Mostrando através da escuridão - que esconde as belezas de um emblemático point carioca - interpretações de desabafos em cartas trocadas sobre questões que envolveram a criação de um parque num aterro do Flamengo, o documentário Para Lota, é um filme, praticamente nascido de uma imagem, que transforma o tempo numa importante variável. Esse jogo de temporalidades, desbravando a linguagem, se junta num imaginar dos desejos e luta de uma contraditória e sonhadora da elite carioca.
Exibido no segundo dia da 28a Mostra de Cinema de
Tiradentes, esse projeto dirigido por Bruno
Safadi e Ricardo Pretti, mesmo
trazendo importantes reflexões sobre uma época de mudanças em nosso país - que
sempre devem entrar nas reflexões - poderá ser um grande teste de paciência. Viajando
com sua câmera através do travelling, de ponta a ponta de um ponto turístico muito
conhecido, apresenta passagens que não se ampliam em contextos, pecando na
superficialidade da transmissão de mensagens, indo de encontro a um retrato de
um país em tumultuado período na política.
A proposta segue linhas de encontro a partir de uma época
pandêmica onde uma filmagem de 8km pela noite carioca entregou uma ideia ao
diretor: contar em um objetivo recorte questões sobre a criação do Parque do
Flamengo através de cartas escritas pela criadora do lugar, a arquiteta-paisagista
e urbanista da elite brasileira Lota de
Macedo Soares. As atrizes Leandra
Leal e Mariana Ximenes dão vozes
as cartas. O desafio a partir desse ponto é: como transformar isso em cinema?
Para Lota
encontra em sua narrativa imagens de uma escuridão sem pessoas em plano,
somente a paisagem, que poderia ser um interessante complemento contemplativo
para o conteúdo histórico das cartas escritas por Lota. Porém, mesmo sem
redundância e passando por uma época turbulenta no Brasil, sem deixar de se
arriscar nas possibilidades autorais da linguagem, encontra seu sentido apenas
para quem alcança a paciência.