Já na reta final do Festival do Rio de cinema, nos deparamos com um filme brasileiro pra lá de louco que a partir de uma distopia busca reflexões sociais imersas a um clima de tensão recheado de cenas chocantes e com sangue de sobra. Dirigido pelo porto-alegrense Davi Pretto, que 10 anos atrás estreou seu primeiro longa-metragem, Castanha, no Festival de Berlim, Continente peca por uma falta de clareza sobre o discurso, com uma premissa que busca nas entrelinhas os embates sobre classes sociais, entre outros pontos. Se mantém lúcido até as respostas sobre a pergunta: O que estaria acontecendo naquele lugar? A partir daí, é um show de desencontros.
Na trama, ambientada numa região do sul do país, conhecemos
Amanda (Olivia Torres), que depois
de muitos anos no exterior, volta para casa para se despedir do pai – perto da
passagem – que é dono de uma enorme fazenda numa região isolada. Logo quando
chega ao lugar, ao lado do namorado francês Martin (Corentin Fila), percebe que as coisas estão esquisitas e logo a
tensão toma rumos inesperados quando descobrimos sobre as incertezas de um
certo acordo que gera ações desesperadas entre os trabalhadores do local.
Filmado logo após a pandemia, financiado por cinco países e
com um orçamento modesto, esse filme de horror brasileiro se joga sem muita
direção nas rupturas do lógico com pitadas do sobrenatural. Com um clima onde
gradativamente chegamos na tensão, o filme pode ser dividido em duas partes
complementares onde na primeira se camufla o desespero e a extrema opressão, e
na segunda transforma as consequências em ações desenfreadas, e bem
vampirescas!
Selecionado para o Festival de Cinema de Sitges, na Espanha,
um dos principais eventos cinematográficos de filmes de horror do mundo, Continente tem como ponto positivo a
fotografia, que joga a atmosfera da tensão pro centro do olhar. Não há dúvidas
que é bem filmado. Mas tem uma questão que envolve esse elemento. As sensações
e a transmissões dos conflitos emocionais são notórios mas como a narrativa
naufraga com a falta de lucidez sobre o discurso, que envolve as interpretações
sobre as regras de uma imposição local, até mesmo um ritual denominado ‘a hora
do certo’, acaba virando um achismo atrás do outro testando a paciência do
espectador.