Selecionado para a aguarda Mostra Aurora da 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o projeto paulista Nem Deus é tão Justo Quanto seus Jeans explora o vazio existencial que a depressão provoca através de um amargurado e perdido personagem que vaga pelo cotidiano preso nos pensamentos movidos por amores num passado que se foi e num presente cheio de interrogações. A direção é assinada por Sergio Silva.
A vida de Marcos anda uma amargura só: afastado do trabalho
e em casa para curar suas dores, se perde em seus pensamentos através do que
estrutura como as verdades que se seguirão em sua trajetória. Entendendo quase
nada sobre sua nova relação com o namorado Gabriel – também preso no luto pelo
ex que faleceu - se joga com força nas consultas com uma psiquiatra e acaba
encontrando caminhos quando um inusitado gatilho aparece: a chegada de baby, um
cãozinho deixado por um tempo sob seus cuidados pela irmã.
A narrativa busca explorar a linguagem e suas infinidades possíveis
de forma organizada tendo uma estrutura base alcançada com o protagonista sendo
o epicentro entre a razão e a emoção. Os desabafos se tornam estradas para
chegarmos aos desejos e pensamentos, o que nada mais é que uma manifestação do
inconsciente. O olhar do outro ganha importantes manifestações – aqui no sentido
de revelação – tendo até mesmo o sobrenatural como elemento.
As peças se movimentam de forma lenta ao longo de 73 minutos,
com os diálogos virando o alicerce do entendimento. Caminhar pela melancolia
constante pode atrair ou não os olhares permanentes do público, principalmente
quando a obra escapa do discurso indo para experimentações.
Com apenas seis diárias e pegando equipamento emprestado Nem Deus é tão Justo Quanto seus Jeans é
um dos projetos mais interessantes que se encaixaram na proposta da nova Mostra
Aurora, agora para o primeiro filme de realizadores e realizadoras.