As descobertas rumo ao desabrochar. Contemplando um estado de solidão, dando sentido ao mesmo através do olhar sensível e imaginativo de uma intrigante protagonista, Às Vezes Quero Sumir, novo trabalho da cineasta Rachel Lambert, se joga com muita inteligência no abatimento de uma visão triste do mundo reunindo peças para se chegar em uma autodescoberta de curtos passos. Um filme reflexivo, com ótima direção e uma brilhante atuação de sua protagonista.
Na trama, conhecemos Fran (Daisy Ridley), uma jovem introspectiva que trabalha em um
escritório numa cidadezinha norte-americana. Seu cotidiano é pacato, prefiro
ficar sozinha na maior parte do tempo, presa em pensamentos quase indecifráveis
mas que dizem muito sobre seu estado de espírito. Certo dia, com a chegada do
novo funcionário Robert (Dave Merheje),
algo desperta nela e começa a perceber que as peças para se encaixarem para
algum tipo de final feliz é preciso dedicação e um querer sobrepondo medos e
receios.
Costurando interessantes metáforas que nos levam ao
inconsciente de uma pessoa nitidamente em conflito com si mesma, somos
convidados para um passeio rumo ao passo atrás de um possível ponto de virada de
vida. Através da variável nova em sua bolha involuntária, Fran, peça
fundamental de uma narrativa lenta, que preza pelos detalhes e pausas para
reflexões, se constrói dentro de um silêncio que de alguma forma ilustra seu
pensar, seu agir, num profundo mix de emoções.
As diversas interpretações que o filme pode causar só
enriquecem o brilhante roteiro. A manipulação do abstrato em imagens marcantes
ganham reais sentidos fazendo a curiosidade saltar aos olhos do público. A ebulição
dos pensamentos, das emoções de uma introspecção aparente mas que desabrocha
com um movimento de um acordar, muitas vezes em diálogos maravilhosos, chegam
como contraponto de uma personagem que personifica a realidade de muitos no observar
os detalhes do dia a dia com a frieza de um alguém sem esperanças. Para alguns,
pode ser fácil se conectar.
Rodado todo na cidade de Astoria, no Estado de Oregon, Às Vezes Quero Sumir se camufla na
simplicidade para nos apresentar complexidades de um mundo que cada vez mais nos
mostra os conflitos em relação as necessidades de interação e as interpretações
dos lados da moeda que podem surgir através de alguns dilemas.