06/02/2025

Crítica do filme: 'Os Dois Hemisférios de Lucca'


Pelos cantinhos da delicadeza nascem inspiradoras lições. Histórias de luta e superação encontramos aos montes pelos catálogos dos streamings mas nesse início de fevereiro chegou até o acervo do mais poderoso streaming um projeto lindo e contagiante, com uma trama bem amarrada, que mostra de forma emocionante as dores e luta de uma família mexicana em busca de um melhor tratamento para o filho com uma condição complicada. Prepara o lenço pois esse filme emociona até os corações mais gelados!

Baseado no livro Los dos hemisferios de Lucca escrito por Bárbara Anderson e dirigido pela cineasta Mariana Chenillo – que já havia realizado um belíssimo trabalho no filme Paraíso (2013), exibido no Festival do Rio – Os Dois Hemisférios de Lucca é um olhar para uma jornada que consegue completar todas as lacunas com a emoção, movida também pelo real sentimento do que é uma família unida.

Desde o nascimento do filho Lucca, o casal Bárbara (Bárbara Mori) e Andrés (Juan Pablo Medina) enfrentam as probabilidades contra uma condição complicada provocada pela paralisia cerebral que atinge a criança. Quase sem esperanças de melhorias para o quadro do primeiro filho, com a epilepsia debilitando cada vez mais o estado de saúde, uma chance aparece do outro lado do planeta, na Índia, um tratamento inovador que pode mudar a vida deles para sempre. Lutando contra todo tipo de adversidade eles embarcam para o que pode ser o início de um passo importante.  

Dentro desse contexto – que se torna amplo com a questão cultural que chega – percebemos as interpretações da fé também através do velho conflito com a ciência. A jornada cultural que passam os personagens acaba sendo um elo importante para o desenvolvimento de um elemento que chega com força, a culpa. Com o foco na mãe – interpretada de forma brilhante pela atriz mexicana/uruguaia Bárbara Mori – somos testemunhas do abrir e fechar da esperança.

O roteiro segue a cronologia de fatos que vão desde os primeiros passos na nova vida que o destino reservou para o casal, passando pela esperança em forma de uma descoberta que a ciência traz, até as burocracias e ganâncias que encontram pelo caminho. A narrativa lapida todos os cantos da emoção mostrando o amor através da rotina sem esquecer das verdades que a vida coloca como obstáculos. Esse pulsar dos sentimentos mas tendo os pés no chão – uma vertente da realidade – transformam essa obra em uma das mais bonitas lançadas nesse ano pelos streamings.


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Crítica do filme: 'Meio Grávida'


Um passatempo sem graça. Buscando o riso fácil através do nonsense a nova comédia da Netflix Meio Grávida é uma escrachada história que ruma a todo instante para o previsível. Tendo a maternidade como elemento central de um roteiro ingênuo e nada criativo, o projeto é um show de diálogos desinteressantes que buscam traduzir em forma cômica os dilemas de um momento importante na vida de todos que sonham em ter filhos.

A vida de Lainy (Amy Schumer), uma professora do ensino fundamental, parece estar em um total desequilíbrio. Seu sonho em ser mãe nunca se realizou e sua melhor amiga Kate (Jillian Bell) acaba de ficar grávida. Sem saber como lidar com a situação resolve fingir que está grávida e assim, se jogando na mentira descarada, acaba conhecendo novos amigos e acaba se apaixonando Josh (Will Forte). A questão é que uma hora a verdade sempre aparece.

Produzido por Adam Sandler, Meio Grávida basicamente contorna os estereótipos através de um mulher na casa dos 40 anos que sempre teve um sonho que nunca se concretizou. Dentro desse discurso, o roteiro assinado por Julie Paiva e Amy Schumer se constrói em torno do constrangimento de situações mirabolantes buscando – de alguma forma - referências na vida real.

Os momentos tensos da gravidez, os desabafos com as amigas, as inseguranças e dores, a chegada de um novo amor, ganham contornos tragicômicos, se amontoam, traçando o lado psicológico de uma protagonista em crise existencial. Se forçarmos um olhar para um todo, é possível algumas mensagens chegarem para boas reflexões. A questão é o exagero que vai aos poucos minando nossa paciência.   

A linha tênue do humor inteligente que gera bons debates com as baboseiras de um texto ingênuo é completamente rompida deixando o projeto se consolidar como um passatempo sem graça.   

 

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05/02/2025

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Crítica do filme: 'Milton Bituca Nascimento' [Mostra de Cinema de Tiradentes 2025]


Indo de encontro ao impossível, o decifrar, explorando todas as facetas, de um ícone da música brasileira o documentário Milton Bituca Nascimento teve sua primeira exibição na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Batendo forte na tecla de que os começos é que são eternos, com a fragilidade e a fortaleza se encontrando numa trajetória, o músico nascido na tijuca - mas que logo virou mineiro de coração – tem aqui os olhares dos outros para contar sua própria história.

Diferente de outras obras documentais, onde a lógica era tentar que o próprio centro das atenções contasse sua história, o documentário dirigido por Flavia Moraes aposta em menos canções com Milton à frente, investigando respostas de lacunas nunca preenchidas através de quem o admira, que logo se torna um desvendar cheio de caminhos de um dos mais enigmáticos artistas que nosso país já conheceu.

O tempo, a imortalidade, ganham atmosfera poética e até filosófica que inclui uma narração constante feita pela grande Fernanda Montenegro. O processo criativo através de depoimentos de outros expoentes da arte ganha força na tela explorando todas as facetas de um exímio conector de talentos, conhecido pelas melodias diatônicas. A contagem regressiva dos palcos parece ditar o tom das quase duas horas de projeção sempre com um discurso que atravessa a complexidade em busca de respostas sobre o que é e o que representa.

O projeto é bem corajoso, poderia ter seguido muitos caminhos mas resolve arriscar-se jogando-se num desmistificar pensamentos e conclusões do que é um artista completo que são preenchidos por entrevistas, imagens da turnê de despedida, tendo a trajetória de Bituca como referência. Milton Bituca Nascimento joga luz e passa pela história do Brasil além de questões sociais que vemos em constante debate até os dias hoje. Durante a turnê de despedida, um dos epicentros que compõe a narrativa, a emoção é vista em cada olhar, em cada sentimento. 


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Crítica do filme: 'Os Sapos'


Trazendo um recorte maduro sobre dependências, relações e o machismo, além do engolir sapos no sentido de situações desagradáveis, o longa-metragem brasileiro Os Sapos, adaptação da peça homônima escrita pela carioca Renata Mizrahi mescla a tragédia do comportamento humano e da moral, com a comédia. Com um roteiro inteligente, cirúrgico, e uma ótima direção brilham em cena Thalita Carauta e o restante do elenco.

Ao longo de um dia vamos conhecendo um pouco da chegada de Paula (Thalita Carauta) a uma casa isolada no interior que pertence ao amigo de infância Marcelo (Pierre Santos). Chegando nesse lugar, se depara com as histórias de dois casais, além de sentir na pele o assédio e o machismo descarado conforme o tempo passa.

Em apenas um cenário, um lugar distante de conexão com a natureza, uma enriquecedora série de situações são provocadas a partir da visão da protagonista em relação a tudo que presencia dos casais que aparecem. Paralelos com a realidade podem ser sentidos para muitas pessoas que acompanharem esse filme. O machismo, o depender, os lapsos do sentir a liberdade se amontoam em uma mostra da sociedade.   

Pelas entrelinhas - ou de forma descarada - o projeto apresenta contextos que soltam reflexões para todos os lados. O clima bucólico e intimista logo se torna uma bomba relógio passando pelos relacionamentos tóxicos que também encosta nas dependências no campo emocional. É impressionante o que se consegue trazer para debate com apenas 77 minutos de projeção.


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31/01/2025

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Crítica do filme: 'A Vida Secreta de meus Três Homens' [Mostra de Cinema de Tiradentes 2025]


O lembrar, o esquecer, o entender. Em uma interessante abordagem que reúne o concreto de reflexões com a transmissão de lições de moral através das histórias de três personagens que de alguma forma ajudam a criar retratos de um país cheio de perguntas sobre seus caminhos e destinos, A Vida Secreta de meus Três Homens é um filme que explora a originalidade em sua essência.

Selecionado para a Mostra Olhos Livres, da 28ª edição da Mostra de Tiradentes, o longa-metragem com cerca de 70 minutos, repleto de achados visuais, joga na tela perguntas sobre o lembrar e o esquecer além das conexões entre o passado e o presente. Com roteiro e direção de Letícia Simões, a obra passa muito pela história da sua própria família com contextos e a consciência invadindo o trânsito entre mundos, os contrapontos até um fabular a partir da violência.  

Construindo revelações através de um jogo de cena, conhecemos versões de fatos de três fantasmas que envolvem a violência, a sexualidade, a política. O próprio processo criativo do filme ganha forma como se as cortinas caíssem e nos mostrassem cada canto de uma busca por verdades. O rumo até descobertas de verdades não ditas cria um novo universo que vai de uma desconstrução da admiração e o medo passando pela discussão da realidade.

Simples e criativo, esse é um filme corajoso que se arrisca numa transmissão de lição de moral. O roteiro audacioso, fora da caixa, costurado com uma narrativa que dribla o convencional, explora o infinito da linguagem e o sons. Tudo que vemos em tela faz muito sentido, se complementam, fazendo as reflexões pularem a todo instante.

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29/01/2025

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Crítica do filme: 'Tijolo por Tijolo' [Mostra de Cinema de Tiradentes 2025]


Selecionado para a Mostra de Cinema de Tiradentes depois de passear - deixando ótimas impressões - em outros festivais de nosso país, o documentário Tijolo por Tijolo caminha pela era das redes sociais e, em consequência, as oportunidades pelo mundo dos influencers sem esquecer de paralelos com os sonhos e a realidade difícil. Nesses versos de imagens e movimentos urbanos com recortes de um cotidiano familiar chegamos de forma animada nas maneiras de como lidar com as dificuldades.

Dirigido por Victória Álvares e Quentin Delaroche, esse filme de 103 minutos nos leva até a história de uma carismática família, moradores do Ibura, na periferia do Recife, com a realidade atravessando o sonhar ainda numa época de pandemia. A reconstrução de uma casa se torna o primeiro passo para abertura de camadas profundas onde descobertas chegam ao mesmo tempo de recortes intimistas de um cotidiano guiados pela figura materna que se lança como influenciadora digital.

Um dos grandes méritos desse projeto é o fato de não deixar de ser interessante nem um minuto. Busca o dinamismo através das camadas que se abrem como pontos de vistas sobre o trabalho, a reconstrução de um lar, a relação familiar. Numa pequena mostra dentro da seleção de Tiradentes, onde há um forte debate sobre temas e formas, Tijolo por Tijolo apresenta sua simplicidade e a riqueza das possibilidades de câmeras em várias mãos.

Muito bem montado, com filmagens que duraram dois anos, consegue fluir numa narrativa onde questões sociais se ampliam para ótimos debates. O empreender, a maternidade, se tornam pontos chaves sempre ligados ao amor, a luta, a solidariedade e ao afeto. Esse é um daqueles documentários que marcam. Tijolo por Tijolo é, sem dúvidas, um dos melhores documentários brasileiros do ano passado.

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Crítica do filme: 'Nem Deus é tão Justo Quanto seus Jeans' [Mostra de Cinema de Tiradentes 2025]


Selecionado para a aguarda Mostra Aurora da 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o projeto paulista Nem Deus é tão Justo Quanto seus Jeans explora o vazio existencial que a depressão provoca através de um amargurado e perdido personagem que vaga pelo cotidiano preso nos pensamentos movidos por amores num passado que se foi e num presente cheio de interrogações. A direção é assinada por Sergio Silva.

A vida de Marcos anda uma amargura só: afastado do trabalho e em casa para curar suas dores, se perde em seus pensamentos através do que estrutura como as verdades que se seguirão em sua trajetória. Entendendo quase nada sobre sua nova relação com o namorado Gabriel – também preso no luto pelo ex que faleceu - se joga com força nas consultas com uma psiquiatra e acaba encontrando caminhos quando um inusitado gatilho aparece: a chegada de baby, um cãozinho deixado por um tempo sob seus cuidados pela irmã.

A narrativa busca explorar a linguagem e suas infinidades possíveis de forma organizada tendo uma estrutura base alcançada com o protagonista sendo o epicentro entre a razão e a emoção. Os desabafos se tornam estradas para chegarmos aos desejos e pensamentos, o que nada mais é que uma manifestação do inconsciente. O olhar do outro ganha importantes manifestações – aqui no sentido de revelação – tendo até mesmo o sobrenatural como elemento.

As peças se movimentam de forma lenta ao longo de 73 minutos, com os diálogos virando o alicerce do entendimento. Caminhar pela melancolia constante pode atrair ou não os olhares permanentes do público, principalmente quando a obra escapa do discurso indo para experimentações.

Com apenas seis diárias e pegando equipamento emprestado Nem Deus é tão Justo Quanto seus Jeans é um dos projetos mais interessantes que se encaixaram na proposta da nova Mostra Aurora, agora para o primeiro filme de realizadores e realizadoras.

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28/01/2025

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Crítica do filme: 'Para Lota' [Mostra de Cinema de Tiradentes 2025]


Mostrando através da escuridão - que esconde as belezas de um emblemático point carioca - interpretações de desabafos em cartas trocadas sobre questões que envolveram a criação de um parque num aterro do Flamengo, o documentário Para Lota, é um filme, praticamente nascido de uma imagem, que transforma o tempo numa importante variável. Esse jogo de temporalidades, desbravando a linguagem, se junta num imaginar dos desejos e luta de uma contraditória e sonhadora da elite carioca.

Exibido no segundo dia da 28a Mostra de Cinema de Tiradentes, esse projeto dirigido por Bruno Safadi e Ricardo Pretti, mesmo trazendo importantes reflexões sobre uma época de mudanças em nosso país - que sempre devem entrar nas reflexões - poderá ser um grande teste de paciência. Viajando com sua câmera através do travelling, de ponta a ponta de um ponto turístico muito conhecido, apresenta passagens que não se ampliam em contextos, pecando na superficialidade da transmissão de mensagens, indo de encontro a um retrato de um país em tumultuado período na política.

A proposta segue linhas de encontro a partir de uma época pandêmica onde uma filmagem de 8km pela noite carioca entregou uma ideia ao diretor: contar em um objetivo recorte questões sobre a criação do Parque do Flamengo através de cartas escritas pela criadora do lugar, a arquiteta-paisagista e urbanista da elite brasileira Lota de Macedo Soares. As atrizes Leandra Leal e Mariana Ximenes dão vozes as cartas. O desafio a partir desse ponto é: como transformar isso em cinema?

Para Lota encontra em sua narrativa imagens de uma escuridão sem pessoas em plano, somente a paisagem, que poderia ser um interessante complemento contemplativo para o conteúdo histórico das cartas escritas por Lota. Porém, mesmo sem redundância e passando por uma época turbulenta no Brasil, sem deixar de se arriscar nas possibilidades autorais da linguagem, encontra seu sentido apenas para quem alcança a paciência.

  

 

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Crítica do filme: 'Prédio Vazio' [Mostra de Cinema de Tiradentes 2025]


Filho de um ex-mágico e já consolidado como uma referência no gênero terror em nosso cinema brasileiro, o cineasta Rodrigo Aragão circula dramas e questões entre mães e filhas através de almas infelizes, atormentadas, com uma protagonista que está encontrando o seu pulsar pelo amor através do que encontra pelo caminho. Selecionado para a Mostra Olhos Livres, da 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o terror capixaba Prédio Vazio se afasta a cada segundo do convencional comercial, ganhando forte originalidade, onde o gótico e o ocultismo se encontram.

Desde criança tendo lembranças vagas de um certo momento traumático que viveu com sua mãe, a jovem Luna (Lorena Corrêa) está em um relacionamento ainda de descobertas com o namorado (Caio Macedo). Quando ela percebe que a mãe (Rejane Arruda) possa estar em perigo durante os últimos dias de carnaval, viaja até Guarapari em sua busca, entrando num edifício arrepiante na orla capixaba. Nesse lugar, vai se deparar com um enorme pesadelo.

Com referências que vão do grande José Mojica Martins até Dario Argento, esse projeto, que contou com apenas 20 diárias de gravações, acerta no clima de tensão colocando a criatividade na frente de suas possibilidades o que causa um efeito dominante na atenção do público. Luzes coloridas, plot twist... das linhas do roteiro até as ações na narrativa, através do medo e do aterrorizar, encontramos camadas sobre relação entre mães e filhas, também pinceladas sobre as descobertas do amor.

Em Prédio Vazio, o gótico e o ocultismo andam de mãos dadas, até mesmo com um charme cômico que se encaixa como uma luva dentro de toda a atmosfera criada. Aragão vai de encontro a um universo que domina como poucos levando o público para uma jornada aterrorizante mas também divertida pelas infinidades do sobrenatural. São cerca de 80 minutos que passam rapidinho com gosto de quero mais.

 

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22/01/2025

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Crítica do filme: 'Vítimas do Dia'


Um recorte das dores de uma cidade marcada pela violência. Disponível com exclusividade no Globoplay, o drama Vítimas do Dia é mais uma obra audiovisual que traz a guerra imposta em muitos cantos da cidade do Rio de Janeiro, sob o ponto de vista de dois personagens, que representam de inúmeras formas o choque entre a expectativa da vida e a possibilidade da morte em uma cidade marcada pela violência. Esse retrato comovente que mostra através da tensão a realidade, atravessa também o amor, a compaixão e o afeto através de um ótimo elenco.

O motorista de aplicativo Elder (Amaury Lorenzo) estava em uma noite comum na sua rotina. Chegando em casa, no subúrbio do Rio de Janeiro, após trabalhar o dia todo, vai ao supermercado comprar um item desejado pela esposa Daiane (Jéssica Ellen), grávida. Chegando no lugar, é atingido por uma bala perdida. Em meio a um intenso tiroteio, precisa aguardar atendimento, sendo amparado por frequentadores e funcionários do estabelecimento. Em paralelo, Daiane sem saber notícias do marido, acaba entrando em trabalho de parto e tem dificuldades de sair de casa pois a violência também bate em sua porta.

Com direção de Bruno Safadi e roteiro de Dino Cantelli, Vítimas do Dia apresenta de forma emocionante uma noite como tantas outras já vividas por muitos moradores do Rio de Janeiro, uma amostra do reflexo do cotidiano do carioca. Pelos jornais e até mesmo por histórias nem contadas, sabemos o barril de pólvoras que marcam o cotidiano do carioca, uma cidade dominada por guerra urbanas imparáveis, onde a pessoa sai de casa e não sabe se volta. Tendo esse contexto bem amarrado, a narrativa apresenta através de um intenso drama diversos olhares sobre a situação.

Em cerca de 80 minutos de projeção - nesse que é o terceiro longa-metragem do Núcleo de Filmes dos Estúdios Globo - as dores da violência acabam encontrando refúgio no campo da humanidade. O afeto e o amor abrem espaço para ótimos personagens coadjuvantes darem sua contribuição e visão a essa história. A fé representada por uma nova gerente que descobriu uma gravidez, uma cliente do supermercado com marcas no passado, outra que fica de frente na ajuda para Elder, uma policial que se solidariza com o momento de Daiane, são alguns dos ótimos personagens que ajudam a contar essa história.

Drama urbano que percorre horas em uma noite, tendo apenas dois cenários, Vítimas do Dia consegue preencher as lacunas de seu discurso através do começo, meio e fim de situações ligadas entre a vida e a morte sem deixar de plantar reflexões por todos os lados através de críticas sociais certeiras.

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