra coisa. Aliás, esse ‘medo da mudança’ persegue tanto Shelly quanto Bernie.


Aqui refletimos em muitos instantes sobre o paradoxo existencial embutido no protagonista, quase uma gangorra, as vezes sorte, as vezes azar. O abstrato volta nessa história, trazendo o tal do Amor. Eita variável incontrolável, mais forte que qualquer Má Sorte. A partir daí as escolhas e o combate aos conflitos definem os rumos dessa marcante história. Belo filme disponível no Prime Video.



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23/08/2022

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Crítica do filme: 'Marte Um'


O refletir e os choques entre os sonhos e a realidade. O sonho de uma expedição até Marte em 2030 acaba sendo o pontapé de um lindo filme, que detalha os sonhos dentro de um contexto mais amplo, de esperança. Dirigido por Gabriel Martins, Marte Um nos mostra o cotidiano agitado de uma família dentro de um olhar urbano que caminha pelos relatos de uma sociedade que vive seus dias sem saber como será o amanhã. Há também um olhar delicado para o conflito de gerações quando pensamos nas formas de enxergar as mudanças, o sonhar.


Exibido no Festival de Sundance e no Festival de Gramado desse ano, Marte Um, ambientado nos últimos meses do último ano eleitoral (2018), conta a história de uma família que mora na periferia de uma grande cidade mineira. Tem o pai, Wellinton (Carlos Francisco), que é porteiro em um luxuoso condomínio e enfrenta com muita firmeza seus tempos de sobriedade após problemas com a bebida. Temos a mãe, Tércia (Rejane Faria) super alegre e dançante que após uma pegadinha traumática começa a ter sua rotina acompanhada por medos e aflições. Temos a filha mais velha, Eunice (Camilla Damião), uma jovem estudiosa que faz direito na Universidade Federal e está começando um relacionamento com outra jovem e tem o desejo de se mudar mas ainda não tem coragem de contar aos pais. Temos o filho mais novo, Deivid (Cícero Lucas) um jovem sonhador que gosta de futebol e adora astronomia passando horas consumindo esse conteúdo pela internet. Assim, vamos acompanhando a história de uma família batalhadora, que encontra suas respostas entre erros e acertos, na esperança e no refletir.


Os sonhos de uns acabam sendo os sonhos dos outros. O filme bate nessa tecla do sonhar. Deivid não quer ser jogador de futebol, sonho esse de seu pai que acaba deixando o garoto em conflito. Ele quer ser astrofísico, ser astronauta, embarcar em uma expedição de colonização de outro planeta anos à frente do seu presente. Ao mesmo tempo Eunice tem suas dúvidas sobre como será a reação dos pais quando souberem que namora uma outra jovem.  O entendimento mais detalhado sobre esses sonhos acabam passando no fortalecimento da relação dos dois irmãos.


Frustração e desilusão. Sorte e azar. Equilíbrio e desequilíbrio. Cair e se levantar. Aqui nesses duelos acompanhamos sob a ótica dos pais. Tércia parece viver em uma bolha de medo e apreensão provocada por um trauma que ela não sabe quando será o fim, deixando o destino aprontar. Wellinton luta pelo controle mas aos poucos percebe que o descontrole faz parte das incontroláveis variáveis de todas as trajetórias. O alcoolismo, o desemprego, o medo do preconceito, são outros temas que passam pelas linhas do ótimo roteiro.  


Como ficam nossos sonhos em um país polarizado politicamente, ainda cheio de desigualdades sociais, transbordando ainda em preconceito? Os personagens aqui estão à procurar o que todos estão buscando, a esperança. O resto...a gente dá um jeito.





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Crítica do filme: 'The Humans'


As reflexões sobre a vida por meio das frustrações das relações. Buscando trazer à luz um engenhoso e instigante abrigo para conflitos familiares, o cineasta e dramaturgo Stephen Karam nos apresenta uma família beirando ao disfuncional em uma reunião repleta de momentos chave. O filme pode ser definido como um recorte intimista, duro, intenso, marcante sobre as relações interpessoais de uma família que chegam em um ponto de erupção de suas emoções cada qual nos seus dramas individuais que de alguma forma afetam como um todo. Disponível no ótimo catálogo da MUBI, o projeto é baseado numa famosa peça da Broadway, onde inclusive a atriz Jayne Houdyshell ganhou um Tony (o Oscar do teatro norte-americano) por sua atuação.


Na trama, acompanhamos a reunião de uma família para comemorar o dia de ação de graças no novo apartamento duplex do casal Brigid (Beanie Feldstein) e Richard (Steven Yeun) no centro de Manhattan. Novo porque eles estão a pouco tempo lá, porque o local está precisando de vários concertos, com fiações expostas e outros problemas. Assim conhecemos Erik (Richard Jenkins), um esforçado pai de família que recentemente cometeu um grave erro no seu trabalho, Deirdre (Jayne Houdyshell) a mãe que passa por frustrações e tem um relacionamento complicado com sua filha Brigid, Aimee (Amy Schumer) uma mulher buscando recomeços em várias partes de sua vida. Tem também Momo (June Squibb) a vovó que a família cuida. Ao longo de uma noite fria, intensa e cheia de situações que beiram ao inexplicáveis, vamos percorrendo à curta lembrança de todas essas gerações que se chocam refletindo sobre a vida uns dos outros.


Há uma parábola na narrativa quando pensamos na associação do espaço com os sentimentos. Nessa mensagem indireta, enxergamos o apartamento quase caindo aos pedaços em alguns pontos se tornando um paralelo para enxergamos o desabrochar das emoções dos personagens de forma lenta e até mesmo cíclica. Seguindo nessa linha e mais focado na ótica de Erik e sua busca constante em descobrir maneiras de consertar os estragos ao seu redor (emocionais e estruturais do apartamento), já que ele é o paizão e na cabeça dele ele deveria encontrar as melhores saídas para os conflitos que cada um passa, os olhares pela janela e a translucidez se tornam o seu próprio paralelo.


Uma das filhas com seus inúmeros problemas e uma relação que não consegue suportar o fim, a outra buscando sua independência e fugir do mimo da família encontra no novo companheiro uma nova jornada de esperança. Esse último um novo membro da família que busca antes de qualquer coisa ser aceito por todos. Cada qual no seu conflito, alguns mais profundamente apresentados, outros nem tanto assim. Você como um exercício de reflexões pode acompanhar somente um ou outro personagens pelos quatro cantos do primeiro e segundo andar desse apartamento mas a jornada para ser mais completa é tentar enxergar as brechas que o roteiro deixa para você tirar as conclusões dos conflitos como um todo, algo em estado constante, cíclico, igual a muitas famílias e seus conflitos do lado de cá da telona.



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20/08/2022

Crítica do filme: 'Colmeia'


O empreender dentro de um universo que tem o conservadorismo, machismo, e um banho de sangue que respira aqueles ares. Escrito e dirigido pela cineasta Blerta Basholli, Colmeia, indicado do Kosovo para o Oscar de Melhor filme Estrangeiro na última edição, nos apresenta a saga de uma mulher, que está com o marido desaparecido desde a guerra do Kosovo, para tentar sua própria fonte de renda mesmo com os incisivos tons conservadores que compõem a complicada região do vilarejo onde mora. O projeto, baseado em fatos reais, também mostra situações e gera reflexões sobre o famoso conflito que se iniciou no final da década de 90 quando Kosovo decidiu lutar pela sua independência (independência essa que é reconhecida por muitos países, mas pelo Brasil não).

Vencedor de três importantes prêmios do prestigiado Festival de Sundance em 2021, A Colmeia nos mostra a trajetória de Fahrije (Yllka Gashi) uma mulher guerreira e batalhadora que está com o marido desaparecido por conta da guerra. Ela, precisando ter dinheiro para sobreviver junto aos filhos e o sogro que mora com ela, resolve empreender com a ajuda de outras mulheres. Fato esse que gera uma enxurrada de preconceitos e até mesmo assédio de vários tipos, principalmente dos homens da região.


A caminhada de Fahrije e tudo que enfrenta como obstáculo pelo caminho acaba sendo uma jornada paralela para entendermos uma região marcada pela sociedade patriarcal. Mesmo com a globalização, com a evolução do mundo, algumas regiões do mundo insistem em olhar somente para o homem, esquecendo das mulheres. Fahrije se coloca à disposição para ser um exemplo, enfrentando o medo, o preconceito sendo uma força que surge para mulheres da região. O empreender ilumina sua estrada, seu produto feito de pimentões vermelhos e temperos, conhecido na região dos Balcãs como Ajvar, se torna seu maior trunfo contra a todos que querem sua derrota. Há muito a se refletir sobre a trajetória de luta dessa impressionante personagem.


O comovente relato das buscas incessantes sobre os homens que estão desaparecidos desde a Guerra de Kosovo nos leva a pensar sobre a complicada geopolítica da região que gera debates em todo o mundo. Familiarizando a alguns, e relembrando a outros, que muitos países não reconhecem Kosovo como país (inclusive o Brasil), fato esse que gera correntes argumentativas diversas até hoje.  


Colmeia está disponível na HBO Max, um poderoso projeto que nos faz refletir sobre muitos assuntos relevantes.



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Crítica do filme: 'A Verdadeira História do Roubo do Século'


As explicações entre o simples e o mirabolantes de um dos mais famosos roubos de todo o mundo. Disponível no catálogo da Netflix, o documentário A Verdadeira História do Roubo do Século nos leva de volta à Argentina no ano de 2006 onde um grupo de pessoas conseguiu roubar uma enorme quantia (até hoje não se sabe ao certo quanto) de dinheiro do Banco Río em Acassuso (situada na brande Buenos Aires). Aqui, com depoimentos dos próprios criminosos e pessoas que estiveram como coadjuvantes no dia do roubo, vamos sabendo surpreendentes detalhes desde o plano até o intenso pós assalto.


O líder do grupo, Fernando Araujo, certo dia pensou que poderia roubar um banco. Ele planejou, estudou todas as variáveis, achou as pessoas certas para o trabalho e executou um mirabolante plano que confundiu a polícia argentina a todo instante inclusive dando uma enorme margem de fuga para o bando. Teve encenação desde o início do assalto, teve um gigantesco buraco construído a partir da rede de esgoto, teve gente que não deveria saber do plano e soube (o grande erro do assalto), várias variáveis que tiraram o selo de convencional  dessa operação que deu muita dor de cabeça à polícia ainda mais com a pressão sofrida pelo circo midiático que a ação se tornou. O documentário apresenta depoimentos do lado da lei, suas versões sobre os desenrolares da investigação como um todo.


A moral da história existe e fica muito evidente quando enxergamos os contrapontos, os antônimos dessa história. Araujo deixa de forma bem objetiva a questão do porquê roubar um banco, quase um espírito de Robin Hood dentro da ótica da crise financeira argentina de 2001 e os desenrolares que atingiram grande parte daquela nação, que pode estar ligado à questão do ‘corralito’ (nome informal de um conjunto de medidas econômicas adotadas pela Argentina nessa época mencionada).


No ano de 2020 teve o lançamento de O Roubo do Século, versão de ficção sobre essa história estrelada por Guillermo Francella, Diego Peretti e grande elenco. Um projeto com talvez mais licenças poéticas do que esse documentário. Por meio de depoimentos de quase todos os integrantes do assalto A Verdadeira História do Roubo do Século é surpreendente, instigante, nos leva de alguma forma até o acesso à mente desse grupo de pessoas que traçaram um objetivo, executaram e pagaram o preço.



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Crítica do filme: 'Ata-me!'


Os impulsos da mente longe do equilíbrio. Abordando a loucura e um curioso retrato da Síndrome de Estocolmo, Pedro Almodóvar escreve e dirige Ata-Me! seu último filme da década de 80. Estrelado por Antonio Banderas e Victoria Abril o longa-metragem contorna os transtornos obsessivos de um protagonista desequilibrado que busca suas afirmações no presente na figura de uma ex-atriz pornô por quem sente um amor impulsivo. Ao longo dos 101 minutos de projeção vamos percorrendo essa curiosa história sem deixar de refletir sobre tudo que acompanhamos pelo caminho.


Na trama, conhecemos Ricky (Antonio Banderas) um jovem sedutor que passou grande parte do seu tempo em vida em instituições psiquiátricas. Quando enfim consegue a liberdade, não pensa duas vezes e vai atrás de sua atual obsessão, Marina (Victoria Abril) uma ex-atriz pornô que está atualmente rodando um longa-metragem. A perseguição começa e logo Ricky consegue prender Marina em seu próprio prédio buscando durante dias fazer com que ela o aceite como seu amado.


Há uma tentativa de preenchimento de lacunas sobre a personalidade de Ricky (principalmente no desfecho), o que pode ser considerado como algo simplista se levarmos e conta todo o contexto dos assédios cometidos. Sua afirmação, seu propósito de vida é ligado ao desejo que sente por aquela mulher. O descontrole é uma palavra chave para definição desse intrigante personagem. Desequilíbrio é outra. A síndrome de Estocolmo aqui é colocada como complemento, talvez até mesmo um fechamento de recorte psicológico da personagem Marina, uma mulher que sofre com o assédio (não só de Ricky) constantemente.


O uso da comédia não alivia o denso e profundo refletir sobre os assuntos que levanta essa poderosa fita do grande cineasta espanhol. Almodóvar usa o paralelo da loucura e do amor como se entrassem em choque, assim gerando argumentos para reflexões de diversas formas.



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