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23/10/2022

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Pausa para uma série: 'O Urso'


Encontros e desencontros rumo ao brilhantismo! Uma das mais surpreendentes séries lançadas em 2022, O Urso é objetivo, profundo, nos mostrando um novo cotidiano para uma série de personagens que se encontram para trabalhar em uma cozinha caindo aos pedaços em uma das maiores cidades dos EUA, Chicago. Criado por Christopher Storer, ao longo de viciantes oito episódios na sua primeira temporada, numa média de 30 minutos cada, somos testemunhas de fortes emoções e conflitos intensos que passam os excelentes personagens, além de um desfecho brilhante que só faz você querer assistir logo uma bem provável segunda temporada!

Na trama, conhecemos o premiado chef de cozinha Carmen 'Carmy' Berzatto (Jeremy Allen White) que rodou os Estados Unidos aprendendo e aos poucos foi se tornando um renomado na sua profissão. Certo dia, ele abandona tudo (os badalados restaurantes, os melhores empregos) para assumir o restaurante do irmão que acabara de falecer e deixou o estabelecimento para ele. Buscando reerguer o lugar (chamado de the Original Beef of Chicagoland), que está de mal a pior, também entender os funcionários que tinham um cotidiano desorganizado e a maioria inexperiente, ele fará de tudo para encontrar soluções. Para isso ele contará com a ajuda da brilhante Sydney (Ayo Edebiri), a nova funcionária contratada para o lugar. Mas as dificuldades serão inúmeras dentro e fora da cozinha.


De forma brilhante, a narrativa desse seriado consegue costurar em pouco mais de 30 minutos por episódio uma série de conflitos que mostram as personalidades de seus personagens, principalmente seu amargurado protagonista (Jeremy Allen White tá fantástico no papel), um homem em grandes dilemas que se vê preso ao passado pela distante relação nos últimos anos com o irmão que acabara de cometer suicídio. A dificuldade para dormir, os traumas de uma profissão exigente, os tropeços na tentativa de reerguer uma relação com sua família e conhecidos do lugar onde cresceu, a nova função de ter que ser o gerente de um lugar atolado em dívidas além de ser a grande referência em uma cozinha repleta de bons corações mas inexperientes na organização profissional de um estabelecimento que quer ser um sucesso, são alguns dos conflitos que vemos em excelentes cenas, algumas em ótimos planos sequência.  


Uma ótima sacada da série é conseguir ir criando o desenvolvimento de seus coadjuvantes, apresenta-se conflitos mas não todos, deixando margem para outras temporadas. Se a cozinha do the Original Beef of Chicagoland à princípio parece uma grande bagunça e seus conflitos, em sua maioria, chegam oriundos dessa questão, o roteiro brilha por conseguir prender a atenção em meio ao caos emocional e altos níveis de tensão contidos nos excelentes diálogos que se entrelaçam pelos sonhos e medos de trabalhadores que vivem em meio ao competitivo mundo culinário. O Urso deixa um gosto de quero mais. Que chegue logo a segunda temporada!



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03/10/2022

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Pausa para uma série: 'The Old Man'


Caça ou caçador? Chegou recentemente ao catálogo da Star Plus, um projeto com muita qualidade quando pensamos em seriados de ação e espionagem, tendo um protagonista no terço final de sua vida, lidando com conflitos de um passado que nunca se desprendeu de sua trajetória. The Old Man e seus plot twists inesperados é um trabalho primoroso, que nos mostra uma série de conflitos que enfrentam os ótimos personagens com um ponto de interseção uma intrigante parábola sobre paternidade. Esse é um daqueles seriados que não conseguimos parar até descobrir todos os mistérios que se acumulam na ótima história. No elenco, os excelentes Jeff Bridges, John Lithgow e Alia Shawkat.


Na trama, acompanhamos a história de Don Chase (Jeff Bridges) um homem que vive solitariamente com seus dois cães em uma cidade do interior dos Estados Unidos e que teve a perda da esposa anos atrás. Durante uma invasão à sua casa, ele percebe que seu passado como agente da CIA acaba batendo novamente à sua porta. Assim, ele resolve ir atrás da resolução de um situação de algumas décadas atrás e descobre que um homem perigoso está atrás dele. Contando com a ajuda da filha Emily (Alia Shawkat), por quem só se comunica por telefones descartáveis acaba entrando em uma gangorra de emoções que tem uma outra peça importante, o ex-companheiro da CIA Harold Harper (John Lithgow).


Tudo é muito misterioso, à princípio, nesse surpreendente seriado de intensos sete episódios disponíveis na Star Plus. Criado pela dupla Robert Levine e Jonathan E. Steinberg, o projeto nos leva a duas linhas temporais onde entendemos aos poucos alguns dos porquês que levam o protagonista a fugas constantes. Don Chase, e obviamente esse não é seu nome verdadeiro, é um homem que luta contra pesadelos diários, parece viver forçadamente numa solidão inquietante fruto de consequências de seu passado conturbado onde negociou e lidou com questões atrás das linhas inimigas que culminou com uma ação que o levou a uma vida cigana, quase um nômade. As decisões que precisa tomar ao longo desse recorte mostrado nos leva a entender melhor sua personalidade digna dos mais fiéis espiões da ficção.


A parábola da paternidade dita acima, acaba chegando com a erupção de muitos problemas, quando as peças se encaixam nos lugares e conseguimos entender as razões e consequências de todos os personagens que de alguma forma estão interligados para uma situação (não podemos ir muito à fundo aqui senão as surpresas se entregam facilmente). Harold Harper, outro grande personagem dessa história, é um contraponto, quase a razão dentro de uma trama cheia de espinhos. Os conflitos desse último chegam mais forte exatamente quando não consegue ser tão mais racional quanto emocional. Há um duelo Don e Harper mas com variáveis que mudam constantemente muitas vezes fazendo eles jogarem pelo mesmo objetivo. Não há heróis ou vilões, há intepretações diversas sobre as ações de todos. Filmado todo em Los Angeles, na Califórnia e inspirado na obra homônima do romancista Thomas Perry, o projeto teve entre os consultores um agente da Cia, um ex-juiz do exército e um especialista em assuntos afegães.  


The Old Man e sua explosiva trama de espionagem mistura conflitos pessoais com relações internacionais em uma história cheia de surpresas que deixarão o espectador atento aos profundos e cheios de detalhes sete episódios.  



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27/08/2022

Crítica do filme: 'A Cor do Dinheiro'


A sorte em si é uma arte. Um clássico da década de 80, A Cor do Dinheiro nos mostra um duelo de personalidades entre um experiente jogador de sinuca e um jovem brilhante do mesmo esporte que resolvem fazer uma road trip caçando disputas. Protagonizado por Paul Newman e Tom Cruise, o filme nos leva ao mundo das apostas, dos jogos, onde a malandragem rola solta em busca de alguma vantagem. O projeto é baseado no livro de Walter Tevis chamado The Hustler. A Cor do Dinheiro é uma continuação da saga do personagem interpretado em 1961 (no filme Desafio à Corrupção) por Paul Newman que volta nesse filme dirigido por Martin Scorsese. Inclusive Newman venceu o Oscar de melhor ator em 1987 por esse papel.


Na trama, voltamos a encontrar o mestre da sinuca Eddie (Paul Newman) que agora está aposentado das mesas e possui um empreendimento, vivendo sua vida sem a adrenalina das apostas pelos Estados Unidos. Tudo muda quando ele conhece o abusado e metido Vincent (Tom Cruise), um tremendo jogador, ainda muito jovem, arrogante, que leva Eddie a imaginar novos rumos para seu pacato presente. Ao lado da namorada de Vincent, Carmen (Mary Elizabeth Mastrantonio), resolvem fazer uma road trip em busca de apostas em mesas de sinuca de diversas cidades onde um vai conhecendo melhor o outro e onde um ponto de ruptura chega quando as ambições saem do equilíbrio.


Nesse projeto que é sempre um dos mais lembrados filmes quando pensamos no universo das apostas e no conflito entre mestre e aprendiz, temos duas óticas a seguir, a do jovem e nada amadurecido Vincent que embarca na sua arrogância por seu um exímio jogador de sinuca encontrando em Eddie uma porta de ensinamentos para futuros golpes. Temos também a de Eddie que busca um retorno aos grandes jogos, um vício que nunca saiu do seu pensar mas precisava de uma boa história para embarcar de volta ao jogo sem pensar duas vezes. O conflito entre essas duas gerações de jogadores fica evidente do primeiro ao último minuto de fita, bem distante de um duelo convencional entre mestre e aprendiz aqui os ensinamentos são com os inúmeros conflitos que eles encontram pelo caminho.



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14/07/2022

Crítica do filme: 'O Bom Patrão'


O malabarismo do suposto equilíbrio. Vencedor do prêmio Goya de Melhor Filme em 2022 (uma espécie de Oscar da Espanha), El Buen Patrón fala sobre a relação entre patrões e empregados que aqui, quase didaticamente, acaba nos levando na direção da realidade, nessa sempre conflituosa relação. Aqui o ponto de vista é do patrão, um manipulador de ações e situações que acaba caindo em verdades do mundo, sendo muitas vezes o vilão da sua própria trajetória. Há outros vilões implícitos, o capitalismo por exemplo e suas formas de corroer. Dirigido e escrito pelo cineasta Fernando León de Aranoa o projeto é sarcástico na medida certa, o que culmina em momentos hilários mas sem deixar de gerar a reflexão. O filme marca uma das grandes atuações recentes na carreira do excelente ator Javier Bardem.


Na trama, conhecemos ao longo de uma semana a rotina de Blanco (Javier Bardem), o proprietário de uma empresa de fabricação de balanças industriais que nos próximos dias irá receber um famoso comitê para ganhar mais um prêmio. A questão é que justo nessa semana importante para seus objetivos, o caos reina em sua rotina pessoal e profissional. Um funcionário demitido acampa na frente da entrada da empresa, o poderoso patrão passa a se relacionar com a nova estagiária sem saber que ela é alguém que já conhecera, um funcionário antigo começa a causar problemas por conta da traição da esposa. Tudo aqui nesse filme pode ser visto como um grande crítica social com o subtópico nas éticas do mundo trabalhista.


Como resolver os diários conflitos? E quais são mesmo esses conflitos? Ao longo de uma semana na vida desse chefão de uma empresa, que fica em uma área industrial da Espanha, vamos acompanhando diversas situações que vão nos mostrando sua personalidade, seus inúmeros deslizes no campo moral e nas ações que influenciam a empresa. Esse homem que busca o carisma a todo instante, vindo de uma família que lhe deu toda a estrutura para seguir profissionalmente no lucrativo negócio criado por seu pai, faz de tudo e sem nenhum limite para conseguir o que quer. Podemos dizer que é um dos inúmeros mimados do capitalismo, que se apoia em brechas, situações controláveis, na teoria de que não há limites para o comando. Isso tudo e muito mais chega em alto e bom tom para quem quiser refletir ao longo de pouco menos de 120 minutos.


O filme mais indicado na história do Goya, com incríveis 20 indicações, nos apresenta também um ótimo paralelo com a questão do equilíbrio, já que na fabricação de uma balança e também na saúde de toda e qualquer empresa essa palavrinha mágica molda ações e reações. A parte moral desse curioso protagonista é jogada ao pensar a todo instante, e com uma interpretação brilhante, Javier Bardem mostra mais uma vez porque é um dos maiores artistas do universo do cinema. Só por ele já vale o ingresso!

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23/06/2022

Crítica do filme: 'Sentimental'


A fuga da mesmice. Escrito e dirigido pelo cineasta espanhol Cesc Gay (do excelente Truman), a comédia espanhola Sentimental nos coloca em encontro a um casal que durante uma noite de vinhos e sarcasmos redescobre alguns novos sentidos para saírem da monotonia. Com diálogos fervorosos que misturam o constrangimento com uma visão simplista sobre a vida, vamos nos divertindo ao longo dos 82 minutos de projeção. O elenco é ótimo, com nomes como: Belen Cuesta e Javier Cámara.


Na trama, conhecemos o casal Ana (Griselda Siciliani) e Julio (Javier Cámara) que moram faz anos no mesmo apartamento. A primeira é uma mulher cheia de desilusões no casamento que vive em uma rotina maçante sem grandes prazeres. O segundo é um introspectivo professor de música, frustrado por não conseguir seguir na carreira de músico. Certo dia, Ana resolve chamar os novos vizinhos para uma noite de confraternização, mesmo sabendo que Julio não queria vê-los muito por conta de problemas em outras noites onde os novos vizinhos faziam muitos barulhos. Assim, chega ao apartamento a psicóloga Laura (Belén Cuesta) e o bombeiro Salva (Alberto San Juan), e nessa reunião muitas coisas serão ditas e refletidas.


O foco aqui é a desconstrução dos personagens, o conflito que nos guia para as mudanças. Isso é muito bem feito pelo roteiro assinado pelo próprio diretor. Por meio de ótimos diálogos vamos entendendo o tamanho do abismo de um relacionamento que esfriou ao longo do tempo, onde as conversas já não traziam soluções, talvez até mesmo um caminho sem volta rumo ao divórcio. O choque com o sexo, pelo menos na imaginação a partir da ativa vida dos novos vizinho acaba sendo o ponto de interseção para desabafos e a opção de novas escolhas para reativar um casamento adormecido que caiu na rotina da monotonia.


Em poucos minutos de projeção, (parece até que estamos em uma teatro onde ótimos artistas estão na nossa frente, em um cenário) o espectador é magnetizado por essa profunda história que de maneira leve e irreverente nos leva a pensar sobre um recorte da vida à dois.



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17/04/2022

Crítica do filme: 'King's Man: A Origem'


O prequel na luta entre heróis e vilões e todo seu contexto. Depois do enorme sucesso de outros filmes da mesma franquia, assim como outras sagas cinematográficas, King's Man: A Origem volta no tempo para nos mostrar sua origem, repleta de teorias, mostrando mais uma vez uma visão curiosa sobre o universo das sociedades secretas sem deixar de perder frescor suas coreografadas cenas de ação com um roteiro bem definido, mesmo longe das ironias dos outros filmes. Novamente dirigido pelo cineasta britânico Matthew Vaughn, King's Man: A Origem é um prato cheio para quem curtiu os outros filmes e gostaria de saber mais como tudo começou.


Na trama, conhecemos um homem muito rico, Orlando Oxford (Ralph Fiennes), que após algumas situações trágicas resolve de maneira bem reservada criar uma espécie de organização que busca informações para o combate de pessoas que podem fazer uma grande destruição contra o planeta. Assim, vemos o início de uma espécie de agência que irá combater os maiores vilões da terra.


A questão entre heróis e vilões aqui, por mais que seja objetivamente definida, deixa margens para contexto históricos embutidos dentro do criativo universo criado. Aqui o herói também tem seus conflitos, precisando fugir da sua perfeição a todo instante para ter chances nos combates que o destino mostra. A política é fator importante, traçando em paralelos entre figuras conhecidas e contexto conhecidos da história dentro de uma visão muito criativa. A parte da espionagem é novamente um alicerce onde se desenrolam as junções de seus atos, onde enxergamos as interseções nos conflitos dos personagens.


Há bom humor sem perder a bagagem emocional que os personagens trazem, cenas de ação bem coreografadas, vilões caricatos, sequências impactantes. É um filme de origem divertido, onde as peças realmente fazem sentido dentro de tudo que conhecemos sobre esse universo vistos nos dois primeiros filmes.  



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06/04/2022

Crítica do filme: 'Os Olhos de Tammy Faye'


Os intensos bastidores do caótico colapso de um império midiático e cristão. Com direção assinada por Michael Showalter, chegou com exclusividade no streaming da Star+ (sem nem ao menos ter dado presença em alguma sala de cinema pelo Brasil) o filme que mostra a polêmica trajetória de Tammy Faye e seu marido Jim que durante as décadas de 70 e 80 dominaram uma grande parte da audiência da televisão norte-americana sendo chamados de televangelistas. O roteiro, baseado em um documentário homônimo, dirigido pela dupla Fenton Bailey e Randy Barbato, lançado no ano 2000, navega pelo olhar da protagonista para os fatores que levaram esse reinado na televisão às ruínas de uma vida apenas comum.


Na trama, conhecemos algumas fases da vida de Tammy Faye (Jessica Chastain), primeiro uma criança criada com a religião muito próxima de sua família, depois sua chegada na faculdade de estudos bíblicos, onde conhece o futuro marido Jim Bakker (Andrew Garfield). A partir do momento que se casa, resolve com o marido jogarem as mensagens de fé e esperança pelos Estados Unidos até que começam a perceber uma oportunidade de alcançar cada vez mais pessoas indo para a televisão e criando um show cristão. Só que o tempo passa, o sucesso chega, mas os pecados cometidos nesses tempos de ganância e ego inflado batem à porta deixando poucas escolhas aos envolvidos.


As linhas tênues do pecado, da fé. Nessa melodramática biografia o objetivo é muito claro: tentar refletir, dentro do ponto de vista de Tammy Faye, sobre os motivos que levaram um império midiático ao esquecimento em um mundo cada vez mais hipnótico de algumas demonstrações sobre a fé. Mas aí que chega um problema no roteiro, não conseguir se aprofundar nos porquês de muitas das questões, sendo apenas superficial e com menções pelas entrelinhas.


Os conflitos que a personagem encontra chegam por conta de sua espontaneidade, sua passividade em relação ao um controverso marido, sua maneira de ver a fé associada à uma religião conservadora sem brechas para todos. Em muitos desses conflitos e suas tentativas de resoluções, brilha o talento da atriz Jessica Chastain que conquistou o seu primeiro Oscar esse ano por seu papel nesse filme.



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17/03/2022

Crítica do filme: 'Fresh'


Os conflitos contra um mundo secreto, quase inimaginável. Chegou ao catálogo da Star+ no mês de março um filme que esconde muito bem suas camadas de conflitos com personagens instigantes e que colocam em xeque, de alguma forma, questões sobre relacionamentos. Ao longo de quase duas horas de projeção, e com cerca de meio hora de distância entre a primeira cena e os créditos iniciais, vamos acompanhando a saga de uma jovem, com dedo podre para relacionamentos, em confronto contra uma inusitada situação. As surpresas do roteiro realmente deixam o longa-metragem com um nível de tensão lá no alto. Dirigido pela cineasta Mimi Cave e com roteiro de Lauryn Kahn.


Na trama, acompanhamos Noa (Daisy Edgar-Jones), uma jovem solitária, com poucos amigos, quase sem família, que busca relacionamentos em encontros terríveis pelos aplicativos de mensagens. Certo dia, acaba conhecendo em um mercadinho o médico Steve (Sebastian Stan) um homem super simpático que logo gera uma intensa atração em Noa. Eles se relacionam por um tempo e planejam uma viagem, só que coisas estranhas começam a acontecer quando eles fazem uma parada na casa de Steve.


Parece que há uma chave no roteiro que abruptamente transforma um drama existencial em um thriller moderno, empolgante, que nossos olhos ficam fixos nas sequências eletrizantes que se seguem. Há referências bem colocadas de Hannibal mas a questão mais forte que vemos saltando pelas lacunas preenchidas é sobre relacionamento e os acasos, quase que sarcásticos, que nascem através das situações que se envolvem os personagens. É um confronto de sobrevivência aos olhos de Noa e um confronto de sentimentos aos olhos dos gostos e ganha pão de um complexo Steve, quando esse é revelado por completo.


Um palavra boa para definir Fresh é surpreendente. Conforme vamos conhecendo mais daquele mundo vivido por Steve mais surpresos ficamos com os desenrolares dessa história.

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02/03/2022

Crítica do filme: 'Sem Saída'


O tal do Plot Twist. Chegou nesse começo de março no streaming da Star+ um filme de suspense que busca nas surpresas sua força. Baseado no livro No Exit do escritor Taylor Adams, Sem Saída é um ping pong de informações conflituosas que levam as conclusões para diversos lados conforme vamos entendendo quem são as pessoas que ficam presas num lugar com a protagonista. O projeto acaba sendo um bom exemplo de que usar o recurso do plot twist, na forma como a história é apresentada em linhas não profundas sobre os conflitos de seus personagens, pode tornar a narrativa muito confusa. A direção é do cineasta Damien Power.

Na trama, conhecemos Darby (Havana Rose Liu) uma jovem lutando contra seu vício, inclusive está internada em um centro de reabilitação quando recebe uma ligação onde fica sabendo que a mãe está em estado grave internada em um hospital em Salt Lake City. Ela resolve fugir do lugar mas durante essa fuga, por conta de uma nevasca que fecha todas as estradas próximas, acaba ficando presa em um lugar, uma espécie de abrigo da prefeitura local onde encontra outras pessoas na mesma situação: Ash (Danny Ramirez), Lars (David Rysdahl), Ed (Dennis Haysbert) e Sandi (Dale Dickey). O que Darby não esperava era que uma van parada na frente do local era um cativeiro de uma jovem que fora sequestrada por algum desses que dividem o abrigo da prefeitura com ela. Tentando ajudar, Darby precisará reunir forças pra descobrir que está por trás do sequestro.


Na busca da objetividade, o roteiro passa seu dinamismo através das reviravoltas, portas que se abrem sempre sob o ponto de vista da protagonista. As subtramas buscam ser a cola para as explicações que acabam deixando longas margens em forma de lacunas onde precisamos preencher. Os lados do conflito, a trama por trás da trama, as decepções com a confiança, tudo isso acaba sendo uma experiência muito rasa para compreendermos os motivos pois na superfície acabam se tornando contraditórios além do esquecimento da profundidade do arco principal da protagonista.

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17/02/2022

Crítica do filme: 'Morte no Nilo'


Uma história contada de maneira belíssima sem perder a força da narrativa. Chegou aos cinemas brasileiro nesse primeiro semestre de 2022 o filme Morte no Nilo, uma adaptação cinematográfica do livro homônimo da escritora Agatha Christie que tem como protagonista, o seu mais ilustre personagem, o detetive belga Hercule Poirot. Sem perder a força que essa narrativa tem nas centenas de páginas do livro, o filme, dirigido e protagonizado pelo irlandês Kenneth Branagh nos transporta para todo o mistério e detalhes dessa história fantástica.

Na trama, voltamos a encontrar o detetive Hercule Poirot (Kenneth Branagh) que dessa vez queria descansar, de férias mas acaba sendo envolvido em uma trama de ódio e vingança quando um assassinato acontece em pleno rio Nilo. Utilizando toda sua esperteza e poder impressionante de observação, aos poucos vai caindo um a um os mistérios dessa história bastante profunda que mostra até onde um ser humano pode ir quando suas emoções estão descontroladas.


Em relação ao mistério dessa trama, mais uma vez muitos personagens com motivos que navegam entre as linhas tênues da emoção e razão mostrando de maneira bem lógica as forças sobre as ações da natureza humana. Linear nos acontecimentos, saímos de um abandono de relacionamento para um casamento e depois uma viagem que expõe a premeditação, a necessidade de impor de maneira violenta.


Depois de lançar O Assassinato No Expresso Oriente, no ano de 2017, Kenneth Branagh volta com mais uma história de um dos personagens mais famosos da literatura policial mundial. Em Morte no Nilo, os méritos continuam com relação a impressionante habilidade em mostrar os detalhes e as características que levam Poirot a ser tão fascinante. Suas loucuras por simetrias, suas obsessões pelos fatos que poucos enxergam, pelo equilíbrio. Talvez o maior exemplo do termo TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) da literatura (na televisão tem outro ótimo exemplo, o também detetive, Monk). Belo trabalho de Branagh e companhia!

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03/02/2022

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Crítica do filme: 'A Jaula'


As incongruências do limite emocional envolto de uma eterna crise social. Quantas vezes você já foi assaltado na sua vida? Se você pudesse faria justiça com as próprias mãos? E a questão dos direitos humanos? E o contexto social em que vivemos? Você pensaria sobre isso? Essas e outras perguntas fazem parte do campo reflexivo do longa-metragem nacional A Jaula, remake do filme argentino 4x4. O filme é bem aberto ao campo das reflexões sociais, que vão desde os princípios morais passando pela impunidade, pelo circo midiático a partir de tragédias ligadas à violência e o papel da polícia e das leis dentro de uma sociedade. Dirigido por João Wainer e com Chay Suede e Alexandre Nero como protagonistas. A produção é da Tx Filmes, em coprodução com a Star Original Productions.


Na trama, conhecemos um jovem (Chay Suede) ladrão que vendo a oportunidade de roubar mais um carro, uma caminhonete de luxo parada em uma rua pacata de uma grande cidade, não pensa duas vezes e inicia a ação do roubo. O problema é que quando ele tenta sair do carro para fugir o carro simplesmente não abre e aos poucos ele começa a perceber que está preso de propósito pelo dono do carro, que entra em contato com ele pelo telefone do carro, um ginecologista renomado (Alexandre Nero) que já fora roubado outras vezes e dessa vez resolveu fazer justiça com as próprias mãos. Lutando para sobreviver sem comida, água e com o emocional completamente destruído inicia-se um jogo psicológico intenso onde a moral é colocada em xeque.


A narrativa é muito bem definida, o filme prende a atenção. Há uma construção superficial dos personagens mas eles estão dentro dos contextos sociais que o filme navega, os conflitos são vistos a todo instante e com margem para olharmos sob os dois pontos de vistas. Esse recorte sociológico solta à diversas questões: a impunidade, a insegurança, os direitos humanos, entre outros pontos. O lado emocional é um item importante, coloca os personagens em uma linha tênue que separa a vítima do seu agressor. Pode ser observado também que o diálogo não é um confronto, é um desabafo de alguém que perdeu os princípios éticos e escondeu dentro de si a moral. A banalização da violência é bastante objetiva aqui com a menção, quase um pano de fundo, do jornalismo sensacionalista que cobre situações de confronto.


O roteiro, adaptado por João Candido Zacharias, tem o mérito de jogar as questões para debates, fazendo com que os espectadores mais atentos busquem refletir sobre as cordas bambas das ações dos personagens. Tem alguém certo nessa história? Como você reflete sobre isso? A ação e consequência aqui nada mais é do que o reflexo da realidade do lado de cá da telona.  



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16/12/2021

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Pausa para uma série - Dopesick


A prova de quando a ganância não tem limites. Baseada no livro Dopesick: Dealers, Doctors and the Drug Company that Addicted America, de Beth Macy, Dopesick é um filme denúncia, um projeto que grita aos nossos olhos, que nos mostra como a ganância de uma empresa farmacêutica que criou um poderoso opioide, medicamentos prescritos para o tratamento e alívio da dor, altamente viciante, que mata mais que armas de fogo nos Estados Unidos, mais forte da mesma classe da morfina e da heroína. Os absurdos de todo o processo burocrático de legalização, campanhas mentirosas de marketing, as dores de quem fica viciado são bem detalhados nos seis únicos episódios dessa intensa minissérie. Michael Keaton e Kaitlyn Dever, foram indicados ao Globo de Ouro 2022 por suas impecáveis atuações.


Na trama, que possui dinâmicas passagens de tempo, acompanhamos o surgimento de um medicamento que impactaria negativamente a sociedade norte-americana (depois a mundial), o OxyContin, e toda a veia de destruição em famílias do interior dos Estados Unidos que buscando alívio para suas incansáveis dores acabam entrando em uma dependência a esse fármaco opioide analgésico potente, análogo semi-sintético da morfina (duas vezes maior que a mesma).


Do lado jurídico vemos a saga dos procuradores adjuntos Rick (Peter Sarsgaard) e Randy (John Hoogenakker) em busca de reunir provas contra a Purdue Pharma, pertencente a membros da rica família Sackler por conta de mentiras na aplicação de validações a circulação de um remédio que causa uma dependência e que é causa de morte de muitas pessoas. Os doutores que eram convencidos pelos representantes de venda da Purdue são aqui representados pelo Dr. Samuel (Michael Keaton) um viúvo que praticamente é o único médico de uma cidadezinha. Uma das pacientes de Samuel, Betsy (Kaitlyn Dever), nos mostra os horrores de um viciado a uma medicamento e toda a dor e tristeza que causa não só a si mas a todos que estão ao seu redor. Bridget Meyer (Rosario Dawson) é a personagem que nos insere nas agências de controle, a DEA e a FDA, travando batalha poderosas em busca de provas que possam ajudar a conter o medicamento em circulação. Richard (Michael Stuhlbarg), é o médico responsável pelas estratégicas do medicamento e parte da família Sackler que enfrenta embates internos para ter cada vez mais poder e controle.


A roteiro caminha pela narrativa não linear (com muitas passagens ida e volta no tempo) o que de fato faz muito sentido com a edição certeira.  A dor é o elemento de interseção entre todas as subtramas, por ela passam os objetivos de uma empresa gananciosa e nada boazinha que encontra um caminho mortal no sofrimento dos outros para inserir na sociedade um medicamento que causa dores e horrores até hoje. Absurdamente, esse remédio ainda é vendido em alguns lugares de maneira bem menos restritiva do que deveria. O projeto tem o poder de denúncia e tomara que sua mensagem bem forte e clara seja ouvida!

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30/08/2021

Crítica do filme: 'Free Guy: Assumindo o Controle'


Divertido, aventureiro e dinâmico. Escrito pela dupla Matt Lieberman e Zak Penn, Free Guy: Assumindo o Controle é um projeto que aborda o universo ansioso e imediatista dos reality shows junto com a ganância que domina os tempos em constante evolução da tecnologia e seus criadores de conteúdos. A fórmula encaixa de maneira certeira pegando um protagonista carismático que dentro de uma ótica pode ser como se fosse nossos olhos dentro da loucura e confusão que nos trazem as inúmeras informações que não param de chegar a cada segundo. No papel principal, mais uma vez, um Ryan Reynolds iluminado, nos faz rir e emocionar. A direção fica com o cineasta e produtor canadense Shawn Levy (que entre outros trabalhos, dirigiu a trilogia Uma Noite no Museu).


Na trama, conhecemos Guy (Ryan Reynolds), um jovem que tem uma vida monótona entre o acordar, ir trabalhar em um banco, interagir da mesma forma com os outros e ir dormir. Certo dia, ele se apaixona por uma mulher que passa pela rua e a partir daí sua vida muda, descobrindo inclusive que faz parte de um jogo de videogame onde é apenas um mero coadjuvante, um robô, algo parecido como um ‘bot’. Ao mesmo tempo, a mulher por quem se apaixona, na verdade é o avatar de Millie (Jodie Comer) uma desenvolvedora de jogos que teve os seus códigos roubados por Antwan (Taika Waititi) o criador do jogo que Guy faz parte. Assim, esses dois destinos, o de Guy e o de Millie se juntam, também ao de Keys (Joe Keery) e essa nova equipe, juntos, tentarão decifrar os mistérios dentro desse jogo e mostrar a verdade.


O liquidificador criativo desse projeto consegue reunir os elementos na dosagem certa para que a diversão pule aos nossos olhos a cada minuto. Em progressão rumo às descobertas em formas de códigos e tecnologia, somos testemunhas de cenas hilárias protagonizadas, muitas delas, por Reynolds e seu carismático personagem. As nada densas camadas dramáticas que passam por nossos olhos nada mais são que pequenos complementos para moldar o que precisamos saber sobre cada personalidade. Essa questão, quase um confronto entre ‘o despertar da inteligência artificial’ e a realidade vivida por jogadores e seus avatares é um contraponto muito interessante para refletirmos.


Os clichês acontecem mas nada que atrapalhe o ótimo ritmo, o dinamismo. O roteiro é ótimo e a direção competente. Ótimo ver a excelente Jodie Comer em um papel de comédia após sua excelente contribuição ao universo dos seriados com a emblemática Villanelle em Killing Eve. Também ótimo é o vilão caricato do ator, produtor e diretor, o neo zelandês Taika Waititi (diretor dos badalados Thor: Ragnarok e Jojo Rabbit). Mas o show é de Reynolds e sua liberdade artística que eleva seus personagens ao ápice do carisma.


Free Guy: Assumindo o Controle é um dos primeiros grandes blockbusters a estreiarem nos cinemas após a reabertura desses nesse ano de 2021. Um filme empolgante que diverte e merece ser visto na telona.  

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16/07/2021

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Crítica do filme: 'Moulin Rouge' (Review Anos 2000)


Dinâmico, objetivo, empolgante. No início dos anos 2000, o cineasta australiano Baz Luhrmann trouxe para os cinemas uma obra que fala sobre o amor em um contexto de outros séculos, por dentro da boemia e das questões que se amontoam sobre as classes sociais. Moulin Rouge, possui um narrador personagem detalhista, engraçado, atrapalhado, apaixonado, que transforma sentimentos em palavras. Seguindo lema de que: ‘A grande coisa que aprenderá na vida é amar’, somos testemunhas do contraponto do mágico com o trágico numa Paris quase em 1900. Protagonizado por Nicole Kidman e Ewan McGregor, esse musical está guardado nos corações de muitos cinéfilos.


Na trama, conhecemos o sonhador Christian (Ewan McGregor), um homem que passou a vida toda tendo discussões com o pai sobre as questões das emoções e principalmente sobre o amor. Um dia resolve abandonar a família e partir rumo à Paris, empolgado com a descoberta da boemia do lugar, propícia para um futuro escritor, seu grande sonho. Nesse lugar existe Moulin Rouge, uma casa noturna, uma danceteria, uma casa de shows, um bordel. Fascinado, acaba deixando se levar pelo maior dos sentimentos, o amor, quando conhece o diamante cintilante, a grande estrela do lugar, Satine (Nicole Kidman). Mas nada será fácil para esses doid pombinhos, precisarão enfrentar a desconfiança do dono do lugar Harold Zidler (Jim Broadbent) e de outro pretendente a conquistar o coração da dama, o duque (Richard Roxburgh).


Beleza, liberdade, amor! Você pode pensar sobre esse filme por diversas óticas. Um choque de classes no mesmo lugar, ricos, poderosos, meros trabalhadores esforçados que ganham pouco, todos em busca dos prazeres desse lugar; o entorno, um reduto da Boemia, da busca pela liberdade de expressão com gritos de revolução, a ganância no ponto de vista de Zidler; a arrogância do duque e enfim sobre as linhas complicadas de uma história de amor proibida que ganha ares grandiosos por meio de canções dançantes, muitas adaptações que preenchem cada espaço na arte de empolgar o espectador. Sobre essa parte musical, o projeto busca expressar sentimentos pelas canções, que são ótimas, diga-se de passagem, até o clássico Your Song de Elton John ganha uma linda versão. Até o tango ganha espaço, na canção Roxanne do The Police com uma chamativa rouquidão acoplada.


Qual seria a voz dos filhos da revolução? Como nos contos clássicos da literatura, a tragédia flerta com o amor. O sonhador praticamente imaturo sobre a vida e uma cortesã, paga para fazer os homens se divertirem. O choque entre esses dois mundos vira o frequente clímax, dentro de um imaginativo universo, em passagens de arcos que às vezes parecem videoclipes mas não deixam de conquistar nossos corações.

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25/06/2021

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Crítica do filme: 'Anônimo'


Um empolgante filme com muito tiro, porrada e granada! Pegue um liquidificador, coloque pitadas de Um Dia de Fúria, Marcas da Violência e a essência da saga John Wick que você começa a ter uma ideia de Anônimo, filme estrelado pelo subestimado ator Bob Odenkirk (conhecido por seu papel em Breaking Bad e consequentemente Better Call Saul). Mas essa produção de ação e certos mistérios é muito mais que a junção de outros bons filmes, consegue sua originalidade própria pela análise e pontos reflexivos de um perturbado protagonista com um passado misterioso muito bem construído por Odenkirk. Prato cheio para quem curte ótimos filmes de ação. Além de muitos pontos positivos, o projeto conta com a participação mais que especial do genial Christopher Lloyd. Dirigido por Ilya Naishuller e com roteiro assinado por Derek Kolstad (roteirista da saga John Wick).


Na trama, conhecemos Hutch Mansell (Bob Odenkirk), um homem disciplinado em sua rotina de exercícios matinais, ajuda nas tarefas de casa, ida e volta do trabalho junto ao sogro e o cunhado em uma pequena empresa. Vive seus dias sem grandes emoções e surpresas ao lado de sua esposa Becca (Connie Nielsen) e seus dois filhos. Talvez para a vida dele voltar a ter algum sentido, algo precisara acontecer. E o estopim chega quando dois ladrões amadores invadem sua casa e roubam uns trocados mas não são capturados de propósito por Hack que busca se controlar a todo instante na situação. Após esse fato, começamos a ver as mudanças na vida do protagonista e todas as surpresas de seu passado vem a tona em uma trajetória de explosões, sangue e violência por todos os lados.


Nobody, no original, busca seu fôlego dentro de cenas intensas de ação, onde parece que a criatividade reina na sua mais alta potência deixando nossos olhos perplexos com as sequências empolgantes que acontecem. A questão da camuflagem da história, da saída de pai de família inofensivo para um temido guerreiro do novo século é feita de maneira inteligente muito construtiva elevando em qualidade no clímax. Parece que um dos grandes desafios do projeto é tentar de alguma forma buscar seus próprios caminhos e se distanciar de alguma forma com comparação com outros filmes mas é uma linha complicada de andar, há referências por todos os lugares mas que nesse caso não diminui a qualidade da trama, não chega a ser um spin-off de Wick ou outros longas-metragens.


Pensado em ter continuações, assim como seu primo John Wick, o desfecho mais do que nos leva a essa conclusão. Merece a continuação. Assim, as profundidades nulas de algumas subtramas poderão ser exploradas, como a relação de Hutch e Becca, mais sobre o passado de seu pai e irmão. Há muito chão para caminharmos juntos com os personagens. Em tempos onde os filmes de ação não chegam com grande qualidade, a não ser a saga protagonizada por Keanu Reeves e poucas outras, Anônimo chega para contribuir positivamente, trazendo muita qualidade.   


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15/06/2021

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Crítica do filme: 'Veneza'


As fábulas dos sonhos distantes. Novo trabalho na direção do artista completo Miguel Falabella, Veneza, possui a fábula, a novela, o romance como narrativa, é leve, agradável, não há quase clima de tensão. Esse aspecto até existe mas parece ficar como background dos sentimentos, razão fruto da inconsequência, na chegada do clímax pelo sonhar. Vale mais esse sonhar do que o viver para muitos dos personagens, de tanto imaginarem o futuro viram presas desses sonhos, mas quem disse que eles não podem ser realizados? Como um maestro na direção, Fallabella, não esquece de passar com brilhantismo pelas técnicas da arte, da beleza do sensual sem ser ofensivo, não esquece de passar pelo circo, pelas cenas de teatro, pela dramaturgia e todo o universo por essas artes criados. A partir de um sonho, somos levados a uma viagem mágica, profunda, linda. O longa-metragem conta no seu elenco, além dos ótimos artistas brasileiros, com Carmen Maura, uma das grandes atrizes espanholas da história, com diversos trabalhos junto ao aclamado diretor Pedro Almodóvar.


Na trama, com roteiro do próprio diretor, baseado na peça de teatro de Venecia de Jorge Accame, conhecemos Gringa (Carmen Maura) uma senhora espanhola que tem um puteiro no interior do Brasil que hoje em dia é comandado basicamente comandado por Rita (Dira Paes). Gringa está no auge de sua velhice, já cega e doente possui um único e inusitado desejo: ir até Veneza para ver se consegue o perdão de um homem que abandonara faz muitos anos. Assim, buscando realizar o desejo da dona do bordel, Rita se une a Tonho (Eduardo Moscovis), Jerusa (Danielle Winits), Madalena (Carol Castro) e o resto da equipe para realizar de alguma forma esse desejo.


O faz de conta se une ao lúdico, há muito mais emoção do que qualquer razão. As lembranças ganham contornos emotivos através de Gringa, a mola propulsora da história. Várias portas se abrem, o contexto de realidade dentro do ‘terror’ da palavra afeto, o indecifrável universo das fantasias sexuais, a verdade objetiva de que não se pode dar um preço ao amor, quando chega a encostar na realidade vemos a tragédia, o medo, as dúvidas e decepções. Os personagens são ótimos parecem sonhar o mesmo sonho de gringa chegando próximo, bem próximo, da cidade que flutua na água.


Quantos filmes romantismo nós assistimos todos os anos? São todos da mesma forma? Não mesmo! É possível uma segunda chance para um mesmo amor? Porque não? Dentro de um universo machista a delicadeza de encontrar as razões para emoções não deixa de ser um mérito de Falabella e seu co-diretor Hsu Chien, tendo como seu principal nos fazer acreditar, também, no sonhar. E como é bom sonhar!  


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17/03/2021

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Crítica do filme: 'Palm Springs'


Uma grande e ilimitada sessão de terapia. Indicado a dois globos de ouro nesse ano, Palm Springs, dirigido pelo cineasta Max Barbakow e com roteiro assinado por Andy Siara, é uma comédia disfarçada, há um abalo emocional reflexivo para os personagens em constante loop. Melancólico até certo ponto, caminha nessa linha que flerta com o desesperante só que de maneira inteligente, com questões da ciência envolvida pela física, e com carismáticos personagens. A dupla Andy Samberg e Cristin Milioti mostra grande sintonia em cena. Grata surpresa.


Na trama, conhecemos Nyles (Andy Samberg) um convidado distante de uma festa de casamento em um lugar isolado que após entrar em uma caverna misteriosa, durante o casamento, acaba acordando no mesmo dia do casamento infinitamente. O filme começa já com ele desiludido e meio que desistindo de tentar algo pra mudar isso, mas tudo muda quando num desses cenários repetitivos ele acaba puxando Sarah (Cristin Milioti), a irmã da noiva, para o mesmo loop.


Aceitar o fato? Procurar sentido nas coisas? Há um choque entre os sentimentos dos dois personagens, muito porque Nyles já está acomodado naquela situação faz bastante tempo e Sarah, por conta de uma situação que vendo o filme vocês saberão, quer correr desse loop o mais rápido possível, lutando bravamente contra esse ‘poder’ inusitado. O interessante é que o ponto de interseção acaba sendo dois, dependendo do ponto de vista: a eterna arte de fugir da solidão e um intenso amor que surge entre os dois. Acompanhando o filme de qualquer uma dessas óticas, você vai se divertir.


O que você faria se pudesse fazer o que quiser sem consequências, pois, o dia seguinte seria o mesmo que hoje? Uma premissa maravilhosa para mentes criativas e Siara consegue com suas linhas de roteiro nos fazer rir, refletir sobre a vida e torcer constantemente para os personagens encontrem uma saída mas sem esquecer de um duelo quase vital nesse jogo do loop que se torna a batalha da ética interpessoal misturada com a índole, isso, contra a inconsequência.


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09/12/2020

Crítica do filme: 'Arizona Nunca Mais' *Revisão*


Como ser fiel à própria natureza? Quando a distância da realidade encontra a genialidade para criticar pelas entrelinhas. Lançado no ano de 1987, dirigido por Joel Coen com roteiro do mesmo juntamente com seu irmão Ethan (dupla fantástica que sempre nos brindou com ótimos filmes), Arizona Nunca Mais faz parte daquele bolo de filmes inesquecíveis de quando Nicolas Cage escolhia bons papéis. Com um narrador presente, excêntricos personagens, um arco inicial corrido com deixas em forma de críticas a todo instante, o projeto apresenta a saga de um homem em busca de uma longe redenção quando busca ser fiel à própria natureza. No elenco, além de Cage, nomes marcantes como John Goodman, Holly Hunter e Frances McDormand.


Na trama, acompanhamos o desajustado H.I (Nicolas Cage) um homem com uma tatuagem de pica pau, descabelado com diversas passagens pela polícia que acaba se apaixonando pela policial Ed (Holly Hunter). Tentando ser uma família normal, resolvem sequestrar uma criança pois Ed não pode ter filhos. Assim, embarcam em uma louca jornada que envolve maternidade, dois bandidos amigos de H.I e uma sucessão de loucuras.


Imerso a uma insana realidade, os irmãos Coen conseguem adaptar críticas nas entrelinhas, no que fica implícito, dentro de diálogos e situações que ocorrem durante os 94 minutos de projeção. Crítica ao sistema penitenciário norte-americano, sistema de adoção, é um Pot-pourri de situações no-sense que busca explicar as origens da própria natureza dos personagens. As vezes comédia, as vezes aventura Arizona Nunca Mais é um filme de quase três décadas atrás mas que se torna atemporal em muitos momentos.

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26/08/2020

Crítica do filme: 'A Linha Vermelha do Destino'


A paciência dos acasos na hora errada. Envolvendo lendas, encontros e desencontros, o romance argentino A Linha Vermelha do Destino, El Hilo Rojo, no original, escrito e dirigido pela cineasta Daniela Goggi baseado na obra homônima de Erika Halvorsen, é um filme com arcos que cansam na melosidade mas provocam raciocínios profundos por conta de uma maturidade para falar de um assunto que gera dor e sofrimento para aqueles que gostam de finais felizes. Os protagonistas, interpretados por Eugenia Suárez e Benjamín Vicuña possuem uma grande harmonia em cena, não beira ao imaginário, muito perto do real. Está disponível no catálogo da Netflix.

Na trama, conhecemos a aeromoça Abril (Eugenia Suárez) que durante um voo acaba se apaixonando pelo sonhador e empreendedor do ramo dos vinhos Manuel (Benjamín Vicuña). Após um desencontro no desembarque, um longo hiato se passa mas o destino quis que eles voltassem a se encontrar, agora, em outras condições, os dois casados e assim, escolhas precisarão serem tomadas por essas duas almas gêmeas.

A questão da maturidade que os dois amantes tentam lidar dentro da situação que estão é um ponto muito interessante a ser analisado. Fugindo dos clichês eminentes, A Linha Vermelha do Destino mostra muitas facetas de um amor quase proibido, ou melhor, impedido, mas que não deixa de acontecer. Há uma delicadeza na condução das sequências, uma lapidada nos arcos (as vezes até demais, deixando chato em alguns momentos) e boas atuações. Os contrapontos existentes viram fábulas do próprio imaginário das duas almas. Qual o destino deles? Finais abertos sempre deixam conclusões para o lado de cá da telona e isso é sempre muito legal.

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27/04/2020

Crítica do filme: 'Jojo Rabbit'


As delicadezas de uma época triste. Tentando ser o mais leve possível para falar sobre as absurdas caçadas aos judeus pelos nazistas, o diretor neo-zelandês Taika Waititi consegue com seu novo trabalho, Jojo Rabbit (indicado a algumas categorias do Oscar) criar um universo peculiar, fruto de um roteiro criativo (baseado na obra Caging Skies, de Christine Leunens) que navega na linha tênue entre a tragédia e os bons sentimentos de uma família de dois, que na verdade eram três. Com muita força expressiva em cena com diálogos marcantes, e porque não dizer emocionantes, o projeto mostra ao mundo mais uma vez que pela arte conseguimos recriar o passado mas sem perder a ternura em determinados olhares.

Na trama, ambientada no período da segunda grande guerra, conhecemos o jovem Jojo (Roman Griffin Davis, em atuação marcante), um pequeno alemão ridicularizado por muitos colegas, completamente extremista por tudo que ouviu falar sobre o nazismo. Jojo passa seus dias trazendo pra sua realidade sua mente fértil. Tão fértil que consegue ter um incomum amigo imaginário: Hitler, de quem escutas todo dia conselhos e mais conselhos. Certo dia, após ouvir um barulho em sua casa, descobre, escondida, uma jovem judia chamada Elsa (Thomasin McKenzie).  A partir daí, sua vida muda e suas dias passam a debates interessantes com sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) e com a nova amiga.

Impressiona a força que possui a personagem de Johansson, sua delicadeza em recriar um mundo mais amável para seu filho, brincando e dançando para fugir de uma rotina de notícias ruins ligadas a violência, ódio e guerra que chegam aos ouvidos de seu filho a todo instante. O projeto fala sobre família, esse sentimento bom que vem de quem a gente ama mesmo com o mundo pirando fora de nossa casa. A amizade ganha luz e ao mesmo tempo força, unindo uma judia em fuga e um pequeno nazista consumido por um extremismo doentio por tentar encontrar um lugar onde se encaixe. Os arcos do roteiro, muito bem definidos, transformam dor em esperança a cada sequência.

Ganhador do BAFTA de melhor roteiro no ano passado, orçado em 14 milhões de dólares (bem abaixo de muitas outras produções indicadas ao Oscar em 2019), Jojo Rabbit é um filme pouco comentado, para alguns até exagerado, mas que apresenta ao público uma leveza tão difícil de encontrar dentro de todo o contexto triste de uma guerra. Um belo trabalho do descendente de judeus, Taika Waititi.


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