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19/01/2024

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Pausa para uma série: 'Um Pesadelo Americano'


A força de uma narrativa brilhante. Assaltantes com roupas de mergulho. Um curioso sequestro. Uma pacata cidade na Califórnia. Chegou ao catálogo da Netflix uma minissérie dividida em três partes que nos mostra as verdades de um fato ocorrido em março de 2015 que reuniu uma série de variáveis surpreendentes. Caminhando pelos relatos e sofrimento dos envolvidos, passando pela pressão de um circo midiático e a força policial atrás de um bode expiatório, Um Pesadelo Americano mostra de forma detalhada reviravoltas chaves para o esclarecimento por completo de um curioso ocorrido.

Vallejo, Califórnia. Durante uma noite, um casal de fisioterapeutas tem sua residência invadida por pessoas que sequestram um deles, dopando o outro. Ao acordar, o que não foi levado, liga para a polícia relatando o ocorrido. A partir daí, a vida desse casal viraria de cabeça pra baixo, com acusações de todos os lados e com a polícia buscando montar um quebra-cabeça completamente pressionada pela a ação da mídia. Advogados, envolvidos, a família da sequestrada e os vídeos de alguns dos interrogatórios ajudam a contar essa história que possuem reviravoltas impressionantes.

Como sempre falamos por aqui, a importância da narrativa é fundamental para o sucesso de um projeto. Isso acontece por aqui. Dividida em três partes, Um Pesadelo Americano (nome mais que certeiro), caminha pelos campos das emoções conflitantes de um casal que tem suas vidas expostas de maneira absurda, acusados de forjarem um sequestro após o reaparecimento da sequestrada.

Uma busca em vão? Tem alguém mentindo? O que realmente aconteceu? A maneira como é contada essa história nos deixa em dúvidas e prepara os caminhos para as surpresas que se sucedem de forma a embarcarmos em campos de reflexões que vão desde as inúmeras críticas a muitas ações policiais na condução do caso, o papel da imprensa em todo o ocorrido e as variáveis imprevisíveis que o destino coloca em alguns caminhos.

Os absurdos são tantos que em certo momento nos perguntamos: Será essa uma releitura em vida real do filme A Garota Exemplar (que tinha sido lançado uma ano antes)? Algumas reviravoltas chaves para o esclarecimento por completo do caso transformam essa minissérie em uma das mais interessantes desse primeiro semestre de 2024.


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04/01/2024

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Crítica do filme: 'A Sociedade da Neve'


Comer para viver. Outubro de 1972. Um lugar inóspito. 45 pessoas sofrendo as consequências de uma tragédia podendo contar apenas uns com os outros. Chegou nesse início de janeiro no catálogo da Netflix mais uma obra que busca seu recorte sobre uma dolorosa história já vista em dois longas-metragens de ficção e outros dois documentários, a mais famosa tragédia com um avião na Cordilheira dos Andes. Adaptação de um livro homônimo escrito por Pablo Vierci e dirigido pelo ótimo cineasta espanhol J.A. Bayona, A Sociedade da Neve é uma angustiante jornada onde relações humanas são colocadas em xeque, uma nova sociedade surgindo a partir dos fatos impostos por uma situação desumana onde os métodos de sobrevivência variam em sua forma de pensar.

Na trama, voltamos ao início da década de 70 onde um grupo de pessoas, integrantes ou amigos e parentes de um time de rúgbi uruguaio que ia até o Chile para uma partida precisam sobreviver após o avião em que estavam se chocar com as montanhas numa região praticamente inacessível da temida Cordilheira dos Andes. Ao longo de muitos dias, a esperança e o luto andaram lado a lado. A fé, o acreditar, se tornam figuras presentes nos pensamentos de cada um deles.

A virada de chave de uma tragédia e a busca por um milagre. Passando rapidamente pelos contextos locais em um Uruguai prestes a presenciar um golpe de Estado (fato que ocorreria no ano seguinte) em 15 minutos já estamos no epicentro da trama. Muitos jovens com a vida toda pela frente, muitos em sua primeira viagem para longe de casa, batem de frente com o caos. Assim conhecemos um pouco de cada um deles, suas maneiras de pensar, se expressar, e seus entendimentos sobre o que precisam fazer para não perder a esperança.

Como seguir em frente a partir do constante luto? Esse ponto contorna cada um daqueles dias que eles viveram e se junta a peça chave e tecla mais batida nas outras produções que abordaram o tema. A narrativa não se esconde, mostra os fatos, inclusive da situação mais polêmica enfrentada por aquelas pessoas, o canibalismo. J.A. Bayona apresenta seu olhar sobre tema de forma delicada e respeitosa.

O que você faria se estivesse naquela situação? É possível julgar? Essas e outras perguntas se tornam uma onda frequente visto em cada situação que acompanhamos. A vontade de viver e todas as variáveis que a cercam numa linha angustiante que segue até o último segundo de fita se completam com uma narração em Off que se torna um achado da narrativa, podemos dizer até mesmo uma homenagem, uma surpreendente revelação ao longo das hipnotizantes quase duas horas e meia de projeção.

A Sociedade da Neve chega para mostrar mais detalhes ao mundo sobre uma tragédia que marcou gerações, uma obra primorosa com uma fotografia impecável, uma aula de narrativa e uma direção merecedora de prêmios.



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02/01/2024

Crítica do filme: 'Doce e Sangrento'


Inspirado na HQ Marcas da Violência, escrita por John Wagner e ilustrada por Vince Locke que também já foi base de um filme homônimo nas mãos de David Cronemberg, o longa-metragem indiano Doce e Sangrento, com suas coreografias impecáveis e empolgantes cenas de ação nos levam para o conflito humano da ação e reação tendo a força do trauma como um elemento que se desenvolve quando as verdades aparecem. Dirigido e escrito pelo cineasta indiano de 37 anos, o Lokesh Kanagaraj, e lançado na Netflix no finalzinho de 2023, é puro suco de entretenimento do cada vez melhor cinema indiano.

Na trama, conhecemos a história de Parthiban (Joseph Vijay), um homem querido por todos, carinhoso, pai de família, dono de um café que mora numa confortável casa desde que se mudou para uma cidade na Caxemira onde reside faz duas décadas. Vivendo em paz seus dias, sempre está disposto a ajudar sua comunidade. Certo dia, após alguns criminosos entrarem em seu bar e tacarem o terror, o protagonista consegue combatê-los virando logo uma celebridade local. Até que logo depois a notícia chega até uma perigosa gangue que alega que Parthiban na verdade é um ex-membro deles. A partir daí, algumas verdades começam a aparecer.

Com suas quase três horas de duração, o projeto busca sua própria identidade dentro de uma história já conhecida, adaptando suas imagens e movimentos num ritmo deveras acelerado, jogando nossos olhares para uma região ao norte da Índia, mostrando na linha do tempo de seu arco dramático a desconstrução de seu personagem principal. A direção de Kanagaraj cuida de cada detalhe dentro de profundos conflitos emocionais, contornando sentidos do que é o entendimento do personagem sobre família.

Chama a atenção também o malabarismo e coreografia, dentro da ação enérgica, com gângsteres, criminosos inescrupulosos, hienas raivosas, para encontrar os sentidos do errar e aprender. A violência é um elemento forte encontrado por aqui, fator esse onde se encontram todas as curvas do roteiro navegando pelas inconsequência para encostar no conjunto de ideias de seu discurso. Além de tudo, paralelos com o homem e o animal são vistos pelas entrelinhas completando lacunas ao longo da trajetória do enigmático protagonista.



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01/01/2024

Crítica do filme: 'Agradecimento e Desculpas'


O encontro de duas peças de um quebra-cabeça sentimental. Contornando o luto pra desembolar acontecimentos do passado, o longa-metragem sueco Agradecimento e Desculpas segue sua estrada por um tom melancólico que gruda como chiclete num roteiro que evolui a curtos passos dentro de vulcões de sentimentos prestes a explodirem. Dirigido por Lisa Aschan, com roteiro assinado por Marie Østerbye, o filme é um daqueles casos que precisamos ter paciência até a narrativa encontrar o epicentro do discurso.

Na trama, conhecemos Sara (Sanna Sundqvist), uma mulher casada, amargurada e infeliz que durante a fase final de sua segunda gestação é surpreendida com a morte repentina de seu marido. Sabendo do fato, sua irmã mais velha Linda (Charlotta Björck) tenta uma reaproximação já que as duas irmãs se distanciaram faz muito tempo por conta de escolhas na época de separação dos pais. Completamente diferentes e precisando ceder para o diálogo acontecer, as duas embarcam em uma jornada de reestabelecimento dos laços familiares.

As diferentes formas de entender a vida é o plano de fundo, o ponto de interseção presente e importante na composição dos personagens. Duas irmãs. Dois modos de levar a vida. O espectador pode se identificar com muitos pontos, nos debates que o projeto levanta através dos conflitos emocionais de suas protagonistas: as dúvidas na criação dos filhos, as incertezas após uma tragédia, as formas de lidar com o luto, a importância do diálogo para qualquer relação social, a obviedade de uma ruína de um relacionamento amoroso, a acomodação sem vontade de resolver os óbvios problemas que estão na sua frente, até mesmo as indelicadezas de uma sogra enxerida. A questão é como cinematograficamente se busca chegar nessas reflexões.

Importantes despertares, envoltos de uma agonia saltante, uma angústia sem fim, chegam com um forte tom melancólico que pode ser interpretado de muitas formas até a junção com o discurso. A narrativa então busca em suas imagens e movimentos captar os detalhes implícitos nas ações que beiram o caos emocional. Toda essa construção para se chegar nas reflexões pode ser uma jornada sonolenta para alguns, interessante para outros.

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23/12/2023

Crítica do filme: 'Rebel Moon - Parte 1: A Menina do Fogo'


Nunca fique do lado errado da história. Inspirado na lendária obra-prima Os Sete Samurais do inesquecível cineasta japonês Akira Kurosawa, enfim chegou na Netflix seu maior lançamento do ano: Rebel Moon - Parte 1: A Menina do Fogo. Fruto da mente do competente Zack Snyder, o que era para ser mais um capítulo na interminável linha do tempo da franquia Star Wars acaba virando o início de uma jornada onde a honra é um pilar constante durante toda a narrativa. Assim, nos sentimos em um enorme tabuleiro de RPG onde somos apresentados a habilidades e fraquezas de personagens consumidos por uma rebeldia que dá voz aos oprimidos. Aguardando a Parte 2 (que só será lançado em meados de abril de 2024).


Na trama, acompanhamos um mundo onde uma poderosa linhagem de poder milenar, conquistadora de inúmeros planetas, é interrompida pela ganância onde um senador tomou o poder mandando seu comandante mais cruel para dominar qualquer tipo de insurgência de rebeldes. Dentro desse contexto conhecemos uma comunidade pacífica com a agricultura como fortaleza e sustento onde se esconde Kora (Sofia Boutella), filha de parte dessa guerra, achada nos destroços de uma nave anos atrás, com um passado regado a duras lições de vida. Quando ela percebe que precisará voltar aos campos de guerra para enfrentar o enorme mal que quer dominar tudo e a todos pelas galáxias, ela parte em busca de alguns pessoas que formarão um grupo de possíveis heróis.


Um grande videogame feito pra divertir com pequenas boas reflexões quando enxergamos paralelos com o mundo de hoje. A questão da agricultura, o sustento vindo da terra e a escassez cada vez mais frequente de recursos naturais talvez seja a crítica social mais interessante em tudo que vemos nessa primeira parte. Os paralelos são diversos sobre esse assunto. Isso tudo é camuflado com uma narrativa que possui um ritmo típico dos filmes de ação com efeitos especiais para tudo que é lado, buscando seu dinamismo guiados pelo arco da protagonista, mas perdendo fôlego em muitos momentos.


Atos de revolução e suas peças. Dificuldades no senso coletivo, no diálogo, lendo o amor com uma enorme fraqueza, tendo também a honra como tatuagem em suas personalidades, são alguns dos lemas dos que almejam ser os heróis. Um general conhecido por bravuras em árduas batalhas, uma lendário espadachim, um líder da insurgência, um agricultor, um príncipe, uma órfã criada por um dos líderes do exército do mal. O projeto parece perguntar assim que são apresentados: Se isso aqui fosse realmente um videogame, qual desses personagens você escolheria?


Entre cenas de ação, máquinas engenhosas, passando pela inteligência artificial, traições, atos de bravura, Snyder consegue um honesto entretenimento que gera curiosidades sobre sua segunda parte, que será lançada somente em 2024.



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21/12/2023

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Crítica do filme: 'Maestro'


O desgaste de se amar alguém que não se ama e não se aceita. Um dos mais badalados filmes de 2023 finalmente chegou ao catálogo a Netflix nos trazendo a história de amor entre um brilhante, requisitado talento musical e uma atriz chilena. Cinebiografia do grande músico Leonard Bernstein, Maestro aborda a sexualidade do protagonista como tema central para a construção de uma relação modelada ao longo do tempo, com idas e vindas na incerteza, com uma pergunta que parece constante: Será que ela pode sobreviver ao seu lado com o que ele pode lhe dar?


O preto e branco e logo após a chegada das cores, transformam a narrativa em uma jornada de fortes emoções mesmo as peças se embaralhando de forma sonolenta, com um discurso redundante, e nos levando para um caminho muitas vezes sem brilho onde se sustenta na atuação simplesmente magistral da atriz britânica Carey Mulligan e uma fotografia sublime.


Na trama, conhecemos Leonard Bernstein (Bradley Cooper), um nova iorquino, nascido em 1918 que viria a ser um dos maiores talentos que o mundo da música já viu. Em meados da década de 40, conhece um dos grandes amores de sua vida, a atriz chilena Felicia Montealegre (Carey Mulligan) com quem tem um casamento tumultuado de quase 30 anos. Acostumados com aplausos, ela atriz, ele um renomado maestro, a desconstrução da poesia desse amor é duramente abalado pelas puladas de cercas de Leonard com outros homens.


É importante um pequeno contexto para a experiência ser mais completa, algo que o filme não introduz com muitos detalhes. Nova iorquino, formado em Harvard, viu o estrelato chegar logo aos vinte e poucos anos. Depois, já estabelecido como o primeiro grande maestro norte-americano com reconhecimento mundial, foi responsável pela música do famoso musical West Side Story e o filme protagonizado por Marlon Brando, Sindicato de Ladrões.


Produzido por Spielberg e Scorsese, Maestro busca seu pontapé inicial, que logo se torna um alicerce, as poesias de todo o início de um grande amor. A primeira parte do filme, toda em Preto e Branco nos leva aos primeiros passos da relação conturbada entre os protagonistas, com as verdades logo sendo ditas mas depois parecem esquecidas, fato que leva a um discurso redundante em um enorme mais do mesmo de cerca de duas horas.


Mas a fotografia merece um belo destaque para suas inúmeras interpretações. O preto e branco remetendo ao passado entrega um sentido também de paralisia das emoções, transformando a intensidade em algo constante, também marcante. As cores chegam e os problemas conjugais vão se afunilando em torno de um mesmo tema.


Dirigido, roteirizado e protagonizado por Bradley Cooper, o maior destaque do filme é a atuação simplesmente magistral da atriz britânica Carey Mulligan. O êxtase de todo o início, com uma vida profissional intensa, dedicada ao seu ofício, mira o protagonista de menção no título mas acerta nas profundas questões que caminha sua esposa. Entre suas criações, conhecidas sinfonias, balés, óperas. Esse compositor, maestro, pianista é resumido a um retrato pela sua insensibilidade e sua escolha em nunca se aceitar.



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20/12/2023

Crítica do filme: 'Leo'


As lições para toda uma vida. Uma das gratas surpresas nos lançamentos do segundo semestre de 2023 no sempre recheado catálogo da Netflix, a animação musical Leo, produzido por Adam Sandler por meio da sua produtora Happy Madison, navega pelas dificuldades do início de vida social, a necessidade de comunicação numa era digital avançada mas sem deixar de refletir sobre a troca de experiências onde todos podem ganhar. Isso tudo na visão de dois experientes animais fofoqueiros, um deles uma tuatara tagarela que vai precisar lidar com as aflições da garotada prestes a se formar no quinto ano e também das próprias.


Na trama, conhecemos dois repteis, uma tartaruga preguiça chamada Squirtle (Bill Burr) e uma Tuatara chamado Leo (Adam Sandler) que vivem faz anos em uma colégio na Flórida sendo passados de turma a turma, ano após ano. Nesse ano, eles ficaram com o quinto ano, um grupo de jovens cheios de dúvidas e ligados a todo vapor na tecnologia que alcançou o mundo. Quando Leo percebe que tem poucos anos de vida, seus problemas em lidar com isso se misturam com o da garotada com quem começa a se comunicar gerando um enorme aprendizado a todos.


A narrativa caminha em seu profundo refletir nas aflições e no carisma dos ótimos personagens, num trajeto de trocas de conselhos de um alguém que observa o mundo e suas transformações faz anos. A fantasia se une ao real, principalmente no sentido de quem queremos ser. Os valores, os princípios da moral são colocados de maneira divertida em situações que podemos ver na vida do lado de cá da tela. Os pais super protetores, a importância dos professores, da educação, o excessivo uso dos celulares, as dificuldades do início de vida social, são muitos os assuntos que são abordados de forma leve e de compreensão de cinéfilos e cinéfilas todas as idades.


A maior estreia de um filme de animação da Netflix, com mais de 60 milhões de horas já nas primeiras semanas é um projeto para toda família. Inteligente, divertido, que não chega nem perto de uma obviedade de outras produções trazendo elementos contemporâneos, sociais, para diálogos que fazem refletir sobre a vida. O roteiro escrito por Robert Smigel, Adam Sandler e Paul Sado acerta em cheio, trazendo um leque de aprendizados em harmonia com o entretenimento.



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17/12/2023

Crítica do filme: 'Antonia, uma Sinfonia'


Os obstáculos por um sonho. Baseado em fatos reais que circularam a Europa e os Estados Unidos na década de 20/30, pouco tempo depois da Primeira Guerra Mundial, o longa-metragem holandês Antonia, uma Sinfonia, escrito e dirigido por Maria Peters, nos leva ao mundo dos concertos para encontrarmos um recorte de uma época, aos olhos de uma batalhadora de seus sonhos que sofre na mão dos machistas e todo o abalo emocional com segredos de sua família. Tendo peças originais do compositor russo Sergej Prokofjev sendo tocadas, o projeto vai da agonia ao êxtase em um profundo contexto de uma época.


Na trama, conhecemos Antonia (Christanne de Bruijn), uma jovem com um talento evidente para a música clássica que possui um único grande sonho: ser uma regente de uma importante orquestra. Mas sua vida não é fácil, vinda com a família da Holanda para os Estados Unidos, onde mais tardar descobre ter sido adotada, sofre todo tipo de preconceito em terras americanas em busca do sonho de estudar e alcançar respeito no mundo do música.


Um eterno recomeçar parece ser algo que está no destino da protagonista, abandonando até um amor pelo sonho, encontrando conforto somente na amizade com pessoas que entendem sua paixão pela música, parece obstinada por fora mas um caco por dentro. Os obstáculos em seu caminho são inúmeros que vão desde os preconceitos até uma família disfuncional com segredos sobre seu passado. Tudo isso acaba aproximando a personagem do olhar atento do espectador.


A narrativa percorre um estruturado caminhar pelas emoções buscando similaridades entre o que vemos e o que ouvimos. Isso tudo está inserido em cada detalhe de uma impecável direção de arte além de uma paleta de cores marcante que navega com maestria no seu principal objetivo: as transmissões das sensações. As dores, as decepções, as surpresas, o amor, tudo é muito bem destacado por todo esse contexto da bela produção.


O machismo descarado e toda crítica em torno disso é um ponto que navega junto a cada linha do roteiro, chegando inclusive na parte dos créditos, onde, trazendo para a atualidade, menções a nomes femininos, de maestrinas, no mundo das orquestras sinfônicas, é algo raro, praticamente inexistente. 

 

Antonia, uma Sinfonia emociona e faz refletir. Precisamos conversar sobre outros tempos para entendermos que a atemporalidade existe e em alguns casos paralelos são vistos aos montes. Pra quem se interessar, o filme está disponível no catálogo da Netflix.



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16/12/2023

Crítica do filme: 'O Soldado que não Existiu'


Cinco anos após do seu último trabalho nos cinemas, o excelente Armas na Mesa, o cineasta britânico John Madden retorna para as telonas para contar a história, quase inacreditável, de uma situação envolvendo espionagem, um cadáver e uma blefada que marcou os rumos da Segunda Guerra Mundial. Baseado no livro Operação Mincemeat: A verdadeira história de espionagem que mudou o curso da Segunda Guerra Mundial escrito pelo historiador Ben Macintyre, O Soldado que não Existiu é um deleite para os amantes sobre histórias da maior das guerras.


Na trama, conhecemos o alta patente da inteligência naval britânica Ewen Mantagu (Colin Firth) que fica responsável juntamente com outro oficial, Charles Cholmondeley (Matthew Macfadyen), de colocarem em prática um plano mirabolante, com o aval de Churchill (Simon Russell Beale), que consiste em buscar enganar os nazistas através de uma mensagem falsa levada nas roupas de um cadáver que é achado numa praia da Espanha no epicentro dos conflitos da segunda guerra mundial, fato que enganou a atenção do exército alemão protegendo a invasão aliada na Sicília. A estratégia ficou conhecida como Operação Mincemeat.


O contexto histórico é importante para um entendimento total do recorte visto no filme. Ainda no meio da Segunda Guerra Mundial, mais precisamente em 1943, com a intensa batalha entre os dois conjuntos de forças militares, as forças aliadas precisavam de um bom cenário para invadir à Itália a partir do norte da África. Com Churchill dando o aval pelo lado britânico, e usando a contraespionagem, exatamente com o objetivo de anular ou pelo menos confundir a inteligência adversária, os ingleses criaram essa história inacreditável onde virou o foco dos nazistas para a Grécia deixando a Sicília. Parte do que é contado no filme, na operação já citada, fazia parte de um plano maior conhecido mais tarde como Operação Barclay.


Um dos méritos do roteiro é conseguir ampliar o recorte dentro de sua principal premissa, enchendo de dinamismo a peculiar história da operação Mincemeat. As subtramas vão de uma suspeita do irmão espião soviético, o contexto familiar turbulento sobre um casamento em crise de Mantagu atravessando uma disputa entre os dois oficiais de alta patente, protagonistas do filme, pelo amor de uma mulher, além da presença do escritor e ex-oficial britânico Ian Fleming, o autor futuro do mais conhecido espião do mundo das artes: James Bond, o 007.


Madden já havia circulado a Segunda Guerra Mundial no seu longa-metragem de duas décadas atrás O Capitão Corelli, protagonizado por Nicolas Cage e Penélope Cruz. Essa mesma história, que acontece em O Soldado que não Existiu, já foi contada no cinema uma única vez, em meados da década de 50, O Homem Que Nunca Existiu (1956) dirigido por Ronald Neame, mas esse filme não é um remake, nem serviu de inspiração. Como já mencionado, a obra Operação Mincemeat: A verdadeira história de espionagem que mudou o curso da Segunda Guerra Mundial foi a base do roteiro.


O Soldado que não Existiu, ainda tem um elenco maravilhoso que inclusive conta com os dois intérpretes do famoso personagem de Jane Austen nas adaptações audiovisuais da obra Orgulho e Preconceito, Colin Firth e Matthew Macfadyen, o primeiro na versão da década de 90 e o segundo na de 2005.


Pra quem se interessar, O Soldado que não Existiu está disponível no catálogo da Netflix.



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02/12/2023

Crítica do filme: 'Infidelidade'


O tesão e o arrependimento. Dirigido pelo experiente cineasta britânico Adrian Lyne, um diretor que ao longo de sua trajetória na carreira buscou em seus projetos trazer olhares sobre escolhas, desejos e a intimidade do que acontece entre quatro paredes, Infidelidade segue também nessa linha onde a bolha da traição se torna um consequente desespero. O longa-metragem lançado mais de duas décadas atrás é baseado em outro filme, do final dos anos 60, o francês La femme infidèle, de Claude Chabrol.


Na trama, acompanhamos Connie (Diane Lane), uma bela mulher que vive com seu filho e seu marido Ed (Richard Gere) em uma confortável casa situada no subúrbio de Nova Iorque. Certo dia, após ser surpreendida por uma rajada de ventos, o destino coloca em sua frente o sedutor francês Paul (Olivier Martinez), com quem vive intensos dias se tornando amante dele. O marido de Connie, logo começa a desconfiar e contrata um detetive para investigá-la e situações complexas se tornam iminentes.


A direção de Lyne é detalhista, busca trazer para as suas imagens e movimentos todo o sentimento conflituoso que existe na linha tênue entre a razão e o desejo que se consolida a protagonista. Um clima de tensão muito bem produzido logo chega no avançar da trama, tendo a inconsequência como uma luz que nunca se apaga durante toda a trajetória dos personagens. Diane Lane e Richard Gere, que já haviam trabalhado juntos em Cotton Club de Francis Ford Coppola, dão um show em muitas cenas. A primeira inclusive sendo indicada ao Oscar por sua atuação em Infidelidade.


Sucesso em bilheteria, estreando em mais de 2.000 salas norte-americanas em maio de 2002, Infidelidade apoia sua narrativa nos misteriosos pensares ligados ao desejo, como se uma porta fosse aberta para o público poder refletir sobre as escolhas e conflitos que se sucedem escancarando a intimidade. Esse por si só é um assunto que aciona a curiosidade, talvez por isso tenha conseguido gerar no público um interessante por esse remake.


Algumas curiosidades cercaram a produção. Uma delas é que Diane Lane assistiu ao filme Aimée e Jaguar (1999) como forma de preparação para algumas das cenas de intensidade amorosa, a pedido de Adrian Lyne. Outra é que o papel de Paul foi oferecido para Brad Pitt mas a produção resolveu escolher um ator francês (talvez por conta de ser um remake de Chabrol?).


Quando pensamos em filmes sobre infidelidade esse longa-metragem logo é citado, um projeto que consegue nos guiar através dos recortes sempre muito conturbados do abstrato ligado ao desejo, algo sempre complicado de refletir em cinema mas que aqui beira ao brilhantismo. Para quem se interessar em assistir, o filme está disponível no catálogo da Netflix.



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11/11/2023

Crítica do filme: 'O Assassino'


As fraquezas e as certezas. Bem distante de qualquer conflito de valores morais, caminhando numa reta sem volta longe de algum sentido sobre vida, O Assassino tem um protagonista intrigante que numa espécie de monólogo onde somos testemunhas de uma série de expressões de pensamentos, caminhamos num recorte da sua vida dominado pela sua psicopatia, o niilismo e flertando com o descontrole. Com roteiro assinado por Andrew Kevin Walker (roteirista de Seven – Os Sete Crimes Capitais), baseado em uma história em quadrinhos francesa homônima, escrita por Alexis Nolent e com ilustrações de Luc Jacamon, o filme tem a direção de um exímio contador de histórias: David Fincher.


Na trama, conhecemos um assassino impiedoso (Michael Fassbender), uma personalidade intrigante, fria, metódica. Na sua profissão não pode haver erros, quando erra-se o alvo as consequências são inevitáveis. Envolvido em conflitos quando se vê numa situação nova, um não cumprimento de um objetivo, da França à Nova Iorque, passando por outros lugares, esse curioso protagonista busca ter novamente o controle no choque com o descontrole.


O observar de um homem de poucas palavras. Com o alicerce do roteiro voltado à uma busca em detalhar o comportamento e os conflitos de um homem que encara a vida com total indiferença, dentro de uma forte corrente niilista, Fincher constrói uma narrativa envolvente, com um ritmo cadenciado, que escancara minuciosamente a personalidade de um assassino em ativa, um nômade dentro de sua própria bolha, num presente de luta contra a falta de sentido que tem sobre a vida.


Esse duelo interno de um protagonista que parece estar em um monólogo constante em questionamentos sobre suas interpretações da realidade não é algo fácil de ser filmado, contado, mostrado. A construção narrativa de Fincher acerta no seu rumo, no discurso, no ritmo, preenchendo com elementos construtivos cheios de sentido e significado (fruto de uma primorosa direção e arte) sem se perder do excelente roteiro.


Com músicas da famosa banda de rock inglesa The Smiths em sua trilha sonora, O Assassino estreou no Festival Internacional de Cinema de Veneza 2023, e marca o segundo filme em sequência de David Fincher em parceria com a Netflix. O longa-metragem já está disponível no catálogo da Netflix.



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08/11/2023

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Crítica do filme: 'De Tirar o Fôlego'


O equilíbrio entre a mente e o corpo nos preenchimentos de lacunas ligadas aos limites. Um dos mais impactantes documentários lançados no universo dos streamings em 2023, De Tirar o Fôlego, indicado à cinco prêmios desde seu lançamento, nos mostra o forte elo de dois destinos que se cruzam através dos riscos de um dos esportes mais perigosos do mundo, o mergulho livre. Escrito e dirigido pela cineasta irlandesa Laura McGann, esse projeto tem a maestria de uma narrativa que consegue manter o interesse do espectador do início ao fim onde reviravoltas são vistas aos montes nos levando para enormes caminhos de tensão, angústia e reflexões sobre a vida.


O epicentro da trama gira em torno de duas correntes paralelas, duas almas com destinos escritos para se cruzarem, um renomado instrutor de mergulho irlandês chamado Stephen Keenan e uma atleta fenômeno dos esportes aquáticos, a italiana Alessia Zecchini. Do primeiro, acompanhamos sua trajetória ao redor do mundo, sua necessidade de ir atrás dos seus sonhos sem saber ao certo onde será seu porto seguro. Da segunda, acompanhamos uma atleta de destaque desde muito jovem que trocou as piscinas pelos mares em busca de cada vez mais chegar às profundezas, lutando constantemente contra uma imaturidade e ansiedade em quebras de recordes inéditos que a leva algumas vezes para caminhos de incertezas. Essas duas almas vão se encontrar, se conectar e passarão por uma enorme tragédia num conhecido lugar de mergulho chamado Blue Hole em Dahab, no Egito.


Essa é uma história pública, mas de conhecimento apenas de quem é ligado a esse peculiar esporte. Então, basicamente, tudo que vemos trazem enormes surpresas. A maneira como é contada essa história (narrativa) transforma esse projeto em um filme com altas cargas dramáticas que deixam as respostas chegarem aos poucos, onde as peças do quebra-cabeça vão sendo montadas aos poucos após a linda apresentação dos dois personagens.


Temos aqui uma pegada Nietzschiana, em cima do conhecido espírito livre, algo que encosta na trajetória de vida dos dois personagens, e principalmente no entendimento deles em relação às responsabilidades das próprias ações. Os depoimentos de amigos e dos que os conhecem, preenchem curiosidades, moldam suas essências, trazendo para a tela um enorme raio-x.


Estão cada vez mais fascinantes os documentários que conseguem traduzir na tela os conflitos emocionais de personagens reais e suas interações entre a natureza e o alcançar objetivos que levam ao limite a mente e o corpo. Foi assim com o Professor Polvo (Netflix) e Free Solo (Disney Plus) e alguns outros. De Tirar o Fôlego segue essa linha, um poderoso extrato do abstrato dos emoções, um filme marcante, emocionante, que vamos levar nas nossas memórias durante muito tempo.



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04/11/2023

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Crítica do filme: 'Nyad'


É preciso saber lidar com o fracasso para se chegar ao objetivo. Contando uma incrível história real de uma experiente especialista em maratona aquática já na casa dos 60 anos que vai atrás do seu último grande objetivo no esporte que abraçou. Nyad, dirigido pela dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi, diretores também do incrível documentário Free Solo (vejam, tem na Disney Plus), aborda também os traumas do passado da atleta, muitos desses ligados aos abusos que sofreu de um ex-treinador quando ainda era uma iniciante na natação. Não acreditando em qualquer limitação, principalmente as impostas, Diana luta contra as variáveis  tempo, o desgaste emocional, exaustão, tubarões, arraias mostrando que o possível está dentro de nós.


Na trama, conhecemos Diana Nyad (Annette Bening) uma esportista conhecida por toda a américa que algumas décadas atrás tentou uma façanha até então que outros também não conseguiram. O tempo passou, afastada das piscinas por muito tempo, virou comentarista de uma emissora de televisão. Certo dia, volta a buscar realizar o objetivo mencionado de décadas atrás, percorrer nadando mais de 160 quilômetros, entre Cuba e a Flórida, uma travessia repleta de perigos bem mais impossível do que possível. Ao lado da inseparável amiga e técnica Bonnie (Jodie Foster) e de uma equipe super gabaritada, Diana precisará treinar o corpo e combater os conflitos emocionais provocados por traumas do passado em busca desse incrível objetivo.


Não é fácil pegar uma história conhecida, com uma protagonista que é uma personalidade do esporte norte-americano e transformar em cinema.  Mais de 160 quilômetros, entre Cuba e a Flórida, uma natação em mar aberto, repleto de perigos. O roteiro é cirúrgico ao contornar para sua narrativa a seguinte questão: O que leva alguém a esse feito? Buscando responder essa resposta através dos conflitos emocionais, ligados à traumas que a seguem durante toda uma vida, também sem deixar de mostrar a personalidade forte da protagonista muitas vezes egoísta, beirando a arrogância em muitos momentos, o longa-metragem que estreou na Netflix Brasil nesse início de novembro caminha para a desconstrução de um ícone do esportes aquáticos, uma mulher que pelo seu objetivo inspirou outros tantos.


Extremamente bem filmado, parece que estamos ali ao lado da nadadora o tempo todo sem nunca ser maçante, fruto de um brilhantismo dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhely em seu primeiro projeto de ficção mas com uma experiência gigantesca em mostrar outros lados de intensos desafios, como no já mencionado Free Solo e em outros trabalhos com o selo National Geographic. Vale o destaque também para todo o elenco, em especial a maravilhosa Annette Bening que brilha intensamente num papel bem difícil.



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03/11/2023

Crítica do filme: 'Paralisia'


Recém chegado ao catálogo da Netflix Brasil, o suspense britânico Paralisia aborda a perda, a inveja, a amargura, o isolamento, a loucura sob o ponto de vista de duas personagens femininas que se misturam em um cenário de uma possível tentativa de assassinato com muitas variáveis confusas, emboladas por uma narrativa que se atropela para gerar um suspense que caminha a largos passos pela obviedade. Dirigido pela cineasta libanesa Nour Wazzi, com roteiro assinado pelo britânico Rowan Joffe, Paralisia parece aquele quebra-cabeça que já montamos outras vezes.


Na trama, conhecemos Nicky (Anna Friel) uma enfermeira neuroclínica que tenta se comunicar, no tempo presente, com sua mais recente paciente, a ex-atriz e viúva de um milionário Katherine (Famke Janssen). Logo chega na história Lina (Rose Williams), uma jovem que após a morte da mãe, ainda quando era criança, foi criada por Katherine, que virou imediatamente sua guardiã legal, a levando para morar com ela numa mansão afastada dos grandes centros onde também mora o filho do marido falecido de Katherine, Jamie (Finn Cole). Com algumas passagens de tempo, onde verdades vão sendo reveladas, percebemos que a relação de todos os frequentadores e moradores da mansão vão se deteriorando ao longo do tempo, algo observado pelo médico da família, o doutor Robert (Alex Hassell). Mas o que será que aconteceu com Katherine? Alguém tentou matá-la? Quem?


Caminhando pelas relações se destruindo com o tempo para explicar as prováveis causas de uma tentativa de assassinato, o conflito emocional dos personagens é mostrado de forma atabalhoada, sem profundidade, mesmo com uma interessante paleta de cores marcante que vai buscando uma comunicação com o espectador. Um exemplo disso é a expressão da solidão e o tom cinza que se encaixam no epicentro dos conflitos, as idas e vindas para a mansão, um lugar triste, sem vida, à beira de descontroles.


As viradas na trama, com a desconstrução de uma de suas protagonistas, nos leva para um vai e vém de situações que não dizem muita coisa sobre os personagens. É como se aos poucos fossemos perdemos as referências para tentar entender alguns necessários porquês. Buscando encontrar um equilíbrio entre o drama e o suspense a narrativa se perde completamente encontrando apenas um destino: a previsibilidade até o último suspiro!



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20/10/2023

Crítica do filme: 'Camaleões'


Depois de dirigir uma série de clipes musicais de renomados artistas, o cineasta norte-americano Grant Singer assume a batuta de um intrigante suspense, com algumas reviravoltas pontuais, que mostram mais uma vez todo o talento de um dos grandes atores da atualidade, o porto-riquenho Benício Del Toro (que aqui também se arrisca pela primeira vez como roteirista). Camaleões, um dos grandes lançamentos da Netflix nesse segundo semestre, nos guia através de um introspectivo protagonista que precisa resolver um misterioso caso de assassinato ao mesmo tempo que percebe que os que andam ao seu redor podem estar do outro lado da lei. Um suspense de tirar o fôlego com uma reta final pulsante.


Na trama, conhecemos o detetive Tom Nichols (Benicio Del Toro), um brilhante agente da lei, casado com Judy (Alicia Silverstone), que é designado para um crime ocorrido em uma casa de luxo. Com inúmeros suspeitos ao seu redor, inclusive o namorado da vítima, o agente imobiliário Will (Justin Timberlake), Tom começa aos poucos a perceber que o assassinato em questão abre brechas para novas variáveis, fatores que o fazem começar a repensar sua relação com os amigos e a comunidade, situada em Boston, onde se sentia feliz após traumas no passado.


O roteiro busca sua base através de seu impactante e muito bem construído protagonista. Dono de poucas palavras e exímio observador, a construção de Tom é repleta de camadas, muitas delas ligadas a uma questão emocional não bem explicada mas que de alguma forma o levaram até aquele lugar, uma cidade onde parece viver a pacata vida feliz também em um relacionamento bastante amoroso com a esposa. Quando a investigação do assassinato que é designado o leva a uma série de descobertas é como se um castelo de cartas se evaporasse na sua frente. Corrupção, mentiras, ganância se jogam na tela, virando um gatilho para um lado seu adormecido que o coloca em uma linha tênue entre amizade e a justiça.


Ao longo de pouco mais de duas horas de projeção, a narrativa é composta por esse minucioso olhar, se joga no guiar da primeira pessoa, mas sem se esquecer de nos levar para paralelos que abrem brechas para reviravoltas nada óbvias entrando assim no abstrato recorte emocional. Será que a vida que ele leva é realmente feliz? Da corrupção ao ciúmes vamos vendo um outro lado de um personagem, com marcas, que precisa chegar ao final dessa estrada com escolhas a fazer. A todo instante nos perguntamos como o personagem vai reagir quando descobre as verdades dolorosas que encontra pelo caminho.


Camaleões é um projeto que esconde suas verdades e seu real ponto de reflexão. As surpresas são as cerejas do bolo desse excelente suspense com algumas reviravoltas imprevisíveis.



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22/09/2023

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Crítica do filme: 'Gladiador' * Revisão*


Um pouco mais de duas décadas atrás chegava aos cinemas pelas mãos do sempre competente Ridley Scott um filme que marcaria gerações de amantes da sétima arte nos trazendo o contexto de sangue e dor de um general romano que traça uma jornada cheia de obstáculos motivado por um espírito de vingança em meio ao caos da ambição na figura de um rei assassino e não declarado. Com uma visão bastante próxima de uma Roma Antiga, todo o circo do entretenimento da época associada à uma luta de vida e morte numa enorme arena, as intrigas políticas, alguns personagens que realmente existiram mas com novas interpretações, Gladiador venceu cinco Oscars e até hoje é lembrado como um dos mais grandiosos e elogiados blockbusters.


Na trama, ambientada em 180 D.C, conhecemos o respeitado general Maximus Decimus Meridius (Russell Crowe) um homem que lidera milhares de soldados em linhas de frente de batalhas e só possui um objetivo: voltar para casa e reencontrar a família. Só que após vencer uma importante batalha, já no final de uma grande guerra, o imperador Marco Aurélio (Richard Harris) lhe motiva a ser um dos próximos líderes romanos, fato que deixa o filho do imperador, Cômodo (Joaquin Phoenix), com enorme ciúmes. Num ato premeditado e cruel, Cômodo mata seu pai assumindo assim o poder máximo desse grande império. Em um de seus primeiros atos como grande chefão romano é ordenar a morte de Maximus e toda sua família. Só que o herói dessa história consegue fugir e começa aos poucos a planejar uma enorme vingança tendo pelo caminho que se tornar um gladiador.


Rodado todo em ordem cronológica aos acontecimentos que assistimos, a mega produção coloca sua construção narrativa nos passos de um protagonista que se desconstrói em relação a tudo que acredita sobre lealdade atingindo um caminho sem volta para uma vingança épica. As subtramas nos mostram o caos político e a luta pelo poder em uma Roma enfraquecida com a perda de seu respeitado imperador Marco Aurélio. O olhar para o antagonista se resume as práticas cruéis de um recém imperador mimado, que sonha em alcançar o respeito de seu povo mas que nunca o terá.


Traições, amores proibidos, e um grande senso de justiça são elementos que contornam o vai e vém dos personagens. Mas há um elemento que se torna importante, um espaço criado para uma série de épicas lutas. Todo o circo caótico e desumano do mais famoso entretenimento desse recorte temporal romano, criado através de sangue e luta pela própria vida de pessoas intituladas gladiadores, ganham destaque e acabam nos guiando para todo o epicentro da trama.  


Vencedor de cinco Oscars (incluindo Melhor Filme) esse inesquecível longa-metragem de mais de duas horas de projeção, com cenas grandiosas de batalhas, algumas que demoraram dezenas dias para serem filmadas, e uma trilha sonora assinada pelo craque Hans Zimmer, está disponível na Netflix, Star Plus e Telecine.

 


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10/09/2023

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Pausa para uma série: 'Corpo em Chamas'


Não é preciso entender um crime para prová-lo. Buscando detalhar os acontecimentos de um assassinato chocante que aconteceu na vida real, em Barcelona no ano de 2017, a minissérie espanhola de oito episódios protagonizada pela excelente atriz Úrsula Corberó (a Tokyo de La Casa de Papel), Corpo em Chamas nos guia por meio de idas e vindas na linha temporal de sua narrativa para nos contar uma história de um macabro pacto de amor e dependência. Um triângulo amoroso vira um quadrado, tendo como referência uma única personagem, uma mente manipuladora que destroça a esperança e interrompe vidas.


Na trama, acompanhamos os desenrolares de uma profunda investigação quando o corpo do policial Pedro (José Manuel Poga) é encontrado carbonizado dentro de um carro abandonado numa região isolada da Catalunha. Assim, no epicentro da história chegamos até Rosa (Úrsula Corberó) uma mulher que consegue entrar para a equipe de policiais da Catalunha e lá conhece três policiais, em diferentes momentos, com quem se relaciona ao longo de alguns anos, um deles, Pedro, com quem estava casada na época do crime. Entre traições, desejos e paixões com alto grau de dependência, conforme a investigação se aproxima da verdade, vamos sendo apresentados aos absurdos cometidos por uma mente perturbada, manipuladora e egoísta.


Um carro sendo incendiado por um alguém que não mostra o rosto ao som de ‘Love me Tender’ é o pontapé inicial desse projeto que busca no seus impactantes episódios traçar uma ampla análise dos principais envolvidos no conhecido caso policial ‘O crime da Guarda Urbana’, situação aqui detalhada, um assassinato que chocou a Espanha seis anos atrás. Num primeiro momento vamos sendo apresentados ao perfil de alguns personagens na visão de amigos e parentes próximos com um foco central em Rosa, uma mulher indecifrável, extremamente manipuladora. Por ela é que passam todos os epicentros dessa macabra história.


Há um importante destaque para a construção dos abalos psicológicos provocados ao longo de constantes flashbacks que de um forma inteligente ajudam a construir a narrativa. Não há episódios mornos por aqui, de forma complementar, cada página dessa história ajuda o espectador a entender todo o ocorrido nos guiando para um desfecho tenso e até certo ponto imprevisível. Ainda há espaço, já nos capítulos finais, para a ação mais profunda da investigação e um julgamento repleto de estratégias.


Entre jogos de manipulações, tensos interrogatórios, revelações que surpreendem, Corpo em Chamas chega no seu objetivo que é o de fazer refletir a partir de uma situação que se tornou midiática traçando uma ampla análise sobre possíveis motivos de um assassinato elaborado por mentes perturbadas.  Todos os episódios estão disponíveis na Netflix.



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09/09/2023

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Pausa para uma série: 'Depois da Cabana'


Um forte recorte sobre o abuso psicológico e suas consequências. Chegou diretamente da Alemanha uma minissérie dividida em seis capítulos que joga seu olhar para o estresse pós-traumático na visão de algumas pessoas, principalmente uma jovem que tem seu destino completamente alterado quando fica meses em um cativeiro tendo que viver na pele de outra pessoa. O roteiro tem um desenvolvimento bastante embaralhado, onde as peças vão sendo apresentadas e logo montadas, assim surgindo novas possibilidades, deixando o público atento a cada nova pista que os episódios fornecem. Depois da Cabana é baseado no livro de quase 400 páginas chamado Dear Child, lançado em 2019 pela escritora Romy Hausmann.


Na trama, conhecemos uma mulher na casa dos 30 anos (Kim Riedle) que consegue fugir de um cativeiro, situado numa cabana numa floresta pouco frequentada, onde viveu durante um bom tempo ao lado de duas crianças como se fosse a mãe delas convivendo com regras rígidas impostas por uma pessoa que se identifica como o pai das crianças. Uma dessas crianças, inclusive, foge com ela. A polícia fica logo sabendo da situação e começa uma investigação que acaba se tornando um complemento a uma outra investigação sobre uma mulher que está 13 anos desaparecida. Assim, aos poucos os mistérios vão caindo e vamos rumando para as verdades.


As diversas óticas para todos os acontecimentos que se sucedem no presente dão dinamismo à narrativa. Temos a visão de um casal que sofre faz mais de uma década com o desaparecimento da única filha e observa de duas maneiras distintas o que acontece no presente deles. Dois policiais que nunca se viram precisam reunir peças juntos para entender todo o plano macabro que culminou em mortes, lavagem cerebral e desaparecimentos.  A visão das vítimas do sequestro ganham caminhos diferentes, uma da criança que vive sobre o conceito de regras rígidas impostas pela autoridade que ela conhece como pai e uma outra da última sequestrada que não consegue encontrar o equilíbrio após o trauma que sofreu.


Ao longo das mais de quatro horas de material que esse projeto alemão nos apresenta vamos caminhando pelas estradas tumultuadas de um distúrbio que envolve gatilhos dolorosos, o estresse pós-traumático. O ponto de interseção entre os personagens é exatamente o trauma e também os abalos que vieram de uma mesma situação. Não espere altas reviravoltas nem se surpreender sobre quem é a mente por trás dos crimes cometidos, isso é apenas uma detalhe na reflexão proposta, a psiquê humana é o grande campo de análise dessa minissérie. A cada novo episódio novas peças se encontram formando uma enorme teia de situações que levam as verdades sobre tudo o que aconteceu e também as marcas perceptíveis e não perceptíveis de um eterno pesadelo. Depois da Cabana está disponível na Netflix.



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06/09/2023

Crítica do filme: 'Um Clímax entre Nós'


A importância do diálogo num envolvimento amoroso. Escrito e dirigido pela cineasta de apenas 28 anos Joosje Duk, em seu primeiro longa-metragem na carreira, Um Clímax entre Nós é uma fita holandesa que de forma leve e divertida aborda um assunto que ainda é tabu para algumas pessoas: o sexo. Tenda a consciência como um peculiar narrador, vamos acompanhando os conflitos que se sucedem na vida de uma jovem insatisfeita na sua relação sexual com o namorado, sem conseguir chegar ao orgasmo, que tem a ideia de dar uma apimentada no relacionamento.


Na trama, conhecemos Luna (Gaite Jansen) uma estrategista de comunicação que vive dias intensos em seu presente com a afirmação de seu relacionamento com Mink (Martijn Lakemeier), um estudante que trabalha em um bar e ainda não se afirmar no que deseja fazer com sua vida. O relacionamento entre os dois pombinhos é muito carinhoso, com ótimos momentos mas existe uma situação que incomoda a protagonista, durante as vezes que faz sexo com o namorado não consegue chegar ao orgasmo, nunca encontrando seu ponto g. Para tentar mudar a situação e longe de ir para o diálogo (que deveria ser a alternativa mais certeira), resolve propor para Mink uma noite de aventura num Ménage à trois. Em busca da ponta do triângulo que falta, eles conhecem Eve (Joy Delima). Após uma noite cheia de prazeres, Luna começa a questionar de forma mais profunda seu relacionamento.


Longe de ser tão profundo como poderia, Um Clímax entre Nós tem o mérito de tratar com muita maturidade um tema importante num relacionamento. Os desejos sexuais, ménage à trois, a busca do ponto g, são alguns dos caminhos que passam os conflitos da protagonista. Há uma tentativa de análise bastante interessante dos obstáculos de um relacionamento na visão de dois jovens na casa dos 20 e poucos anos, onde as decisões que se tomam nessa fase da vida podem se tornar a longo prazo. A falta de diálogo, associada a uma zona de conforto invisível, além de uma fuga do confronto, são alguns elementos chaves para uma reflexão mais ampla em tudo que acontece por aqui, essas questões se aproximam demais com a realidade de muitos casais do lado de cá da telona.


Com uma narrativa eficiente, com personagens carismáticos, onde nem vemos passar o tempo, Um Clímax entre Nós está disponível no catálogo da Netflix. Vale a pena dar uma conferida!



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05/09/2023

Crítica do filme: 'Um Dia e Meio'


Quando o desespero abre a porta. Escrito, dirigido e protagonizado pelo artista libanês Fares Fares, o longa-metragem sueco Um Dia e Meio joga nosso refletir para uma situação tensa, com uma refém envolvida, onde partimos para uma profunda história de crise familiar que também expõe a xenofobia, o preconceito ao imigrante, a eterna crise existencial. Pela ótica de um policial que se joga na frente dessa situação, vamos acompanhando os momentos tensos e ações imprevisíveis de um homem descontrolado em busca de um objetivo impossível. Ao longo dos intensos 94 minutos de projeção vamos entendendo alguns porquês dessa história.


Na trama, conhecemos o desesperado e emocionalmente abalado Artan (Alexej Manvelov), um homem recém divorciado que está num momento de total desequilíbrio após o rompimento com a esposa Louise (Alma Pöysti). Um dia, invade o centro médico onde ela trabalha a fazendo de refém. Para tentar contornar a situação, um inspetor da polícia chamado Lukas (Fares Fares) vai acompanhar os dois nessa jornada pelo interior da Suécia sempre com a polícia próxima deles.


Será preciso chegar ao limite para se ouvir ou até mesmo ser ouvido? Os momentos de tensão logo viram uma grande terapia em grupo, já que os três personagens passaram por momentos de instabilidade emocional recentemente. Através de conversas e principalmente debates sobre família e relacionamentos, a situação vai caminhando em curtos passos para uma imprevisibilidade controlada. De forma linear, a narrativa aposta na tensão como elemento que percorre tudo que assistimos. E realmente o filme prende a atenção!


Esse projeto parece um trem que estaciona em várias estações e o espectador embarca na qual consegue se conectar sem perder o contexto das outras estações. Tem reflexões sobre vários assuntos. A hostilidade de um primeiro momento acaba se transformando em lições a todos os envolvidos. Esse interessante drama se transforma ao longo de seu percurso. Quando todos ali percebem que são iguais, que erram, que é justo punições e precisam lutar contra um mundo em alguns momentos hostil, a crise existencial se torna evidente como se fosse um personagem que se junta à trama.


Quer saber o final dessa história? Não deixe de assistir Um Dia e Meio, disponível na Netflix.



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