21/09/2024

Crítica do filme: 'As Três Filhas'


A solidão ligada na ausência. Num pequeno apartamento numa grande cidade norte-americana conhecemos uma história que se joga com força na melancolia e num preparo para o iminente luto tendo como protagonistas três personagens em um clima constante de atenção. Escrito e dirigido pelo cineasta nova iorquino Azazel Jacobs, As Três Filhas se lança à melancolia, passando por desavenças e desabafos para criar um retrato profundo e por vezes emocionante de integrantes de uma família que tem muito a dizer uns para os outros o que transforma o que vemos numa grande sessão de terapia. É preciso paciência do público, rumando para o desfecho, o filme desabrocha deixando muitas lições.

Na trama, conhecemos três irmãs, Katie (Carrie Coon), Christina (Elizabeth Olsen) e Rachel (Natasha Lyonne), que se reúnem para estar nos momentos finais do pai, com câncer em estágio avançado, no lugar onde foram criadas. Completamente diferentes na maneira de pensar a vida e visões nesse momento complicado, entre implicâncias e sermões entram numa estrada para entenderem melhor uma a outra.

A narrativa opta pelo acompanhamento próximo dos embates, construídos a partir de um roteiro com expressões de sentimentos afundados em insatisfações e outros adormecidos que encontra a melancolia ligada num momento de ebulições emocionais. Assim, aos poucos vamos entendendo alguns porquês, sempre girando em torno da figura paterna. Com o despertar do passado surgindo, mágoas reveladas, tudo que as cerca parece ganhar novos sentidos.

Muitas vezes parece que o filme não sai do lugar comum que são os confrontos estabelecidos. Essa amargura dos personagens é sentida nas escolhas que viram reflexões, a construção disso é lenta, é preciso paciência. Esses dilemas, como: reanimar ou não o próprio pai, se tornam reflexões sociais e o projeto vai ganhando formas e movimentos interessantes. Soma-se positivamente a isso, um desfecho que surpreende, nas linhas interpretativas, mas que apresentando desfechos convincentes e com várias mensagens. Vale também o destaque para as três atrizes, atuações maravilhosas de todas elas.


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20/09/2024

Crítica do filme: 'Caminhos Cruzados'


Momentos que fazem sentido no viver. Colocando na mesma balança o acaso e o destino, o longa-metragem europeu Caminhos Cruzados apresenta através de uma forte protagonista um novo olhar para o mundo e as renovações de felicidade que a vida pode nos trazer quando menos esperamos. Escrito e dirigido pelo cineasta sueco Levan Akin, o projeto parte do sofrimento de uma busca, por onde segue todo o discurso, sem deixar de preencher outros tantos.

Na trama, conhecemos Lia (Mzia Arabuli), uma professora de história aposentada moradora da cidade de Batumi, localizada no Mar Negro, na Geórgia, que está em busca da sobrinha, sua única família. Ela acaba se juntando a Achi (Lucas Kankava) um jovem perdido com o que fazer com sua vida, que sabe seu paradeiro. Assim, ambos atravessam a fronteira do sudeste do país, com a Turquia, que na visão de alguns é uma terra de oportunidades. Chegando lá, terão muitas descobertas.

Nessa belíssima viagem pelos contrastes nas formas de viver e até mesmo entender as próprias trajetórias, partimos de uma realidade local – e muito distante de nós – um lugar onde a esperança está pelas suas fronteiras. Nesse ponto, - já com nossa atenção voltada pra tela - somos convidados a conhecer histórias através de dois personagens com faixa etárias diferentes, visões de mundo infinitamente não semelhantes, que precisam unir forças por um objetivo. A narrativa brilhantemente então nos guia, até o nascimento de uma amizade improvável, onde o sentido de família e suas interpretações ganham fôlego.

O amplo contexto social e cultural que o filme propõe se torna um dos grandes méritos, muitos desenrolares se aprofundam tendo essa referência. A partir do já mencionado sofrimento de uma partida, a protagonista se choca com um novo olhar para o que esteve sempre por ali, por perto. Mas essa mudança não se restringe só a ela, para Achi também. Belíssimos diálogos e cenas marcantes validam toda essa transformação dos dois personagens.

Caminhos Cruzados, esse poderoso retrato cultural, movido à choques de vivências, onde a inconsequência reina por um instante, carrega o público para um tour de emoções escondidas, pelo iminente compreender, pelas verdades que se mostram presentes quando as possibilidades de felicidade surpreendem trajetórias.  


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Crítica do filme: 'Un Actor Malo'


Pesquisando um filme pra ver na Prime Video não poderia ter sido mais certeiro! Escrito e dirigido por Jorge Cuchi, Un Actor Malo joga uma luz importante para denúncias de assédios num set de filmagens. Pelo olhar da vítima e do agressor vamos compreendendo melhor essa história repleta de tensão que transforma a gravação de um filme em um verdadeiro tribunal moral. Um dos inúmeros méritos, são as atuações de Alfonso Dosal, e principalmente Fiona Palomo, que contemplam o público com atuações viscerais, hipnotizantes.

Na trama, durante um dia cheio de reviravoltas, conhecemos Daniel (Alfonso Dosal) e Sandra (Fiona Palomo), dois artistas com bom relacionamento fora das câmeras que estão rodando um filme. Numa das cenas, Sandra acusa Daniel de má conduta, desencadeando uma série de situações. Ela vai em busca de apoio jurídico para uma denúncia, enquanto a produção do filme tenta contornar a situação. Ao longo dessa jornada, as consequências são mostradas de várias formas, chegando até mesmo ao circo midiático que logo se mostra presente.

O clima de tensão permanece constante, fato esse que leva a narrativa para os caminhos da angústia e apreensão ao longo de toda a projeção. O cenário claustrofóbico se complementa com os fortes sentimentos que passa a protagonista dando mais força de impacto para a mensagem forte embutida em cada cena de violência. Basicamente mostrando um dia e todo seus contratastes nas emoções, somos jogados para um caldeirão de situações que refletem sobre pontos importantes da sociedade.

Há reflexões em todos os cantos, fatos contundentes vão se acumulando até um final impactante. Temos os pontos de vistas de advogados de defesa e de acusação, o olhar das outras mulheres da equipe do filme que ajudam a vítima nesse momento horripilante que passa, a produção do filme e sua preocupação com o projeto que parece se distanciar da sensibilidade com a vítima, e as colocações da mídia sensacionalista que se perde na apuração dos fatos levando uma exposição ainda maior da vítima. O roteiro busca pelas ações e reações de seus personagens, de forma dura, todos os olhares em torno de uma série de acontecimentos violentos.

Desde sua premissa, imersa numa metalinguagem, seguindo para um desenvolvimento de embates e dilemas essa é uma daquelas obras que dificilmente esqueceremos, principalmente pelo seu desfecho emblemático que nos leva a mais reflexões.


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18/09/2024

Crítica do filme: 'Um Silêncio'


A devastação de uma família através do olhar de cúmplice. Chegou aos cinemas brasileiros um projeto que aborda um tema sensível, um caso real de grande repercussão que ocorreu na Bélgica. Buscando a angústia através de um embaralhar de cartas desordenado, Um Silêncio tem como força as grandes atuações de Emmanuelle Devos e Daniel Auteuil, imersos em uma narrativa lenta que busca apresentar respostas mas sem revelar num primeiro momento quais são as perguntas.  

Na trama, conhecemos Astrid (Emmanuelle Devos) esposa do advogado François Schaar (Daniel Auteuil), esse último trabalhando em um caso midiático onde defende parentes que tiveram os filhos sequestrados. Quando um segredo de décadas da família é aberto, os olhos da justiça se voltam por completo para essa família deixando Astrid em dúvidas sobre o que fazer.

Indicado ao prêmio de Melhor Filme do Festival de San Sebastian do ano passado, o longa-metragem escrito e dirigido por Joachim Lafosse apresenta os fatos através do olhar de Astrid. Cúmplice durante anos dos absurdos concretizados pelo marido e com eternos dilemas que a dominam, parece estalar para a realidade quando o filho adotivo do casal se torna o estopim de alguns acontecimentos paralelos ao grande segredo que ela e o marido mantém. A narrativa busca, e fica girando em torno, através de cenas com diversas interpretações, mostrar a ‘dúvida do que fazer’ como elemento de ações e consequências. Pouco pra prender a atenção do espectador.

As peças desse quebra-cabeça se embaralham a todo instante, é o tipo de filme que tem a história mal contada, que gera confusão. É difícil compreender sobre o que estamos assistindo, principalmente por subtramas mal desenvolvidas, praticamente jogadas ao longo dos pouco mais de 90 minutos de projeção. Inspirada em uma história real, Um Silêncio busca se sustentar nas ótimas atuações de Emmanuelle Devos e Daniel Auteuil.


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Crítica do filme: 'A Última Viagem'


O vai e vem de revelações inesperadas. Apresentando muitas surpresas pelo caminho, A Última Viagem, filme irlandês escondidinho lá no catálogo da Prime Video, usa o clima fúnebre e o flerte com a tragédia para contornar as linhas melancólicas de um roteiro que apresenta reviravoltas importantes mudando o sentido da trama. Esse é um filme sobre pais e filhos, relacionamentos, novas chances, recheado de personagens carismáticos.

Na trama, conhecemos Daniel (Michiel Huisman), um advogado tributário em ascensão na carreira morando na cidade de Nova Iorque, que está indo para a Irlanda após a morte de sua mãe. Durante o voo um senhor de idade ao lado da sua poltrona morre e de uma forma bem inusitada Daniel fica responsável por levar o corpo dele para ser enterrado ao lado de um parente na Irlanda do Norte. Durante essa jornada, o protagonista busca se reconectar com o irmão autista Louis (Samuel Bottomley) e acaba conhecendo melhor uma funcionária da funerária, a carismática Mary (Niamh Algar).

Dirigido pela cineasta Aoife Crehan, essa mirabolante jornada a princípio parece ter muitas questões soltas em subtramas que vão ganhando camadas emocionantes ao longo da projeção, nos levando até pontos familiares que usam os dilemas de outrora para trazer entendimento sobre atitudes do presente. Sem adotar flashbacks a narrativa mergulha nos desabafos e memórias de um protagonista que amadureceu forçadamente protegido pela família. Há um enorme spoiler que vira o roteiro de ponta a cabeça (e pra não estragar, sem menções por aqui). Essa carta na manga, que realmente surpreende, dá um novo sentido para tudo que acompanhamos.

A composição dos personagens é muito bem feita. Mesmo de forma bem objetiva, ultrapassando um pouco a superfície, entendemos o que precisamos para juntar as peças de um momento cheio de turbulências em diversas áreas para todos eles. Esse fato aproxima o público. Há clichês? Há. Mas nada que nos distancie, pelo contrário nos leva até reflexões profundas. Grata surpresa!


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16/09/2024

Crítica do filme: 'Beyond The Mountain (Detrás De La Montaña)'


O ódio que cega. Caminhando pelos capítulos na vida de um protagonista em total desespero para acabar com uma de suas maiores dores, Beyond The Mountain costura a tensão emocional e a tragédia em uma narrativa que coloca o espectador como testemunha da inconsequência de um solitário protagonista. Escrito e dirigido por David R. Romay, Beyond The Mountain utiliza de forma inteligente o antagonismo do abstrato, o ódio batendo de frente com o amor, a desilusão sendo surpreendida por uma luz de felicidade. Elementos que rumam para o imprevisível.

Na trama, conhecemos Miguel (Benny Emanuel), um responsável jovem, abandonado pelo pai no nascimento, que trabalha como datilógrafo em um escritório público na Cidade do México. Sua vida é simples, vive com sua mãe – que sofre até o presente pelo abandono do marido - em um humilde apartamento e tem o sonho de chamar Carmela (Renée Sabina), uma cliente regular do seu trabalho, para um encontro. Após uma tragédia, dominado por sentimentos conflitantes nos quais se vê amplamente perdido, resolve ir atrás do pai para dar um ponto final na história dele.

Em menos de 15 minutos somos convencidos que essa é uma história que precisamos assistir. Com um discurso que parecia seguir uma longa jornada para o perdão, percebemos aos poucos que o lidar com a perda proposto acaba abrindo novas janelas de oportunidades. Esse longa-metragem mexicano é um forte drama com suas camadas de suspense, muito também por seu ótimo protagonista que mistura sentimentos em tela e os torna uma progressão rumo ao trágico. A saudade logo vira raiva. Mesmo o amor aparecendo, a dor ainda é mais forte.

Rodado em Chihuahua, no México, essa pérola escondida no catálogo da Prime Video, se fortalece nessa tensão emocional. É frio, objetivo, faz o espectador imaginar possibilidades de desfechos, sempre tendo as consequências da imensurável sensação da perda sendo o maior dos seus alicerces.

 

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Crítica do filme: 'Garra de Ferro'


Profundo, forte, com amargura pra todos os lados. Apresentando aos espectadores os traumas de uma família vitoriosa no mundo da Luta Livre, aquelas lutas de mentirinha que são um enorme sucesso nos Estados Unidos até hoje, Garra de Ferro nos leva até profundas camadas emocionais onde há reflexões sobre os desenrolares psicológicos de irmãos com uma exigência forçada, na corda bamba de cargas desproporcionais aos seus reais sonhos. A culpa é um elemento importante que aparece em total construção ao longo das pouco mais de duas horas de projeção.

Na trama, ambientada pelas décadas de 70 e 80, conhecemos quatro dos irmãos Von Erich, uma família de lutadores que foi criada por um pai exigente e uma mãe permissiva. Ao longo do tempo vamos percebendo como essa criação voltada para um único objetivo, o de fazer campeões, acaba afetando todos esses irmãos que logo precisam conviver com tragédias sem fim.

Escrito e dirigido pelo ótimo cineasta Sean Durkin, esse é um daqueles filmes que emocionam e não deixam as reflexões escaparem um segundo sequer. Com um ritmo cadenciado explorando os detalhes de um sofrimento crescente que traz reflexos no presente dos personagens, a narrativa preenche as lacunas do passado em uma investigação sobre alguns porquês que se amontoam em destino longe da felicidade.

Nossos olhos são os embates ao longo do tempo entre Kevin (Zac Efron) e Fritz (Holt McCallany), pai e filho mais velho. A partir desses conflitos chegamos nas questões que exemplificam o caos dessa família disfuncional. Além dos absurdos feitos pelo pai, a passividade da mãe Doris (Maura Tierney), o público vai traçando suas próprias opiniões sobre qual o custo para se chegar ao sucesso.

 

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15/09/2024

Crítica do filme: 'Rebel Ridge'


Um dos melhores filmes de ação lançados na Netflix em 2024. Envolvendo o público com uma profunda trama que gira em torno da corrupção policial, Rebel Ridge não é só tiro, porrada e bomba. Escrito e dirigido pelo excelente cineasta Jeremy Saulnier, que já tinha nos brindado com o ótimo Sala Verde, o longa-metragem com intensos conflitos possui um ritmo dinâmico, insinuante, não foge do discurso e ainda recarrega camadas ao longo das mais de duas horas de projeção. No papel principal, o ótimo ator britânico Aaron Pierre que substituiu John Boyega quando o mesmo deixou o projeto no meio das filmagens.

Na trama, conhecemos Terry (Aaron Pierre), um ex-fuzileiro naval que chega até uma cidadezinha do interior dos Estados Unidos com o objetivo de pagar a fiança de um primo que está sendo transferido para uma penitenciária. Quando chega no lugar, tem o dinheiro da fiança roubado por policiais corruptos. Tendo que improvisar com novas soluções para seu objetivo após uma tragédia, sem nada a perder, acaba travando um explosivo duelo com a gangue da maior autoridade do local, o chefe de polícia Sandy Burnne (Don Johnson).

Muito bem conduzido por Saulnier e com uma trilha sonora que já apresenta um clássico do Iron Maiden na abertura, Rebel Ridge reúne uma série de pontos positivos. Aos mais atentos há até algumas semelhanças com Rambo! Nesse interessantíssimo filme de ação, repleto de críticas sobre os malabarismos maquiavélicos de alguns que chegam ao poder, sem esquecer de um olhar reflexivo sobre as segundas chances, caminhamos pela terceira Lei de Newton  - toda a ação, tem uma reação – adaptada aqui para as possibilidades do desequilíbrio emocional.

Há uma análise interessante que podemos fazer sobre o personagem principal, nossos olhos durante todo o desenrolar da narrativa. Como a maioria das personificações do herói e suas jornadas, o protagonista beira ao indestrutível, encontra o convencional mas apresenta suas fraquezas e bate de frente com as inconsequências o que engrandece sua trajetória. Nesse ponto, brilha Aaron Pierre com uma baita atuação!

Rebel Ridge e sua essência explosiva, como qualquer obra do gênero ação, se consolida como um filme que consegue fugir da bolha de mesmices de outras obras que podem soar parecidas. Carrega consigo o trunfo de atingir camadas importantes ligadas à emoção e construção dos personagens que vão muito além da superfície. Grande acerto da Netflix!

 

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12/09/2024

Crítica do filme: 'Às Vezes quero Sumir'


As descobertas rumo ao desabrochar. Contemplando um estado de solidão, dando sentido ao mesmo através do olhar sensível e imaginativo de uma intrigante protagonista, Às Vezes Quero Sumir, novo trabalho da cineasta Rachel Lambert, se joga com muita inteligência no abatimento de uma visão triste do mundo reunindo peças para se chegar em uma autodescoberta de curtos passos. Um filme reflexivo, com ótima direção e uma brilhante atuação de sua protagonista.

Na trama, conhecemos Fran (Daisy Ridley), uma jovem introspectiva que trabalha em um escritório numa cidadezinha norte-americana. Seu cotidiano é pacato, prefiro ficar sozinha na maior parte do tempo, presa em pensamentos quase indecifráveis mas que dizem muito sobre seu estado de espírito. Certo dia, com a chegada do novo funcionário Robert (Dave Merheje), algo desperta nela e começa a perceber que as peças para se encaixarem para algum tipo de final feliz é preciso dedicação e um querer sobrepondo medos e receios.

Costurando interessantes metáforas que nos levam ao inconsciente de uma pessoa nitidamente em conflito com si mesma, somos convidados para um passeio rumo ao passo atrás de um possível ponto de virada de vida. Através da variável nova em sua bolha involuntária, Fran, peça fundamental de uma narrativa lenta, que preza pelos detalhes e pausas para reflexões, se constrói dentro de um silêncio que de alguma forma ilustra seu pensar, seu agir, num profundo mix de emoções.

As diversas interpretações que o filme pode causar só enriquecem o brilhante roteiro. A manipulação do abstrato em imagens marcantes ganham reais sentidos fazendo a curiosidade saltar aos olhos do público. A ebulição dos pensamentos, das emoções de uma introspecção aparente mas que desabrocha com um movimento de um acordar, muitas vezes em diálogos maravilhosos, chegam como contraponto de uma personagem que personifica a realidade de muitos no observar os detalhes do dia a dia com a frieza de um alguém sem esperanças. Para alguns, pode ser fácil se conectar.

Rodado todo na cidade de Astoria, no Estado de Oregon, Às Vezes Quero Sumir se camufla na simplicidade para nos apresentar complexidades de um mundo que cada vez mais nos mostra os conflitos em relação as necessidades de interação e as interpretações dos lados da moeda que podem surgir através de alguns dilemas.


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03/09/2024

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Pausa para uma série: 'Bastidores do Pop: O Esquema das Boy Bands'


Backstreet Boys, N’Sync
... Você já ouviu falar dessas bandas né? Quem viveu intensamente os anos 90 deve se lembrar do boom que foi na indústria fonográfica a chegada das boy bands nas paradas de sucesso. Entretanto, o que pouca gente sabia era o que acontecia atrás das cortinas. Através dos malabarismos duvidosos de um polêmico empresário que conseguiu uma rápida subida na sua posição, muitas verdades foram expostas aos poucos e aqui explicadas com alguns detalhes numa nova série no maior dos streamings.

Tendo como elemento central Lou Pearlman, considerado por muitos o guru das boybands, Bastidores do Pop: O Esquema das Boy Bands, minissérie documental de três episódios disponível na Netflix, nos leva até os bastidores de um ramo do Pop music, do anonimato ao estrelato, expondo questões por trás do sucesso que ganha aos poucos o alcance mundial e tendo como passagem as descobertas de fenômenos como Backstreet Boys e N’Sync e outras bandas com relevância dentro do mesmo segmento.

De uma empresa de dirigíveis até as descobertas que mudariam a cultura pop de uma geração, vamos entendendo um pouco a mente de um empresário que se escondia no glamour, fazendo os outros de fantoche, uma reta sem paradas rumo ao egoísmo e egocentrismo. Utilizando uma técnica de dublagem para seu protagonista, através de contextos da obra onde a minissérie se baseia em grande parte, ‘Bands, Brands and Billions: My Top Ten Rules for Success in Any Business’, o projeto nos leva das descobertas até investigações colocando em dúvida a ética por trás de um rentável negócio.

Mesmo carecendo de detalhes sobre algumas questões, ao longo dos três episódios que compõe a obra, o foco parece ser jogar um monte de pulguinhas atrás da orelha sobre determinadas situações, além de mostrar ao público verdades da indústria fonográfica dos anos 90. Por meio de depoimentos de alguns dos astros das bandas descobertas, amigos, jornalistas e envolvidos nas investigações Bastidores do Pop: O Esquema das Boy Bands busca traçar um raio-x de um homem e suas polêmicas raspando nos contextos de uma época marcante na cultura pop mundial.


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