Mostrando postagens com marcador Crítica do FIlme. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Crítica do FIlme. Mostrar todas as postagens

09/05/2023

,

Crítica do filme: 'O Homem Cordial'



O passado que tentam apagar. Como justificar? Trazendo para reflexões questões sobre injustiças sociais, preconceitos, o cancelamento pelas redes sociais, em uma noite atrás de respostas pelas ruas de São Paulo, acompanhamos um homem que após um vídeo viralizar, acaba condenado por parte da opinião pública em uma situação envolvendo a morte de um policial. Dirigido por Iberê Carvalho e com roteiro do mesmo junto do uruguaio Pablo Stoll (cineasta que dirigiu e roteirizou o aclamado filme Whisky), O Homem Cordial mostra toda a angústia de uma noite de descobertas.


Na trama, conhecemos Aurélio (Paulo Miklos), o vocalista e rosto mais conhecido de uma banda de rock que recentemente voltou aos palcos desde o final dos anos 90. Durante um show, um vídeo viraliza, transformando Aurélio em um condenado por parte da opinião pública em uma situação envolvendo um polícia. Logo o protagonista sente a forte repercussão do caso e também a covardia do julgamento público. Assim, ele embarca em uma noite de descobertas, tensão, busca por respostas, onde vai entender mais de perto o caos social que passam imperceptíveis aos seus olhos.


O protagonista passa por um processo de transformação na sua ótica em relação a sociedade em que está inserido. Algumas lacunas são preenchidas pela obviedade, não são ditas, nem mostradas, o espectador constrói sua visão na maneira dele pensar: antes um roqueiro cheio de atitude cantando em alto e bom som suas versões sobre a limitada visão que tinha sobre os problemas sociais. Tudo isso muda com a situação que passa, percebe que o buraco é muito mais embaixo.


Angustiante. Essa é uma palavra que caminha nas linhas do roteiro. Dentro de um recorte profundo sobre as diferentes formas de olhar ao próximo, muitos temas circulam nos menos de 90 minutos de projeção. A violência policial, o pré-julgamento, a obsessão pela comunicação superficial dos fatos que se transformavam em fake news nas mãos de quem usufrui da gangorra do narcisismo descarado. Em plena luz do dia, ou numa noite qualquer, alguns desses angustiantes temas circulam por situações em vários lugares de nosso país.


Premiado em Gramado e Marsele, O Homem Cordial é um retrato de nosso olhar desigual, de nossas imperfeições como sociedade trazendo aos olhos do público um debates importantes.



 

Continue lendo... Crítica do filme: 'O Homem Cordial'

04/05/2023

Crítica do filme: 'Guardiões da Galáxia - Vol. 3'


Quando a emoção atinge níveis constantes, estando em todo o lugar. Escrito e dirigido por James Gunn, o grupo de super heróis mais carismáticos das galáxias chega com altas cargas de tensão e emoção para uma última dança, um último objetivo juntos, em uma trama que explora as origens de uma das mais importantes peças de um tabuleiro carismático que soube conquistar o público desde o primeiro filme. Ao longo das quase duas horas e meia de projeção, percorremos juntos com os heróis, em meio a dilemas e lembranças dolorosas, uma aventura que vai ficar nas memórias de muitos. A sempre poderosa trilha sonora costura a narrativa de maneira empolgante. O roteiro, mesmo batendo em teclas batidas, consegue sopros de genialidade tocando o coração de todos. Vai ser muito difícil se despedir desses personagens.


Na trama, voltamos a encontrar os mais desajustados heróis do Universo Cinematográfico da Marvel que buscam criar raízes em ‘Lugar Nenhum’, um lugar onde estavam descansando de batalhas, um porto seguro longe dos agitos de outrora. Só que tudo isso muda quando Rocket (Bradley Cooper) é atingindo gravemente por uma ação impensada de Adam Warlock (Will Poulter) e seu grupo, fazendo com que Peter Quill (Chris Pratt), ainda abalado pela perda de seu grande amor, e cia embarquem em uma missão para encontrar a solução para tirar o grande amigo dessa enrascada. Passeando por novos lugares, até mesmo uma ‘contra terra’, o grupo aos poucos percebe que essa pode ser a última aventura deles como um time.


Começo, meio e fim. Lançado seis anos depois do segundo filme (um hiato considerável), o trigésimo segundo filme do rentável e aclamado Universo Cinematográfico da Marvel, foca sua narrativa nas lembranças dolorosas, não só de Rocket mas de todos os guardiões ao mesmo tempo que novas descobertas deixam o grupo em dilemas existenciais. O valor da amizade, as estradas sempre com obstáculos das segundas chances, o campo de reflexão nesse projeto alcança vários caminhos como se cada personagem conseguisse contribuir com a explosão de emoção que vemos em cada cena.


Eu gostaria de ser especial. Que diabos estou fazendo aqui? Eu não pertenço a este lugar. A peça mais importante e que percorre toda essa jornada são as indagações sobre pertencer a um lugar. Conhecendo mais profundamente o passado de Rocket (impossível não se emocionar) percebemos que não só ele mas todos os outros integrantes, de alguma forma, estão em dilemas sobre tudo que viveram até ali e quais seriam os próximos passos de suas trajetórias.


Com direito a alusão à Arca de Noé, um confronto em um planeta que é um espelho peculiar da terra, os paralelos da necessidade de alcançar a perfeição (aqui muito na visão do vilão, o Alto Evolucionário), Guardiões da Galáxia - Vol. 3 é recheado de cenas de ação sem perder seu clássico humor regado nas canções (agora atualizadas) que dizem muito sobre as linhas do roteiro. Esse, pode ser considerado um dos melhores filmes de toda UCM, com toda certeza. Pulsante, emocionante, inesquecível.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Guardiões da Galáxia - Vol. 3'
,

Crítica do filme: 'A Primeira Morte de Joana'


As primeiras descobertas da vida. Sob o olhar delicado da juventude e todo o leque de variáveis que formam uma trajetória, o longa-metragem A Primeira Morte de Joana, vencedor de alguns prêmios nos mais de 35 festivais onde fora exibido, busca nos seus menos de 90 minutos refletir sobre vários temas que vão desde a descoberta da sexualidade até enormes questionamentos a partir do falecimento de uma parente, uma tia-avó artesã da qual era próxima. Dirigido por Cristiane Oliveira, a trama navega no pensar espontâneo, baseada na visão que a protagonista possui até ali do mundo que gira ao seu redor.


Na trama, conhecemos Joana (Letícia Kacperski), uma jovem, filha de pais separados, descendente de alemães que mora em uma casa na beira da estrada, numa pequena cidade, onde todos se conhecem. Após o falecimento da sua tia-avó, algo desperta nela, fazendo com que se coloque em enfrentamentos nos longos debates que tem com a sua família. Ao mesmo tempo, sua amiga Carolina (Isabela Bressane) se envolve em um boato que a faz refletir sobre sexualidade.


Ambientada no final do verão de 2007, no sul do país, em uma comunidade descendente de alemães. O projeto possui um ritmo lento, busca a atenção nos detalhes sob a ótica de uma adolescente que se vê renascer através de um novo olhar que a domina através de enfrentamentos que aparecem por seu caminho. Sua jornada começa com o entendimento do luto, onde curiosidades sobre tia-avó artesã da qual era próxima a faz conhecer melhor sua família e alguns pequenos segredos que se escondem num alicerce conservador que domina o tom dos moradores do lugar. Em um lugar de ventos constantes, logo se vê em confronto com o que pensam sobre a amiga Carolina, o que a faz renascer e amadurecer sobre o ainda prematuro conhecimento da sexualidade.


Esse interessante longa-metragem de Cristiane Oliveira, leva o espectador a uma caminhada enriquecedora, principalmente para aqueles que possuem um olhar atento para refletir sobre o amadurecimento e quem ainda consegue se emocionar com a simplicidade do afeto.



Continue lendo... Crítica do filme: 'A Primeira Morte de Joana'

21/04/2023

Crítica do filme: 'Renfield'


Fã do lendário ator britânico Christopher Lee e dono de vários castelos, um dos sonhos do astro Nicolas Cage era interpretar o Conde Drácula. Em 2023, o desejo se torna realidade, e mesmo em um papel coadjuvante (algo raro na sua vasta carreira) ele rouba a cena nesse filme que mistura muita ação, um forte tom cômico e uma ambientação num presente dinâmico trazendo para reflexões dilemas existenciais, até mesmo alguns mandamentos da auto ajuda, sobre o enfrentar as barreiras para ser feliz. Dirigido pelo cineasta norte-americano Chris McKay baseado numa ideia do excelente Robert Kirkman, Renfield - Dando o Sangue Pelo Chefe é assustador e engraçado, um suco de entretenimento!


Na trama, conhecemos o depressivo Renfield (Nicholas Hoult), um ex-advogado que muitos anos atrás se tornou um lacaio, ajudante, do vampiro mais temido do planeta, o Conde Drácula (Nicolas Cage). Durante anos exercendo essa função, e sempre buscando renovar o ‘poder absoluto’ de seu mestre, quando chega nos tempos atuais, já na cidade de Nova Orleans, entra em uma crise existencial e através de um grupo de ajuda começa a rumar para uma estratégia para se livrar dos longos séculos de servidão ao chefe. Ao mesmo tempo, entra em sua vida, a policial incorruptível Rebecca (Awkwafina) por quem logo cultiva grande admiração. Mas nada será fácil para o anti-herói, já que Drácula descobre seu plano e parte para tentar impedí-lo.

Sem ajuda, ninguém atravessa a eternidade. Nômade de muitos anos e preso nas regras de seu mestre, o protagonista, muito bem desenvolvido pelo roteiro, parte da sua jornada em busca da felicidade com dilemas ligados ao ‘enfrentar’, até mesmo se vê perdido em uma linha de moralidade, algo que balança seu pensar e o encontramos assim logo em crise, buscando ajuda, tentando entender o que pode fazer para mudar. O paralelo com o grupo de auto ajuda é cirúrgico, contorna a trama com maestria, com momentos hilários.


O tom cômico, as cenas de ação, as críticas na relação entre chefes e funcionários, o raio-x animado sobre o universo narcisista, o sentido da auto ajuda, e a ambientação num presente dinâmico transformam a narrativa num pot-pourri onde o entretenimento reina. Será comum ver interações do público durante as sessões no cinema com o que acontece em cena. A busca pelo ‘Poder Absoluto’ transformam o coadjuvante Drácula numa figura necessária nas principais sequências, Cage dá um show em cena com sua leitura caricata, cheia de caras e bocas, daquele jeito que somente ele sabe fazer.


Algumas curiosidades cercam esse projeto. Cage é o único ator a interpretar o vampiro mais famoso do entretenimento depois de vencer o Oscar, porém outros vencedores do Oscar já interpretaram esse célebre personagem, como: Jack Palance (Drácula, O Demônio das Trevas) e Gary Oldman (Drácula de Bram Stoker). Nicolas Hoult já havia trabalhado com Cage no início da carreira, 18 anos atrás ele foi o filho do personagem de Cage no drama O Sol de Cada Manhã.


Com muito humor e ação desenfreada, essa abordagem impagável do universo vampiresco vai ficar na memória de muita gente. De forma despretensiosa, conquista o público de várias formas, um filme para chamar os amigos e se divertir na telona mais próxima de sua casa!



Continue lendo... Crítica do filme: 'Renfield'

18/04/2023

Crítica do filme: 'Ninguém é de Ninguém'


O antes influencia o depois. Baseado no livro homônimo de 378 páginas, lançado 23 anos atrás, pela escritora espiritualista paulista Zíbia Gasparetto, Ninguém é de Ninguém molda seus olhares e reflexões para um dos mais delicados estados emocionais do ser humano, o ciúmes. Caminhando por estradas dolorosas das reações complexas que se estabelecem nas desconfianças para com o outro, o roteiro busca ampliar seu campo de desenvolvimento através dos conflitos de seus personagens mas acaba se perdendo no momento em que a técnica é aplicada na narrativa. Subtramas rasas geram certo desequilíbrio, como se peças faltassem para um entendimento mais amplo do complicado caminho do abstrato proposto. Por outro lado, a mensagem consegue chegar ao campo de reflexão, até mesmo com várias interpretações sobre quais lições a história busca passar, principalmente sobre a explicação estar em acontecimentos de vidas passadas.


Na trama, conhecemos Gabriela (Carol Castro, em destacada atuação) e Roberto (Danton Mello), um casal que passa por uma séries de instabilidades na relação após o segundo caminhar por diversos obstáculos e seu empreendimento afundar, ao mesmo tempo que Gabriela, uma advogada em ascensão na empresa onde trabalha, começa a colher os frutos de sua dedicação. A situação piora quando Roberto começa a desconfiar da fidelidade da esposa com o dono da empresa onde ela trabalha, o Dr. Renato (Rocco Pitanga). Esse último também passa por situações complexas no relacionamento com a socialite Gioconda (Paloma Bernardi), também com a motivação do ciúmes no epicentro dos problemas. Ao longo do filme vamos vendo que esses destinos de alguma forma já estavam entrelaçados.


O relacionamento abusivo no centro da questão. Tendo como foco o ciúmes, a desconfiança, numa estrada com um forte viés espiritual, somos levados a abrir a porta da casa de duas famílias que passam por situações dolorosas, amarguradas, que geram inconsequências para todos os lados. Nesse olhar íntimo para casamentos na iminência do naufrágio, o desenvolvimento do roteiro gira em torno desses conflitos dos personagens e num segundo momento no resgate de acontecimentos em vidas passadas com imersões sobrenaturais. Nesse último ponto a história se perde chegando em uma conclusão interpretativa onde nada-se para o oceano do perdão, do arrependimento, de forma simplista, sem profundidade.


Esse é o segundo lançamento recente de um filme baseado em um livro de Zíbia Gasparetto, no final do ano passado chegou aos cinemas Nada é Por Acaso. Dirigido por Wagner de Assis, cineasta que já dirigiu filmes Kardec e Nosso Lar, dois filmes também com essa pegada espírita, Ninguém é de Ninguém, de forma atabalhoada, consegue chegar em seu objetivo, sua mensagem, muito ligada à uma emblemática questão existencial ligada ao indivíduo possuir somente a si e as várias formas de entender a vida dessa forma.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Ninguém é de Ninguém'

11/04/2023

, , ,

Critica do filme: 'Air: A História por trás do Logo'


As verdades por trás do sucesso. Recriando os caminhos que ficaram famosos de um case de sucesso do sempre em evolução marketing esportivo ligados à atletas de alto rendimento, chegou aos cinemas dias atrás o novo trabalho de Ben Affleck atrás das câmeras (e também na frente), Air: A História por trás do Logo. Mostrando um recorte dinâmico da tacada mais precisa da toda poderosa empresa de calçados, roupas e assessórios, a Nike, o projeto nos leva até o ano de 1984 onde um brilhante jovem jogador de basquete (que se tornaria uma lenda) chamado Michael Jordan é disputado por poderosas empresas. O grande astro do basquete não esteve diretamente envolvido no projeto, porém Affleck o consultou algumas vezes.


Na trama, voltamos aos anos 80, para Beaverton, no estado de Oregon, nos Estados Unidos, onde fica uma empresa mundialmente famosa, a Nike, que na época disputava o mercado dentro do universo esportivo com a alemã Adidas e uma outra norte-americana, a Converse. Nesse cenário, conhecemos Sonny (Matt Damon), um funcionário da Nike obcecado por basquete que fazia parte da equipe de marketing, mais precisamente do departamento de basquete, da empresa, ao lado do amigo Rob (Jason Bateman). Certo dia, Sonny resolve executar uma tacada corajosa para ter o conhecido talento do basquete universitário da época, Michael Jordan, como atleta da Nike, através de uma linha de calçados exclusiva que viria a ser conhecida como Air Jordan. Só que o caminho até esse objetivo não será fácil e ele precisará convencer o dono da Empresa, Phil Knight (Ben Affleck) e a mãe de atleta, Deloris (Viola Davis).


Filmado na região de Los Angeles, na Califórnia, Air: A História por trás do Logo, com muita precisão, nos coloca dentro de uma época de mudanças com a quinquagésima eleição presidencial no maior país do mundo, do lançamento do Macintosh pela Apple e ano onde o case de maior impacto no universo do marketing esportivo norte-americano se consolidou por meio de uma junção de diversas variáveis que vão desde a visão de um funcionário, as negociações com a família do atleta e a ruptura nos vínculos contratuais da época entre atletas e marcas com a maior valorização para o atleta através da percentagem de vendas, fato que mudou os contratos de muitos nos anos seguintes e seguem até os dias atuais.


Com um foco maior em Sonny, a narrativa traça os recortes dos seus inúmeros personagens através dos conflitos que estão, dentro de uma mesma interseção, envolvendo a situação sem deixar de chegar em uma inteligente contextualização. O vencedor do Oscar Ben Affleck vem se tornando a cada novo filme, um diretor mais maduro nas suas escolhas e quem ganha com isso é o espectador.



Continue lendo... Critica do filme: 'Air: A História por trás do Logo'

06/04/2023

Crítica do filme: 'O Exorcista do Papa'


Um homem e sua história contra o mal. Inspirado em memórias do padre Gabriele Amorth, ex-exorcista chefe do vaticano, o novo longa-metragem estrelado pelo ganhador do Oscar Russell Crowe, O Exorcista do Papa, explora o propósito de uma vida com uma narrativa que se coloca em cima do duelo na própria igreja católica no que considera ou não um exorcismo, além de trazer ao público um peculiar caso de seus milhares de esconjuros. Passando também por interpretações de supostos segredos da vaticano, o longa-metragem dirigido pelo cineasta australiano Julius Avery desenvolve bem seu protagonista mas com um roteiro que parece andar em círculos.


Na trama, conhecemos o padre exorcista Gabriele Amorth (Russell Crowe), um ex-jornalista e advogado que foi um combatente de um grupo que lutava contra os fascistas em pleno território italiano durante a Segunda Guerra Mundial. Mão direita do Papa (Franco Nero) para esses casos extremos, Gabriele, à bordo de sua estilosa lambreta, é designado para resolver uma possível possessão de um menino estrangeiro, que chegou à Europa com a mãe e a irmã pois a família herdou do falecido pai um enorme castelo bastante conhecido pelas altas autoridades do vaticano. Contando com a ajuda de uma padre da região, Esquibel (Daniel Zovatto), Gabriele fará de tudo para conseguir êxito em mais esse terrível caso.


Se o mal não existe, qual o papel da igreja? Responsável por expulsar espíritos malignos dos outros, o exorcista tem a função, muitas vezes não reconhecida, por isso embates dentro da própria igreja católica, sobre o que é ou não exorcismo, são chamas que se acendem em alguns momentos da trama mesmo com resoluções simplistas. Pecados e traumas do passado são argumentos que pesam nas validações de Gabriele que acredita que um trauma pode ser uma conexão. Primeira vez estrelando um filme de terror na vasta carreira, e desfilando seu italiano fluente, o neozelandês Russell Crowe é o protagonista dessa história que busca a tensão a todo instante. Seu personagem é um intrigante e até mesmo debochado homem que precisa também enfrentar seus pecados do passado.


Ideia x realidade. A narrativa derrapa no desenvolvimento da história quando busca acelerar para seu clímax deixando inúmeras pontas soltas principalmente sobre a ligação do castelo onde a família vai morar e segredos escondidos ali pelo próprio vaticano. A teoria da conspiração que se propõe a desvendar, cai por terra com explicações rasas. O roteiro anda em círculos, parece emitir a mesma mensagem várias vezes, deixando apenas o choque das cenas de possessão criarem uma atmosfera de tensão.


Sinal aberto para uma franquia? Com um final aberto, o projeto se posiciona como o início de possíveis sequências mas isso, sabemos, precisa-se saber o resultado de bilheteria.



Continue lendo... Crítica do filme: 'O Exorcista do Papa'

05/04/2023

,

Crítica do filme: 'Dungeons & Dragons - Honra Entre Rebeldes'


Escolha seu jogador e comece a aventura! Baseado em um dos mais renomados jogos de RPG, criado por Gary Gygax e Dave Arneson na década de 70, o aguardado longa-metragem de aventura e comédia Dungeons & Dragons - Honra Entre Rebeldes é um empolgante projeto que usa da nostalgia como aliada em uma narrativa dinâmica que apresenta um grupo de heróis desajustados que precisam lutar para manter o equilíbrio do mundo onde vivem. Dirigido pela dupla John Francis Daley e Jonathan Goldstein, ambientado no universo fictício que também foi publicado como cenário para várias edições do famoso jogo de RPG, Dungeons & Dragons - Honra Entre Rebeldes deve agradar públicos de várias gerações.


Na trama, conhecemos o carismático ladrão Edgin (Chris Pine) que viveu toda sua vida dando pequenos golpes ao lado de sua companheira de aventuras Holga (Michelle Rodriguez) até que um dia precisa largar a família para mais uma jornada e acaba sendo preso por algum tempo. Quando consegue sair dessa prisão, a dupla de aventureiros embarca em mais uma aventura, agora ao lado de outros novos amigos, em busca de uma relíquia que está nas mãos de pessoas que querem criar o caos no mundo onde eles vivem.


Quarto projeto audiovisual oriundo do mundo Dungeons and Dragons e ambientado no mesmo período de tempo e universo que os famosos heróis do desenho Caverna do Dragão (como valida uma cena desse mesmo filme), Dungeons & Dragons - Honra Entre Rebeldes caminha numa linha tênue entre a comédia e a aventura com camadas superficiais de desenvolvimento dos personagens mas com um carisma que chama a atenção, visto em todas as cenas.  Mas afinal, é uma paródia de filme de fantasia? Não! A fórmula é muito bem construída, com dinamismo que empolga. Você nem enxerga as mais de duas horas passarem!


Aqui, igual ao jogo de tabuleiro, a ideia de escolher um personagem e seguir a narrativa pelos olhos e conflitos do mesmo se torna algo lógico mas obviamente sem perder a objetiva contextualização. Com filmagens na Irlanda do Norte e na Islândia, rodado entre abril e agosto de 2021, Dungeons & Dragons - Honra Entre Rebeldes finalmente chegou aos cinemas de todo o mundo nesse primeiro semestre de 2023 e promete levar multidões aos cinemas!



Continue lendo... Crítica do filme: 'Dungeons & Dragons - Honra Entre Rebeldes'

30/03/2023

,

Critica do filme: 'Bar Esperança, o Último que Fecha'


Lançado no início da década de 80, um dos grandes clássicos da comédia brasileira, Bar Esperança, nos leva até os saudosos tempos da clássica boemia carioca. Falando sobre diversos assuntos que vão desde os bastidores do cenário artístico da época até mesmo a causa indígena, passando por um recorte de uma crise conjugal, o longa-metragem dirigido e protagonizado por Hugo Carvana tem um elenco maravilhoso com destaque para a outra protagonista, a fabulosa e inesquecível Marília Pêra. De Caetano à Gretchen, a trilha sonora também ganha destaque dentro de uma empolgante narrativa.


Vencedor de vários Kikitos no Festival de Cinema de Gramado, Bar Esperança nos leva a um badalado estabelecimento no número 39 de alguma das famosas ruas do bairro de Ipanema, na zona sul carioca de décadas atrás. Nesse lugar, encontramos diversos personagens que se reúnem noite após noite para tomar aquela cervejinha, ouvir música e papear sobre os mais diversos assuntos que envolvem a sociedade. Tem artista, tem camelô, tem jornalista do Pasquim. Assim conhecemos mais profundamente o relacionamento conturbado de Ana (Marília Pêra) e Zeca (Hugo Carvana), uma atriz que trocou o cinema pela televisão e um operário da dramaturgia, um escritor, num presente de desilusão na profissão. Quando a dona do bar esperança, cansada, desiludida, sozinha nos negócios da família, resolve vendê-lo, os assíduos frequentadores resolvem se unir contra a demolição ou até mesmo num último encontro.  


Já nos tempos da televisão colorida mas ainda na época do Telex e da ditadura, esse bar (assim como tantos outros por aqueles tempos), uma espécie de catedral da boemia carioca, era a fonte de informação de muitos, uma troca de experiências que de alguma forma fazia a vida fazer mais sentido. Os dramas, os conflitos, eram vistos diariamente, os duelos de argumentações sobre causas políticas, sociais, também faziam parte de qualquer uma rodinha de bate-papo do local. A narrativa abre um pequeno espaço para falar também sobre Gentrificação, aqui na aquisição do bar por um grupo de investidores que querem criar um shopping center no lugar. Há espaço também para as causas indígenas, uma profunda crítica social ligado ao descaso.


Um cacique demitido da própria tribo. A crise conjugal ganha maiores espaços e acaba se tornando o grande alicerce do roteiro. Ana e Zeca estão em um momento sem se entenderem, deixando a pressão que sofrem nos seus respectivos trabalhos influenciarem o cotidiano em um Brasil à beira de transformações. As tomadas de decisões ditam o ritmo da narrativa, que nos leva a subtramas que envolvem o cenário artístico instável numa época onde a televisão era a grande porta de entrada para a fama e onde alguns atores faziam de tudo para conseguirem seguir na profissão.


Você é meu caminho. Meu vinho, meu vício. Na trilha sonora, a música de Caetano Veloso Meu bem, meu mal se torna um ponto importante sob a ótica da crise conjugal e o misto de sentimentos provocados por esse conflito. Também ouvimos o clássico de Gretchen, Conga, Conga, Conga além de uma das mais emblemáticas marchinhas de carnaval, Bandeira Branca (essa já no desfecho).


Anos atrás, o filme entrou na lista da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos. Essa obra-prima do nosso cinema, pouco visto pelas novas gerações, completa 40 anos em 2023 sem perder o fôlego nem sua capacidade de refletir sobre tudo que acontece até hoje ao nosso redor.



Continue lendo... Critica do filme: 'Bar Esperança, o Último que Fecha'

29/03/2023

Crítica do filme: 'Creed III'


Jogo é jogo, treino é treino. Em seu primeiro trabalho atrás das câmera como diretor, Michael B. Jordan busca a emoção a todo instante seja no duelo profissional ou no pessoal do ótimo protagonista que dá título a essa franquia, oriunda da saga Rocky, que caiu nas graças de todos que viraram órfãos do garanhão italiano. Em Creed III, vemos o tom reflexivo de um campeão que precisa confrontar seu passado. Os conflitos familiares contornam a narrativa mas sem deixar de ter fôlego para cenas de ação de um dos esportes mais populares do universo das lutas. Esse é o primeiro filme do universo de Rocky que o lendário personagem não aparece.


Na trama, voltamos a encontrar Adonis Creed (Michael B. Jordan) agora um empreendedor do mundo das lutas após sua recente aposentadoria com um currículo invejável como lutador. Só que nesse terceiro filme da franquia vamos conhecendo mais a fundo o passado do personagem e o reencontro dele com um amigo do passado, o complicado e ex-presidiário Damian (Jonathan Majors) um antigo prodígio do boxe. Desse encontro, logo um confronto acontece e os amigos irão se enfrentar em uma batalha onde só um pode ficar com o cinturão.


A palavra família contorna as linhas da narrativa. Com certa profundidade, sempre aos olhos do protagonista, vamos vendo mais de perto sua profunda relação com a esposa, a filha e a mãe, essa última com lembranças do passado quando o assunto é Damian, um amigo encrenqueiro que ficou quase duas décadas preso por conta de confusões e uma situação ligada ao amigo Adonis. O desenvolvimento de Adonis nesse filme é uma estrada de conflitos que são muito bem executadas traçando um poderoso raio-x da personalidade, até mesmo um antes e depois, desse forte personagem. 


 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Creed III'

23/03/2023

Crítica do filme: 'Esquema de Risco: Operação Fortune'


Quando as peças não se encaixam. O britânico Guy Ritchie é dono de uma bela filmografia, com muitas produções explosivas, marcantes diálogos, excêntricos personagens que contornam quase sempre inusitados conflitos. Em Esquema de Risco: Operação Fortune, seu trabalho mais recente, tudo parece muito raso, corrido, sem pontos impactantes mesmo contando com um dos seus artistas favoritos, com o qual já trabalhou em cinco outros trabalhos, o astro dos filmes de ação Jason Statham. A narrativa (a maneira como é contada essa história) transborda sonolência, pecando no desenvolvimento, deixando apenas um lapso de brilho para o excêntrico personagem de Hugh Grant.


Na trama, conhecemos o competente (e cheio de regalias) agente secreto Orson (Jason Statham) que embarca em mais uma missão perigosa pelo mundo designado para tal pelo seu chefe Nathan (Cary Elwes). Ele precisa usar como bode expiatório o astro do cinema Danny (Josh Hartnett) para fisgar a atenção do bilionário Greg (Hugh Grant). Para essa nova batalha, Orson contará com a ajuda de uma nova equipe, formada pelo exímio atirador JJ (Bugzy Malone) e a especialista em tecnologia Sarah (Aubrey Plaza).


Satélites, comunicações, brigas geopolíticas. O roteiro se esforça em trazer assuntos que estão no cotidiano modelados para a ação tendo no ponto de vista do herói o foco total. As resoluções simplistas e personagens mal desenvolvidos acabam prejudicando a narrativa que sai correndo em busca da ação e esquece do contexto, deixando pontos soltas pelo caminho.


Filmado em lugares como Turquia e Catar, Esquema de Risco: Operação Fortune teve uma rápida passagem pelo circuito exibidor brasileiro e, pra quem interessar, deve tá chegando em alguma plataforma de streaming muito em breve.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Esquema de Risco: Operação Fortune'

21/03/2023

, ,

Crítica do filme: 'O Rio do Desejo'


A angústia do desejo. Tema de várias obras ao longo do desenvolvimento da humanidade, a traição, o desejo, o amor proibido se chocam em conflitos quase sempre amargurados onde os pontos de vistas se tornam a estradas para reflexões. O Rio do Desejo, do ótimo cineasta Sérgio Machado, nos leva para esse paralelo, uma jornada muito bem construída, objetiva, que busca criar um recorte dentro do universo abstrato do desejo na visão de um quadrado amoroso. Baseada em um conto chamado O Adeus do Comandante da obra A Cidade Ilhada do escritor amazonense Milton Hatoum, o filme consegue dar vida, movimento, a sentimentos conflitantes.


Na trama, conhecemos o capitão da polícia Dalberto (Daniel Oliveira) um homem sério que resolve abandonar a corporação e comprar um barco depois de se apaixonar perdidamente pela bela e alegre Anaíra (Sophie Charlotte). Ainda em fase de mudança de vida, Dalberto resolve levar a amada para morar por um tempo na casa onde vive com os dois irmãos, Dalmo (Rômulo Braga) e Armando (Gabriel Leone), o primeiro um fotógrafo que tem um pequeno empreendimento na cidade, o outro um amante do universo musical que faz apresentações com sua banda. Mas a aparente harmonia é colocada à prova quando Dalberto precisa fazer uma viagem de quase dois meses e Anaíra começa a se aproximar de Dalmo e principalmente Armando.


Os pontos de vista dos ótimos personagens criam recortes instigantes no quadrado amoroso estabelecido. Os laços dos irmãos são rompidos com a presença de Anaíra, esse é o estopim que navega durante todo o clímax. O ciúmes, o proibido, tornam-se elementos constantes na trajetória de cada um deles. Dalberto se vê completamente perdido em seu descontrole, o irmão do meio embarca no desconhecido onde o perdoar não é uma opção. Dalmo, o mais velho se vê no cárcere do voyeurismo buscando a razão, estando próximo do seu desejo mas mantendo distância na realidade dura que chega na sua frente, prefere o sofrer. Armando é o lado da imaturidade misturado com inocência do lado desbravador de um primeiro intenso amor. Anaíra, o ponto de interseção dessa história, se vê em enorme conflito, se sentindo abandonada, aflorando seus desejos a cada novo pensamento de desilusão.


Essa reflexiva obra, que já foi até questão de vestibular em 2017 na UFN (Universidade Franciscana), teve uma carreira internacional consolidada passando por alguns festivais, e inclusive já está vendida para muitos países (terá exibições em cinemas, da Coreia do Sul, Japão, França, Itália, Portugal).


Com filmagens na bela Itacoatiara (AM), um pouco antes da chegada da Pandemia da Covid-19, O Rio do Desejo se constrói em torno da iminência da tragédia, através dos conflitos, ações e consequências, de personagens amargurados dentro de laços fortes que são quebrados. A narrativa, muito bem construída, apresentação a situação sem esquecer de contextualizar elementos para a história, acelera para seu competente clímax que perdura nas linhas da melancolia deixando um profundo retrato que envolve essa família.



Continue lendo... Crítica do filme: 'O Rio do Desejo'

16/03/2023

Crítica do filme: 'John Wick 4: Baba Yaga'


O limite que chega até aos imbatíveis. Chega aos cinemas no dia 23 de março, filme mais longo do sucesso de uma sequência de filmes protagonizado por Keanu Reeves, John Wick 4: Baba Yaga com quase três horas de duração. A franquia criada pelo norte-americano Derek Kolstad dessa vez volta a bater forte os corações dos amantes de filmes de ação com referência à filmes de faroeste e intensas sequências que lembram dos bons filmes de ação dos anos 90! John Wick chegou em 2014 quase desapercebido e virou logo uma força nostálgica se tornando ao longo de suas sequências uma marcante história dentro do cinema de ação que será sempre lembrado, sendo esse o último, ou não, filme da franquia.


Na trama, voltamos a encontrar o anti-herói John Wick (Keanu Reeves) que dessa vez busca refúgio nos últimos amigos que lhe restam chegando a uma única solução que é a de enfrentar a organização que comanda o crime no mundo e da qual está jurado. Percorrendo o Japão, a França, o protagonista terá que enfrentar novos e enormes desafios como novos desafetos e antigos rostos conhecidos.


Ao longo do tempo, o universo John Wick foi só expandindo. E olha, sem perder a essência do personagem, criatividade não faltou! Os ótimos diálogos, que vem desde o primeiro filme, continuam consistentes nessa quarta jornada, abrindo sempre caminho para um foco total em torno do emblemático personagem mas sem deixar de instigar com um contexto cheio de variáveis conflitantes ligados principalmente a vilões (melhor chamar de antagonistas) que somam demais à trama.


O diretor de todos os filmes da franquia, Chad Stahelski, foi um belíssimo trabalho! Chad está em Hollywood faz tempo, fez carreira primeiro como dublê e inclusive foi quem completou as cenas do protagonista de O Corvo (1994) após a morte de Brandon Lee, com o rosto de Lee sendo inserido digitalmente na pós-produção.


Será hora de dizer adeus? John Wick 4: Baba Yaga, no mínimo é o fechamento de um enorme e muito bem realizado arco que começa no primeiro filme e vamos vendo seus desenrolares, e surpresas, ao longo de suas sequências.




Continue lendo... Crítica do filme: 'John Wick 4: Baba Yaga'

Crítica do filme: 'La Situación'


Quando o uso de uma desenfreada sequência de mal-entendidos deixa pra trás qualquer conceito, ou mesmo o brilho de seus personagens. Dirigido pelo Tomás Portella, cineasta com alguns trabalhos como diretor delongas e que também foi assistente de direção do ótimo filme Ensaio sobre a Cegueira, a comédia road movie La Situación não é pretenciosa, apenas se joga no objetivo de conquistar o público com sequências em busca do riso fácil. É uma opção. Essa fórmula pode conquistar alguns, outros não. O roteiro, escrito pela dupla Carolina Castro e Natália Klein, se acomoda em apresentar saídas rápidas para um clímax dentro de uma situação esquecendo de deixar pelo menos algumas migalhas de explicações mais profundas pelo caminho para entendermos por completo a história.


Na trama, conhecemos Ana (Natália Lage), uma mulher bastante infeliz tanto no pessoal quanto profissional que não vê muitas saídas para uma necessária rápida mudança em sua vida. Sua prima por parte de pai, a excêntrica Yovanka (Thati Lopes), pra completar, ainda insiste em passar mais alguns dias no apartamento dela. Certo dia, Ana recebe um aviso dizendo ser herdeira de terras na Argentina. Sem pensar duas vezes, ela embarca em uma road trip com Yovanka e a melhor amiga Letícia (Júlia Rabello), essa última uma mãe de três, consumida pela rotina e com o relacionamento um pouco estremecido com o marido.


A busca por uma inusitada herança se torna o pontapé inicial dessa trama que embarca em somatório de eventos que se seguem sem reviravoltas impactantes e sim mirabolantes. São muito forçadas as sequências de mal-entendidos, mais um fator que atrapalha o entendimento sobre o que é a história. As três mulheres, completamente diferentes, podem ser uma luz para quem busca se conectar com a trama através das personagens. Letícia, interpretada pela ótima Julia Rabello, é de longe a personagem que consegue expor mais camadas associativas com a realidade, uma mãe com enormes conflitos no casamento, no cotidiano em educar seus filhos, vê a viagem que se apresenta como um oásis onde exageros não são julgados. Acompanhar essa jornada pela ótica dessa mãe, como muitas do lado e cá da telona, pode ser interessante.


O desenvolvimento da história se torna limitado a encontrar logo ‘La Situación’ sem deixar respirar para o seu conceito (seja esse qual for). De forma análoga, é como se, pensando em um apartamento, o foco fique total em um objeto, ou algo nas linhas do abstrato, dentro de um quarto, sem tempo para conhecermos o resto da casa. Filmado no Uruguai mas ambientado na Argentina e também no Paraguai, o projeto estreia nos cinemas dia 23 de março.



 

Continue lendo... Crítica do filme: 'La Situación'

10/03/2023

, ,

Crítica do filme: 'A Baleia'


Os olhares sobre uma escolha. Indicado para mais de 100 prêmios desde seu lançamento mundial, A Baleia, novo trabalho do cineasta e ex-frequentador da Universidade de Harvard Darren Aronofsky, é um filme que navega nas escolhas de um professor de inglês, que sofre com transtorno da compulsão alimentar e seu caminho para deixar um legado em laços corrompidos, principalmente com sua única filha com quem teve um relação sempre distante. Indo a fundo em uma melancolia durante suas quase duas horas de projeção, o projeto marca o renascimento de um artista muito querido por fãs e pela própria indústria cinematográfica, o indicado ao Oscar Brendan Fraser.


Na trama, conhecemos Charlie (Brendan Fraser), um professor que trabalha home office dando aulas online para alunos de um curso de escrita. Esse personagem é amargurado, com fortes problemas emocionais muitos desses causados por um forte perda no seu passado. Ele se encontra com quase 300 quilos, com grandes dificuldades de locomoção, e parece entregue, sem querer ajuda de hospitais ou médicos especializados. Sua única companhia é a enfermeira, e ex-cunhada, Liz (Hong Chau), talvez a única pessoa que ele escute nessa fase final da vida. Durante essa jornada que marca o provável desfecho de sua trajetória, outros personagens começam a entrar em seus dias, como o enigmático e vinculado a uma religião Thomas (Ty Simpkins), sua ex-esposa Mary (Samantha Morton) e principalmente sua filha Ellie (Sadie Sink). Com essa última, Charlie se esforça para resolver a complicada relação de pai e filha.


Baseado em uma peça teatral homônima, dramaturgo americano de 42 anos Samuel D. Hunter, A Baleia é um recorte introspectivo de um homem que escolheu chegar ao fim de sua jornada (algo parecido do que acontece no filme Despedida em Las Vegas) e tem como objetivo uma última redenção na relação conturbada com sua filha.  Falando abertamente sobre transtorno da compulsão alimentar, o roteiro parece que não alcança seu clímax por completo mesmo recheado de ótimas reflexões pelos pontos de vistas dos ótimos coadjuvantes que complementam demais as lacunas dessa jornada.


Aronofsky não é bobo, seu cinema é muito pensado, vemos por exemplo o uso explícito de suas ideias na maneira como o público recebe seu filme, partindo para a primeira reflexão na  relação entre a largura e altura de como foi filmado, um paralelo com as limitações de espaço que enfrenta o protagonista. Há também lacunas que o próprio olhar e sensibilidade do espectador acaba precisando preencher dentre os achismos que compõe as ações dos personagens.


Com 90% de suas cenas dentro de um apartamento e com um dedicado Brendan Fraser, que teve que vestir um traje protético pesado e foi ovacionado durante a exibição no Festival de Veneza, A Baleia concorre à três Oscars em 2023 com fortes chances de vitória para Fraser.



Continue lendo... Crítica do filme: 'A Baleia'

09/03/2023

Crítica do filme: 'Pânico 6'


A fórmula que busca novidades mas vai se tornando cada vez mais entediante. Não há como negar que a franquia Pânico mudou o olhar do público em relação a filmes de terror deixando no posto de primeiro lugar os famosos filmes slasher. Desde meados da década de 90 vamos acompanhando mentes sombrias, em meio a marcantes metalinguagens, que colocam uma máscara e correm atrás de personagens sobreviventes de filmes anteriores. Nesse sexto filme de Pânico o roteiro se esforça em criar elos com outro filmes da franquia, mais uma marca de cada uma das sequências, mas o que chama a atenção no projeto dirigido pela dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett é o tom da violência, dessa vez somos testemunhas de um caótico cenário com sangue por todos os lados. Mesmo com um roteiro arrastado a produção não perde seu brilho.


Nesse primeiro filme da saga rodado todo fora dos Estados Unidos (as locações foram no Canadá), acompanhamos as irmãs Samantha (Melissa Barrera) e Tara (Jenna Ortega) e mais sobreviventes do último filme que resolvem se mudar de vez cidadezinha de Woodsboro para a badalada Nova Iorque em busca de paz. Só que obviamente isso não acontece e algum maluco com a máscara do ghostface volta a aterrorizar o grupo e dessa vez muito mais violento e com requintes de crueldade. Assim, o grupo de amigos se unem a novos rostos em busca da verdadeira identidade de mais esse assassino.


Tem reviravolta? Tem! Tem surpresas sobre quem é o assassino (ou assassinos)? Tem! Buscando serem mais criativos sem perder a essência da franquia, os roteiristas James Vanderbilt e Guy Busick transportam as ações para uma grande cidade onde a tecnologia instantânea está em todos os cantos, onde o ghostface se tornou preferência em época de halloween, onde a violência é mais impactante. Como em outras vezes, os motivos da vilania ditam o tom das ameaças e perseguições. Chama a atenção, como já mencionado, a extrema violência dentro do Modus operandi de quem usa a famosa máscara, até arma de fogo é manipulada. O clima de tensão é constante, a narrativa busca seu dinamismo nas reviravoltas, nas novas informações, mesmo que nessa página da franquia a obviedade ganhe um bom espaço.


A franquia busca aprender a seguir em frente sem seu principal rosto conhecido do público faz mais de 25 anos, a atriz canadense Neve Campbell que de acordo com informações contidas na ficha do filme no IMDB a causa da não presença dela nesse sexto filme foi devido a uma disputa salarial com a Paramount. Com Campbell ou não, a saga dos heróis contra os psicopatas que aparecem pelo caminho utilizando aquela famosa máscara segue em frente buscando novidades, tropeçando na obviedade, mas sem perder sua essência.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Pânico 6'

03/03/2023

Crítica do filme: 'Coração de Neon'


Um sonho meu e seu nos torna mais felizes só de pensar. Chega do sul do país para as telonas de todo o Brasil, a partir do dia 09 de março, um profundo projeto que traz o choque da utopia contra a realidade de um choro engasgado, um peito apertado. Tendo um corcel antigo, todo enfeitado, como ferramenta de trabalho, uma família de dois que declamava o amor, se vê com o integrante que resta vivendo no caos emocional imposto por uma tragédia, um momento onde até as lembranças se tornam tristes. Escrito, dirigido e protagonizado por Lucas Estevan Soares, o projeto independente (sem depender de financiamentos ou leis de incentivo, bancado pelos próprios produtores) Coração de Neon busca mostrar os duros momentos entre um sonho, o fundo do poço e o recomeço. 


Na trama, ambientada em Curitiba, conhecemos Laudércio (Paulo Matos) e Fernando (Lucas Estevan Soares), pai e filho que são a sensação do bairro do boqueirão, um dos mais famosos da capital paranaense, por serem os  donos do 'Boquelove' um carro de mensagens de amor muito solicitado na região. Ambos tem o sonho de ir para Estados Unidos ganhar a vida por lá. Certo dia, uma tragédia acontece: Laudercio é morto por um sargento da polícia, machista, violento, que pensou que ele era amante da sua esposa Andressa (Ana de Ferro). Após a tragédia, conta com a ajuda do melhor amigo Dinho (Wawa Black), mesmo assim Fernando muda sua forma de enxergar o mundo, transformando sua antiga realidade otimista em um cotidiano com sentimentos conflitantes.  


Utopia contra a realidade. Quando a dura realidade pode atingir até mesmo os corações mais felizes. Imagine você viver do que ama, unindo arte e cultura em forma de flechadas românticas, sendo a ponte de uniões de corações apaixonados. Fernando e Laudércio vivem assim faz anos, fato que transforma o sonhar em comum quase que numa necessidade dentro de uma utopia que levam seus dias. A abrupta interrupção dessa rotina causa em Fernando as dores que desconhecia, traz para perto a dureza de agora estar sozinho e em um poço sem fundo, onde pensamentos ruins batem com desespero no seu coração que antes era cheio de ternura. O roteiro costura muito bem as diferentes maneiras que seu protagonista vai enxergar o mundo nessa jornada.


O sonhar é algo que percebemos ser o fio intercessor que compõe toda a narrativa. Mas também há espaço para reflexões sobre família, amizade, além de críticas sociais, violência doméstica e contra a mulher. Os recomeços por aqui é onde se juntam as subtramas, que mesmo em alguns momentos não muito bem amarradas no roteiro, nos apresentam diferentes formas de entender o trauma, de passar pelo conflito. Coração de Neon é um potente drama, que de forma simples, nada inventiva, apresenta seus fatos e desdobramentos da quebra de uma utopia e a descoberta de outras maneiras no saber viver.


Obs: Legal a homenagem nos créditos finais a todos os integrantes da equipe, batalhadores do audiovisual brasileiro, que trabalharam nesse filme!




Continue lendo... Crítica do filme: 'Coração de Neon'

28/02/2023

Crítica do filme: 'Belas Promessas'


Política se faz com o que se é. Escrito pela dupla Jean-Baptiste Delafon e Thomas Kruithof, dirigido pelo segundo, o longa-metragem francês Belas Promessas passeia pelos bastidores da política nos arredores da grande capital francesa, mais detalhadamente nas ações, escolhas e conflitos de uma prefeita do subúrbio parisiense. Rodado em pouco mais de um mês em Clichy-sous-Bois e Seine-Saint-Denis, lugares próximos de Paris, o longa-metragem passeia pelo ‘disse, me disse’ da engrenagem política em uma França com problemas no campo da habitação. O projeto é protagonizado pela ótima atriz francesa Isabelle Huppert.


Na trama, conhecemos Clémence (Isabelle Huppert), um ex-médica que é a prefeita de um município, terceira maior cidade do subúrbio parisiense, uma figura política bem próximas de toda a comunidade da região que está nos últimos momentos no cargo não deixará após esse mandato. Um dos seus maiores desafios é resolver a situação de um quase abandonado conjunto habitacional chamado Bernardins. Para tal, ela conta com a ajuda de seu chefe de gabinete, o inteligente Yazid (Reda Kateb), um homem que já morou nesse lugar no passado. Certo dia, Clémence recebe uma ligação com a possibilidade de um cargo para ela no alto ministério francês, fator que vai influenciar suas decisões dali pra frente, mudando inclusive algumas visões que tinha sobre política.


Em certos momentos o espectador pode se enxergar perdido na história. A narrativa se constrói em torno de uma protagonista mal definida na trama e por isso os primeiros minutos tornam-se maçante. Um embolado blá blá blá sobre política, muito confuso, ganha espaço. Quando o clímax se aproxima, o que gera o maior conflito, a possível nomeação para ser ministra, pensamos na expressão que é dita durante a projeção: ‘Mais poder, menos liberdade’. Tendo esse contraponto por perto, tudo começa a fazer um pouco mais de sentido, é a melhor maneira de nos guiar pelos enroscados conflitos que se seguem na vida da protagonista. Até os embates com seu chefe de gabinete, em certa altura de uma determinada situação que se envolvem onde a verdade acaba não importando mais, ganham relevância. Há um outro fato interessante sobre a personagem de Huppert: se é de direita, centro ou esquerda, o próprio espectador precisa definir, já que não há menção sobre a questão de qual partido político ela pertence.


Como crítica social que gera reflexões, chegamos na questão chave sobre os diferentes pontos de vistas que giram em torno de mais de 3 mil pessoas em situação complicada num conjunto habitacional. Indo a fundo, vemos desde problemas com o sindicato, com a prefeitura, até mesmo a exploração de imigrantes ilegais tendo que se alojar em lugares sem o mínimo de segurança e saneamento básico, tratados das mais diversas formas desumanas, principalmente o descaso.


Exibido no Festival de Veneza em 2021 e também no Festival do Rio do mesmo ano, Belas Promessas chega nas salas de cinema na primeira semana de março de 2023. Mesmo com um início nada promissor acaba gerando ótimos assuntos para refletirmos.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Belas Promessas'

02/02/2023

, ,

Crítica do filme: 'Os Banshees de Inisherin'


Solidão que não encontra a solitude. Escrito e dirigido pelo britânico Martin McDonagh, Os Banshees de Inisherin, indicado à 9 Oscars é um projeto repleto de reflexões. Uma busca pela fuga da mesmice desencadeia o rompimento de uma longa amizade o que acaba trazendo novos conflitos dentro de uma espécie de síntese da loucura, tudo isso em um curto período de tempo numa fictícia pequena comunidade na Irlanda, uma ilha no litoral, chamada inisherin. O elenco é brilhante, não à toa todos os intérpretes dos personagens que vemos em tela com poder de subtramas foram indicados ao Oscar em 2023.


Na trama, ambientada em 1923 num lugar onde tiros de canhões e espingarda são audíveis vindo do continente (pois são tempos de guerra civil), conhecemos Pádraic Súilleabháin (Colin Farrell) um homem confortável na sua monotonia que vive seus dias sem muitas pretensões morando numa casa humilde com sua irmã Siobhán (Kerry Condon). Sua maior diversão (e a de todos ali naquela ilha) é ir até o bar e beber. Ele sempre faz isso com o melhor amigo Colm (Brendan Gleeson). Certo dia, ao chamar o amigo, ele percebe que algo está errado e Colm deseja romper a amizade que eles tem, o que acaba gerando enormes conflitos com variáveis imprevisíveis.


A forma como a história é contada é fundamental para nos vermos em reflexões sobre várias situações. O conflito é logo apresentado, a ruptura de uma amizade e o embarque de dois passageiros em um lamento deprimente, até mesmo não explicado. Reunindo as peças jogadas pelo caminho tentamos entender Colm e suas questões. Morador sozinho de uma casa próximo ao mar se desprendeu da monotonia para a busca de um recomeço, como se tivesse outras coisas a fazer no que lhe resta da vida, o que traça paralelos com o significado de Banshee algo como um espírito do folclore irlandês que anuncia a morte de um membro da família.  


Já Pádraic é alegre com o pouco tem, definido pelos outros como limitado, acredita que vive uma boa vida fato que o faz cair de um enorme abismo emocional quando a amizade é desfeita. A raiva e a violência tomam conta de suas ações quando se vê prejudicado em outros campos e relações. Assim o personagem entra em uma desconstrução profunda. Os Banshees de Inisherin não entrega de bandeja ao espectador os porquês do que são ditos, refletimos em relação ao que entendemos de cada personagem. Essa linha muito pessoal, totalmente interpretativa, deve gerar ótimos debates numa mesa de bar.


Outros ótimos personagens embarcam em suas próprias descobertas a partir da situação inusitada vivida pelos dois ex-amigos. Um jovem perdido que se arrisca na iminente desilusão amorosa de uma mulher mais velha, a irmã de um deles e as escolhas de oportunidades no continente que se colocam em seu caminho.


Tendo sua première mundial no Festival Internacional de Cinema de Veneza, Os Banshees de Inisherin explora os caminhos para a solitude em um filme repleto de personagens carismáticos que mesmo sendo enigmáticos e imprevisíveis, principalmente sobre o que passam por seus pensamentos, não deixam de contagiar o público com uma ótima história.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Os Banshees de Inisherin'
, ,

Crítica do filme: 'Tár'

 


As respostas que imploram por outras perguntas. O hipnotizante novo trabalho do cineasta Todd Field propõe ao público se jogar em uma imersão pelos fascinantes porquês interpretativos da música clássica através da figura de uma personagem fictícia e completamente impulsiva que parece querer lutar contra sua realidade como se todos tivessem a postos à ela. Como se fosse uma peça de um concerto, o roteiro (escrito por Field) nos leva para uma jornada intensa mas nunca maçante sobre uma tentativa frustrada do exercer o controle de tudo chegando a um esgotamento mostrando que o tempo, essa variável incontrolável pelo menos na vida real, é essencial. No papel principal, brilha mais uma vez Cate Blanchett, novamente indicada ao Oscar, por esse brilhante desempenho.


Na trama, conhecemos a maestrina Lydia Tar (Cate Blanchett) uma das figuras mais importantes da música em nossos tempos, PHD em musicologia pela faculdade de Viena que chegou com todos os méritos ao posto de regente de uma grande orquestra alemã. Próxima de uma aguardada gravação, a quinta sinfonia de Mahler, um dos maiores compositores do período romântico, uma série de conflitos fora dos palcos acontece culminando em uma caminhada da genialidade ao desespero.


Indicado para seis Oscars, incluindo melhor filme e melhor atriz, Tár é pulsante. Explora com maestria os paralelos entre a vida pessoal e a vida profissional de uma figura ícone no meio da música. A belíssima construção, e depois desconstrução, dessa icônica personagem nos leva a refletir sobre os intensos sentimentos que são deixados em cada ação e nas escolhas da protagonista. Quando os bemóis e sustenidos de sua vida evaporam da harmonia desejada, se vê em um caos dominante. Mas será que para ela, nada mais importa senão a música? Nada disso, estar presa com seus sentimentos na realidade que batem à sua porta a transformam a todo instante se mostrando mais exposto no recomeçar de seu desfecho.


O limite é um ponto importante aqui nessa investigação emocional que parece querer muito refletir quando os paralelos já citados se convergem. Estar no topo profissional, inclusive em uma área dominada pelos homens, tendo consigo muitas conquistas escondem um lado de manipulação como sabemos que pode acontecer com quem está com o poder. Conciliar trabalho e família apresentam à sua frente variáveis nada controladas bem diferente das harmônicas perguntas que cativam os ouvintes de Bach. Um castelo de cartas se destroçam quando é rompido os limites, ou pelo menos expostos, em frações as peças se desligam do brilhantismo à loucura.


Pulsante, repleto de intensos diálogos, com um forte paralelo com a música, Tár apresenta em suas quase três horas de projeção um recorte da desmistificação hipotético do poder. Assim como a vida, para entender a música, diferentes e profundos sentimentos indefinidos acabam se jogando à nossa frente. Por todos os lados, com um recheio de imperfeições, buscamos enxergar o regente que há entre nós dentro da nossa própria trajetória.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Tár'